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Crítica | Eternos tem sucesso em subverter o padrão da fórmula Marvel

(Foto: Divulgação/Marvel Studios)

O que eu posso dizer sobre o novo filme da Oscar Winner Chloé Zhao (Nomadland) é que, nem de longe ela fez o pior filme da Marvel, mas também não fez o melhor, conseguiu trazer algo mais diferente, e no atual status que o estúdio se encontra na indústria, isso é um enorme elogio.

A nova produção da “Casa das Ideias” nos coloca em um conflito familiar. Eternos conta a história de seres intergalácticos do planeta Olympia, que sob o comando de um ser cósmico extremamente poderoso, vivem na terra há 7000 anos, moldando a História e as civilizações e livrando a raça humana de uma legião de monstruosidades extraterrestres, os Deviantes, que andam de planeta em planeta se alimentando de vida inteligente.

Assistindo ao longa, o que fica é a mesma sensação de sempre com toda projeção que eu vejo do estúdio: o de potencial desperdiçado. O roteiro dos primos Ryan e Mathew K. Firpo, junto da diretora e do colaborador Patrick Burleigh, a todo momento flerta com um épico bíblico, mas nunca cai de cabeça. E nem podia, já que afinal de contas é uma produção da Marvel/Disney, tinha que obedecer os padrões.

As passagens de tempo junto dos flashbacks não convencem como um recurso narrativo pra contar a estadia dos Eternos na terra. As épocas retratadas são de um ambiente só, mesmo os cenários bem desenhados, com suas respectivas populações, elas são de um lugar apenas, de praticamente um take. Apresentam-se genéricas, monocromáticas, como se fosse descritas por um estudante do fundamental numa aula de História, além do elenco atuar com a mesma tez, ter a mesma maquiagem, o figurino mudava mas continuava num mesmo padrão  de cores entre os protagonistas. Essa “eternidade” deles ficou mesmo só no papel, não consegui ver isso em tela.

(Foto: Divulgação/Marvel Studios)

Eu tenho um certo problema com as fotografias da Marvel, mesmo que aqui o fotógrafo da casa Ben Davis (Dr Estranho, Guardiões da Galáxia) ceda ao estilo de filmagem da diretora, o filme ainda apresenta o filtro acizentado das produções do estúdio deixando muitas vezes a desejar na concepção de shoots mais pessoais, marca de sua realizadora, além de denunciar a famigerada tela verde, aqui em poucos cortes (pelo menos).

O longa também tem um problema de ritmo, não só por causa dos flashbacks que, abruptamente, chegam em tela, mas durante a busca pelos outros Eternos, que talvez para tentar sair de uma fórmula à la Power Rangers, não fica orgânica, fica arrastada, com picos de empolgação (a cena de apresentação da personagem Thena, na atualidade, é de uma delicadeza sem tamanho) mas que depois se esvai.

Até pode-se afirmar que o elenco é subaproveitado, principalmente as grandes estrelas nele presentes, mas eu, particularmente, achei um milagre o que eles fizeram com DEZ protagonistas, mesmo que alguns tenham pouco desenvolvimento, e outros já se perdem em arcos pouco interessantes.

(Foto: Divulgação/Marvel Studios)

Porém a alma do filme está justamente no elenco, nos Eternos, como uma família. Sersi (Gemma Chan) e Ikaris (Richard Madden) são quem tem mais tempo de tela, um casal protagonista, com um drama particular que no final adere a alguma coisa na história central, Ajak (Salma Hayek) é a líder do grupo e que consegue estabelecer o conflito central do filme ~mesmo que estranhamente subaproveitada~, Thena (Angelina Jolie) tem um conflito próprio, mas que diferente do casal citado anteriormente,  tem nossa total atenção, Gilgamesh (Ma Dong-seok) é extremamente carismático e nos cativa a partir de um elo especial que tem com um Eterno específico, Kingo (Kumail Nanjiani) é um alívio cômico que só existe pra fórmula Marvel se provar presente, Makkari (Lauren Ridloff) tem as melhores cenas de ação ao lado de Thena, mas, pouco adere ao enredo. Druig (Barry Keoghan) tem uma presença magnética e umas duas demonstrações inventivas de suas habilidades, mas que também pouco influi no roteiro, Phastos (Brian Tyree Henry) tem sua participação importante, mas tem pouco tempo de tela como a maioria, Sprite (Lia McHugh) é tão presente quando Sersi e Ikaris mas a personagem só tem nossa atenção no início do terceiro ato. O personagem do ator Kit Harington (“João das Neves” de Game of Thrones) não influi em nada no enredo principal, com uma participação curta até, mas se mostra uma presença forte pro futuro do Universo Cinemático da Marvel, ou pelo menos é assim que nos fazem pensar.

(Foto: Divulgação/Marvel Studios)

O conflito gerado pela união dos Eternos se mostra mais presente quando eles, juntos, depois de anos de separação, põem em questão suas crenças e julgamentos, a respeito de si mesmos e da humanidade, e é o que molda a história aqui contada (ou pelo menos há uma tentativa disso) e até que ponto eles são capazes de alterar, literalmente, o propósito do grupo na Terra.

O que eu mais gostei, e que vendo alguns reviews foi bastante criticado, foram as cenas de ação. Elas se diferenciam sim, do padrão do estúdio, poucos cortes, uma certa fluidez dos movimentos ~principalmente os da Thena~, que mesmo com um excesso de CGI, ainda empolgam bastante.

A diretora soube explorar bem as peculiaridades de cada Eterno e seu poder, com destaque pra supervelocidade da Makkari que tem cenas bem editadas e inventivas, e um ótimo uso do CGI.

Sobre a plot? É o de sempre, monstros querendo destruir a terra e heróis precisando salvá-la. Tem umas tentativas de subverter, mas no final acaba sendo a mesma maneira genérica que se resolvem os conflitos de sempre, o resultado sai igual.

Eternos não é, ainda, o filme que saiu do padrão Marvel, mas com certeza é o que mais faz a curva contrária, é o que mais arrisca e o que com certeza ficará em mente, quando terminada a sessão, e como já foi dito, se tratando do estúdio, essa é de longe a maior qualidade do filme.

Eternos (Eternals, EUA – 2021)

Direção: Chloé Zhao
Roteiro: Chloé Zhao, Patrick Burleigh, Ryan Firpo, Kaz Firpo
Elenco: Gemma Chan, Richard Madden, Angelina Jolie, Salma Hayek, Kumail Nanjiani, Brian Tyree Henry, Richard Madden, Lia McHugh, Lauren Ridloff, Barry Keoghan, Ma Dong-seok, Bill Skarsgard
Gênero: Aventura
Duração: 154 min

Ângelo Alberto

Publicado por Ângelo Alberto

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