Crítica | Quando Explode a Vingança - O Último Western de Sergio Leone
A revolução é um ato de violência. As palavras de Mao Tsé-Tung abrem a projeção deste conto passado na revolução mexicana, já denotando um pouco do que poderíamos esperar em seus 157 minutos. Seguindo o exemplo de seus westerns anteriores, Sergio Leone novamente choca a audiência com a violência nele expressa. Lembrar desta obra somente por este fator, contudo, seria, no mínimo, uma injustiça. Estamos diante de um longa-metragem sobre a amizade e as diferentes faces de uma guerra civil.
Após a citação inicial, nos deparamos com um close na urina de um homem sobre as areias do deserto. A câmera se movimenta, então, com fluidez, nos descrevendo este primeiro personagem, Juan Miranda (Rod Steiger), um camponês descalço à beira de uma estrada no meio do nada. Uma diligência se aproxima e o humilde sujeito prontamente pede uma carona. Os condutores aproveitam esta chance para chocar os passageiros ali dentro, permitindo a entrada de Juan com uma certa dose de zombaria. Dentro do veículo nos deparamos com cidadãos de classe alta e um padre que não perdem tempo para discriminar a ralé, aos seus olhos, que acaba de entrar. Os closes já presentes desde os primeiros segundos aqui chamam ainda mais atenção, focando nas bocas cheias de comida e olhos julgadores daquela pequena elite. Aqui já temos um vislumbre do que veríamos ao longo da obra, a desigualdade social e, mais importante, o comportamento de cada um dentro de uma revolução, onde o protagonista já reconhece que são os pobres que dão o sangue enquanto os ricos permanecem na ostentação.
Juan, contudo, não é tão frágil quanto aparenta e logo se revela o líder de um bando de criminosos. O roteiro, a partir deste ponto, trabalha na construção e desconstrução, nos trazendo uma visão que, ora nos aproxima, ora nos distancia de Miranda. Quando conhecemos o segundo elemento chave da trama, o irlandês John Mallory (James Coburn), passamos a duvidar das ações do outrora humilde camponês. Por alguns minutos ficamos em um vai e vem, oscilando no foco entre o mexicano e o irlandês, ao passo que, lentamente, os caminhos de ambos se tornam um só. As diferenças trabalhadas na diligência novamente se fazem presentes, ao passo que somos colocados diante de um homem simples, um bandido comum e mal alfabetizado, ao lado de um cidadão europeu, ex-membro do IRA, de terras onde a industrialização já tomou conta. Ambos, contudo, tem uma distinta similaridade: as cicatrizes da revolução.
Por meio deste ponto em comum, Leone trabalha em cima de seus dois protagonistas, construindo uma amizade discreta e naturalmente. Quando paramos para notar, estamos assistindo dois velhos amigos. O cenário por trás deles, porém, não facilita seu caminho, forçando-os a participar do conflito que assola o país. São turbilhoes de acontecimentos encadeados e praticamente fora do controle de qualquer um deles. De sequência em sequência somos conduzidos organicamente por esse roteiro extremamente coeso, que, através de sua fluidez, acaba tornando suas quase três horas de duração em meros segundos para o espectador. Ao mesmo tempo é deixada aquela nítida sensação de termos presenciado uma longa aventura, distanciando o seu encerramento das palavras de Mao, ao mesmo tempo que delas se aproximam pela ideologia presente na obra.
A rapidez com que o longa progride deve muito à montagem de Nino Baragli, que opta por diversos cortes bruscos seguidos de elipses. Tais saltos temporais, a princípio, confundem o espectador, passando uma sensação de termos perdido algo na narrativa. Entretanto, conforme os minutos se passam, vamos encaixando lentamente as peças e, com elas, vem o entendimento do filme como um todo. Aqui não posso deixar de traçar a semelhança com a leitura de um livro e sua estrutura capitular, que se traduz na tela da mesma forma. Essa espécie de quebra da imersão nos força a pensar, a analisar a projeção diante de nós, assumindo, talvez, uma visão mais crítica em relação à sua trama e, em segundo momento, à revolução em si. Os questionamentos, presentes nos closes das bocas cheias de comida, voltam ao primeiro plano e, por mais que os protagonistas estejam de um lado do conflito, passamos a nos perguntar qual a diferença entre ambos os lados. A importância de Juan e John é, aqui, ressaltada, ao passo que ambos foram tragados a contragosto para a revolução, não pertencendo, efetivamente, a nenhuma facção.
Mesmo com essa visão política presente na projeção, o que fica, porém, incrustado em nossa mente, é a amizade entre o mexicano e o irlandês, reiterando a forte visão humanista de toda a violência apresentada na obra. Quando Explode a Vingança, no fim, fica como uma grande aventura desses dois homens, caráter constantemente lembrado pela inesquecível trilha de Ennio Morricone, que rompe o som ambiente nos momentos-chave, seja para empolgar o espectador, seja para fazê-lo rir através da palpável química entre Rod Steiger e James Coburn. É um filme que merece ser assistido inúmeras vezes e que, em nenhuma delas, irá cansar, fisgando nossa atenção do início ao fim.
Quando Explode a Vingança (Giù la testa, Itália – 1971)
Diretor: Sergio Leone
Roteiro: Sergio Leone, Sergio Donati, Luciano Vincenzoni
Elenco: Rod Steiger, James Coburn, Romolo Valli, Maria Monti, Rik Battaglia, Franco Graziosi, Antoine Saint-John, Giulio Battiferri, Poldo Bendandi, Omar Bonaro
Duração: 157 min.
Crítica Com Spoilers | A Forma da Água - Um Filme Aguado
Gostando ou não das obras de Guillermo del Toro, que, embora tenha nos decepcionado com seu penúltimo filme, A Colina Escarlate, é inegável que, em termos visuais, ele sempre é capaz de nos impressionar. De Hellboy (e sua continuação) a O Labirinto do Fauno, o realizador demonstra extremo cuidado com a direção de arte e desenho de produção de seus filmes, colocando em tela criaturas fantásticas, das quais, em momento algum, duvidamos - fruto de excelentes trabalhos na área de maquiagem e prótese. Quando se trata dos roteiros das obras, no entanto, o mesmo cuidado não sempre aparece, criando, por vezes, longas que apresentam pura forma, mas quase nenhum conteúdo. A Forma da Água não chega a se enquadrar nesse cenário, mas o que efetivamente importa acaba se perdendo no meio de excessos do texto de del Toro e Vanessa Taylor.
A obra nos conta a história de Eliza Esposito (Sally Hawkins), uma mulher muda, que trabalha como faxineira em uma base de pesquisa do exército americano. Certo dia, ela testemunha a chegada de uma estranha criatura anfíbia ao lugar, ser esse que é mantido acorrentado ou em confinamento dentro de um tanque. Não demora muito para que ela comece a se aproximar dessa criatura humanoide e, quando ela descobre que ele será sacrificado, Eliza decide arranjar alguma maneira de tirá-lo dali. Enquanto isso, o implacável Strickland (Michael Shannon), chefe de segurança do local, demonstra que essa tarefa não será das mais fáceis.
Em diversos aspectos, essa mais nova obra de Guillermo del Toro se assemelha muito a O Labirinto do Fauno. A própria abertura do longa imediatamente nos remete à fabula sobre a Guerra Civil Espanhola do diretor, visto que a narrativa, aqui, também é iniciada com a narração em off, como se esse fosse um conto de fantasia. O aspecto fantasioso de A Forma da Água, no entanto, muito se diferencia do longa de 2006, já que dentro desse universo não há dúvidas que ele exista - a não ser que encaremos toda a história como uma fábula, desconsiderando até mesmo a existência de Eliza, que seria fruto da imaginação fértil de seu solitário vizinho, Giles (Richard Jenkins).
