Lista | As Melhores Lutas com Sabre de Luz em Star Wars
Uma arma elegante, para tempos mais civilizados...
Mesmo que a frase de Obi-Wan Kenobi para o jovem Luke Skywalker seja uma bela mensagem de sabedoria, todos que assistiram os filmes de Star Wars sabem que toda a civilidade é botada de lado quando dois lutadores sacam sabres de luz. Geralmente o ponto alto de qualquer filme da saga, esses embates marcaram gerações e renderam ótimas cenas na longa trajetória da história dos Jedi no cinema.
Aqui, resolvemos ranquear, do pior para o melhor, todas as lutas com sabres de luz dos filmes - e limitamo-nos ao cinema. Porém, uma observação: entram nesta lista apenas os duelos que envolvam sabre contra sabre, então lutas como a de Obi-Wan Kenobi contra Jango Fett em Ataque dos Clones ou o massacre de Darth Vader contra os rebeldes em Rogue One não são válidas aqui.
Dito isso, confira a seleção:
https://www.youtube.com/watch?v=oO2p_QZqIKY
13. Qui-Gon Jinn vs Darth Maul
Star Wars: Episódio I - Ameaça Fantasma
A primeira luta de sabres de luz em A Ameaça Fantasma não é necessariamente uma cena ruim, mas é muito curta e apressada para termos algum tipo de envolvimento. Agrada pelo mistério de Darth Maul, e pela linda música de John Williams, porém, como fica claro, é apenas uma cena de transição. O melhor ainda estava por vir...
https://www.youtube.com/watch?v=UtWyDazY8UY
12. Obi-Wan vs General Grievous
Star Wars: Episódio III - Vingança dos Sith
O esquenta para essa luta prometia entregar a melhor coisa do mundo: O General Grievous saca nada menos do que quatro sabres de luz com seus múltiplos braços robóticos, e ameaça o Mestre Jedi Obi-Wan Kenobi com hélices mortais. Como dar errado? Simples, uma luta com uma coreografia simplória, planos fechados que mal permitem acompanhar a ação, e uma duração curta demais. Que pena, Grievous era um badass na animação Clone Wars.
https://www.youtube.com/watch?v=8kpHK4YIwY4
11. Obi-Wan vs Darth Vader
Star Wars: Episódio IV - Uma Nova Esperança
O primeiro duelo de sabres de luz da História do Cinema. Considerando todas as limitações técnicas e também a idade dos lutadores envolvidos, não era de se esperar grande coisa do embate entre o velho Obi-Wan e seu antigo aprendiz, agora o maléfico Darth Vader. É uma luta simples, sem muita empolgação, mas que encanta por ser, justamente, a primeira de todas.
https://www.youtube.com/watch?v=Rc76Nleewoo
10. Anakin e Obi-Wan vs Conde Dookan
Star Wars: Episódio III - A Vingança dos Sith
Rematch da luta que encerrou o Episódio II, mas agora com Anakin e Obi-Wan concordando em enfrentarem juntos o Lorde Sith de Christopher Lee, é um confronto bem coreografado e dirigido, e que ganha mais fôlego quando Dookan e Anakin acabam lutando sozinhos. Não é tão empolgante quanto aquela vista no filme anterior, e parece algo apressado para avançar a trama de uma vez, mas o encerramento de Anakin, com uma curiosa "tesourada" de sabres de luz, vale a posição.
https://www.youtube.com/watch?v=bsufv850d0w
9. Mace Windu e os Jedi vs Darth Sidious
Star Wars: Episódio III - A Vingança dos Sith
Samuel L. Jackson em um duelo de sabres de luz, é isso. O grupo de Mestres Jedi que o portador do único cristal Kyber roxo da galáixa reúne para combater Darth Sidious em seu escritório no Senado não passa de um bando de incompetentes, sendo facilmente subjulgados pelo poderoso Lorde Sith. Porém, quando Mace e Sidious se enfrentam pelo escritório, temos uma luta intimista, violenta e que demonstra bem as habilidades de ambos os lutadores. Poderia passar sem aquele rosto digital de Ian McDiarmid, mas a briga é boa.
https://www.youtube.com/watch?v=mFWEBm0TC00
8. Anakin e Obi-Wan vs Conde Dookan
Star Wars: Episódio II - Ataque dos Clones
Não dava pra esperar muita coisa de Conde Dookan como um grande vilão, mas a forma como elegantemente derrota Obi-Wan e Anakin no clímax de Ataque dos Clones é memorável, e realmente acrescenta peso e perigo ao antagonista. Dividida em duas etapas, com Obi e Anakin separados, a porção com o aprendiz é mais interessante, especialmente pelo jogo de luzes e o suspense induzido pela escuridão do local. E, claro, ver o orgulho e ego de Anakin sendo frustrados ao ter seu braço cortado cruelmente, é clássico.
https://www.youtube.com/watch?v=CDa7P_mRlr0
7. Yoda vs Darth Sidious
Star Wars: Episódio III - A Vingança dos Sith
Depois de vermos Darth Sidious enfrentando Mace Windu, nada como ver o grande Lorde Sith enfrentando o maior Mestre Jedi da galáxia. É uma luta breve, mas que impressiona pela habilidade de ambos os mestres, assim como o uso insano do espaço da luta, que envolve diversas plataformas do Senado sendo arremessadas uma contra o outro. Ouvir Duel of the Fates novamente é sempre bom, aliás.
https://www.youtube.com/watch?v=PLV-Vpy1gqQ
6. Yoda vs Conde Dookan
Star Wars: Episódio II - Ataque dos Clones
Ninguém imaginaria que o velho sábio de O Império Contra-Ataca fosse o melhor espadachim de toda a galáxia. Quando os Jedi são derrotados por Dookan, Yoda chega logo em seguida para enfrentar o Lorde Sith, com direito a um embate sobre conhecimentos da Força, e um bom e velho duelo de sabres de luz. Com os saltos e piruetas do Mestre Jedi, é um embate que impressiona pelo fator surpresa.
https://www.youtube.com/watch?v=FJTz-ahXyyI&t
5. Rey e Finn vs Kylo Ren
Star Wars: O Despertar da Força
Único duelo de sabres de luz que tivemos na saga desde A Vingança dos Sith, J.J. Abrams sabiamente aposta em uma luta menos elaborada no quesito coreografia, e mais robustada no belíssimo visual. Nenhum dos três lutadores está apto para segurar uma arma Jedi, com Kylo Ren ferido por um tiro de blaster, Finn sendo um stormtrooper e Rey sem ter um certo treinamento com a arma - além de seu bastão. São duas lutas brutais e que envolvem mais uma fuga do que qualquer outra coisa, e ver a fúria de Kylo e Rey descobrindo seu poder são elementos preciosos, além da bela fotografia de Dan Mindel, que faz um bom uso de uma nevasca no meio da noite.
https://www.youtube.com/watch?v=U1MnMA0TzGI
4. Luke Skywalker vs Darth Vader
Star Wars: Episódio VI - O Retorno de Jedi
O mais intimista e emocional confronto da saga. É uma batalha entre pai e filho, mas onde ambos têm consciência do parentesco, e a tentação de Luke pelo Lado Sombrio torna a luta ainda mais interessante, especialmente quando o jovem Skywalker abraça um poder obscuro. A fotografia escura e azulada, a trilha sonora silenciosa de John Williams e o olhar sempre malicioso do Imperador, manipulando os eventos, tornam esta cena poderosíssima. Não apenas uma batalha por sobrevivência, é a luta pela alma de Anakin Skywalker.
https://www.youtube.com/watch?v=xbsBiyG1mnU
3. Anakin Skywalker vs Obi-Wan
Star Wars: Episódio III - A Vingança dos Sith
A luta mais épica e gigantesca de toda a saga. O fim da amizade entre Anakin Skywalker e seu mestre Obi-Wan Kenobi, que resulta em um duelo espetacular pelo planeta de Mustafar, oferecendo um palco verdadeiramente infernal para um dos momentos mais trágicos de A Vingança dos Sith. Dito isso, a coreografia da luta é bem elaborada, a forma como Lucas utiliza o ambiente e suas possibilidades é criativa, com erupções, saltos sobre um rio de lava e até cipós! Sem falar que o desfecho trágico com a imolação de Anakin é uma das cenas mais pesadas de todos os filmes. Chover no molhado, mas - como de praxe - a música de Williams aqui é adequadamente épica.
https://www.youtube.com/watch?v=Vfxaadmrvjk
2. Luke Skywalker vs Darth Vader
Star Wars: Episódio V - O Império Contra-Ataca
Depois do morno confronto entre Obi-Wan e Darth Vader em Uma Nova Esperança, finalmente O Império Contra-Ataca nos mostraria todo o potencial de um duelo de sabres de luz. Movido pelo suspense e a atmosfera incerta, o primeiro confronto direto entre Luke Skywalker e Vader é um primor cinematográfico. Com excelente fotografia, uma condução assustadora que nos faz temer pelo destino do protagonista, um Jedi em treinamento contra o grande vilão do filme, essa luta só não é melhor que seu desfecho, que entrega uma das maiores reviravoltas de todos os tempos. Inesquecível.
https://www.youtube.com/watch?v=SKlLMRuOx10&t=
1. Obi-Wan e Qui-Gon Jinn vs Darth Maul
Star Wars: Episódio I - A Ameaça Fantasma
Que me perdoem os puristas, mas nada supera esse embate! Como diabos George Lucas poderia inovar a maior arma da História do Cinema? Isso mesmo, com um sabre de luz duplo. Mesmo que A Ameaça Fantasma tenha seus (muitos) problemas, o duelo final com os Jedi Obi-Wan Kenobi e Qui-Gon Jinn enfim lutando contra o sith Darth Maul é um dos grandes momentos da saga. A coreografia elaborada para sustentar a luta entre os Jedi e a arma dupla é bárbara, assim como a fantástica trilha sonora de John Williams. A forma como a luta vai assumindo diferentes níveis, à medida em que os persoagens vão avançando por dentro do Palácio de Naboo também é criativa. E, claro, a forma como Maul é derrotado.
