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Crítica | Annabelle 3: De Volta para Casa – Scooby Doo sinistro

Foi impressionante como Invocação do Mal rapidamente se transformou em uma franquia de terror de sucesso. Do excelente e sinistro primeiro filme de James Wan, a Warner Bros derivou um universo de possibilidades e criaturas para explorar nas telas, sendo uma investida lucrativa e que rende – na maioria dos casos – bons resultados.

Tamanho o sucesso dos derivados, a boneca Annabelle ganha aqui seu terceiro filme antes mesmo do já anunciado Invocação do Mal 3, que chega no ano que vem. Com James Wan novamente na função de produtor, Annabelle 3: De Volta para Casa parece um retorno às raízes após os fracos A Freira e A Maldição da Chorona, e o resultado o coloca como uma das experiências mais aproveitáveis da franquia.

A trama do novo filme tem uma posição bem específica na linha do tempo. Ela se passa pouco tempo depois do prólogo do primeiro Invocação do Mal, com o casal Ed e Lorraine Warren (Patrick Wilson e Vera Farmiga) tendo o primeiro contato com a boneca Annabelle, enfim levando-a para sua  sala de artefatos em Connecticut. Um ano depois, Judy (Mckenna Grace), filha do casal, enfrenta um pesadelo com sua babá Mary Ellen (Madison Iseman) quando sua amiga Daniela (Katie Sarife) acidentalmente liberta a boneca demoníaca, fazendo com que todos os espíritos na sala dos Warren saiam em liberdade.

Espírito Amblin

O novo derivado/prólogo parte de uma premissa saborosa. O próprio James Wan vendeu De Volta para Casa como “Uma Noite no Museu com Annabelle“, e é exatamente isso o que Gary Dauberman entrega aqui. É um filme que, mais do que qualquer um dos anteriores, abandona as pretensões de ser um terror “verídico” e sério, abraçando o espírito de um bom filme de Halloween dos anos 80 – com um forte espírito da produtora Amblin presente, principalmente no fato dos protagonistas serem mais jovens do que em outros longas da franquia. Todos os mini-arcos e dilemas de seus personagens são pretextos para que Dauberman explore essa ideia de casa mal-assombrada, onde o grande atrativo está em suas criaturas.

Mas mesmo com fiapos de história, temos um bom envolvimento graças às performances acertadas. A começar pela jovem Mckenna Grace, que se mostra uma grande atriz e com capacidade de levar toda a franquia nas costas, justamente por ser uma figura pouco habitual nesse gênero: uma criança que compreende e pode repelir demônios, algo que a atriz transmite de forma eficiente como uma maldição – e algo que sempre a afastou socialmente de amigos, por exemplo. Grace se sai bem ao lado das igualmente carismáticas Madison Iseman e Katie Sarife (esta última com uma surpreendente carga dramática), ao passo em que ver Patrick Wilson e Vera Farmiga como o Casal Warren é sempre maravilhoso.

O novo discípulo de Wan

Estreando na direção após anos trabalhando em roteiros da franquia e outras produções do gênero (como a adaptação dupla de It: A Coisa), Dauberman se mostra um nome talentoso. Não só ele compreende a linguagem e. estética que Wan estabeleceu desde o primeiro filme, mas também mostra-se uma voz interessante e original. Ao contrário de diretores como Corin Hardy e Michael Chaves, Dauberman é um cineasta cuja atmosfera traz um grande mérito: a paciência. Não temos jump scares aleatórios ou sustos baratos, mas sim longas sequências onde os personagens exploram o ambiente e encontram pequenas pistas que culminam em algum tipo de revelação. É um processo que leva tempo, e Dauberman o domina com impressionante habilidade.

Quando a história demanda sequências mais elaboradas, Dauberman se mostra muito criativo. A cena em que a pequena Judy tem um encontro com o espírito conhecido como a Noiva é engenhosa pela forma como a câmera gira em 360 graus para ilustrar como a presença da entidade atravessa diferentes planos físicos – desde o exterior de uma janela até o interior de um espelho, com o detalhe dos objetos caindo à medida de sua passagem sendo um ótimo toque. Cenas como o encontro sombrio com o Barqueiro e a sinistra televisão em loop também se destacam, mas o grande charme fica no momento em que vemos a real forma de Annabelle através de um elaborado jogo de sombras coloridos. Para um primeiro trabalho, é um belo cartão de visitas.

Annabelle 3 só peca quando acaba indo longe demais na fantasia. Por mais que a ideia de um espírito de lobisomem ser fascinante, sua execução é embaraçadora graças a um péssimo CGI que destoa completamente da estética deste filme e da franquia, e parece mais próxima de um desenho animado. Isso também acontece no clímax, que encontra soluções extremamente convenientes para um exorcismo, assim como a representação visual de uma alma que imediatamente remete aos Dementadores da saga Harry Potter.

Em um resultado surpreendente, Annabelle 3: De Volta para Casa é quase como um Scooby Doo mais sinistro. Se diverte com sua premissa, apresenta potenciais novos monstros fascinantes e traz um fantástico elenco e a promessa de um novo grande diretor de terror para a franquia. Após duas bolas foras, Invocação do Mal definitivamente mostra que ainda tem fôlego para mais.

Annabelle 3: De Volta para Casa (Annabelle Comes Home, EUA – 2019)

Direção: Gary Dauberman
Roteiro: Gary Dauberman
Elenco: Mckenna Grace, Vera Farmiga, Patrick Wilson, Madison Iseman, Katie Sarife, Michael Cimino, Samara Lee
Gênero: Terror
Duração: 106 min

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Publicado por Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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