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Crítica | Fuga de Pretória – Fugindo do Inferno

Daniel Radcliffe se notabilizou no cinema não por papéis que demandavam do ator uma quebra de limite de seus personagens, nem por papéis que fizessem com que ele realmente dialogasse com o seu eu interior, mas sim por seu protagonista mirim na franquia Harry Potter. E parece que Radcliffe ainda não encontrou um trabalho que pudesse realmente fazer com que o público esqueça de vez que ele trabalhou nos filmes de fantasia no qual se tornou conhecido. O ator agora surge em um novo longa com um papel mais adulto chamado Fuga de Pretória.

A produção dirigida pelo cineasta iniciante Francis Annan é focado no apartheid que ocorreu na África do Sul, e que foi implementado desde 1948, fazendo com que o país fosse segregado racialmente entre negros e brancos, colocando os brancos em uma vantagem significativa em relação aos negros, e isso é algo que é apresentado no filme, em uma breve apresentação inicial para dar uma ênfase do que ocorria no país no período em que o apartheid estava em vigor e do porquê de os personagens, Tim Jenkin (Radcliffe) e Stephen Lee (Daniel Webber), terem agido daquela maneira logo de início, realizando o atentado que iria levá-los para a cadeia de Pretória.

Fuga Para Pretória é inspirado em fatos reais que ocorreram em 1978, quando Tim Jenkin e Stephen Lee foram presos ao integrar o CNA e foram levados para a prisão segregada de segurança máxima de Pretória. A partir de então a produção encara a vida dos dois homens, suas rotinas na prisão e seus planos de fuga, até a ideia geniosa de Tim para criar chaves para sair daquele local que até então se mostrava um local impossível de se fugir.

A ideia do filme não é a de debater o apartheid sul-africano, se o espectador for assistir ao longa procurando tais informações possivelmente irá se frustrar um pouco, até porque grande parte da produção se passa dentro de um presídio, apresentando o plano de fuga dos dois personagens em sair do presídio e como eles conseguiram fugir dali. O fato é que o filme e o roteiro poderiam ter mais ambição, e ao seu término ele mesmo mostra que poderia ir mais adiante do que é apresentado em sua trama, ir mais além daqueles muros e dialogar mais a respeito das questões raciais que afligiam a África do Sul naquele momento.

Essa situação que Tim Jenkin e Stephen Lee se meteram foi considerada a maior caçada da história do país sul-africano e isso só é apresentado no final. O longa por isso mesmo poderia ter ido muito mais além da prisão, havia muito mais história a ser apresentada ao espectador. Obviamente que por a produção se chamar Fuga de Pretória é que se imagina que o diretor quis mostrar a façanha dos personagens em fugir da prisão, mas que daria para mostrar como eles foram para outros países africanos, ou até mesmo mais sobre a questão do racismo que afligia a África do Sul, isso tinha espaço.

Filmes recriados em presídios, como Um Sonho de Liberdade (Frank Darabont) e Fugindo do Inferno (John Sturges), apresentaram algo a mais. O primeiro tinha um tom mais filosófico, além de discutir mais sobre a vida dos protagonistas, era mais íntimo e pessoal, enquanto que Fugindo do Inferno tinha um tom mais aventuresco e focado mais na ação, algo que não acontece com Fuga de Pretória, que vai mais na linha de apresentar apenas a rotina dos presos fazendo uma chave para fugir do presídio.

Mesmo não tendo grandes cenas de ação, ao estilo de produções hollywoodianas como Velozes & Furiosos e 007, o longa ainda tem atrativos e não se mostra parado em sua narrativa, até porque os planos para fugir da prisão geram momentos de tensão e que deixam no ar sentimentos se os prisioneiros serão ou não abatidos em sua grandiosa fuga. É um tipo de ação que prende o espectador no sofá.

Daniel Radcliffe tem uma boa atuação, não é uma das melhores de sua carreira, mas o ator já demonstra estar mais maduro e ter mais consistência em sua interpretação e não tem mais alguns vícios que apresentava em alguns personagens passados. É um ator que vem pegando papéis aleatórios, não importando muito a carga dramática, Radcliffe precisa encontrar equilíbrio em sua carreira, um personagem certo para interpretar e esse certamente não é o caso de Tim Jenkin, que não é um personagem com muitas camadas, falta algo nele; Radcliffe até que se esforça para dar substância ao personagem, mas falta algo em sua essência.

Quem busca um bom filme para assistir, sem precisar quebrar muito a cabeça irá gostar de Fuga de Pretória, uma produção que apresenta uma história de vida e de superação e que tem como pano de fundo uma história de um homem que pensa no melhor para o seu país.

Fuga de Pretória (Escape from Pretoria, 2020, UK

Direção: Francis Annan
Roteiro: Francis Annan, L.H. Adams, Tim Jenkin (Livro)
Elenco:Daniel Radcliffe, Daniel Webber, Ian Hart, Mark Leonard Winter, Nathan Page, Grant Piro, Lenny Firth, Lilliam Amor, Adam Tuominen
Gênero: Thriller
Duração: 106

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Publicado por Gabriel Danius

Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

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