O que acharam da lista? Deixamos alguma cena de fora? Comente!
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Crítica | Star Wars: Episódio VI - O Retorno de Jedi - Um encerramento digno
Não é uma tarefa fácil seguir O Império Contra-Ataca, ainda que o filme abrisse um leque de possibilidades bem interessante para futuras continuações. Mas, mesmo que empalideça diante do capítulo superior e traga um trabalho de direção que não chega aos pés, Star Wars: Episódio VI – O Retorno de Jedi é uma conclusão que não deixa a desejar em nenhum aspecto.
A trama começa 4 anos após a vitória do Império sobre a Aliança no filme anterior, com Darth Vader (voz de James Earl Jones, corpo de David Prowse e rosto de Sebastian Shaw) e o Imperador (Ian McDiarmid) acelerando a construção de uma segunda Estrela da Morte, visando uma estação bélica ainda mais letal do que a primeira. Enquanto isso, Luke Skywalker (Mark Hamill) está cada vez mais confortável com suas habilidades Jedi, e arma um plano com os companheiros Leia (Carrie Fisher), Lando Calrissian (Billy Dee Williams), Chewbacca (Peter Mayhew) e os droides C-3PO (Anthony Daniels) e R2-D2 (Kenny Baker) para resgatar Han Solo (Harrison Ford) do asqueroso Jabba, o Hut.
Dos filmes da trilogia original, O Retorno de Jedi é certamente o mais agitado. A missão para resgatar Han Solo rende uma espetacular cena de ação no poço da planta carnívora Sarlacc, temos uma perseguição em alta velocidade com speeders pela floresta (que, de tão intensa, dispensa até mesmo a música de John Williams), batalhas florestais, duelos de sabres de luz e mais uma corrida espacial pelas trincheiras da Estrela da Morte, que novamente exige o máximo dos especialistas em miniaturas e efeitos visuais. O diretor Richard Marquand comanda bem as ditas sequências, e explora com eficiência os rumos tomados pelo roteiro de Lawrence Kasdan e George Lucas - ainda que exista o rumor de que Lucas teria dirigido muitas das cenas de ação ao testemunhar a suposta "ineficiência" de Marquand.
O grande destaque, e que sempre me chamou a atenção, desde a primeira vez que o assisti, é mesmo a relação de pai e filho entre Luke e Vader. Lembro de meu espanto e maravilhamento ao finalmente perceber quem era o Jedi que “retornava”, do título, o que rende um clímax intimista e poderoso, como se Luke lutasse para salvar a alma de seu pai do Lado Sombrio da Força, representado pelo sinistro Imperador. É aí que a trilogia dos prequels ganha mais força dentro da original, e a ordem cronológica traz seu charme (sempre achei muito melhor assistir aos episódios IV-VI antes dos I-III) ao nos oferecer um ciclo completo na jornada de Anakin Skywalker; que culmina no retorno de seu Jedi interior.
Querem saber o que não gosto no filme? Resumo em uma palavra: Ewoks. Se a trilogia dos prequels tem Jar Jar Binks, a original tem os “ursinhos carinhosos” da lua florestal de Endor.
Se dependesse de mim, não precisaríamos de um Episódio VII. Fico empolgado como qualquer fã, mas Star Wars: Episódio VI – O Retorno de Jedi da conta do recado e oferece um encerramento coeso e poético para a história de Darth Vader, impressionando pelo espetáculo, os personagens e todas as coisas únicas que só Star Wars é capaz de oferecer.
Star Wars: Episódio VI - O Retorno de Jedi (Star Wars: Episode VI - Return of the Jedi, EUA - 1983)
Direção: Irvin Kershner
Roteiro: Lawrence Kasdan e George Lucas
Elenco: Mark Hamill, Harrison Ford, Carrie Fisher, Anthony Daniels, Kenny Baker, Peter Mayhew, Billy Dee Williams, Frank Oz, David Prowse, James Earl Jones, Alec Guiness, Ian McDiarmid, Sebastian Shaw, Warwick Davis
Gênero: Aventura, Ficção Científica
Duração: 124 min
https://www.youtube.com/watch?v=7L8p7_SLzvU
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Crítica | Star Wars: Episódio V - O Império Contra-Ataca - Obra Prima Espacial
Star Wars havia mudado o cinema.
Mesmo durante o período do filme em cartaz, nunca antes Hollywood havia visto um fenômeno da magnitude da space opera de George Lucas, que logo acelerou a venda de ingressos, merchandising, bonequinhos, CDs e 6 estatuetas do Oscar. Mesmo na época, já era bem claro que as aventuras de Luke Skywalker, Han Solo e Leia Organa não iriam parar por aí, e o próprio Lucas já vinha demonstrando seu master plan de uma hexalogia com diferentes histórias e períodos temporais. E após três longos anos, eis que a Fox lança O Império Contra-Ataca (rebatizado agora com a estrutura do Episódio), filme que virou a franquia de ponta cabeça e tornou-se uma referência obrigatória para qualquer continuação que se preze.
A trama começa alguns anos após a vitória da Rebelião em Uma Nova Esperança, já nos revelando que a destruição da Estrela da Morte não enfraqueceu o Império, que continua perseguindo guerreiros do grupo rebelde por toda a galáxia, assim como vasculham cada planeta habitável por sua nova base secreta. Nesse cenário, Luke (Mark Hamill) vai desenvolvendo suas habilidades Jedi, sendo aconselhado pelo fantasma de Obi-Wan Kenobi (Alec Guiness) a procurar o misterioso Mestre Yoda (Franz Oz) para completar seu treinamento, ao mesmo tempo em que está na mira do maligno Darth Vader (David Prowse/James Earl Jones).
Paralelamente, Han (Harrison Ford), Leia (Carrie Fisher), Chewbacca (Peter Mayhew) e C-3PO (Anthony Daniels) são forçados a se separar de Luke quando o Império invade seu esconderijo, levando o grupo na Millennium Falcon a procurar refúgio em algum planeta pacífico.
Desde sempre foi uma fórmula óbvia copiar totalmente a estrutura do original em uma sequência. Até mesmo O Despertar da Força caiu nessa mesma armadilha, 30 anos depois, ao recriar basicamente todos os elementos narrativos de Uma Nova Esperança, com algumas mudanças aqui e ali. Já O Império Contra-Ataca é um belíssimo exemplo de uma história continuada, tanto que o filme inteiro segue uma estrutura radicalmente diferente do anterior, deixando os personagens em fuga e momentos de contemplação durante quase toda a projeção, e isso é muito admirável.
Mais do que isso, é corajoso que este segundo filme seja muito mais sombrio e pessimista do que anterior, já começando com uma derrota feia dos Rebeldes durante a batalha de Hoth, e essa sucessão de derrotas é algo que os persegue de forma tão implacável quanto o próprio Lorde Vader. E muito disso pode ter vindo da saída de George Lucas das funções principais.
Filme de Perseguição
Lucas apenas bolou o argumento do filme, deixando a tarefa de roteiro para Leigh Brackett e Lawrence Kasdan, este último tornando-se um veterano da franquia ao colaborar em O Retorno de Jedi, O Despertar da Força e o vindouro derivado sobre Han Solo. Já tendo os personagens e o grosso do universo estabelecidos no longa anterior, o texto de Brackett e Kasdan consegue driblar diálogos muito expositivos e de fato mergulhar na psique dos jogadores, acabando com os arquétipos duros a qual fomos apresentados.