O grande problema do mais novo longa de del Toro é que, em momento algum, ele se compromete com qualquer sensação de realismo. Ele tenta criar a mesma amálgama entre fantasia e realidade de Labirinto, mas falha ao tornar tudo algo extremamente fabulesco, a tal ponto que o aspecto "filme de época" da obra chega a incomodar. Vejam, caso o diretor não tivesse optado por situar a trama durante a Guerra Fria, o problema seria minimizado - a grande questão é que, ao fazê-lo, ele invariavelmente pede ao espectador que volte no tempo, nos faz esperar críticas a esse determinado período, ou, ao menos, a visão do realizador sobre ele. Todo esse transporte, contudo, é desnecessário e acaba gerando subtramas que jamais s concretizam - como é o caso do doutor Hoffstetler (Michael Stuhlbarg), em uma representação tão caricatural dos sovietes que chega a ser risível.
Chegamos, pois, na figura do antagonista, que, evidentemente, cria um paralelo direto com o capitão Vidal, vilão de O Labirinto do Fauno, visto que ambos encontram-se em posição de poder e o exercem de forma ditatorial, violenta, os dois sendo homens que profundamente acreditam em seus deveres - um toma Franco como seu guia e o outro o próprio american way of life, que é desconstruído através desse antagonista, seus hábitos e sua família. Em momento algum é aberto espaço para enxergarmos o lado de Strickland, ele é o típico vilão fabulesco: com o mal definindo todas as suas ações, ponto deixado bem claro pelos seus comentários racistas, misóginos e a própria forma violenta como trata a criatura da água.
Mais uma vez caímos no problema da falta de compromisso com a realidade - praticamente com todos os seus diálogos funcionando na base de frases de efeito, nos é retirada qualquer possibilidade de acreditarmos nesse vilão, que facilmente poderia ter sido tirado de um filme de James Bond. Nota-se, também, o mesmo maniqueísmo presente no capitão Vidal, com a diferença que, aqui, o antagonista não é enxergado pela visão de uma garotinha e sim de uma mulher já adulta - em uma era da bipolarizada quanto a nossa, seria essa a melhor abordagem? Claro que isso funciona como a já mencionada crítica ao american way of life, mas toda essa descarada vilanização de Strickland apenas o torna um personagem raso, sem motivação aparente - ele simplesmente é cruel. Seria isso fruto desse seu modo de vida, no qual o homem detém todo o poder? Ou seria consequência de um roteiro mal escrito? De toda forma, Shanon, ao menos, minimiza um pouco tal defeito, representando seu personagem na medida certa, quase nos fazendo relevar diálogos como o do banheiro, no qual o personagem diz que somente lava a mão uma vez.
Em perfeita contraposição, temos a atitude e a própria personalidade de Eliza, brilhantemente interpretada por Sally Hawkins, que, desde cedo, demonstra ser alguém doce, que genuinamente se importa com os outros - aspecto bem ilustrado pela sua incapacidade de falar, fazendo dela alguém que escuta os outros, colocando-a na evidente posição de quem presta suporte, de quem ajuda. A voz, aqui, passa a simbolizar o poder opressor, que passa por cima da individualidade dos outros. Além disso, seu estado físico é utilizado para criar o rápido vínculo entre ela e o ser anfíbio, já que ele próprio consegue apenas dialogar através da linguagem de sinais. Isso sem falar, claro, nas cicatrizes no pescoço da protagonista, que assemelham-se a guelras. A protagonista, ao contrário do vilão, recebe a devida atenção, del Toro gasta todo o trecho inicial do longa para deixar bem clara a sua rotina, seu olhar sonhador. O grande problema de sua construção está na previsibilidade do desfecho, tornada explícita pela presença das mencionadas guelras.
Entra aqui, então, a própria criatura, que permite, desde cedo, que nos importemos com ela em razão de seus olhos, sempre visíveis e bem abertos, passando somente um tom ameaçador quando ele próprio está sendo ameaçado. Dado vida através de efeitos práticos, com imersivo uso da maquiagem e próteses, a criatura verdadeiramente soa como algo vivo, representando, facilmente, o que há de melhor da filmografia de del Toro. Seu design, claramente inspirado em O Monstro da Lagoa Negra (paralelo, esse, que se estende para a própria trama), o faz parecer como algo que poderia, genuinamente, existir, tirando o aspecto de terror desse ser que vive, prioritariamente, na água.
Doug Jones, já acostumado com tais papéis, consegue ser amplamente expressivo, fazendo bom uso da linguagem corporal para transmitir seus sentimentos e emoções. Da mesma forma, del Toro, como diretor, sabe muito bem criar imagens que valorizam todo o trabalho da direção de arte, com planos que revelam tudo na medida certa. É preciso notar, também, como, em todo quadro, temos a presença de algo verde, seja no cenário ou no figurino das personagens, ponto que dialoga com a natureza aquática da criatura apresentada, remetendo-nos constantemente ao ambiente subaquático, que vemos na cena inicial do longa. Essa paleta esverdeada, porém, acaba cansando o olhar do espectador, que mais sente como se o recurso estivesse martelando repetidas vezes o que já sabemos. Além disso, o exagero do uso desses tons quebra de vez qualquer esperança que temos de acreditar nessa trama, que não mescla fantasia e realidade, sendo puramente fantasiosa, destruindo, de vez, qualquer tentativa de crítica por parte do roteiro.
Não bastasse isso, algumas conveniências adotadas pelo roteiro o prejudicam ainda mais, algo que se torna evidente no trecho que o vizinho da protagonista é convencido a ajudá-la em seus planos. Faltou refino e elegância no texto de Guillermo del Toro e Vanessa Taylor nessas ocasiões específicas, falha essa que se contrapõe às delicadas sequências entre a personagem central e o ser encarcerado, bem pontuadas pela melódica trilha de Alexandre Desplat. Além disso, por vezes, o texto se preocupa demais em oferecer mais tempo em tela para certos personagens, criando subtramas que, no fim, acabam não vingando, soando mais como fillers do que qualquer outra coisa. Bom exemplo é a personagem de Octavia Spencer, que funciona unica e exclusivamente como alívio cômico. Aliás, os coadjuvantes são tão verborrágicos que chegamos a esquecer, em determinados pontos, que a protagonista é muda, fazendo com que essa característica da personagem tenha como únicas funções a de traçar o paralelo com A Pequena Sereia e para evidenciar que Strickland gosta de uma mulher que não fala, em outras palavras, submissa.
O mais trágico disso tudo é como perdemos tempo com o vizinho, vivido por Richard Jenkins, cujo arco não acrescenta em absolutamente nada. Seu personagem poderia ser facilmente excluído do roteiro (assim como a de Spencer) - bastaria trocar poucas ações da protagonista e o vazio deixado por eles seria facilmente preenchido. Com isso, del Toro e Taylor criam uma narrativa extremamente inchada, que mais nos faz querer que o longa acaba logo - nem mesmo a curiosidade serve como apoio, já que sabemos, desde o início, que Eliza irá terminar no mar junto da criatura. Considerando os trabalhos anteriores de del Toro, no entanto, já era de se esperar que enfrentaríamos esse tipo de problema nesse seu mais novo filme.
