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Crítica com Spoilers | Capitã Marvel – Representatividade Mediana e Sem Coragem

Hora de fazer parte dessa guerra de discussões que a mídia sensacionalista, os fãs vorazes e os trolls de plantão novamente emplacaram sobre um filme de super-heróis cujo temas prometeram ser parte de um ativismo social em forma de filme. Uma pequena provocação apenas para deixar logo claro que o papel dessa crítica, e de quem o vos escreve, está direcionada ao simples fato de qualidades que Capitã Marvel tem como filme. Então se suas agendas pessoais te fazem achar que todo e qualquer pessoa que não gostar desse filme é um misógino machista, ou que não compreendeu um filme que foi feito especialmente para mulheres, convido-lhe a levar sua ignorância para outro lugar. Ou como a própria Carol Denvers diz no filme: “Não devo te provar nada!”.

Com as infelizes obrigatórias explicações feitas, vamos à simples questão principal sobre o filme. É Capitã Marvel bom? Se o seu conceito de bom for de filmes como o primeiro Thor ou Doutor Estranho, filmes que praticamente só serviram para introduzir seus personagens título no Universo Cinematográfico da Marvel e nada mais que isso, então sim é bom. Divertido em partes, um pouquinho ousado em pequenas parcelas, jogando muito seguro na maior parte, boas atuações de um elenco formidável, e nada mais. Ou seja, outro filme do Universo Cinematográfico da Marvel. Mas talvez, nem tão simples assim, para o bem e para o mal.

Atrasado no Tempo

Tentar se esquivar aqui dos assuntos como feminismo e representatividade feminina seria ignorar completamente as admitidas intenções dos criadores de Capitã Marvel e que fazem forte parte do filme. E nem será esse texto que vai fazer o desserviço de escrever o quanto isso é desnecessário e forçado em um filme, deixe os machistas de plantão lidarem com esse debate. Porém, essa temática, como qualquer coisa dentro de um filme, deve provar sua presença válida dentro da história que quer contar e se a conta bem. Não é sua mera presença no filme que vai a torná-la válida e o filme em si, inatingível à críticas.

E isso claro veio partir da já antiga idéia do cabeça de tudo, o senhor Kevin Feige, de trazer a personagem de Carol Denvers para o cinema e o MCU, e a sua missão de fazer através dela um filme solo de uma super-heroína feminina que pudesse quebrar paradigmas masculinizados do gênero e trazer um novo ícone feminino para inspirar as novas gerações. Mas esse longo atraso de querer trazer a personagem à vida agora dentro do MCU pode ter sido o fator mais prejudicial que afetou o filme comandado pela dupla Anna Boden e Ryan Fleck, os novos cineastas indies a serem adotados pelo MCU.

Pode ser a décima vigésima vez que você deve ter lido isso sobre o filme, mas é um verdadeiro fato de que Capitã Marvel carrega muitos fortes resquícios que o fazem parecer um filme da fase um da Marvel, mas infelizmente não da mesma qualidade que o primeiro Homem de Ferro, e sim algo mais próximo do primeiro Thor e de Capitão América: O Primeiro Vingador. Mas enquanto até esses filmes conseguiam mostrar uma identidade própria de seus diretores, Capitã Marvel já começa a escorregar nesse quesito.

Sinal de um forte atraso de roteiro, ou algo escrito muito às pressas, tendo sua história criada aqui passado por cinco mãos diferentes, e que tentou pegar muito das estruturas dos primeiros filmes do universo Marvel para criar uma história de origem que possa apelar para a nostalgia dos fãs de longa data do MCU. Mas que comete erros que o MCU não podia estar mais cometendo à essa altura de seu ápice. Ainda mais após 10 anos de filmes louvados pelos fãs e críticas, e acabado de ter o seu momento mais marcante de todos em Vingadores: Guerra Infinita.