Luke é uma figura muito mais complexa aqui, confuso e impaciente, e com o fardo de estar sendo atraído pelo Lado Sombrio da Força sendo um dos fatores mais importantes. Han Solo continua sendo nosso mercenário bad boy preferido, mas aqui conhecemos sua capacidade de realizar sacríficios e se importar com alguém além de si próprio, algo bem explorado no romance que inicia com Leia; outra personagem que aqui surge um pouco mais vulnerável e humana. Até mesmo Darth Vader ganha uma camada importante, deixando de ser o mero vilão de capa preta ameaçador.
E nem é a trama mais complexa do mundo. É algo simples e que serve bem à proposta de ser um filme de perseguição, onde os incidentes incitantes e obstáculos da história são encontrados pelos personagens ao longo da jornada, seja por um defeito no sistema da Millennium Falcon, uma gigante criatura espacial ou a entrada de caçadores de recompensa na história - apresentando ao mundo o adorado mandaloriano Boba Fett.
Todas essas situações nos permitem mais tempo a sós com os personagens, ver como reagem a determinadas situações e testar relações diferentes, especialmente o já comentado romance de Han e Leia e a divertida inimizade entre o contrabandista e o rabungento C-3PO. Esse bonding entre os personagens torna os efeitos do terceiro ato, quando os personagens são traídos por um antio amigo de Han, Lando Calrissian (o apropriadamente canastrão Billy Dee Williams) e entregues ao Império para serem torturados, muito mais eficiente e envolvente, resultando no congelamento de Han Solo e a imprevisibilidade de seu destino - esta teria sido a morte definitiva do personagem, um desejo muito forte de Harrison Ford.
Mas a porção mais rica da história está mesmo no arco de Luke, exilado para encontrar o Mestre Jedi Yoda no planeta pantanal de Dagobah. A dupla de roteiristas oferece um arco clássico de treinamento e aperfeiçoamento do herói, com o jovem aprendiz aprendendo os conceitos da Força e a natureza do Lado Sombrio, algo que Brackett e Kasdan conseguem tornar fascinante ao mesmo tempo em que evitam exposições pesadas ou didatismo, já que a fala invertida de Yoda e suas constantes mudanças de humor tornam o veterano Jedi em uma figura mística e imprevisível. E o peso emocional do personagem só fica mais deturpado quando temos a chocante revelação de que Darth Vader é de fato seu pai...
O spoiler mor da História do Cinema, aquela revelação que, pra ser sincero, nem me recordo de nunca saber; o choque de se ter essa notícia é um dos principais motivos pelo qual a ordem correta de se assistir Star Wars é do IV ao III, já que o impacto é perdido se acompanhamos a trajetória de Anakin do princípio. Aqui, é uma reviravolta que muda todo o curso da história. Aliás, aqui finalmente vemos todo o potencial de Darth Vader como vilão ser bem usado. Paralelamente à fuga dos Rebeldes, acompanhamos os momentos de membros da infantaria imperial interagindo dentro de poderosos cruzadores espaciais, e é divertido como praticamente todos os oficiais e soldados tem o mesmo medo de Vader do que os heróis foragidos.
Sempre que os oficiais falham em alcançar um objetivo, o espectador chega a temer por eles, já que sabemos que Vader os matará sem dó ou piedade, e o filme é muito eficiente em construir essa aura de ameaça em torno do Lorde Sith. E em outro momento, usando um efeito reverso, vemos Darth Vader discursando para o grupo de caçadores de recompensa contratados para acelerar a captura da Millennium Falcon, e o tratamento quase respeitoso que fornece a Boba Fett já é o bastante para formarmos a impressão correta deste personagem em específico; imediatamente já gostamos dele.
Meu Mestre
A direção também melhora consideravelmente com a saída de Lucas, que recorreu a um antigo professor de sua faculdade de cinema: Irvin Kershner. Praticamente tudo é elevado, desde a cinematografia, a mise em scène e o jogo de câmeras até a escala dos combates e o apuro estético: O Império é um filme consideravelmente mais belo visualmente do que Uma Nova Esperança.
O branco forte nas cenas do planeta de gelo de Hoth, a paleta cinzenta no pântano de Dagobah e o maravilhoso equilíbrio entre azul e laranja na câmara de congelamento são alguns dos pontos altos alcançados por Kershner e o diretor de fotografia Peter Suschitzky, que também valorizam bem mais o impacto da iluminação dos sabres de luz no elegante duelo entre Luke e Vader. Isso sem falar que Kershner felizmente é um diretor de atores muito, muito superior do que Lucas, aqui sendo capaz de extrair performances melhores e com mais sutilezas de praticamente todo o elenco; o famoso momento do "Eu te amo, eu sei" veio de um improviso que acredito que Lucas seria incapaz de provocar.
As cenas de batalha são algumas das melhores da saga, sendo um feito importante no avanço dos efeitos especiais de miniaturas, stop motions e matte paitings; todos estes verossímeis e impressionantes até hoje. A batalha de Hoth, por exemplo, é um marco no uso de stop motion para a criação do movimento dos AT-ATs do Império - máquinas andadoras que assemelham-se a quadrúpedes - e na criação dos snowspeeders da Rebelião, elaborando uma sequência de ação empolgante e vibrante.
Aliás, a montagem paralela de Paul Hirsch é fundamental para equilibrar as diversas ações ali, desde a batalha propriamente dita entre as naves, as tropas no solo, as interações entre Luke e o restante dos pilotos e a tentativa de Han, Leia e os demais rebeldes em escapar da base antes da chegada de Vader ali. De forma similar, a perseguição da Falcon pelos asteróides é impressionante pela fluidez dos movimentos das naves, a física dos asteróides e a realização simplesmente incrível, sendo a equipe de Kershner muito eficiente em criar a claustrofobia do anel de asteróides ao termos planos centrais da janela da Falcon que mostram a entrada nesse território, assim como o pavor dos personagens durante o momento - menos de Han Solo, o badass absoluto.
Mas o grand finale do filme fica por conta do antológico duelo de sabres de luz entre Luke e Darth Vader. É uma cena que melhora exponancialmente o curto confronto que havíamos visto no anterior, entre Vader e Ben Kenobi, tendo uma duração maior, uma coreografia muito mais elaborada e também um contexto mais interessante. Como já discutido anteriormente, a fotografia de Suschitzky acerta no equilíbrio de cores quentes e frias durante o duelo, provocado pelo choque do sabre azul e o vermelho, criando um efeito muito estimulante e simbólico quanto à eterna luta entre o bem e o mau.
Até a música incrível de John Williams é cortada para os momentos de contemplação e suspense, fazendo o espectador temer por Luke (que sabemos não estar preparado) e para preparar o terreno antes da chocante revelação da paternidade de Luke. Aliás, essa revelação ganha um foreshadowing muito poético durante a cena em que Luke luta com Vader durante uma alucinação na caverna de Dagobah, onde o confronto termina com a visão do próprio Luke debaixo da máscara do vilão - já nos indicando a conexão entre os dois.
O Império Contra-Ataca é o ápice da experiência de Star Wars, sendo inquestionavelmente o melhor filme da saga e uma das melhores continuações de todos os tempos. É um exemplo de filmmaking que aprimora todos os elementos do anterior e corajosamente coloca a história em um ritmo e rumo diferente.
Star Wars: Episódio V - O Império Contra-Ataca (Star Wars: Episode V - The Empire Strikes Back, EUA - 1980)
Direção: Irvin Kershner
Roteiro: Lawrence Kasdan e Leigh Brackett, argumento de George Lucas
Elenco: Mark Hamill, Harrison Ford, Carrie Fisher, Anthony Daniels, Kenny Baker, Peter Mayhew, Billy Dee Williams, Frank Oz, David Prowse, James Earl Jones, Alec Guiness
Gênero: Aventura, Ficção Científica
Duração: 124 min
https://www.youtube.com/watch?v=JNwNXF9Y6kY
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Crítica | Star Wars: Episódio IV - Uma Nova Esperança - A Clássica Jornada do Herói
Eu devia ter uns 6 ou 7 anos quando perguntei a meu tio sobre filmes legais pra se assistir. Lembro que a resposta trouxe Planeta dos Macacos e Star Wars, me apresentado no nostálgico título nacional Guerra nas Estrelas. O clássico com Charlton Heston eu deixaria para assistir alguns anos depois, mas tive a sorte de pegar uma maratona da saga de George Lucas no SBT, que preparava um esquenta para o lançamento de Ataque dos Clones, em 2002. Foi meu primeiro contato com Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança, filme que mudou a minha vida pra sempre.
Acho válido explicar porque o primeiro filme lançado é o quarto em cronologia. Em 1977, George Lucas lançou o filme apenas como Star Wars (Guerra nas Estrelas em terras tupiniquins), tendo a ideia de contar a história anterior a esta alguns anos depois, seguindo o lançamento de O Retorno de Jedi, em 1983. Estamos em 1997 e a notória Edição Especial é lançada, que – além das alterações digitais criticadas até hoje – trouxe a classificação de Episódios IV, V e VI para a trilogia, preparando o terreno para a estreia do Episódio I, que viria dois anos depois. Ao contrário do que algumas lendas por aí afirmam, Lucas não tinha a história dos Episódios I, II e III quando iniciou a saga com Uma Nova Esperanca.
