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Crítica | Venom: Tempo de Carnificina é tão bobo que diverte

Lançado originalmente em 2018, Venom é um daqueles acidentes. Um projeto nascido de pura ganância e vontade do produtor Avi Arad em vender mais bonequinhos do vilão do Homem-Aranha (mesma motivação para colocá-lo no derradeiro filme da trilogia de Sam Raimi), o filme estrelado por Tom Hardy foi uma grande bagunça e que não trouxe bons resultados. Bem, pelo menos não intencionais. Por um âmbito de paródia e humor acidental, Venom foi uma experiência divertida e engraçada, principalmente pela performance amalucada de Hardy. E, claro, esse pequeno acidente quase bateu 1 bilhão de dólares nas bilheterias mundiais.

O que nos leva a este Venom: Tempo de Carnificina, que se encaixa naquele tipo de sequência que felizmente aprende com o anterior. Aprende no sentido de apostar em mais drama? Mais sofisticação? Uma conversinha com Kevin Feige? De jeito algum. O que acontece aqui é uma aposta em mais idiotices e uma paródia assumida. O resultado é surpreendentemente agradável.

A trama volta a acompanhar a problemática relação entre Eddie Brock (Hardy) e o simbionte alienígena Venom, que tentam superar suas diferenças e ajudar um ao outro. Como forma de alavancar sua carreira jornalística, Brock entrevista o serial killer condenado Cletus Kasady (Woody Harrelson), um maníaco obcecado em se reencontrar com sua antiga namorada, Frances (Naomie Harris). Durante uma entrevista, Cletus acaba pegando parte do simbionte alienígena, transformando-se no letal Carnificina, um novo inimigo tanto para Brock quanto para sua cara-metade canibal.

Venom & Eddie: Feitos Um Para o Outro

Escrito por Kelly Marcel (da adaptação de Cinquenta Tons de Cinza) a partir de uma ideia que desenvolveu com o próprio Tom Hardy, o roteiro é de uma simplicidade impressionante. Enquanto tantos outros filmes do gênero estão preocupados em construir universos e relações entre outras obras da mesma franquia, chega a ser um alívio perceber que o grande foco de Tempo de Carnificina é mesmo a relação entre seus dois personagens centrais. Já havia uma piada na época do primeiro filme sobre Venom e Eddie serem um tipo de casal perturbado, e o segundo filme definitivamente abraça esse conceito: são constantes DRs, brigas sobre alimentação e beats mais apropriados para uma comédia romântica dos anos 90 do que um filme com personagens digitais se batendo.

Com um texto tão focado em seus personagens, é ótimo ver que o elenco sabe exatamente no que está se metendo. Tom Hardy oferece mais de sua performance insana e exagerada do primeiro filme, agora tendo também mais oportunidades para desenvolver a personalidade de Venom através de um ótimo (e engraçado) trabalho vocal. Já a adição de Woody Harrelson oferece uma paródia assumida, onde o astro parece se divertir ao imitar trejeitos e vozes que geralmente vemos em longas de temática criminal, tendo uma química surpreendentemente convincente com Naomie Harris; esta, completamente insana no papel de uma personagem que – sem explicação alguma – é uma mutante capaz de um grito super sônico, voltando a seus tempos de Tia Dalma da saga Piratas do Caribe.

E faço também uma menção especial para Michelle Williams, que retorna em um papel bem menor do que no original, mas  onde revela uma capacidade de se entregar para a brincadeira de uma forma que poucos astros “de prestígio” tem coragem de assumir; no caso, quando ela dá uma bronca em um Venom ciumento.

Direção preciosa?

Na direção, é curioso ver o nome de Andy Serkis, mais conhecido por seu trabalho com personagens digitais em Planeta dos Macacos e O Senhor dos Anéis. Justamente por isso, é um pouco decepcionante ver que as expressões e animações tanto de Venom quanto de Carnificina continuam bem borrachudas como no filme original, mas ao menos Serkis e sua equipe de efeitos são mais criativos ao lidar com as transformações – especialmente na “destruição” facial de Cletus ao se transformar no vilão titular. 

A ação em si também é pouco inspirada e deixa a desejar perto do trabalho de Ruben Fleischer no primeiro (que já nem era tão bom), sendo bem fácil se perder no meio da pancadaria gosmenta e atrapalhada. Dito isso, há alguns momentos em que o diretor de fotografia Robert Richardson  (o último nome que eu imaginaria para um projeto de gosmas se batendo) consegue imprimir sua marca e pintar belos quadros: o principal deles envolvendo um casamento “maligno” entre Cletus e Frances, rendendo uma verdadeira pintura expressionista dentro de uma igreja com vitrais digna da fase mais experimental de Francis Ford Coppola.

Não espere nada “sério” de um filme como Venom: Tempo de Carnificina. É bem evidente que os produtores entenderam o que desenvolver e levar adiante do primeiro filme, dando origem a um longa que é assumidamente satírico e pastelão, mas que apresenta um charme inegável na relação bizarríssima de seu protagonista duplo. É rápido, descompromissado e pode arrancar algumas risadas.

Venom: Tempo de Carnificina (Venom: Let There Be Carnage, EUA – 2021)

Direção: Andy Serkis
Roteiro: Kelly Marcel
Elenco: Tom Hardy, Woody Harrelson, Naomie Harris, Michelle Willams, Stephen Graham
Gênero: Comédia, Aventura
Duração: 97 min

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Publicado por Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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