Dito isso, A Forma da Água nos leva de volta à questão do filme como forma sem substância - o diretor até tenta tecer críticas ao american way of life, ao machismo, homofobia, dentre outras questões, mas acaba superlotando seu enredo, esquecendo do que efetivamente importa: construir uma boa história, com bons personagens. Sem qualquer cuidado com o lado "real" da trama, com tudo beirando a total artificialidade, a obra mais soa como uma falha tentativa de repetir a fórmula de O Labirinto do Fauno - o resultado é algo vazio, com visual que rapidamente perde nossa atenção, soando como se del Toro tivesse apenas preocupado em criar algo "oscarizável" (o que conseguiu). Isso tudo sem levar em consideração as acusações de plágio, que, se forem levadas em conta, destroem essa obra por completo.
A Forma da Água (The Shape of Water - EUA, 2017)
Direção: Guillermo del Toro
Roteiro: Guillermo del Toro, Vanessa Taylor
Elenco: Sally Hawkins, Michael Shannon, Richard Jenkins, Octavia Spencer, Michael Stuhlbarg, Doug Jones, David Hewlett, Nick Searcy
Gênero: Drama, Fantasia
Duração: 119 min
https://www.youtube.com/watch?v=bBIB-lhMNKQ
Crítica | Heróis de Ressaca - A satisfatória conclusão da trilogia
Quase dez anos após iniciar a sua Trilogia do Cornetto, com Todo Mundo Quase Morto, Edgar Wright nos trouxe o seu capítulo final, Heróis de Ressaca, mais uma sátira a um dos famosos gêneros cinematográficos americanos, dessa vez a ficção científica com aliens. Apoiando-se claramente em Vampiros de Almas, Wright constrói sua forte crítica à pasteurização que enxergamos nas cidades, com os clássicos estabelecimentos tradicionais passando a fazer parte de grandes redes, transformando-se, então, em uma cópia de dezenas de outros lugares. Além disso, o diretor reflete na velha experiência da visita à cidade natal, anos mais tarde, apenas para descobrir que não mais fazemos parte daquele ambiente.
Assim como os outros longas da trilogia e, claro, Scott Pilgrim Contra o Mundo, o filme conta com um início bastante comum – um grupo de amigos, incentivados por Gary King (Simon Pegg), decidem viajar para a sua cidade natal, onde pretendem refazer o épico pub crawl o qual realizaram quando ainda eram jovens. Pouco tempo depois de chegarem ao local, contudo, eles percebem que a população está se comportando de forma estranha. Mal sabiam que a grande maioria da cidade havia sido substituída por robôs não-robôs alienígenas e que o mundo inteiro corre perigo.
Uma das maiores marcas de Wright é como o tom de seus filmes se alteram da água para o vinho em questão de instantes. Em um momento nos vemos diante de uma comédia sobre amigos se reencontrando, no outro, estamos no meio de uma ficção científica que mistura o bom humor com ação e pinceladas de suspense. Como dito antes, isso já foi realizado pelo diretor em suas outras obras e é justamente isso que garante a identidade de Heróis de Ressaca, o qual homenageia clássicos do sci-fi com o humor característico de Wright.
Novamente a dupla formada por Simon Pegg e Nick Frost está de volta, com ambos interpretando antigos melhores amigos, que, agora, estão divididos por alguma razão (a qual descobrimos com o decorrer da trama). Pegg e Frost entregam personagens completamente diferentes daqueles que vimos nos filmes anteriores, mas, estranhamente, há uma sensação de familiaridade neles. O roteiro, assinado por Wright e Pegg, trabalha tal questão de maneira orgânica, trazendo profundidade a seus personagens sem exagerar no tom dramático, o qual não combinaria com o longa-metragem. De fato, todos os momentos de conflito entre os dois são marcados por piadas bem inseridas, as quais entregam bastante sobre o passado e presente desses dois amigos. Basta ver como o personagem de Frost muda completamente, regredindo ao seu velho “eu” depois de alguns shots e cervejas.
A obra, porém, conta com um evidente problema o qual, eu diria, se aplica aos outros filmes do diretor, em escalas diferentes: sua duração. Temos sequências de ação em excesso, muitas das quais não se diferenciam tanto umas das outras. Claro que muito do humor do filme é proveniente dos momentos mais “pastelão” de tais trechos, mas o longa já esbanja comédia e certamente se beneficiaria com alguns cortes. É bastante evidente que a intenção de Wright era a de mostrar, passo a passo, a bebedeira do grupo, mas nada que uma boa montagem não resolvesse, o que abriria espaço para outros momentos de humor brilharem, em especial a constatação de que tudo naquele lugar fora preenchido por cópias (tanto as pessoas quanto os estabelecimentos).
Já que falamos da montagem, enquanto a obra erra ao não saber cortar determinadas cenas, ela acerta na maneira dinâmica como as sequências são construídas e encadeadas entre si. Novamente, Wright faz bom uso de chicotes para mascarar determinados cortes ou inserir suas elipses, mantendo o ritmo do filme sempre em boa velocidade. Na direção ele brinca com sua decupagem, inserindo planos detalhes curtos para criar bem elaboradas piadas, seja nos copos enchendo com cerveja (e água) ou nas portas do carro se fechando, característica já observada em Chumbo Grosso, por exemplo.
O diretor também não tem medo de não mascarar os efeitos especiais dos aliens robôs não-robôs, confiando no belo trabalho de sua equipe, que prioriza a utilização de efeitos práticos, partindo para a computação gráfica somente quando necessário (como as grandes explosões). Mesmo essas, porém, não decepcionam, algo muito gratificante de contemplarmos após ter acompanhado toda a sua filmografia, com humildes origens em Dead Right e A Fistful of Fingers. Naturalmente que o maior orçamento da produção é fruto do sucesso de seus longas anteriores, em especial Scott Pilgrim, que atingira um público maior, sem falar nas indicações ao BAFTA por outros de seus trabalhos, como Todo Mundo Quase Morto.
Com o único defeito de ser longo demais, podendo ter inúmeras sequências facilmente cortadas ou reduzidas, Heróis de Ressaca continua sendo um belo desfecho para a trilogia do Cornetto de Edgar Wright, três obras essas que fizeram o nome do diretor, o colocando como um dos mais reconhecidos de sua geração. Demonstrando todos as suas principais marcas, como decupagem dinâmica e atmosfera que se altera completamente no decorrer da narrativa, o filme funciona como uma bela despedida à dupla formada por Simon Pegg e Nick Frost, ainda que, provavelmente, os veremos juntos, sob a batuta de Wright, nas telonas novamente.
Heróis de Ressaca (The World’s End, Reino Unido - 2013)
Direção: Edgar Wright
Roteiro: Edgar Wright, Simon Pegg
Elenco: Simon Pegg, Nick Frost, Martin Freeman, Rosamund Pike, David Bradley, Pierce Brosnan, Michael Smiley, Paddy Considine, Eddie Marsan
Gênero: Comédia
Duração: 109 min
https://www.youtube.com/watch?v=YF-4c8U-mUI
Crítica | O Colosso de Rodes - Nem todo gênio começa grande
Neste primeiro filme dirigido exclusivamente por Sergio Leone, o italiano aposta em um épico de sandálias e espadas, seguindo o exemplo de sua experiência anterior com Os Últimos Dias de Pompéia. O Colosso de Rodes é um dos poucos filmes a retratar o período entre a morte de Alexandre e domínio do Império Romano da região. Infelizmente, contudo, a retratação exibida na obra não chega, nem de perto, a ser historicamente precisa, mesclando o romano com o grego, constituindo um anacronismo que, de fato, não chega a atrapalhar a narrativa, somente tira sua riqueza historiográfica.