Mostrando logo de cara no filme uma construção de universo totalmente apressada e desengonçada. Que força o público prestar atenção no que se é deixado subtendido se não com certeza você irá se sentir perdido e confuso em distinguir o que são os Kree ou o porquê da guerra entre eles com os Skrulls. E se você fica realmente interessado em querer saber como é Hala, o império dos Kree e o que é exatamente a Inteligência Superior, pode ir esquecendo, com tudo isso literalmente se resumindo à um passeio de trem e um diálogo entre Vers (antes de se descobrir como Carol Denvers) e Yon-Rogg (Jude Law).

E o fato de que o filme está realmente tentando ser várias coisas ao mesmo tempo, não ajuda muito, mesmo que Boden e Fleck tentem se usar disso para fazer o filme parecer único e estiloso por tentar encaixar vários filmes em um só. Que de início começa passando a aparência de um filme de ficção científica épico e de aventura no espaço, a parte mais divertida do filme no departamento de ação.

Para depois que Carol chega na Terra ser brevemente um filme de peixe fora-d’água cheia referências nostálgicas à época dos anos noventa, em seguida logo assumindo uma estética e estrutura de um típico filme buddy-cop de ação policial nos moldes Máquina Mortífera, formando a ok dupla entre a Capitã e o jovem Nick Fury. Elevando tudo a décima potência no clímax tentando criar um verdadeiro Dragonball Z com a Capitã finalmente aflorando os seus poderes ultra poderosos e invencíveis.

Só que essa busca de tentar criar algo próprio em sua identidade, o filme acaba se tornando apenas monótono e até atrapalhado, tanto graças à forma com que estrutura essa história como também tenta garantir sua diversão blockbuster com o humor recorrente da Marvel, embora com piadas bem mais pontuais (por um milagre), e também como resulta na qualidade de sua ação, que se não medíocre, se mostra apenas ser bem preguiçosa.

Prova de que não foi a toa que a diretora Lucrecia Martel na época antes de Capitã Marvel entrar em produção, ela recusou assumir a direção do longa por criticar as restrições do diretor na criação das cenas de ação, cuja Marvel já depositara uma inteira equipe de unidade para fazer o serviço e sem comando do diretor. O que obviamente quebra a visão do diretor para o filme, sem falar que faz o filme se auto-sabotar em sua técnica.

Capitã Marvel infelizmente sofre desse problema no seu departamento de ação, com cenas que parecem ter sido feitas por encomenda, e que também revelam o despreparo dos diretores para essas sequências, ou a falta de comando nelas. Ainda mais sequências de ação que apelam para a já cansativa montagem cheia de cortes desenfreados e esquisitos. Se a primeira cena de treino com Carol e Yon-Rogg é a única cena bem coordenada nesse estilo de ação, o resto do filme soa todo errado e fraco. Apelando para uma câmera na mão nas cenas de combate corpo a corpo que é completamente desengonçada.

Mas é exagero em dizer que está tudo perdido nesse quesito já que o filme consegue sim entregar sua mínima dose de diversão escapista em certos momentos pontuais. A luta inicial com a patrulha estelar versus os Skrulls em uma emboscada consegue ser competente pela sua simplicidade de planejamento, um grupo poderoso versus minions. E uma divertida perseguição de trem e carro, que remete bastante ao clássico Operação França de William Friedkin, com uma estrutura bem similar de um confronto/perseguição ocorrendo no trem com Carol perseguindo um Skrull enquanto há uma perseguição de carro atrás do trem comandada pelo jovem Nick Fury.

Embora esta última também se prejudique com a montagem frenética cheia de cortes confusos e a câmera na mão novamente atrapalhada. Que mostra o quanto Boden e Fleck estão querendo emular um pouco do estilo dos irmãos Russo, mas falham miseravelmente. Aliás, as semelhanças com outro filme dos irmãos Russo, um certo Soldado Invernal, são quase gritantes se formos notar.

Pois além de emular um estilo de ação mais câmera na mão ao longo do filme, e só no clímax entregar a cena de ação em grande escala explosiva e carregada de CGI nível gráfico de PlayStation 3, exatamente como foi o caso em Soldado Invernal. Há também traços na trama como o fato de revelar de quem era até então o vilão do filme, Talos em Capitã e Bucky em O Soldado Invernal, ser a verdadeira vítima da história toda.