O que nos leva, enfim, à trama do filme. Começa aproximadamente 20 anos após os eventos de A Vingança dos Sith, com o Império Galáctico perseguindo um grupo da Aliança Rebelde que tenta fugir com planos secretos da Estrela da Morte, estação bélica com capacidade para destruir um planeta. Os dróides R2-D2 (Kenny Baker)e C-3PO (Anthony Daniels) fogem com os planos para o planeta de Tatooine, onde são adquiridos pelo fazendeiro Luke Skywalker (Mark Hamill), que logo se aliará ao Mestre Jedi Obi-Wan Kenobi (Alec Guiness) para devolver os dróides a seu dono.
É uma clássica história de arquétipos. Mocinhos idealizados, vilões maniqueístas e premissas que envolvem o resgate de princesas, como nos contos de fadas. Um exemplo típico da Jornada do Herói de Joseph Campbell. O que faz a diferença aqui, é a mitologia fantástica que o roteiro de Lucas apresenta, um universo habitado por alienígenas, caçadores de recompensas e piratas espaciais. O Han Solo de Harrison Ford é um anti-herói divertido e que impressiona por sua mudança de atitude no último ato, enquanto a Princesa Leia de Carrie Fisher é uma personagem forte e nada indefesa, invertendo os papéis ao salvar os heróis enviados ali justamente para salvá-la.
Com a ajuda de efeitos visuais dominados por miniaturas espetaculares, truques de iluminação e um elaborado design sonoro, Lucas cria cenas de ação que ficariam na História. A perseguição de caças espaciais nas trincheiras da Estrela da Morte é empolgante como poucas sequências da saga, sendo também mais um atestado do poder sobrenatural de John Williams para compor temas icônicos e belíssimos, que temperam bem o tom de aventura nostálgica e despretensiosa adotado pelo longa.
Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança talvez seja o filme mais importante da minha vida. É a obra que iniciou minha jornada pelo Cinema, e tudo o que assisti, aprendi e experienciei depois, teve início quando conheci o universo de George Lucas.
Star Wars: Episódio IV - Uma Nova Esperança (Star Wars: Episode IV - A New Hope, EUA - 1977)
Direção: George Lucas
Roteiro: George Lucas
Elenco: Mark Hamill, Carrie Fisher, Harrison Ford, Peter Mayhew, Anthony Daniels, Kenny Baker, Alec Guiness, Peter Cushing, David Prowse, James Earl Jones
Gênero: Aventura, Ficção Científica
Duração: 125 min
https://www.youtube.com/watch?v=1g3_CFmnU7k
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Crítica | Star Wars: Episódio III - A Vingança dos Sith - Uma Poderosa Tragédia Grega
Desde que o vilão Darth Vader cruzou as portas da nave Tantive IV na abertura do primeiro filme de Star Wars, em 1977, criava-se ali um ícone pivotal do cinema hollywoodiano de todos os tempos. A curiosidade por trás do capacete, a respiração mecânica e a voz grossa de James Earl Jones cativaram o público por anos, à medida em que George Lucas lentamente nos revelava flashes de seu passado, a conexão com Luke Skywalker e finalmente o rosto debilitado e frágil que se escondia por trás da máscara, minutos antes de sua morte em O Retorno de Jedi. E mesmo assim, Darth Vader permaneceu um mistério.
Um mistério que parecia finalmente ser revelado quando Lucas anunciou a trilogia prequel em 1997, que iria se concentrar justamente no passado de Anakin Skywalker antes de sua transformação no grande vilão da trilogia original. Com dois filmes que lentamente acompanhavam o crescimento do personagem e os pequenos indícios de sua queda para o Lado Negro da Força, Star Wars: Episódio III - A Vingança dos Sith finalmente realizaria a audaciosa tarefa de retratar o exato momento em que Anakin é convertido de heróico Cavaleiro Jedi ao Lorde Sith mais famoso e poderoso da saga. E o caminho é uma das melhores coisas que o universo Star Wars já nos entregou.
A trama se inicia três anos após os eventos do Episódio II, trazendo a galáxia em um período turbulento e intenso graças às Guerras Clônicas, que colocaram a República diretamente contra os Separatistas. O conflito pode chegar ao fim com a captura do vil General Grievous (voz de Matthew Wood), híbrido que lidera os exércitos dróides para a Federação do Comércio. Tendo essa informação em mente, o Conselho Jedi envia Obi-Wan Kenobi (Ewan McGregor) para dar cabo ao comandante, enquanto Anakin Skywalker (Hayden Christensen) mantém seu casamento com Padmé Amidala (Natalie Portman) um segredo de todos, temendo por sua vida graças a temíveis sonhos que profetizam a morte de sua esposa. Quando Anakin é designado para espionar as misteriosas atividades do Chanceler Palpatine (Ian McDiarmid), todas as suas angústias e medos serão aproveitadas pelo político, que enfim revela suas verdadeiras intenções.
Sessão Matinê
Este é indubitavelmente o melhor filme da trilogia prequel. Não que isso seja uma tarefa particularmente difícil, mas é realmente impressionante observar o amadurecimento e o crescimento de George Lucas como realizador, até mesmo quando comparamos com seu trabalho em Uma Nova Esperança. Logo nos segundos iniciais, Lucas surpreende com um engenhoso plano sequência que já esbanja sua criatividade e o irretocável trabalho de efeitos visuais da Industrial Light & Magic para uma sequência em que os caças Jedi de Anakin e Obi-Wan cruzam uma gigantesca batalha espacial onde Palpatine é mantido como refém do General Grievous. É uma cena crucial para demarcar o ritmo inicial do filme.
Assim como o Episódio II também contava com dois filmes diferentes se desenrolando paralelamente, o Episódio III por sua vez igualmente apresenta duas narrativas distintas aqui - apenas tratando-se de uma divisão mais nítida, quase uma Parte I e Parte II. Tal primeira parte é uma aventura deliciosa e old school que se desperta nessa sequência inicial de resgate ao Chanceler. Vemos o relacionamento de Anakin e Obi-Wan muito bem estabelecido e com alívios cômico que funcionam de maneira orgânica (ainda que aqui e ali a escrita de Lucas seja danosa, nada é perfeito). Até mesmo o inexpressivo Hayden Christensen apresenta uma melhora notável aqui, devendo muito ao trabalho impecável de Ewan McGregor como seu mentor e amigo, e que aqui está cada vez mais parecido - fisicamente e em termos de atuação - como a figura do Ben Kenobi de Alec Guiness que conhecemos no primeiro filme da saga.
Anakin e Obi-Wan dão o tom apropriado para essa primeira porção, especialmente quando a montagem de Ben Burtt os divide para acompanhar a caçada do Mestre Jedi ao asqueroso General Grievous. Aliás, o líder do exército dróide permanece até hoje como uma das criaturas digitais mais consistentes de toda a saga, ainda me fazendo jurar que algumas tomadas só poderiam ter sido realizadas em animatronics, dado o realismo e verossimilança de seus movimentos. Como personagem, Grievous é um bom vilão introdutório e rende sequências de ação muito bem elaboradas, como sua fuga de uma nave espacial e a insana perseguição onde o personagem controla uma roda giratória enquanto é seguido de perto por Kenobi, montando uma espécie de lagartixa gigante. Sua habilidade de usar quatro braços em um duelo de sabres de luz com Kenobi é uma ideia que eu teria em sonhos molhados, mas infelizmente Lucas erra ao compor uma mise en scène baseada apenas em planos fechados que falham em explorar a grandiosidade do confronto. Mas as hélices de sabres de luz com certeza foram de arrepiar, muito obrigado Ben Burtt.
Enquanto a caçada de Kenobi nos garante os momentos de ação, a trama de Anakin surpreendentemente talvez seja ainda mais interessante. Com o jovem cavaleiro Jedi cada vez mais íntimo de Palpatine, é a oportunidade para termos o exemplar mais forte da escrita de Lucas até então, com a natureza sombria do Chanceler finalmente sendo revelada e lentamente seduzindo Anakin. A famosa cena da ópera quando Palpatine conta à Anakin a tragédia de Darth Plagueis, é um raro momento de sutilezas e atmosfera (sem falar na criação de uma mitologia palpável dentro desse universo) incômoda em uma filme dirigido por Lucas, seja pelo texto, a fotografia soturna de David Tattersall, a trilha sinistra de John Williams ou a performance arrasadora de Ian McDiarmid. São também os pequenos toques que vão lentamente nos indicando para o filme sombrio que viria a seguir.