Analisar este primeiro trabalho de Leone por tal lado seria, contudo, um equívoco. Lançado em 1961 o filme faz parte de uma onda de épicos passados na antiguidade clássica, ao exemplo de Ben Hur e Spartacus. Sob esta ótica, podemos, então, relevar a presença de uma arena romana em plena Grécia, ou até que o protagonista em questão possui o nome do Persa que não muito tempo atrás visou a dominação do mediterrâneo.
Deixando, portanto, de lado tais detalhes, chegamos à história do longa-metragem propriamente dito. Na ilha de Rodes, após a construção de seu colosso, uma rebelião começa a se formar – cidadãos insatisfeitos com a escravidão pela qual seu povo é submetido. Com o intuito de obter apoio do continente, os rebeldes decidem pedir ajuda a Dario (Rory Calhoun), um comandante ateniense atualmente presente na ilha. A narrativa, então, passa a focar no homem ainda ignorante aos esquemas que seria, em breve, submetido. Trata-se de um clássico exemplo de trama cujo protagonista não tem escolha, sendo tragado para eventos dos quais não consegue escapar. Como um bom herói dos anos 1960, contudo, o ateniense não hesita, se tornando não somente central para a trama, como para os eventos que se desenrolam em Rodes.
Não demora muito, porém, para o roteiro começar a confundir seu espectador. Buscando tornar o filme cada vez mais épico, vemos um abandono da simplicidade, que a cada sequência introduz novas problemáticas dentro de sua narrativa. Vale ressaltar que a história em si não é complexa, o problema está na forma como é conduzida, dando pouco espaço para a audiência se acostumar com os eventos ou personagens apresentados. Para piorar a situação, a arte não ajuda, colocando figurinos e maquiagens que pouco se diferenciam entre si. Somente no terço final da projeção conseguimos ter uma ideia de quem é quem.
Quando, enfim, o texto começa a ganhar um certo foco, já se passou metade da duração do longa e, até então, fomos deixados sem tensão ou sequer uma linha narrativa efetiva. Tal fator é ainda mais prejudicado pela revelação da trama logo nos primeiros minutos – se simplesmente seguíssemos a história pelo ponto de vista de Dario, teríamos um suspense para nos manter presos à obra. Esse lento desenrolar da trama acaba levando à uma demasiado extensa duração do filme e, mesmo com isso, não temos personagens bem construídos, somente agentes do roteiro, a fim de promover a progressão da história.
Mesmo as cenas de ação não conseguem atrair a atenção do espectador, resultado das coreografias pouco criativas – em geral vemos uma repetição de movimentos, mesmo em sequências bastante espaçadas entre si. O único ponto que podemos considerar uma exceção é o combate nos braços do colosso, que se destaca pelo realismo da cena. Este efeito somente é produzido graças ao trabalho de fotografia de Antonio L. Ballesteros, que opta por planos mais extensos, a fim de garantir o deslumbramento da audiência pela gigantesca produção do longa, que, apesar dos anacronismos, nos transporta diretamente à Grécia antiga.
Não podemos falar de épicos, porém, sem falar da trilha sonora. O experiente Angelo Francesco Lavagnino, em seu segundo trabalho ao lado de Leone (o primeiro tendo sido Os Últimos Dias de Pompéia), nos traz melodias grandiosas e chamativas, que não hesita em chamar a atenção do espectador quando a imagem em si não consegue. O destaque vai para a música tema, recorrente ao longo da obra, que transmite perfeitamente a temática desejada pelo diretor italiano.
Apesar de sua longa duração, O Colosso de Rodes não consegue trazer um efetivo desenvolvimento para sua trama ou personagens, exibindo situações forçadamente grandiosas, quando a alternativa mais simples produziria um resultado mais efetivo. Seu encerramento conta com o mesmo problema do primeiro épico que Leone participou na direção, ao ponto que introduz uma resolução preguiçosa e pouco criativa, como se o roteiro estivesse esgotado de alternativas. O longa-metragem é um evidente produto de sua época, genérico e sem vida. Busca o épico, exagera e cai no lugar comum, por pouco entretendo seu público.
O Colosso de Rodes (Il Colosso di Rodi, Itália/ Espanha/ França -1961)
Direção: Sergio Leone
Roteiro: Ennio De Concini, Sergio Leone, Cesare Seccia, Luciano Martino, Ageo Savioli, Luciano Chitarrini, Carlo Gualtieri
Elenco: Rory Calhoun, Lea Massari, Georges Marchal, Conrado San Martín, Ángel Aranda, Mabel Karr, Mimmo Palmara, Roberto Camardiel.
Gênero: Aventura, Drama, História
Duração: 127 min.
https://www.youtube.com/watch?v=jh1hmDr11SY
Crítica | Os Últimos Dias de Pompéia - Nem todo gênio começa conhecido
O maior desastre natural do mundo antigo já inspirou dezenas de obras, sejam filmes, livros, minisséries ou episódios de Doctor Who. A mais recente foi Pompéia, dirigido por Paul W.S. Anderson. Voltemos, porém, a 1959, quando os longas-metragens de sandália e espada estavam em seu ápice com Ben-Hur e Spartacus (no ano seguinte). Com tal popularidade em mente, vemos mais uma adaptação do livro de Edward Bulwer-Lytton, que já ganhara um filme, Pompéia, Cidade Maldita, nove anos antes. A nova obra, com o mesmo nome de sua contraparte literária, Os Últimos Dias de Pompéia, dessa vez é dirigido por Mario Bonnard, com algumas sequências nas mãos de Sergio Leone.
A trama gira em volta de uma onda de assassinatos cometidos por um bando de cristãos encapuzados. Quando o centurião Glaucus (Steve Reeves) retorna à sua cidade, Pompéia, logo se envolve na resolução de tais crimes. Ao mesmo tempo, o soldado ganha uma crescente paixão por Ione (Christine Kaufmann), que funciona como motivador do protagonista em diversos momentos da projeção. Este foco da trama acaba se constituindo como uma falha no roteiro da obra, tirando completamente nossa atenção da iminente erupção do Vesúvio, que sequer é lembrada pelo texto ao longo da narrativa. Quando de fato vemos tais acontecimentos se desenrolarem, é deixada a impressão que aquilo é um mero adendo à história, ocupando um papel praticamente irrelevante e até desnecessário em última análise.
Tal deslize acaba tornando a resolução do longa apressado e simples, uma falta de criatividade da equipe, que utiliza o desastre natural para desfazer os nós realizados ao longo da trama. A quebra de imersão do espectador neste momento, contudo, não é um grande choque – a direção de Bonnard se encarrega disso em diversos pontos da obra. Não sabendo utilizar seus atores, o diretor parece perder controle das cenas, em especial nas sequências de maior ação. Encontramos uma clara exceção, contudo, no terço final do filme durante o combate na arena, que consegue exprimir uma tensão ausente no restante da projeção.
Essa mesma cena impressiona pela sua produção, que consegue imergir completamente o espectador, nos transportando, sem dificuldade, para o Império Romano. Limitar a escala deste épico somente a tal sequência, contudo, seria um equívoco. Desde os cenários até as armaduras dos legionários, Os Últimos Dias de Pompéia se equipara às colossais produções Hollywoodianas da época, trazendo as sandálias e espadas de volta para a Itália. Tal esforço é corroborado ainda mais pela trilha em tom nada menos que épico de Angelo Francesco Lavagnino, que garante a majestade almejada pela equipe.
