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Crítica | Caminhos da Memória – Um Sci-fi sem grandes momentos

É triste para o cinéfilo que assistir ao filme Caminhos da Memória (Lisa Joy) seja uma tarefa tão árdua. A produção que claramente tentou trilhar um caminho clássico dos thrillers com muito suspense e mistério é uma ficção científica que não convence em nenhum aspecto. Até que começa bem, principalmente em seu primeiro ato, mas depois se torna uma total bagunça e perda de tempo.

O longa conta a história de Nicolas Bannister, interpretado pelo eterno Wolverine Hugh Jackman, um homem que é veterano de uma guerra e que trabalha com a recuperação de memórias muito queridas por quem contrata seus serviços. Tudo muda quando conhece Mae (Rebecca Ferguson) e se vê no meio de um labirinto de mentiras que precisa descobrir um jeito de sair dessa situação.

Vivendo do Passado

A ideia de trabalhar com memórias é algo bastante interessante, até porque quem não gostaria de acessar suas memórias preferidas a todo instante, indo a um profissional especializado para fazer isso? Porém, a ideia se sai falha quando a diretora Lisa Joy passa a desenvolver esse pensamento, que não se sai confuso em sua abordagem. A questão em relação a memória é que o longa quer dar uma lição de moral a respeito das lembranças e como elas podem impactar uma alguém, quão prejudicial elas podem ser em fazer uma pessoa viver no passado ou fazer com que elas fiquem presas a essas memórias que já se foram eternamente, tal fato faz com que o filme acabe por ficar preso a essa narrativa e não desenvolva a própria tecnologia em si e sua razão de existir.

Tanto é verdade que em vários momentos da produção essa mensagem já havia sido passada, e o roteiro voltava para dizer isso, mas de um jeito totalmente confuso, sem dar a entender o que realmente a diretora queria fazer no final das contas, ou tratar sobre as memórias ou sobre o caminho do protagonista em se reencontrar com sua paixão por Mae. A grande questão nisso tudo é que o personagem de Hugh Jackman acabou nem sendo desenvolvido do jeito que deveria. Sabe-se apenas que ele foi para a guerra e pouca coisa a mais, o que dá mais ainda a impressão de que o roteiro esqueceu de desenvolver os personagens para focar totalmente na ideia das memórias e do grande mistério que rondou o filme todo.

Esse grande segredo, pode-se dizer que de início foi uma distração interessante, mas a partir do momento que acaba se tornando uma paranóia na vida de Nicolas, e que o público percebe que aquela perseguição vai tomar grande parte da trama, começa a gerar uma expectativa exagerada e depois de algum tempo que o mistério persiste e não é solucionado começa a se tornar chata a perseguição, para não dizer o jeito que a trama termina, de um jeito bastante frustrante e sem graça.

Thriller Noir

É evidente que por ser um thriller o suspense é o principal elemento a ser desenvolvido na narrativa e é o que prende a atenção de início no público, pois é justamente o suspense que cria o tal do mistério. A ideia da diretora foi a de revisitar um gênero bastante conhecido do cinema, que são os suspenses noir. O longa segue exatamente a cartilha que se pede as produções deste gênero, com citação de passagens dramáticas, representação de problemas sociais e personagens marginalizados, além do principal que é o fato de contar com uma vítima que geralmente não é tão indefesa quanto se parece. Tudo isso pode ser visto em Caminhos da Memória, não exatamente nesta ordem, mas estão lá.

Talvez possa ser um exagero dizer, mas o que pode se perceber também é que a diretora buscou em clássicos da ficção científica referências para montar sua obra. Uma que surge a mente rapidamente é Blade Runner. Não é forçar a barra dizer isso, pois a fotografia sombria e o futuro apocalíptico lembram – muito de longe isso é verdade – a produção de Ridley Scott. A ideia de um futuro em que cidades são consumidas por oceanos é algo bastante interessante, para não dizer atual, mas novamente a ideia em si acaba sendo esquecida tão rapidamente surge no primeiro ato. A diretora se prendeu tanto com o fato de ter que solucionar todo o segredo por trás de Mae que acabou esquecendo o mais interessante, que é a tecnologia em si e a ambientação em que o protagonista se encaixa, duas abordagens que poderiam render muito mais, mas que infelizmente são usadas de modo superficial.

Há alguns elementos do roteiro que são usados para dar maior força para a narrativa e fazer com que a trama seja tocada com maior facilidade, sem precisar ficar mostrando tudo o que acontece e sem precisar filmar tantas cenas, esse elemento é bastante presente durante todo o filme, que é a narração. Em alguns momentos a narração feita por Hugh Jackman se torna tão desnecessária com frases poéticas falando de um mundo ruindo que fica evidente a mensagem da questão social que a cineasta quis passar para a trama, mas novamente isso não é algo que fica claro, é uma mensagem que fica em segundo plano.

A própria ideia do futuro apocalíptico e sua construção são bem estruturadas até um certo aspecto. O roteiro não deixa muito claro se o futuro – ou presente – por qual motivo chegou até aquela situação, sabe-se que foi por causa de uma guerra, mas não se sabe ao certo que guerra foi essa, pois, ela só é mencionada vagamente. O que a diretora e roteirista Lisa Joy faz é apenas dar algumas pinceladas dos acontecimentos, sem se aprofundar muito nesta questão.

Casal Sem Graça

Durante todo o filme Nicolas Bannister correu atrás de seu grande amor Mae, uma mulher enigmática e discreta, que aparentemente parecia ser uma coisa, mas após uma reviravolta de roteiro se mostra uma possível vilã e depois o roteiro define um outro caminho confuso para a personagem. O romance entre Nicolas e Mae é mal estabelecido, as coisas acontecem rapidamente, com Hugh Jackman fazendo caras e bocas de apaixonado, algo realmente ridículo e que nem a maioria das novelas brasileiras fariam, isso para não dizer que o casal não tem química alguma quando estão em cena juntos, não convencendo em nada como um casal apaixonado.

Ainda falando da atuação de Hugh Jackman, o ex-astro da franquia X-men se sai bem quando está trabalhando em cenas de ação, agora quando as cenas envolvem um tom mais dramático suas atuações destoam bastante de suas duas parceiras de cena: Rebecca Ferguson e Thandiwe Newton, duas atrizes que tem personagens com trajetórias prejudicadas pela trama, mas que se saem bem até onde se pede, mas que poderiam entregar bem mais com suas interpretações se as personagens ajudassem.

Caminhos da Memória não é um filme ruim em seu todo, há bons momentos como a boa ambientação de um futuro apocalíptico e uma tecnologia que se fosse melhor aprofundada poderia ser facilmente utilizada em Black Mirror, de resto é bastante esquecível, com roteiro com alguns furos e com uma direção que não vai mais além do necessário.

Caminhos da Memória (Reminiscence, Estados Unidos – 2021)

Direção: Lisa Joy
Roteiro: Lisa Joy
Elenco: Hugh Jackman, Rebecca Ferguson, Thandiwe Newton, Cliff Curtis, Marina de Tavira, Daniel Wu, Mojean Aria, Brett Cullen, Natalie Martinez, Angela Sarafyan
Gênero: Mistério, Romance, Ficção Científica
Duração: 116 min

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Publicado por Gabriel Danius

Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

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