Enquanto a corporação e força militar que a herói fazia parte se revela como o verdadeiro vilão, etc. Sem falar no parceiro do herói titular de cada filme ser um militar negro, Fury e Sam/Falcão, e o pequeno grupo de mocinhos se unirem no final para enfrentar a potência militar muito maior do que eles, exatamente como em ambos os filmes.

Sem falar que o filme ainda até brevemente apela para um estilo James Gunn de criar cenas de ação descoladas como fez em ambos Guardiões da Galáxia, com o uso de música pop reminiscente da sua época, como é o caso aqui em uma das lutas finais no filme entre a Capitã e seus ex-colegas da Tropa Estelar ao som de Crush With my Eyeliner da R.E.M., entre outras boas músicas da década que tocam em “momentos chaves” do filme. Bom, pelo menos as músicas são boas, se encaixam com as cenas ou se soam gratuitas, é outra história.

Tudo em prol de construir a identidade do que prometeu ser o definitivo filme de origem para uma super-heroína símbolo mor do feminismo no cinema. Exageros à parte, também é outra história diferente se Capitã Marvel sucedeu nisso ou ficou tão atrapalhado quanto sua mediana criação de diversão.

Tentando construir um ícone

No básico, Capitã Marvel é o típico filme da Marvel formulaico que você pode esperar, mas que possuí estilo visual que se divide em ser metade um épico espacial no início e depois um filme road-movie e ação/comédia dos anos 90, capaz de sim se distinguir dos outros filmes da Marvel, mas não ser mais memorável do que a vasta maioria. Embora até tente fazer algumas decisões ousadas para surpreender em seu desenrolar e tentar nunca deixar o decorrer do filme tão previsível como pode se esperar de um filme do MCU.

Com o filme de início tentando distorcer muito bem o já estabelecido clichê do gênero de super-heróis de contar a história de origem de seu personagem através de flashbacks, e busca o fazer de forma diferente e criativa, o que funciona na primeira vez que vemos isso em prática quando Talos vasculha a mente de Carol/Vers em procura da localização de Wendy Lawson e do misterioso ‘Núcleo’, se utilizando de uma montagem de personalidade até bem experimental, e com a narração quase metalinguística em off de Talos ao fundo exclamando: “sou o único confuso aqui?”, enquanto vemos os vários pedaços da vida de Carol apresentados de forma bem eficiente.

Algo que quase dá brevemente ao filme essa personalidade de um filme surrealista bem original dentro do MCU, mas uma técnica interessante que só volta a ser repetida brevemente no clímax, e que tenta criar um impacto emocional que busca ir além de sua protagonista e alcançar uma nota universal de inspiração feminina, que até funciona, mas sem o mesmo brilho criativo do início ou o mesmo peso dramático que outro momento do filme consegue bem melhor com uma das surpresas do filme, Lashana Lynch interpretando a melhor amiga de Carol, Maria Rambeau.

Com a atriz entregando verdadeiras emoções em um diálogo chave entre as duas amigas (cujo cenário e o momento lembra um pouco da sequência da fazenda em Vingadores: Era de Ultron), discutindo sobre memórias antigas, revelando até sutis linhas que podem ser interpretadas como abuso e feminicídio na forma como Maria fala sobre forma que a morte de Carol foi tratada com frieza, e rapidamente encoberta e esquecida pelo governo.

Momentos assim que conseguem mesmo ser genuínos em seu drama intimista e ser relevante em seus temas sem parecer nem um pouco forçado, que o filme poderia (e deveria) ter focado muito mais atenção e interesse ao invés de querer vir verbalizar as motivações da heroína através de Maria em uma cena seguinte entre as duas que perde quase todo o brilho emocional apenas pela exposição gratuita. Com frases do tipo, “você é forte”, “você é poderosa”, “você é tudo miga”, ok, mas onde estão as demonstrações disso para fazer o público concordar e torcer por Carol como o filme tanto clama.