Estando inserido dentro dos moldes clássico-narrativos de Hollywood, o longa conta com uma fotografia não-inovadora, sem muitos movimentos de câmera e planos rebuscados, priorizando o texto à imagem propriamente dita. O mesmo vale para a montagem de Eraldo Da Roma e Julio Peña, que visam tornar cada transição praticamente imperceptível. Nas cenas mais frenéticas ela se sustenta, trazendo um claro entendimento ao espectador, que não se perde mesmo durante o cataclismo final.
Os Últimos Dias de Pompéia é uma obra praticamente genérica dentro de seu contexto, não trazendo nada de marcante ao seu público-alvo. É uma clara tentativa de se arrecadar ainda mais em cima da temática em voga da época, mas que acaba deixando a desejar quando se trata do roteiro e direção. Ainda assim, consegue surpreender o espectador pela sua produção, permitindo uma imersão enquanto outros aspectos a prejudicam. Uma das primeiras empreitadas de Leone como diretor funciona como demonstrativo para sua ascensão, tanto em popularidade, quando em experiência, ao longo dos anos.
Os Últimos Dias de Pompéia (Gli ultimi giorni di Pompei, Itália/ Espanha/ Alemanha -1959)
Direção: Mario Bonnard, Sergio Leone (não creditado)
Roteiro: Sergio Corbucci, Ennio De Concini, Luigi Emmanuele, Sergio Leone, Duccio Tessari (baseado no livro de Edward Bulwer-Lytton)
Elenco: Steve Reeves, Christine Kaufmann, Fernando Rey, Barbara Carroll, Anne-Marie Baumann, Mimmo Palmara, Guillermo Marín, Carlo Tamberlani.
Gênero: Aventura, Drama
Duração: 100 min.
https://www.youtube.com/watch?v=VppjPMgQsXc
Homem-Formiga e a Vespa | 12 Detalhes que Você Não Percebeu no Primeiro Trailer do Filme!
A Marvel Studios ainda nem lançou Pantera Negra e Vingadores: Guerra Infinita, mas isso não a impediu de liberar o primeiro trailer de Homem-Formiga e a Vespa, que dá continuidade às aventuras de Scott Lang, Hope van Dyne e Hank Pym! Agora, como sempre, vamos destrinchar todos os detalhes dessa prévia, tentando decifrar um pouco do que podemos ver no futuro longa-metragem do UCM.
Vamos lá:
"Eu só tenho uma pergunta..."
A Guerra Civil, de fato, alterou todo o cenário do Universo Cinematográfico Marvel, dividindo praticamente todos os heróis em dois times. O trailer de Homem-Formiga e a Vespa tem início já trazendo o assunto à tona. Uma forma de ver o quanto os dois estão alinhados? Se ele pode confiar nela até nas piores situações?
Essa simples pergunta, porém, levanta outras questões pertinentes a quando o filme se passa exatamente. A obra irá estrear no dia 5 de julho, alguns meses após Vingadores: Guerra Infinita. Considerando a ameaça que Thanos representa, não faria mais sentido ele comentar algo sobre ele, ao invés da Guerra Civil? Isso pode indicar que o filme se passa antes da chegada do Titã Louco ao planeta - aliás, pelo grau de destruição que podemos esperar de Vingadores 3, Nova York está muito bonitinha nesse trailer do Formiga. Pelo jeito a Marvel irá nos confundir ainda mais quando se trata de linha do tempo!
Evidente que pode ser uma mera estratégia da Marvel para não entregar nenhum detalhe sobre Guerra Infinita, mas a sinopse indica, de fato, que o longa se passa logo após Guerra Civil - resta somente esperar para ver.
A Grande Escapada
Agora vemos mais consequências da Guerra Civil, mostrando o que a aliança de Scott com o Capitão América provocou. "Graças a você, nós temos de fugir" diz Hope, enquanto vemos o protagonista com a tornozeleira eletrônica e, em seguida, fugindo do governo. Evidente que o lado escolhido pelo herói afeta, também, Hope e Hank Pym - resta saber se eles também serão considerados culpados de imediato ou se serão perseguidos após ajudarem Lang a fugir.
Mas parece que não será somente isso o que veremos no filme - já foi confirmado que Ghost será o vilão, portanto é de se esperar que Scott, Hope e Hank fujam justamente para combater essa ameaça. De toda forma, veremos o trio contra tudo e todos.
O Prédio que Encolheu
Tudo se torna mais fácil quando você pode encolher e aumentar o tamanho do que quiser, claro! O humor do primeiro Homem-Formiga trouxe muitas piadas relacionadas a isso e parece que não vão deixar a bola cair, trazendo mais desdobramentos das partículas Pym! Já vimos um tanque encolher e voltar ao tamanho normal, por que não um prédio?
De toda forma, Homem-Formiga e a Vespa deve trazer algumas situações bastante inusitadas!
Como derrotar o que você não pode encostar?
Aqui começamos a ver um pouco do que os heróis irão enfrentar no novo longa! Já é mostrado um pouco dos poderes da Fantasma (Hannah John-Kamen), principal antagonista da obra. Nos quadrinhos, nos quais é do sexo masculino, o personagem foi criado por David Michelinie e Bob Layton. Nas HQs, ele é apaixonado pela anarquia e deseja punir as grandes opressoras corporações. No filme é possível que esse ódio às grandes empresas seja direcionado a Hank Pym - com sua habilidade de ficar intangível, certamente será uma vilã que vai dar trabalho ao herói e heroína do título.
Golias!
Isso mesmo! Com uma breve aparição no trailer, Laurence Fishburne viverá, no filme, ninguém menos que o personagem Golias/ Bill Foster. Nas HQs, ele ajuda Pym a reduzir de tamanho quando ele fica preso na sua forma gigante. Será que veremos o mesmo acontecendo com Scott ou Hope? Uma das cenas seguintes do trailer pode indicar que sim! De toda forma, se os quadrinhos forem seguidos, Foster será mais um aliado do trio em fuga.
Mais perseguições!
Tudo indica que, de fato, os personagens centrais não irão parar de correr nesse filme! Agora podemos ver ainda mais desdobramentos da tecnologia criada por Pym - dessa vez, parece que ela foi integrada à van (será a mesma do primeiro filme?), permitindo que ela encolha e retorne ao tamanho normal em seguida. Mas claro que o Formiga não iria deixar suas fieis aliadas de lado - uma pena que não é mais o Anthony!
Vale notar que quem está fazendo tudo isso é Hope, mostrando que, entre um filme e outro, ela deve ter treinado ainda mais.
Não podemos deixar de comentar do carro branco, com direito a escolta de motoqueiros. Será que a vilã irá perseguir o trio assim tão abertamente? Ou teremos a presença de um vilão secundário?
Gigante
Se depender dos filmes da Marvel, ninguém vai ter sossego nessa baía! Novamente vemos Scott aumentando seu tamanho, algo que foi introduzido, no UCM, em Guerra Civil. Voltamos, assim, à presença de Bill Foster no filme - será esse o momento que Lang cresce e não consegue mais voltar ao tamanho normal? Ou será proposital esse crescimento? No barco não conseguimos notar a presença de qualquer vilão ou ameaça, portanto fica a dúvida do porquê dele ter crescido justamente aí.
Fantasma de novo!
Aqui podemos, enfim, ver a Fantasma em seu traje. Pelo design, é de se esperar que suas origens sejam mantidas - ela também é uma fora-da-lei e hacker. Seu visual, aqui, remete ao utilizado no desenho animado Iron Man - O Homem de Ferro (Iron Man: Armored Adventures). Nas HQs, é mais comum ele aparecer (essa mudança de gênero dá muito trabalho para o português) sem o capuz.