Coração das Trevas
Com a morte do General Grievous e a revelação de que Palpatine é de fato um lord Sith, A Vingança dos Sith começa a tornar-se um filme assustadoramente diferente. É uma mudança de ritmo tão forte que o resultado é perfeitamente capaz de ser perturbador, ainda mais se existe um envolvimento emocional com a trama e os personagens - e eu entendo aqueles que não têm. É quando Anakin finalmente passa para o Lado Negro e assume a identidade de Darth Vader. Em um raríssimo momento de contemplação, a condução de Lucas torna-se brilhante: Anakin é instruído por Mace Windu (Samuel L. Jackson) a aguardar no templo Jedi enquanto ele e um grupo partem para matar Palpatine; que na visão de Anakin, seria a única pessoa com o segredo para salvar Padmé de seus sonhos premonitórios. Vemos uma sequência movida pelo canto sinistro da música de John Williams, onde Anakin contempla a metrópole de Coruscant e vemos Padmé fazendo o mesmo em seu apartamento, distante em algum canto da cidade. É o momento em que, sem o uso de seus diálogos expositivos e frases de efeito toscas, entendemos perfeitamente o que o personagem pensa, apenas pelo poder da imagem e da montagem.
Lucas abraça o melodrama pesado durante a cena em que Anakin testemunha um confronto entre Palpatine e Mace Windu, construindo bem o suspense até o momento em que o jovem decepa o braço do Mestre Jedi e ajuda o Sith a sobreviver. A maquiagem excepcional ajuda a deixar McDiarmid ainda mais monstruoso e intimidador, já nos remetendo à sua figura de Imperador em O Retorno de Jedi. Confesso que até a atuação de Hayden Christensen torna-se mais interessante durante essa virada para o Lador Negro. Claro, não é um trabalho perfeito e também não iria ao ponto de chamar sua atuação de "ótima", mas é um avanço considerável de seu trabalho em Ataque dos Clones - aparentemente, Francis Ford Coppola teria indicado seu coach de elenco para Lucas - e eficiente ao ilustrar a angústia e raiva que tomam conta de Anakin.
O que se segue então é um filme devastador, principalmente para crianças. Eu mesmo me lembro de ter saído profundamente abalado de minha sessão do Episódio III, há 11 anos atrás, e confesso que o efeito ainda funciona agora. Palpatine ordena a destruição de todos os Jedi espalhados pela galáxia, algo que seu exército de Clones executa em uma sequência triste e sem piedade: ao som de uma peça sinfônica excepcional de John Williams ("Execute Order 66"), os Clones se revoltam e assassinam todos os desavisados Jedi, e Lucas até trabalha bem os simbolismos ao trazer um tilt onde a câmera concentra-se nos pés dos soldados parando atrás de um Jedi, já deixando explícito de que não seguem mais suas ordens. O mais assustador é quando vemos Anakin invadindo o Templo Jedi com um exército de Clones, e acendendo seu sabre de luz antes de exterminar um grupo de crianças pequenas - e é o fato de não vermos a ação que a torna tão devastadora.
E se mencionei Coppola ali em cima, não foi só aí que a presença do lendário diretor da trilogia Poderoso Chefão foi sentida. Em uma discreta homenagem ao batismo de fogo de Michael Corleone no primeiro filme, acompanhamos a cena em que Palpatine instala a criação do Império Galáctico no Senado, e a montagem de Ben Burtt e Roger Barton inteligentemente a intercala com Anakin cumprindo as ordens de seu Mestre e assassinando os líderes Separatistas remanescentes. Uma cena impecável que representa a sujeira sendo varrida pra debaixo do tapete de Palpatine, e a cena ainda culmina com um Lucas extremamente sensato ao trazer todo o Senado aplaudindo a nova política do vilão, enquanto Padmé constata para outro senador que "é assim que a liberdade morre, com um estrondoso aplauso".
O Nascimento de Darth Vader
Todo esse turbilhão dramático e sombrio acaba levando para um dos mais esperados momentos de toda a saga: o duelo entre Anakin e Obi-Wan, que culminaria em sua transformação em Darth Vader. É uma cena impressionante do ponto de vista técnica, especialmente em toda a concepção visual e a lógica interna criada pelo departamento de arte para o planeta vulcânico de Mustafar, uma verdadeira visão do Inferno e o palco ideal para a destruição da amizade que vimos ser construída relativamente bem durante a trilogia.
Tanto McGregor quanto Christensen são capazes de capturar a intensidade e o drama da cena, e surpreendem em um duelo estupidamente bem coreografado - ao contrário da maioria, não vejo isso como um demérito, afinal são dois Jedi no ápice de suas habilidades, e a mera imagem de termos dois sabres de luz azuis se chocando é algo inédito na saga até então, provocando um efeito interessante e altamente simbólico.
Repito-me mais uma vez, mas é preciso apontar, sim, o espetacular trabalho de John Williams no tema musical da cena, batizado de "Battle of the Heroes", que captura esse aspecto trágico e operático da queda de Anakin Skywalker de forma perfeita.
E assim como nos longas anteriores, também temos um clímax marcado por ações paralelas. Porém, dada a gravidade da situação, o roteiro de Lucas sabiamente reside seu foco em apenas duas ações, sendo elas o já comentado confronto entre Anakin e Obi-Wan e o empolgante duelo entre Yoda e Palpatine. Imagino os desafios de se realizar tal cena, já que um dos lutadores é um idoso e o outro um boneco digital.
O resultado é tão impressionante quanto a pirotecnia do duelo em Mustafar, principalmente pelo valor simbólico que é ver Palpatine arremessando as plataformas do Senado para tentar matar o mestre Jedi, literalmente jogando a diplomacia no lixo e a usando como arma. Os raios azuis do Sith são o toque final para a entrada de uma coloração intensa e dinâmica para o confronto, e particularmente sempre achei belíssimo o nível de detalhes ao ver o reflexo dos raios nos olhos de Yoda. Uma cena plasticamente perfeita, ainda que frustrante por ser tão curta - novamente, o foco precisava residir no outro duelo.
O desfecho do duelo entre Anakin e Obi-Wan é algo que marcou minha infância. Mesmo sendo uma censura já elevada para o PG-13 (primeira vez que isso aconteceu na saga), nada poderia nos preparar para o chocante momento em que Anakin é imolado vivo após perder suas pernas e um braço. É uma cena gráfica e intensa, e fico genuinamente impressionado que o estúdio tenha permitido a exibição da cena para uma platéia tão jovem - mesmo em 2005, era algo impactante.
O que se segue depois é o aguardado momento em que finalmente as peças se encaixam e Anakin é forçado a entrar na roupa de Darth Vader para sobreviver, e novamente temos um exemplar de brilhantismo da montagem paralela, com a cena de Vader sendo "construído" sendo entrecortada com Padmé dando luz aos gêmeos Luke e Leia. Isso ainda culmina na emblemática imagem do capacete descendo ao rosto de Anakin capturada em um plano contra plongée que nos coloca no ponto de vista de Anakin, chegando até o momento em que ouvimos aquela arrepiante respiração pela primeira vez.
Tudo bem que eu poderia passar sem ver a imagem ridícula de Vader gritando o escandaloso "NÃO!" ao tomar ciência da morte de Padmé, mas Lucas não poderia ser tão bom por muito tempo sem cometer alguma gafe.
Star Wars: Episódio III - A Vingança dos Sith é um filme que impressiona por suas pesadas viradas sombrias e a forma eficiente com que conta a real origem de Darth Vader, conectando perfeitamente os pontos com o início da trilogia original. Traz um George Lucas que permanece imperfeito, mas que revela-se incrivelmente mais maduro, talentoso e focado. Um dos melhores filmes da saga.
Star Wars: Episódio III - A Vingança dos Sith (Star Wars: Episode III - Revenge of the Sith, EUA - 2005)
Direção: George Lucas
Roteiro: George Lucas
Elenco: Ewan McGregor, Hayden Christensen, Natalie Portman, Ian McDiarmid, Samuel L. Jackson, Frank Oz, Anthony Daniels, Kenny Baker, Peter Mayhew, Christopher Lee, Temuera Morrison, Matthew Wood
Gênero: Aventura, Ficção científica
Duração: 140 min
https://www.youtube.com/watch?v=5UnjrG_N8hU
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Crítica | Star Wars: Episódio II - Ataque dos Clones - Um filme misto
Desde que se tem notícia, George Lucas afirmou que já tinha em sua cabeça toda a história da saga Star Wars, e que só começou pelo Episódio IV em circunstância das limitações técnicas da década de 70. Seja isso a pura verdade ou um mero marketing elaborado (quem cavar fundo na história encontrará as dificuldades de Lucas para acertar no rascunho do primeiro roteiro, que era de fato o que vimos em Uma Nova Esperança), seria inevitável que o diretor fizesse algumas mudanças em seu grande plano após a recepção controversa de A Ameaça Fantasma.
