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Crítica | O Homem do Norte – O Brutal conto viking de Robert Eggers

Quando Robert Eggers despontou para o cinema com o filme A Bruxa (2015), ele logo passou a atrair a atenção de parte do público que curte produções com uma pegada mais alternativa, com isso também acabou atraindo para as suas obras nomes consagrados do cinema, e isso pode ser visto em seu mais novo épico viking O Homem do Norte.

Com presenças marcantes de Nicole Kidman (Apresentando Ricardos), Ethan Hawke (Cavaleiro da Lua) e Anya Taylor-Joy, que já trabalhou com Eggers em A Bruxa, a qual sua carreira teve desde então ampla ascensão. Com nomes desse quilate, Robert Eggers fez o que dele se esperava, um longa com muita mitologia e contando com algumas cenas brutais e violentas, isso além de contar com a participação inesperada e sem sentido de Björk em uma rápida dramatização.

Mitologia Nórdica

Robert Eggers se juntou ao romancista islandês Sjón para escrever o roteiro de sua nova obra. Conhecido por ser um diretor que adora mitologia, tanto que isso pode ser visto em seus filmes A Bruxa e O Farol, em que usou desses artifícios para poder criar suas narrativas. E é não só na mitologia, mas também na Islândia, lugar de muita história e por isso perfeito que o cineasta se encontra em casa para filmar seu épico sobre Mitologia Nórdica.

A trama gira em torno de Amleth, que presencia ainda jovem a morte de seu pai, o Rei Aurvandil (Ethan Hawke) pelas mãos de seu tio Fjölnir (Claes Bang), ele ainda sequestra a mãe de Amleth, a Rainha Gudrún, vivida por Nicole Kidman. Amleth foge da ilha e promete realizar uma grande vingança que anos mais tarde irá orquestrar contra o seu tio. É essa a narrativa que o roteiro segue, a verdadeira saga do herói que busca fazer uma represália contra o seu grande inimigo, algo que pudemos presenciar em várias produções do gênero e das mais diversas maneiras.

O primeiro filme que vem a cabeça quando assistimos ao O Homem do Norte, sem querer comparar é claro, até porque são histórias bem distintas, mas é bem difícil não comparar com Coração Valente (1995), longa que Mel Gibson dirigiu e que também traz um relato sangrento de vingança pessoal. A diferença é que The Northman (nome em inglês) tem o acréscimo de colocar a questão da mitologia nórdica no centro do roteiro e da lenda de Amleth como um dos seus principais destaques.

A Lenda de Amleth

Por ser um cineasta de grandes ambições e fã de lendas locais, não seria diferente nessa sua nova jornada em que coloca no foco da trama Amleth, com uma interpretação na fase adulta brutal de Alexander Skarsgård (Godzilla vs. Kong). A história do longa foi realmente inspirada em uma lenda antiga que tenta ser retratada para um público moderno, e é justamente por isso que Eggers mistura e exagera ao utilizar de mitos, lendas e lutas sanguinárias, que acabam se mostrando um acerto por parte do diretor, justamente por fugir do que é assistido na maioria das produções épicas. Por tratar de lendas não é difícil surgir em um trecho ou outro diálogos que introduzem citações, como Valhalla, Odin ou Valquírias.

Porém, mesmo com todos esses elementos mitológicos transcendentes ainda ficava no ar a questão de que faltava algo a mais no roteiro. No primeiro ato parecia que a saga de Amleth seria uma jornada grandiosa de vingança, com a transformação dele como um Berserker e depois dele aparecendo participando de uma batalha sangrenta, filmada de maneira eletrizante por Eggers. Mas quando começa o segundo ato, quando já está em sua busca por vingança, a narrativa parece ir por outros caminhos e acaba se tornando bastante rasa ao esquecer seu real valor, principalmente em relação a rica mitologia que havia criado e ao elo emocional que havia estabelecido com o público, tudo isso é praticamente abandonado de vez no último ato, se tornando assim apenas um filme banal sobre vingança.

Por trazer uma história simples, mas muito simples mesmo, isso se levado em conta o que foi vendido para o público, como um grande épico de ação, isso não pensando que seja mal feito ou mal produzido, mas sim que The Northman é bem menos do que se imaginava ser, ainda mais por se tratar de uma obra de Robert Eggers. Em seu último ato há uma tentativa fracassada de se fazer uma virada de roteiro, e é assim que Eggers justamente falha em seu elemento principal e que é quase a sua marca registrada, a de adicionar o tal fator surpresa que tanto chamou a atenção dos simpatizantes em seu cinema, algo que podemos presenciar em A Bruxa e O Farol, e que não podemos ver em O Homem do Norte.

Saga de Vingança e Sangue

Por ser uma história de vingança e apenas isso, podemos dizer que há uma mensagem ali embutida sobre a violência e como ela pode se tornar cíclica na sociedade e até mesmo ser passada de geração para geração, isso levando em conta a saga pela qual o protagonista segue e as reviravoltas apresentadas no último ato em relação a Amleth, mas isso se forçar muito para tirar algo da trama, porque a produção é a respeito de uma vingança pessoal com uma paixão que ocorre em uma parte da narrativa com toques de misticismo e nada mais que isso.

Assim como toda obra audiovisual viking, em que hordas partem para confrontos brutais e sangrentos, Eggers se propõe a fazer exatamente isso em sua saga nórdica, inserindo ótimas cenas de ação e de matança para os fãs de testosterona não colocarem defeito. Cabeças rolam, vísceras caem pelos corpos e sangue jorra por todo lado em cenas cruas, mas nada disso surpreende muito.

O Homem do Norte se segura em seu grande elenco, na direção firme de Robert Eggers e em um roteiro que irá agradar aos fãs de produções como Game of Thrones e de séries como Vikings, mesmo com o filme sendo mais parecido com O Regresso protagonizado por Leonardo DiCaprio, isso por causa da trama de vingança e pelas belas paisagens naturais. Outros pontos fortes, além do roteiro e a direção, são a bela fotografia e a estética que dão o tom a cada cena, e também a dinâmica empregada pelo diretor ao filmar as sequências de ação.

O Homem do Norte (The Northman, EUA – 2022)

Direção: Robert Eggers
Roteiro: Robert Eggers, Sjón
Elenco: Alexander Skarsgård, Anya Taylor-Joy, Nicole Kidman, Claes Bang, Ethan Hawke, Gustav Lindh, Elliott Rose, Willem Dafoe, Phill Martin, Eldar Skar, Olwen Fouéré, Oscar Novak, Björk
Gênero: Ação, Aventura, Drama
Duração: 137 min

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Publicado por Gabriel Danius

Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

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