Luis está de volta
Alguém tinha dúvidas de que o personagem de Michael Peña retornaria? Luis foi um dos melhores aspectos do primeiro Homem-Formiga e parece que a ajuda prestada a Pym no primeiro filme valeu a pena. De carro novo, o personagem volta para ajudar o trio e não por acaso aparece logo antes da Vespa entrar em ação, provando que só "pessoas comuns" não serão o suficiente para resolver o problema que estão enfrentando.
Viagem Fantástica
Bem rapidinho, do tipo "piscou, perdeu" podemos ver um veículo (o mesmo que vimos de trás, pouco antes no trailer), em tamanho microscópico. A sinopse do longa revela que os personagens centrais irão descobrir segredos do passado - será que essa nave (?) foi construída para tentarem achar Janet van Dyne, a mãe de Hope, a Vespa anterior? Considerando o desfecho do primeiro longa, é possível que sim. Além disso, Michelle Pfeiffer viverá Janet, mas pode aparecer somente através de flashback.
De toda forma, difícil crer que Hope não tentaria ir encontrar sua mãe, que pode estar perdida para sempre, agora que tem acesso pleno às partículas Pym.
"Talvez você só precise de alguém para te ajudar"
E finalmente vemos a Vespa em ação pela primeira vez! Hope já tinha mostrado que sabia lutar no primeiro filme (e acabou com o Scott, por sinal), mas agora vemos que ela dominou plenamente a tecnologia da roupa, diminuindo e aumentando de tamanho quando quer, no meio do combate. Isso sem falar no fato que ela pode voar e atirar com a roupa - muito melhor que o uniforme do Formiga!
Naturalmente que Scott ficaria indignado de não ter esses fatores em seu traje! De fato, isso ajudaria bastante na infiltração ao prédio das indústrias Pym no primeiro filme.
PEZ
Claro que as piadinhas sobre brinquedos aumentando não seriam abandonadas! Aqui vemos um porta-PEZ (pequenas balinhas doces, para quem não conhece) sendo jogado na direção de um motoqueiro, que não parece ser dos mesmos que estavam ao lado do carro branco anteriormente. Vale notar que Hope dispara o item para fazer o objeto crescer de seus pulsos, mostrando que sua roupa é, de fato, muito mais completa que a do Formiga!
Homem-Formiga e a Vespa tem estreia marcada para o dia 5 de julho de 2018.
Crítica | Dragon Ball Z - Saga 02: Freeza
Com o término da primeira saga de Dragon Ball Z e seu dramático encerramento, a franquia criada por Akira Toriyama, já bem-sucedida graças aos mangás, foi sedimentada no imaginário popular tanto no Japão quanto fora dele (alguns anos depois). O anime rapidamente se tornou um sucesso na Espanha e, logo após no Brasil, que foi o segundo país a importar o desenho japonês. No arco de Freeza, contudo, o velho problema dos fillers alcança um novo patamar, tornando-se, inclusive, famoso dentre os fãs pela sua gigantesca dilatação temporal. Antes de adentrarmos neste aspecto, contudo, vamos à história.
Após, por pouco, derrotar Vegeta, Goku, Kuririn, Bulma e Gohan tomam para si a missão de viajar ao planeta Namekusei, a fim de utilizar suas esferas do dragão para reviver os heróis mortos na batalha contra os saiyajins. Goku, contudo, acaba partindo algum tempo depois em uma nave especialmente construída para seu treinamento. Ao chegarem no planeta alienígena, rapidamente descobrem que não só Vegeta procura pelas esferas, como o temível Freeza, tido como o ser mais poderoso do universo. Com esse plano de fundo formado, a saga procede de maneira similar à anterior, com os outros guerreiros tendo de esperar a chegada de Goku. Vale ressaltar que esta é a última vez, no anime, que temos as esferas do dragão como elemento central da trama.
A clara repetição na trama acaba soando cansativa para o espectador, ao ponto que temos de esperar duas vezes no mesmo arco para o protagonista finalmente entrar em ação. Esse defeito acaba sendo disfarçado pela diferença de tom em relação à história anterior. Aqui o sentimento de perigo é constante, aumentando consideravelmente a tensão na audiência (especialmente se considerarmos o grau de poder de Kuririn e Gohan, quem acompanhamos por grande parte da saga). Tal imersão, porém, é facilmente quebrada pelos já citados fillers que não só chegam a ocupar episódios inteiros, como dilatam ações e lutas, vide a Genki-dama de Goku ou a destruição do planeta que, ao invés de minutos, dura dias. Para termos uma melhor ideia da quantidade de material extra, basta compararmos à respectiva saga em Dragon Ball Kai, que apresenta 46 episódios a menos.
Esse grande defeito acaba dificultando a experiência de se assistir novamente a história em questão, especialmente se levarmos em consideração as produções atuais dos animes. Ainda assim, temos alguns elementos que acabam resgatando o arco, dando a ele uma chance de competir com a leitura mais dinâmica do mangá. Aqui entram os pontos chave que se mantém desde o início do desenho: a dublagem e a trilha sonora.
Após diversos episódios da saga dos saiyajins, já podíamos observar uma clara melhoria nesses dois aspectos. Os dubladores (tanto no original quanto no português brasileiro) já se encontravam mais à vontade, encontrando o tom certo para cada personagem. Mesmo Masako Nozawa, que acompanhava Goku desde Dragon Ball, e quem pessoalmente não enxergo como a dubladora ideal para o personagem já crescido, apresenta uma maior familiaridade com esta fase, trazendo entonações mais condizentes. Novamente, devo elogiar o trabalho da dublagem brasileira que continua surpreendendo e insere uma nova diversão pela sua dramaticidade.
No campo da música observamos os mesmos avanços. A repetição de melodias se mantém, mas de forma levemente reduzida. Agora temos a presença de inesquecíveis músicas que já se faziam presentes, através de arranjos diferentes, na saga anterior. Devo ressaltar o tema de Freeza que consegue captar toda a vilania do antagonista, trazendo uma distinta sensação no espectador conforme nos aproximamos do clímax. Ouso dizer que, graças a trilha, a luta final se torna a mais inesquecível de todo o anime, ao passo que temos uma considerável harmonia de imagem e som.
Esse desfecho épico de tal história acaba mascarando o notável problema dos fillers, fixando positivamente a saga na memória do espectador. No fim, porém, ainda podemos tirar uma aventura mais proveitosa do mangá, que conta com uma leitura mais fluida, além de detalhes nas expressões de personagens que não são captados completamente pela animação. Já se deseja uma experiência sonora, a segunda saga de DBZ definitivamente não deixará a desejar, sendo uma das grandes responsáveis pelo grande sucesso mencionado anteriormente.
Dragon Ball Z – Saga 02: Freeza (Japão, 1990 – 1991)
Episódios: 36 – 107
Estúdio: Toei
Dubladores originais: Masako Nozawa, Hiromi Tsuru, Toshio Furukawa, Naoki Tatsuta, Kouhei Miyauchi, Daisuke Gōri, Tōru Furuya, Naoko Watanabe, Daisuke Gōri, Mayumi Shō, Mayumi Tanaka, Mami Koyama, Ryō Horikawa
Dubladores brasileiros: Wendell Bezerra, Fátima Noya, Raquel Marinho, João Batista, Tânia Gaidarji, Luis Antônio Lobue, Alexandre Marconatto, Úrsula Bezerra, Márcio Araújo, Fábio Lucindo, Walter Breda, Alfredo Rollo.