Ainda que um sucesso de bilheteria de 1 bilhão de dólares (claro, na época em que a casa do bilhão ainda era uma conquista muito difícil), indicações ao Oscar e muitos bonequinhos vendidos, a queixa dos fãs sobre a qualidade da história e dos personagens do Episódio I certamente incomodou os fãs mais saudosistas, especialmente pelo distanciamento da trilogia original. Para Star Wars: Episódio II - Ataque dos Clones, Lucas felizmente corrigiu muitos erros do antecessor (mal vemos Jar Jar Binks no filme!) e entregou uma obra muito mais divertida e envolvente, ainda que mantivesse muitos dos mesmos erros e apresentasse mais alguns...
E os críticos continuam a chiar, já que a trama do Episódio II traz logo em seu letreiro a ocorrência de novos eventos políticos e reuniões de senado. Agora, uma década após os eventos do filme anterior, a República sofre com a saída de sistemas de estelares de seu governo para juntarem-se ao cada vez mais forte Movimento Separatista, liderado pelo misterioso idealista político Conde Dooku (Christopher Lee). Quando a senadora Padmé Amidala (Natalie Portman) sofre um atentado antes de uma importante votação, o Chanceler Palpatine (Ian McDiarmid) envia os Cavaleiros Jedi Obi-Wan Kenobi (Ewan McGregor) e Anakin Skywalker (Hayden Christensen) para protegê-la e encontrar o responsável pelos ataques.
Dois Filmes
A partir dessa premissa, recebemos duas tramas paralelas em Ataque dos Clones, que vão se desenrolando simultaneamente graças à boa montagem de Ben Burtt e do próprio George Lucas. Temos a investigação de Obi-Wan para encontrar um misterioso caçador de recompensas que pode estar conectado com as tentativas de assassinato da senadora e até mesmo com o movimento Separatista e, para nossa tristeza, a subtrama onde Anakin é designado como guarda-costas de Padmé, levando ao romance proibido que mudaria a vida de todos ao redor. Bem, se Lucas tem dificuldade para articular discussões políticas e diplomáticas, é de se esperar que o sujeito tenha um lado emocional forte e acertasse no arco romântico dos protagonistas, certo? Errado.
O lado romântico protagonizado por Anakin e Padmé é sofrível. Claro, é sempre interessante observar uma história de amor escondido, e Lucas de fato tenta esboçar diálogos cativantes e que façam jus a essa premissa tão batida - chegando até a exigir de seu fotógrafo David Tatersall uma penumbra elegante e sufocante para uma das discussões do casal - mas tudo o que temos é pura escrita ruim. Como um garotinho embaraçado tentando compor poesia para a garota bonita da sala, algo que entendemos que vem de um sentimento genuíno, mas que é capaz de provocar mais risos do que afeto.
Não ajuda nem um pouco que tenhamos a entrada de Hayden Christensen no papel. Até hoje me perguntou se o problema está na direção de Lucas ou se o ator simplesmente não tem carisma, mas a primeira opção definitivamente não ajudou. O Anakin de Christensen é inexpressivo e pouco convincente, e sua química com a regular Natalie Portman (aqui, um pouco mais confortável do que no anterior) sugere uma relação estranha graças aos olhares perturbados e maníacos do ator, que também falha ao transmitir toda a raiva e a semente da transformação de Anakin em Darth Vader - também consequência da profecia Jedi que o aponta como o Escolhido para trazer equilíbrio à Força. Christensen tem um bom perfil e se garante nas cenas de ação, mas só. De resto, só mesmo a sempre perfeita trilha sonora de John Williams para salvar o dia, com seu tema amoroso"Across the Stars" sendo o único fator que me faz acreditar no romance dos dois.
Mas como disse anteriormente, Ataque dos Clones nos traz dois filmes, e aquele dedicado à investigação de Obi-Wan Kenobi é muito melhor. Primeiramente porque Ewan McGregor simplesmente ama o personagem e encontra aqui uma versão jovem de Sir Alec Guiness que definitivamente compele o espectador e nos faz lembrar do bom trabalho de Liam Neeson no anterior, só que com muito mais carisma. Claro, seu arco ainda sofre com diálogos expositivos e as artimanhas nada naturais de Lucas, mas compele pelo mistério em torno da criação de um exército de clones e a certeza cada vez maior de que um Lord Sith está lentamente manipulando a todos.
The Force Unleashed
A busca de Obi-Wan o leva a alguns dos melhores momentos do filme, em particular à aqueles envolvendo o caçador de recompensas Jango Fett (Temuera Morrison). Lucas presenteia os fãs com um background intenso para um dos personagens mais queridos da trilogia original, Boba Fett (aqui vivido pelo jovem Daniel Logan) e nos apresenta a um visual marcante que atualiza a armadura do personagem e cenas de ação realmente primorosas. A luta entre Kenobi e Jango na chuva é um raro vislumbre de combate corpo a corpo na saga, o que por si só já traz mais agressividade; enquanto a perseguição espacial onde a gigantesca Slave I de Fett caça o Jedi por um anel de asteróides destaca-se pelo uso brilhante de efeitos sonoros e uma ausência impressionante de música; o mais "realista" que Star Wars já foi em seu retrato de batalhas espaciais.
À medida em que as duas narrativas enfim vão convergindo para uma gigantesca batalha final, Lucas prepara um espetáculo visual e tecnológico ainda mais impressionante do que aquele visto em 1999. Aliás, antes de falarmos propriamente sobre os efeitos visuais e o design de criaturas, é importantíssimo o papel de Ataque dos Clones no avanço da cinematografia digital. Antes deste novo filme, a captação digital era motivo de piada entre diretores de fotografia, e oferecia uma qualidade de imagem terrivelmente inferior àquela captada em película - pense naquelas câmeras antigas de VHS. Eis que George Lucas aposta no desenvolvimento da primeira câmera digital realmente digna de produções cinematográficas de grande e pequeno porte. Fica a recomendação máxima para os interessados no assunto do documentário Lado a Lado, que discute justamente essa convergência da cinematografia digital.
Enfim, tal avanço na tecnologia certamente possibilitou que o trabalho de CGI da Industrial Light & Magic soasse mais verossímil nas telas. Além da Coruscant já explorado anterior, somos apresentados aos planetas de Kamino e Geonosis, que trazem ambientes radicalmente diferentes entre si: o primeiro é uma cidade de plataformas erguidas em um vasto oceano, constantemente castigada por uma pesada chuva tempestuosa; um contraste adorável entre os interiores da cidade, que cujo aspecto clean e branco parecem ter sido desenvolvidos pela Apple. Já Geonosis toma emprestado o aspecto árido dos desertos de Tattooine, mas a paleta de cores é sutilmente mais alaranjada e suja aqui, sendo marcada por cenários gloriosos como a fábrica de dróides ou a arena gladiatorial onde os protagonistas travam a grande batalha no terceiro ato.
Todos esses cenários e as criaturas fantásticas que os habitam são resultado de um excelente trabalho de efeitos visuais, que envelheceu consideravelmente bem se comparados aos de A Ameaça Fantasma. Os geonosianos trazem um design claramente inspirado na fisionomia e exoesqueleto de baratas e mariposas, ganhando feições críveis e personalísticas graças ao bom trabalho do departamento de arte e do CGI. É também a primeira vez em que temos um Mestre Yoda completamente digital, e a criação da ILM não decepciona em trazer carisma e a personalidade forte do personagem, que entra em ação de forma surpreendente durante o clímax da produção.
As criaturas da arena também garantem momentos gloriosos de criatividade de monstros, além de renderem essa intensa e divertida sequência onde Obi-Wan, Anakin e Padmé (enfim tornando-se uma heroína de ação memorável) os enfrentam sem o menor auxílio de armas - ainda que seja curioso que nem Kenobi nem Skywalker façam uso da Força para sobreviver, mas tudo pelo bem do suspense e Lucas se sai incrivelmente bem na condução da cena.
Um Caminho Melhor
A escala sobe quando somos levados a uma imensa batalha entre Jedi e os dróides separatistas, o que culmina no aparecimento do exército de clones e o início da era mais explorada de Star Wars pelo universo expandido: as Guerras Clônicas. Temos muitos embates com sabres de luz, a entrada do Mace Windu de Samuel L. Jackson em ação e até a bombástica revelação de que o Mestre Yoda é um exímio espadachim durante seu duelo memorável com o Conde Dooku. São minutos espetaculares que trazem alguns dos melhores momentos de ação da saga, incluindo um contido e tenso confronto de sabres de luz entre Anakin, Obi-Wan e o Conde Dooku.