Algo que é fruto de outro infeliz problema do filme que é querer buscar dar uma importância de Carol dentro do Universo Marvel muito maior do que a personagem realmente mostra merecer logo no seu primeiro filme solo. Em ser a Super-heroína mais poderosa de todas; a de maior atitude; a que inspirou o próprio nome da iniciativa dos Vingadores com o seu apelido “Carol ‘A Vingadora’ Denvers”. Quase que querendo desfazer o papel de “Primeiro Vingador” de um certo Capitão América. Ou de se dizer ser a primeira super-heroína feminina protagonista dentro da Marvel, ou pelo menos a única com um filme solo, chance tardia e que foi por muito tempo ignorada em ser dada para personagens como Viúva Negra, ou até mesmo Feiticeira Escarlate.

Até as reformulações das origens da personagem e seus poderes, se mostram ser feitas exclusivamente para a encaixar em uma vertente (e cumprir agenda) feminista. Por exemplo a personagem de Monica Rambeau, que é uma das primeiras encarnações da Capitã Marvel nos quadrinhos, bem antes de Carol Denvers, e a transformam aqui em uma jovem menina que admira e se inspira em Carol.

Ou redefinir a figura mentora de Carol que originalmente era Walter Lawson nos quadrinhos, o Capitão Marvel original, ou Mar-Vell, que veio a dar os poderes à Carol. Enquanto no filme temos Wendy Lawson interpretada por Annette Bening. Buscando também criar para Carol essa figura feminina inspiradora para a heroína. Afinal manter a origem dos poderes da heroína a partir de um homem está longe dos critérios representativos a ser lidado aqui, ninguém vai ligar para a criação original de Stan Lee (mas que recebe uma bela homenagem na cena intro).

Mas nada disso são de grande problema ao filme em si encarando por uma perspectiva de roteiro, mas não creio que tais mudanças reflitam a grande importância dramática e simbólica que o filme busca querer fazer, e acaba apenas soando gratuito e facilmente esquecível com o tempo, como os mais esquecíveis filmes do MCU.

Porém o fato é que, embora seja uma importância totalmente forçada dentro do universo Marvel, não era impossível dela ser válida se a personagem pelo menos mostrasse de verdade a sua razão maior dela estar aqui, além de parecer apenas querer cumprir representativade. Por quê o público deve levá-la a sério dentro do MCU? Porque ela é uma super-heroína poderosa, a mais poderosa do universo Marvel segundo Kevin Feige. Mas como? Por quê? O que faz ela tão forte? O que faz ela ser uma personagem envolvente, forte e relevante? Só porque ela atira raios atômicos dos braços?! Não! Tudo se resume à funcionar a partir de como sua atriz Brie Larson a interpreta, e o roteiro a lhe constrói.

Mas a personagem, infelizmente, é um antro de erros e acertos, assim como o filme. Crédito seja dado pois os trailers do filme realmente mostravam um lado errado da personagem que aparentava ser apenas sisuda e séria, o que ela é no filme, mas mesmo dentro de uma personalidade que aparenta ser sisuda, imponente e invencível, há sim tentativas de tentar fazer de Carol uma personagem relacionável. Mantendo sua personalidade debochada reminiscente da sua última encarnação da personagem nos quadrinhos, e que funciona como o seu lado de alívio cômico que ainda bem não soa forçado na personagem, ao contrário de outros do MCU como Doutor Estranho em seu filme solo, mas cujo carisma de Larson não mostra ser o suficiente para fazer todas as tiradas funcionarem, mostrando quase que um aparente desinteresse da atriz ou uma direção limitada em cima de sua atuação.

Enquanto no departamento dramático, Boden e Fleck tentam fazer algo similar ao que Patty Jenkins fizera em Mulher Maravilha em querer mostrar a vulnerabilidade emocional de uma personagem extremamente poderosa, mas algo que se encontra meio perdido no filme. De um lado mostrando sua falha de memória do passado estabelecida no início e constantemente trazida ao longo do filme, e o outro é o fator mais “ativista” do filme, onde ao colocar o público vendo o quanto Carol fora esnobada e desacreditada sua vida inteira desde a infância até a vida adulta, com homens como seu pai que nunca deram valor ao seu potencial e o que a fez se esforçar para ser a melhor a vida inteira.