Duração: 20 min (cada episódio)
Crítica | O Procurado - O Exagero Divertido
Suspensão de descrença é praticamente um pré-requisito ao se assistir um filme baseado em quadrinhos, a não ser que a obra original, é claro, preze pelo naturalismo. De Kingsman a Homem de Ferro, qualquer uma dessas obras cairia por terra se pegássemos no pé de todo e qualquer detalhe fora da realidade. O Procurado, baseado nos quadrinhos de Mark Millar e J.G. Jones, já se encontra em outro nível e requer mais uma obliteração de descrença do que efetivamente suspensão. O que, surpreendentemente, não quer dizer que essa não seja uma obra capaz de nos entreter, com suas ressalvas.
A trama nos apresenta a Wesley (James McAvoy), um trabalhador de escritório, completamente infeliz com sua vida, seguindo, miseravelmente, a mesma rotina dia após dia. Tudo isso muda quando uma mulher desconhecida, conhecida apenas como Fox (Angelina Jolie), diz que ele está destinado a feitos muito maiores, levando-o para a sede de uma ordem de assassinos, onde ele é treinado para matar o assassino de seu pai. Desde acertar as asas de moscas, até fazer balas darem a curva, Wesley aprende todas as habilidades desse grupo, descobrindo, no processo, que é capaz de enxergar o mundo à sua volta em câmera lenta, feito que poucos no mundo conseguem.
Embora, em grande parte, seja meramente uma cópia descarada de Matrix, O Procurado, com sua história bastante linear e divertidas sequências de ação, é capaz de nos entreter por tempo considerável. A evolução de Wesley segue de forma bastante previsível, mas não deixa de ser orgânica, mostrando como o personagem, enfim, obtém controle de sua vida. McAvoy mostra-se essencial para o funcionamento de seu personagem, possibilitando que, de imediato, nos aproximemos dele. Claro que, tirando o próprio protagonista, todos os outros personagens são mantidos na unidimensionalidade, mais notavelmente Fox, que funciona meramente como a treinadora/ sidekick sem voz.
O foco do filme, porém, claramente está em suas cenas de ação e não nos personagens em si, com o diretor, Timur Bekmambetov, querendo mostrar ao máximo as peripécias desses assassinos através do extenso uso da câmera lenta, que, embora funcione em determinados trechos, acaba nos cansando em razão de sua utilização exagerada, dilatando algumas cenas desnecessariamente. Aliás, essa intenção de trazer criativas sequências de ação, acaba deixando a maioria delas longas demais, a tal ponto que chegamos a torcer para que acabem logo – grande deslize em um filme de ação. Em razão disso, os divertidos absurdos executados pelos personagens, acabam ficando cansativos à medida que progredimos na história.
Não podemos descartar, porém, como o diretor nos faz acreditar que todas essas artimanhas são possíveis dentro desse universo, fruto de uma direção que torna cada disparo da arma algo precisamente calculado. O próprio protagonista tem a função de quebrar a nossa descrença imediata, ao passo que custa um bom tempo até ele conseguir fazer suas balas darem a curva. Sabiamente, o texto resguarda essa habilidade a pontuais personagens, impedindo que o filme acaba se tornando uma dança com pistolas na mão. Por outro lado, certos trechos seriam beneficiados por planos mais longos, especialmente durante o clímax, que pode se tornar confuso demais em alguns momentos, com cortes em excesso, que impossibilitam que tenhamos noção completa do cenário apresentado.
No fim, O Procurado prova ser uma boa fonte de entretenimento, ainda que falha em muitos aspectos. Passada a descrença inicial sobre o que é feito pelos personagens no filme, nos vemos diante de uma adaptação de quadrinhos, que sabe usufruir da linguagem cinematográfica a fim de construir sequências de ação criativas, embora longas demais. Com sólido trabalho de atuação por parte de James McAvoy, esse é o típico longa-metragem que devemos assistir com o cérebro desligado.
O Procurado (Wanted, EUA, Alemanha - 2008)
Direção: Timur Bekmambetov
Roteiro: Michael Brandt, Michael Brandt, Derek Haas, Chris Morgan
Elenco: James McAvoy, Morgan Freeman, Angelina Jolie, Terence Stamp, Thomas Kretschmann, Common, Kristen Hager, Marc Warren, Chris Pratt
Gênero: Ação
Duração: 110 min.
Review | Final Fantasy Tactics Advance - Um dos Games Mais Infantis da Franquia
Final Fantasy Tactics Advance representa um grande passo para a Square Enix, ao passo que, após bem sucedidos anos de exclusividade no Playstation, sua famosa franquia retorna para a Nintendo (mesmo que através de um spin-off). Ao contrário do que seu título sugere, esta não é uma sequência ou um port de Final Fantasy Tactics, lançado seis anos antes – é um game totalmente diferente em história e somente compartilha a jogabilidade e o reino onde se passa em comum. Esta é mais uma das entradas da Ivalice Alliance.
A obra adota uma das introduções mais diferentes dentro dos padrões da série, colocando seu personagem principal, Marche, em uma cidade em um mundo como o nosso, na Idade Contemporânea. Carros, televisão, games fazem aparições e mais de um personagem cita o próprio Final Fantasy como um de seus jogos preferidos. O estranhamento, dos fãs da franquia principalmente, é imediato, ainda mais quando a primeira batalha não passa de uma briga de bolas de neve. Tudo isso muda, contudo, quando Marche, seu irmão e mais dois amigos são levados a uma terra desconhecida após lerem um antiquíssimo tomo. Finalmente chegamos a Ivalice.
Aqui vemos diversos elementos que posteriormente se apresentariam em FFXII, que também se passa no mesmo reino. Raças como a dos moogle, bangaas e vieras são uma visão comum, exceto para o estrangeiro àquelas terras, Marche, é claro. Através da visão do menino, então, somos apresentados a esse universo, ao mesmo tempo que passamos por tutoriais, que nos explicam as mecânicas do game. Desde então já pode ser percebido o tom mais infantil da narrativa, diferentemente da crescente seriedade vista de FFVI a FFVIII.
Quem jogou Final Fantasy Tactics não irá se sentir perdido em meio à jogabilidade deste game. O sistema de batalha continua praticamente idêntico: somos colocados em um campo de batalha que funciona como tabuleiro e devemos mover cada personagem através de um determinado e limitado número de espaço e atacar o inimigo adjacente. Feitiços e flechas possuem um alcance maior e podem ser utilizados de acordo com a classe (job) de cada personagem. Nesse aspecto podem ser notadas diferenças que melhoram a experiência do game, como o modo como as habilidades crescem. Impossível não sentir o dinamismo dentro de cada batalha, por mais que ela seja em turnos, ao passo que experiência é conferida após cada ataque. Um grande avanço está, também, na câmera, que não é mais tão desajeitada quanto o game para Playstation, possibilitando uma melhor visão do campo de batalha.
Os problemas de Final Fantasy Tactics Advance se encontram, principalmente, na própria história que adota um tom demasiado infantil e não engaja o jogador o tanto quanto deveria. A Square estava ciente da popularidade de Tactics para o Ps1 e, ao invés de realizar uma obra tão profunda quanto, apostou em um jogo que soa como um mero preencher de espaços entre os games que realmente importam dentro da franquia, os numerados. Nesse sentido, este game está preso à sua característica de spin-off. Evidente que a escolha da plataforma motivou essa decisão, já que o público alvo dos portáteis é o infantil.