Aliás, se o longa anterior beneficiava-se da figura misteriosa de Darth Maul, Ataque dos Clones decepciona com Dooku. Não fosse a imponência e o cavalheirismo de Christopher Lee na entrega de seus diálogos, o vilão seria facilmente esquecido e descartado. Felizmente pudemos ter Jango Fett como um antagonista mais interessante, e até mesmo a assassina Zam Wesell (Leeanna Walsman) tem uma presença interessante durante o primeiro ato. Mas é mesmo a figura de Ian McDiarmid como o Chanceler Palpatine que revela uma construção mais interessante. Obviamente, a esse ponto ainda não conhecemos sua natureza maligna, mas ao voltar para rever o filme sabendo do contexto geral, são necessários mais créditos à performance magistral do ator - que transcende qualquer direção ruim de George Lucas.
Parando para revaliar, Ataque dos Clones é um aprimoramento notável em ritmo, tom e história daquele visto no filme anterior. Os problemas de roteiro e direção de elenco de George Lucas continuam a comprometer pontos-chave, especialmente o romance proibido de Anakin Skywalker e Padmé Amidala, mas o filme beneficia-se de um ritmo mais intenso e divertido.
Star Wars: Episódio II - Ataque dos Clones (Star Wars: Episode II - Attack of the Clones, EUA - 2002)
Direção: George Lucas
Roteiro: George Lucas e Jonathan Hales
Elenco: Ewan McGregor, Hayden Christensen, Natalie Portman, Samuel L. Jackson, Ian McDiarmid, Frank Oz, Anthony Daniels, Kenny Baker, Christopher Lee, Temuera Morrison, Daniel Logan, Leeanna Walsman, Rose Byrne, Pernilla August, Joel Edgerton, Jimmy Smits, Jack Thompson
Gênero: Aventura, Ficção Científica
Duração: 142 min
https://www.youtube.com/watch?v=gYbW1F_c9eM
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Crítica | Star Wars: Episódio I - A Ameaça Fantasma - Os Erros de George Lucas
Diversas vezes me pergunto como deve ter sido antes. Anos atrás, na década de 90, antes do advento maciço da internet e da cobertura quase pornográfica de tantos eventos mundiais e, no nosso setor de análise, expectativa por lançamentos da cultura pop. Parece-me um mundo repleto de mistério e exploração do desconhecido, e não consigo imaginar o que poderia ter sido para alguém receber a notícia de que um novo filme de Star Wars seria lançado. Posso até ter tido um gostinho com todo o hype e antecipação para O Despertar da Força, mas a internet - ainda que a campanha do Episódio VII tenha mantido quase tudo sob os panos - certamente joga um pouco mais de luz em casos assim.
Com o anúncio de que veríamos o Episódio I da aclamada saga da cultura pop, o mundo preparava-se para conhecer um outro lado de Star Wars. Testemunhar pela primeira vez o ápice dos Cavaleiros Jedi, o início das Guerras Clônicas e a misteriosa transformação de Anakin Skywalker no vilanesco Darth Vader. Seria a primeira vez desde 1983 que o mundo voltaria para aquela galáxia tão, tão distante e a responsabilidade do idealizador George Lucas era gigantesca. E nem precisaria de um profeta para saber que seria impossível atingir às expectativas do público
A trama começa em um período turbulento da galáxia, quando a Federação do Comércio ameaça o governo da República com a iminência de um movimento separatista. Tal manobra os leva a iniciar um bloqueio no pacífico planeta de Naboo, onde a Rainha Amidala (Natalie Portman) tenta deferi-los com diplomacia. A República envia então os cavaleiros Jedi Qui-Gon Jinn (Liam Neeson) e Obi-Wan Kenobi (Ewan McGregor) para resolver a situação, que fica mais complexa quando o grupo é perseguido por um exército de dróides e encontra um poderoso distúrbio na Força na forma do jovem escravo Anakin Skywalker (Jake Lloyd).
O Lado Negro da Ambição
Hoje, A Ameaça Fantasma é considerado o pior filme de Star Wars, e também um dos mais decepcionantes da História do Cinema. Tendo assistido ao filme sem muitas expectativas e a com uma comprometedora ingenuidade na infância, é praticamente impossível para odiar qualquer coisa que tenha a ver com a saga. Porém, é evidente que os anos de amadurecimento e estudo da arte cinematográfica revelem os inúmeros aspectos falhos do Episódio I, especialmente no que diz respeito à direção de elenco e roteiro. Lucas definitivamente é eficaz ao criar uma mitologia inteiramente nova para a saga - algo que J.J. Abrams e Kathleen Kennedy, por exemplo, não foram capazes de fazer com o Episódio VII - mas é na condução narrativa que este encontra seus maiores problemas.
Primeiramente, o aspecto mais criticado é a entrada gritante de política na saga. Batalhas espaciais e o aspecto matinê da trilogia original acabam dando espaço à reuniões de senado, disputas de comércio e outros aspectos que Lucas possivelmente achou relevante durante o período. Sua escrita não é nada perto de um Aaron Sorkin ou Beau Willimon (que tornam a política uma música com seus diálogos formidáveis em The West Wing e House of Cards), então seus diálogos em cenas do tipo acabam soando como longos e monótonos textões, sem personalidade ou o tipo de dramaticidade esperada de um longa do gênero. O pano de fundo da história é interessantíssimo, e que ganharia ainda mais valor ao acompanharmos os desdobramentos nos Episódios II e III, mas é uma execução dolorosamente tediosa.
A fragilidade do texto de Lucas estende-se aos diálogos entre os personagens, quase que o tempo todo marcado por exposição e outros fatores que não soam nada naturais, mesmo tratando-se de batalhas intergalácticas com raças alienígenas. Todo o arco com o jovem Anakin Skywalker acaba prejudicado por essa artificialidade; ainda que fique claro a direção temática do diretor através de frases chave ("O maior problema do Universo é que ninguém ajuda ninguém"), é algo afetado pelos diálogos duros. Pior ainda são as interações entre Anakin e a jovem Padmé Amidala, mas isso é algo que só viria a se tornar um problema grave no filme seguinte...
Não ajuda também que Lucas seja um terrível diretor de atores. Isso fica claro ao ver nomes de peso como Liam Neeson, Ewan McGregor, Samuel L. Jackson e Natalie Portman todos entregando performances medianas e que não saem do piloto automático, sintoma explícito de problema na condução - é sabido que as instruções de Lucas baseavam-se em "mais rápido e mais intenso". Assim, um ator novato como Jake Lloyd acaba entregando uma performance embaraçosamente ruim e Portman, em ascensão na época, quase nos faz questionar se seria realmente a grande atriz que despontara em Leon, o Profissional. Já um ator imponente como Liam Neeson acaba agradando pelo simples fato de ser Liam Neeson, o que torna seu Qui-Gon uma figura paternal forte e que rapidamente apanha o interesse do espectador por sua postura durona de mestre Jedi.
Mago dos Efeitos
Porém, Lucas revela sua genialidade em tudo o que tem a ver com design. Os novos planetas são diferentes de tudo o que já havíamos visto em Star Wars antes, devendo um crédito imenso à equipe de artistas liderada pelo designer de produção Gavin Bocquet, desde a futurista metrópole de Coruscant até a cidade submarina dos Gungans no planeta remoto de Naboo. Vale apontar como os cenários agora buscam uma forte inspiração na monarquia absolutista do século XIV, principalmente na concepção do palácio da Rainha Amidala e nos próprios trajes desenhados por Trisha Biggar; que jogam um pouco cultura japonesa na mistura, como fica claro na maquiagem que remete à pintura de gueixas ou aos exóticos penteados.
Todos os veículos, estações e naves espaciais também ganham uma reinvenção primorosa, revelando um período na galáxia mais clean e moderno - em contraponto ao aspecto robusto e sujo da trilogia original, com um trabalho que mistura CGI e miniaturas com habilidade. As criaturas alienígenas também são icônicas, seja no uso de marionetes para a raça do Vice Rei Gunroy até a criação digital de dróides, monstros submarinos e personagens comunicativos, como o comerciante Watto. Excluo aí, claro, a grande aberração da saga de Lucas: Jar Jar Binks, que é sem dúvida um dos alívios cômicos mais estúpidos e desnecessários da História do Cinema, e seu trabalho de CGI destoa muito dos demais personagens. Talvez seja um personagem tão ruim que até o CGI acaba prejudicado...
Por outro lado, o personagem que mais entrou no imaginário dos fãs como o melhor fator do filme - e alguns até dizem que de toda a trilogia prequel - é o vilão sinistro Darth Maul, vivido por um irreconhecível Ray Park, escondido sob camadas de tinta e maquiagem. Sem abrir a boca por boa parte do filme (há quem diga que foi sua estratégia para ficar ileso ao texto de Lucas), Maul é uma presença forte e que intimida por seu visual absolutamente amedrontador. Para superar o temor de Darth Vader, Lucas buscou inspiração no conceito do próprio Diabo, com a tinta vermelha e os chifres de Maul sendo seu principal chamariz. Definitivamente um vilão marcante, e tristemente desperdiçado.