Fazendo no final o seu confronto com Yon-Rogg e a Inteligência Suprema dos Kree um ápice de tudo isso, onde até no momento em que ela está mais poderosa do que nunca, ela ainda é desafiada e duvidada de suas capacidades. Mas novamente, não sentimos o peso ou a emoção porque a atriz realmente não consegue convencer de todo em sua personagem, e o desenvolvimento desses temas caiam de paraquedas dentro do filme, e tratadas de forma corrida e muito segura para se fazer um filme redondo e coeso, mas que novamente passa por covarde e forçado.

Diana em Mulher Maravilha foi desafiada, viu que suas crenças não passavam de mentiras e que o homem estava destinado a se matar, com ou sem ela e com ou sem Ares, que mesmo não sendo um vilão bem desenvolvido, mostrou sim ser um desafio para a heroína. Não há desafios físicos para Carol pois ela é extremamente poderosa, então levar o conflito para algo mais pessoal e íntimo dentro dela, mas não permite ao público sentir o todo disso, e infelizmente não usam uma atriz que já se mostrou ser muito mais do que competente e Larson ainda parece perdida na personagem.

Destruindo expectativas

Algo a se dar o mínimo calor é a forma com que a dupla Boden e Fleck realmente tentam trazer muito dos temas e estilo cinematográfico do filme através de seus personagens. E que, assim como com Carol, se revelam através de sua própria presença em cena. Vide Ben Mendelsohn e os Skrulls por exemplo, onde o ator consegue se destacar surpreendentemente bem com seu Talos, apesar de sua maquiagem como Skrull estar o claramente dando dificuldades de falar, o seu carisma sobressai ao personagem e ele realmente mostra estar se divertindo no papel, e aproveita bem um personagem cujo as motivações e desenvolvimento talvez sejam os mais bem estabelecidos do filme, ainda mais graças à corajosa reviravolta envolvendo o papel dos Skrulls como verdadeiras vítimas e não vilões do filme.

Podendo isso sim funcionar como essa metáfora de refugiados oprimidos, enquanto os Kree podem ser vistos como os imperialistas colonizadores. Mas o estranhismo de ver uma espécie que por mais de trinta anos foi tratada como antagonistas da Marvel, responsáveis pelos importantes arcos das Invasões Secretas, agora sendo mocinhos e vestindo roupa social em um jantar de família, é um tanto inevitável. Mas não tão estranho com o que temos com Nick Fury, mais sobre isso depois. Ainda bem que pelo menos Mendelsohn por pouco consegue escapar de fazer parte da lista de excelentes atores trazidos para a Marvel e são desperdiçados em seus filmes. Algo reservado aqui tanto para Jude Law quanto para Annette Bening.

De um lado Law está em seu automático competente, começando bem interessante na história na forma como é estabelecido sua relação de mentor e aprendiz entre Yon e Carol, cheia de alfinetadas e respeito, para depois fazer o personagem quase sumir por um longo terço do filme, aparecendo aqui e ali para entregar informações de trama, para no terceiro ato se revelar como o grande vilão do filme. Mas que acaba terminando ser nada ameaçador e sim apenas uma chacota viva para a Capitã Marvel lhe encher de porrada no seu momento de empoderamento, físico e feminista. Nada mais representativo do que a heroína enchendo o vilão homem de porrada sem qualquer consequência ou desafio, não é mesmo?!

Desafio apenas reservado para a personagem da Inteligência Suprema onde Bening também atua como a aparição que Carol vê nesse ser místico e tecnológico, a Wendy Lawson, se resumindo em fazer algumas caretas de superioridade e basicamente um personagem que serve como uma espécie de metáfora da “inteligência” ignorante e artificial, enraizada com os ideais de submissão às forças superiores e totalitária dos Kree. Encaixe e interprete isso em qualquer cenário de causa feminista ou crítica ao totalitarismo que quiser. Interessante? Sim. Funciona no filme? Se fosse melhor trabalhada, talvez.