Final Fantasy Tactics Advance é um jogo que se prejudica devido ao próprio título, criando uma expectativa que em poucos aspectos é suprida. Sua mecânica agrada e representa uma melhoria em relação a Tactics, mas sua história não é forte o suficiente para prender o jogador como deveria. No fim sua importância fica ligada à expansão da mitologia de Ivalice, mas poucos motivos são deixados para que retornemos ao game.
Final Fantasy Tactics Advance
Desenvolvedora: Square Product, Development Division 4
Lançamento: 14 de Fevereiro de 2003 (Japão), 08 de Setembro de 2003 (EUA)
Gênero: Rpg Tático
Disponível para: Gameboy Advance
Crítica | Hellboy (2004) - Adaptação falha dos quadrinhos de Mignola
Dois anos após nos entregar sua primeira adaptação de quadrinhos, Blade II - O Caçador de Vampiros, através do qual, Guillermo del Toro provou ser mais do que apto de nos entregar um bom filme de ação, com direito a típicos elementos de filmes de terror, o diretor nos trouxe Hellboy, baseado em obra de Mike Mignola, publicado pela Dark Horse Comics. Já com sua identidade formada através de seus longas anteriores, como Cronos, A Espinha do Diabo e a já citada adaptação do personagem da Marvel Comics, del Toro foi capaz de traduzir para as telonas uma história que perfeitamente combinava com seus próprios interesses quando se trata da fantasia. O resultado, no entanto, não faz jus a essa bela combinação.
A fantasia/ ocultismo de Hellboy é logo escancarada nos minutos iniciais - com a voz em off de John Hurt, assistimos um grupo de soldados aliados impedindo que forças nazistas convoquem seres de outra dimensão. No processo, uma dessas criaturas acaba passando para a Terra: um garotinho, ainda bebê, vermelho, com chifres e rabo, que passa a ser chamado de Hellboy. Anos se passam e vemos essa criaturinha já crescida, atuando como caçador de demônios para uma divisão secreta do FBI. Junto de seu pai adotivo, Trevor "Broom" Bruttenholm (Hurt), um ser aquático humanoide, Abe Sapien (Doug Jones), Hellboy (Ron Perlman) deve impedir uma segunda tentativa desses mesmos nazistas, juntos de Rasputin (Karel Roden), de desencadearem o apocalipse.
Um dos aspectos mais interessantes do roteiro de del Toro é a forma como, mesmo lidando com temáticas mais sombrias, ele consegue inserir boas doses de humor no texto. Em essência, o protagonista é uma figura bastante descontraída, que se diverte enquanto caça as criaturas infernais, algo refletido tanto pelo roteiro, quanto pela dedicada interpretação de Perlman, que verdadeiramente se diverte no papel. O fato do personagem tecer pequenos comentários durante todas as lutas chega a incomodar em determinados trechos, mas, como dito, o ator nos convence e, no fim, esse recurso narrativo não chega a atrapalhar. De fato, del Toro sabe dosar bem o drama, ação e comédia de seu longa, mantendo um ritmo constante, que somente é prejudicado por algumas subtramas desnecessárias.
Uma dessas é todo o arco envolvendo o triângulo amoroso entre Hellboy, Liz (Selma Blair) e John (Rupert Evans), utilizado para desenvolver a relação entre o protagonista e sua amada, mas que, no fim, não faz a menor diferença, já que as outras interações entre os dois personagens mais que dão conta do recado. De fato, John parece como um ponto fora da reta do início ao fim, não sendo bem aproveitado pelo longa, atuando como nosso “representante” dentro daquele universo, mas que acaba tirando o tempo em tela de outros personagens mais interessantes, como Abe, que é simplesmente esquecido no ato final da obra. Tais pontos geram uma grande fragilidade na narrativa, fazendo com que sintamos que muito mais poderia ter sido trabalhado e até, talvez, em menos tempo, já que o tal triângulo gasta mais tempo do que deveria.
Aliás, é irônico que Liz tenha uma função tão importante no filme sem, de fato, fazer muita coisa. Nessa de construir o romance entre os personagens, del Toro acaba esquecendo de garantir o devido espaço à personagem, que meramente funciona à favor do protagonista. Sim, ela o salva em determinado ponto, mas, como dito, parece que toda a sua construção gira em torno de Hellboy, passando a imagem artificial, como se ela não existisse fora da tela - não é uma personagem viva, é meramente um recurso narrativo personificado. O mesmo, infelizmente, pode ser dito de John, que é simplesmente jogado na trama e parece viver para cair nas graças do protagonista.
Curiosamente, mesmo não tendo muito tempo em tela e, como já dito, sendo esquecido no último ato, Abe parece um personagem, de fato, vivo, plenamente existente dentre aquele universo. Desde cedo aprendemos um pouco sobre ele, suas habilidades, de onde ele veio - seus diálogos mais dizem sobre os outros ao seu redor, mas, por vezes, ele revela um pouco de si, de sua personalidade, o que permite que seja construída sua imagem em nossas mentes. Naturalmente que o trabalho de Doug Jones, perfeitamente à vontade debaixo de tantas próteses e maquiagem, ajuda esse desenvolvimento e nos faz acreditar nessa criatura anfíbia.
Entramos, pois, naquele que certamente é o maior acerto de Hellboy: sua direção de arte. Desde Sapien até o assassino nazista mascarado, sentimos o cuidado na construção desse universo. Não há um design sequer que não mereça nossa atenção e todos dizem muito sobre os personagens ou os locais pelos quais passam. Há evidente influência de H.P. Lovecraft nas criaturas infernais, todas com inúmeros tentáculos, além do próprio portal, claro, que remete ao terror cósmico lovecraftiano. Hellboy, evidentemente, é o maior destaque e mesmo nos vibrantes tons vermelhos ele funciona, impedindo que Perlman perca sua expressividade. A única ressalva é em relação ao rabo do personagem, que, embora se movimente de maneira fluida, soa um tanto artificial.
Naturalmente que estamos falando de um filme de 2004 e muitos dos efeitos em CGI não soam tão belos quanto foram à época de seu lançamento. Felizmente, del Toro sabe mascará-los muito bem, além, é claro, de priorizar os efeitos práticos, algo bem exemplificado pela criatura Samael. Alguns exageros, no entanto, poderiam ser evitados, especialmente em alguns dramáticos movimentos (como o incessante girar das lâminas do assassino nazista) e nos próprios enquadramentos do diretor, que mais parece querer brincar com a imagem do que, de fato, construir engajantes sequências de ação. Muito da naturalidade dos movimentos se perde com isso, transmitindo uma certa artificialidade à imagem, que, por sua vez, acaba afetando a sensação de urgência transmitida pela obra.
No fim, muitos dos acertos desse longa-metragem de Guillermo del Toro acabam sendo prejudicados por tais defeitos - terminamos a obra, nem de perto, tão imersos quanto estávamos nos seus minutos iniciais. Não ajuda, claro, o fato do desfecho ser apressado e pouco inspirado. Com isso, mesmo com uma bela direção de arte e boas performances de Perlman, Jones e Hurt, além de uma boa dosagem entre comédia, drama e ação, Hellboy acaba não sendo mais do que um filme esquecível. Trata-se de uma obra que diverte, mas que não vai muito além disso.
Hellboy (idem - EUA, 2004)
Direção: Guillermo del Toro
Roteiro: Guillermo del Toro (baseado nos quadrinhos de Mike Mignola)
Elenco: Ron Perlman, Doug Jones, Selma Blair, Rupert Evans, Karel Roden, Jeffrey Tambor, Doug Jones, Brian Steele, Ladislav Beran
Gênero: Ação
Duração: 122 min.