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Crítica | Saltburn – Frustra por não atender as expectativas

Emerald Fennell deixou de ser uma promessa para se tornar uma realidade no meio do audiovisual ao receber o Oscar na categoria de roteiro original por Bela Vingança, primeiro filme da carreira da cineasta que causou grande impacto quando foi lançado. Agora, a diretora retorna com o monótono Saltburn, um longa que, entre erros e acertos, pode ser considerado bastante excêntrico.

A trama acompanha a vida de Oliver Quick (Barry Keoghan) em seus primeiros dias na Universidade de Oxford. Enquanto navega pela rotina de estudos, ele conhece Felix Catton (Jacob Elordi), um jovem de família renomada que vive literalmente em um castelo, enquanto Oliver é de família mais simples e afirma que seus pais têm problemas com drogas e faz de tudo para entrar no círculo social de Felix. Para se integrar ao círculo social de Felix, Oliver precisa conquistar o jovem.

Fennell assina o roteiro, e há alguns elementos que a jovem diretora precisa aprimorar. Isso inclui seus finais fracos e o desenvolvimento das narrativas. Em Saltburn, a roteirista e cineasta introduz um mistério maior do que a trama consegue sustentar. Pelo menos até o terceiro ato, a narrativa parece mais focada em uma história de amor obsessiva, sem dar indícios claros sobre a verdadeira natureza da história.

Diferentemente de Garota Exemplar, em que David Fincher apresenta as intenções da protagonista imediatamente, Fennel parece enrolar um pouco até chegar ao resultado desejado. Somente no último ato, percebe-se a verdadeira intenção da diretora com sua obra e seus personagens, especialmente Oliver. Não se trata de uma produção sobre amor possessivo, como inicialmente se imaginava, mas sim sobre a obsessão de ser outra pessoa. No caso, Oliver almeja uma vida que até então não possuía.

Esse desfecho vem acompanhado de um plot twist excessivamente previsível, especialmente após uma sequência de velórios que torna mais evidentes as ambições do jovem Oliver. A relação homoerótica, embora desejada por Oliver, não se concretiza e não é devidamente desenvolvida pelo roteiro, permanecendo estagnada. O Talentoso Ripley (1999) lida com essa questão e os efeitos de uma pessoa vivendo como outra de maneira muito mais competente.

É de se questionar o final de Saltburn, principalmente considerando que a construção do último ato foi bem estruturada. Embora tenha sido criada toda uma atmosfera de suspense e a trama tenha progredido de maneira satisfatória, o desfecho não surpreende, chegando a beirar a breguice na forma como as questões são resolvidas.

Se em Bela Vingança a ideia era a de denunciar os violentos abusos enfrentados pelas mulheres, em Saltburn a cineasta critica os luxos e a ostentação dos ricaços ingleses. Com um visual deslumbrante e filmado de maneira a destacar a fortuna dos Catton, fica evidente que Oliver e Farleigh (Archie Madekwe), outro amigo de Felix frequentemente convidado para a propriedade, e que são tratados como animais de circo e que estão ali apenas para entreter os familiares com suas tristes histórias. 

As várias cenas desnecessárias, além de serem de péssimo gosto, não acrescentam nada à narrativa, como a profanação de um túmulo realizada por Oliver. O ponto alto da trama é, sem dúvida, a atuação de Barry Keoghan, que beira ao perturbador em alguns momentos. O suspense é um elemento importante para o filme, que funciona em certas ocasiões, enquanto em outras se mostra bastante superficial.

Barry Keoghan é frequentemente visto desempenhando papéis excêntricos ou interpretando figuras bizarras nos filmes em que atua, como o estranhíssimo O Sacrifício do Cervo Sagrado (2017). Aqui, não é diferente, com um protagonista exagerado e de aspecto assustador, que claramente esconde algo por trás daquela aparente timidez. O resto do elenco também está ótimo, assim como o sedutor Jacob Elordi. Enquanto que Rosamund Pike, poderia facilmente ter mais tempo de tela, considerando que sua personagem, mesmo sendo secundária, é uma mulher fútil, indiferente e solitária dentro daquele enorme castelo.

Saltburn deixa claro o potencial de Fennell como diretora, mas a ousadia na conclusão e o refinamento na abordagem dos temas poderiam elevar a obra a um patamar ainda mais elevado. Apesar de ser bem filmado, peca no roteiro ao buscar ser uma obra chocante e perturbadora, sendo que nada disso era necessário. Fennell tem um grande futuro pela frente, e Saltburn destaca isso de maneira expressiva.

Saltburn (idem, EUA – 2023)

Direção: Emerald Fennell
Roteiro: Emerald Fennell
Elenco: Barry Keoghan, Jacob Elordi, Rosamund Pike, Richard E. Grant, Archie Madekwe, Sadie Soverall
Gênero: Comédia, Drama, Suspense
Duração: 131 min

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Publicado por Gabriel Danius

Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

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