Isso porque nem citei o quanto enfeites de cena são os personagens do agente Coulson, Ronan e Korath, os vilões do primeiro Guardiões da Galáxia. Se lembram deles? Não os culpo. Que basicamente apenas servem como fan-service do MCU e claro para amarrar com todos os outros filmes. Mas se você espera que esse filme respondam algo à mais desses personagens de suas origens para o que veríamos deles em seus filmes originais, podem esquecer.

Pelo menos temos outro ator de peso aqui para balancear as coisas e não se deixar desperdiçado no filme, que obviamente é o senhor Ezequiel 25:17. Felizmente Samuel L. Jackson é Samuel L. Jackson, sempre bom em tudo, então seu encaixe como alívio cômico no filme consegue ser certeiro dado o enorme carisma do ator e torna sua presença como o jovem Fury tão divertida no filme. Embora que o Fury agindo assim de forma quase bobalhão, o engraçadão da dupla Buddy-cop que ele forma com Carol, é um tanto fora de personagem.

Passando o filme inteiro com ele agindo como esse tiozão feliz que é sim inevitavelmente engraçado e divertido, para depois terminar o filme em sua cena final com uma atitude séria e fechada quase que do nada como se ele já estivesse esperando Thanos e o apocalipse chegarem. Com a única desculpa para essa sua personalidade se dando o fato de que ele ainda era um agente novato e espontâneo.

Mas isso está longe de ser o maior problema do personagem no filme, dando em conta o fato ridículo de desculpa que o filme dá à origem do como tivemos o início do caolho fodão que deu início a iniciativa Vingadores. Algo que foi sempre tratada como um mistério intrigante ao longo de dez anos no universo Marvel, sobre como qual foi o grande motivo por Nick Fury perder o seu olho? Bom, essa resposta está aqui, tudo por causa de Goose, o gato alienígena.

O grande responsável e misteriosa causa por detrás da famosa frase do Fury “A última vez que confiei em alguém, eu perdi um olho!”, foi o gatinho CGI que Fury faz carícias o filme inteiro e que do nada no final lhe arranha o olho por motivos de “gatos agem estranho do nada as vezes”. E ao longo do filme inteiro temos que ouvir milhões de indiretas como: “e seu olho como está?”, além dos vários avisos que o próprio Talos faz. Mas o pior de tudo, a cena do gato arrancando o olho dele é tratada de cômica, onde próprio Fury ri do acontecido logo em seguida.

É uma infeliz constante mania da Marvel de pegarem algo que passaram tanto tempo criando uma enorme expectativa excitante aos fãs, e tornando tudo em uma piada idiota, quase o mesmo destino que o filme Capitã Marvel teve. Não idiota claro, mas promessas e expectativas de resposta tão correta e redonda que perde todas as oportunidades de novamente se fazer algo novo e marcante no MCU.

Por mais que tente se parecer novo e diferente, ainda segue muito do padrão dos filmes da Marvel e que não consegue destacar acima deles por mais que tente através de seus temas de representatividade feminina que acabam apenas soando forçadas e com muito poucas emoções. Acabando sendo talvez o filme mais sem graça do MCU desde Homem de Ferro 3. Pois quando a pós créditos do seu filme consegue despertar mais aplausos e ser mais excitante que o filme em si, aí você percebe o que há de realmente errado.

Capitã Marvel (Captain Marvel, EUA – 2019)

Direção: Anna Boden e Ryan Fleck
Roteiro: Anna Boden, Ryan Fleck e Geneva Robertson-Dworet, baseado nos personagens da Marvel
Elenco: Brie Larson, Samuel L. Jackson, Jude Law, Annette Bening, Ben Mendelsohn, Lashana Lynch, Lee Pace, Djimon Hounsou, Clark Gregg, Gemma Chan
Gênero: Aventura, Ficção Científica
Duração: 128 min

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Publicado por Raphael Klopper

Estudante de Jornalismo e amante de filmes desde o berço, que evoluiu ao longo dos anos para ser também um possível nerd amante de quadrinhos, games, livros, de todos os gêneros e tipos possíveis. E devido a isso, não tem um gosto particular, apenas busca apreciar todas as grandes qualidades que as obras que tanto admira.

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