Claro, muitos fãs torcem o nariz para o excesso de computação gráfica no filme, mas é preciso levar em conta que Lucas precisava evoluir a tecnologia. Certamente alguns efeitos e cenários virtuais envelheceram mal quando assistimos ao filme hoje, mas alguém tinha que tomar o passo inicial e levar o CGI para novos territórios. Para um filme de 1999, é um experimento formidável e que abriu portas para diversos outros avanços tecnológicos.
Duel of the Fates
Como condutor de espetáculos, Lucas se sai melhor. A começar pela famosa sequência da corrida de pods em Tatooine, que rendeu muitos videogames na época e mexeu com o coração dos fãs de automobilismo. Aliás, nesse quesito, a mise em scène de Lucas nessa cena é fortemente inspirada pela do clássico Grand Prix, com a câmera fixada no cockpit dos veículos e planos gerais altos que capturam a magnitude da ação. Os movimentos de câmera acabam limitados a pans e tilts, mas a sequência é favorecida pelo impecável design sonoro do mestre Ben Burtt - dispensando até mesmo a trilha sonora de John Williams para tal feito. É provavelmente a cena de efeitos que melhor envelheceu, e ainda é capaz de empolgar mesmo com pouco investido nos personagens envolvidos.
O grande destaque fica para o colossal clímax da película, que segue a tradição de usar a montagem paralela para equilibrar diferentes cenas de ação. Temos a batalha campal dos gungans contra o exército de dróides, a invasão no palácio liderada por Amidala, a infiltração de naves na base espacial da Federação e o antológico duelo de sabres de luz entre os Jedi e Darth Maul. Desnecessário dizer que todas essas cenas acabam ofuscadas pelo duelo entre os protagonistas, e ainda que a montagem de Ben Burtt (isso aí, sonoplasta e editor) e Paul Martin Smith seja esperta ao lhes fornecer movimento e uma semi-interação, o espectador simplesmente não vê a hora de a ação retornar para os sabres de luz.
A luta é empolgante por oferecer elementos muito diferentes para o que os fãs conheciam. A começar pela presença de três lutadores, em um clássico dois contra um. Depois, o uso de um sabre de luz duplo para conter os dois Jedi, o que rende por fim uma coreografia inovadora e muito mais elaborada do que as da trilogia original, concebendo mais velocidade e agressividade ao confronto. Além disso, o mago John Williams oferece uma de suas mais perfeitas criações com a evocativa música "Duel of the Fates".
A Ameaça Fantasma definitivamente não é a melhor história de origem que a saga de batalhas estelares merece, sendo um filme deficiente nos quesitos mais básicos de linguagem cinematográfica, fruto da inabiliadade de George Lucas em trabalhar com atores ou desenvolver diálogos envolventes. Porém, o filme ainda merece créditos por sua mitologia fascinante, os avanços tecnológicos e a promissora história de fundo que lentamente nos apresentaria ao início da maior guerra da galáxia.
Star Wars: Episódio I - A Ameaça Fantasma (Star Wars: Episode I - The Phantom Menace, EUA - 1999)
Direção: George Lucas
Roteiro: George Lucas
Elenco: Ewan McGregor, Liam Neeson, Natalie Portman, Jake Lloyd, Samuel L. Jackson, Ray Park, Anthony Daniels, Kenny Baker, Frank Oz, Ahmed Best, Pernilla August, Ian McDiarmid, Hugh Quarshie, Terence Howard
Gênero: Aventura, Ficção Científica
Duração: 136 min
https://www.youtube.com/watch?v=bD7bpG-zDJQ
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Crítica | Sexta-Feira 13 (2009) - Um remake competente
Não importa quanto tempo demore, toda geração terá a oportunidade de ver um slasher icônico retornar aos cinemas. E, claro, isso costuma se dar na forma de um remake, e quando a New Line Cinema abordou a Platinum Dunes de Michael Bay, Andrew Form e Brad Fuller sobre a ideia de trazer Jason Voorhees de volta ao imaginário popular, essa prática já virava comum. A Morte Pede Carona, O Massacre da Serra Elétrica e Horror em Amityville eram os principais remakes que a produtora havia lançado até aquela época, e Sexta-Feira 13 seria o grande projeto que traria o icônico assassino de volta a seus tempos de glória, optando por reinventar a mitologia, ao invés de continuá-la. E, dentro dessa proposta, o filme de Marcus Nispel cumpre bem seu papel.
A trama nos leva ao início dos ataques de Jason Voorhees (vivido aqui pelo enorme Derek Mears), nos mostrando o massacre de sua mãe, Pamela (Nana Visitor) antes de mergulhar na narrativa principal. Nela, um grupo de adolescentes vai passar férias na casa de campo de um deles, localizada justamente na região do antigo acampamento Crystal Lake, onde Jason havia se afogado quando criança. Está montado o palco para que o novo ciclo de assassinatos comece.
Claro, não há como fugir da premissa básica da franqua, que obviamente nos leva de volta ao grupo de amigos promíscuos e aventureiros que aproveita a ausência de adultos para sexo, bebedeiras e drogas. No meio do mato, claro, como é de lei nos filmes de Sexta-Feira 13. Tudo isso é muito repetitivo para aqueles que já assistiram a todos os outros longas, mas o que é interessante no roteiro de Damian Shannon e Mark Swift é ver como a dupla comprime e adapta as premissas e elementos narrativos dos quatro primeiros filmes da franquia, com uma série de easter eggs e referências que agradarão aos fãs hardcore. Usar a história de Pamela Voorhees durante os créditos de abertura é uma jogada genial, assim como o longo prólogo de 15 minutos que nos apresenta a um grupo de adolescentes que deduzimos ser os protagonistas, apenas para que um Jason encapuzado os mate um a um.
Os personagens, como já era de se esperar, seguem todos os clichês do gênero, e aqui temos algo pior: a marca de Michael Bay, já que todos são consideravelmente mais estúpidos e promíscuos do que os dos filmes anteriores - nunca pensei que ouviria algo do tipo "você tem uma centralização de mamilo perfeita, gata". É um efeito agridoce, pois é doloroso de assistir, mas é dessa forma que um Sexta-Feira 13 funcionaria nos anos 2000. Porém, ainda que a maioria seja rasa, temos atuações competentes de Danielle Panabaker (a final girl da vez) e do divertido Aaron Yoo, que interpreta o obrigatório alívio cômico. E, em uma grande homenagem a Sexta-Feira 13 Parte IV: O Capítulo Final, Jared Padalecki da vida a um sujeito que está procurando sua irmã desaparecida (morta durante o prólogo) e acaba ganhando afeição do público por ser uma figura consideravelmente mais madura e focada em meio a tantos adolescentes.
Em termos de direção, esse é provavelmente o Sexta-Feira 13 mais bem realizado tecnicamente. A fotografia de Daniel Pearl é eficiente em construir uma atmosfera tensa graças ao forte contraste e os níveis de preto alto, mesmo durante as cenas em que observamos a beleza natural do Crystal Lake, e o efeito definitivamente é reforçado nas cenas de suspense. Já tendo comandado o remake de O Massacre da Serra Elétrica, Marcus Nispel faz um bom trabalho ao conduzir todas as sequências de terror, e também ao trazer uma abordagem menos cômica e mais impactante para o gore, que segue uma escola mais "realista".
Servindo como uma boa homenagem ao legado de Jason Voorhees, este Sexta-Feira 13 agrada pela nostalgia e o aprimoramento técnico. Mesmo que tenha sua parcela de falhas, é um bom remake/reboot e que mostra que o assassino de Crystal Lake ainda merece aterrorizar as telas.
Sexta-Feira 13 (Friday the 13th, EUA - 2009)
Direção: Marcus Nispel
Roteiro: Damian Shannon e Mark Swift, baseado nos personagens de Victor Miller
Elenco: Jared Padalecki, Danielle Panabaker, Amanda Righetti, Travis Van Winkle, Aaron Yoo, Derek Mears, Julianna Guill, Jonathan Sadowski, Ben Feldman, Nana Visitor
Gênero: Terror
Duração: 93 min
https://www.youtube.com/watch?v=ANrq_t617to
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Especial | Jogos Mortais
Você quer jogar um jogo?
Talvez o último grande serial killer do cinema de horror, Jigsaw foi a figura marcante da franquia Jogos Mortais, famosa pelo aspecto torture porn e todas as mutilações e sangue que a seguem. Com uma reviravolta mais absurda do que a outra, reunimos aqui todo o nosso conteúdo baseado na infame franquia iniciada por James Wan.
Confira:
Cinema
Crítica | Jogos Mortais (2004)
Publicado originalmente em 27 de novembro de 2017
Crítica | Jogos Mortais 2 (2005)
Publicado originalmente em 28 de novembro de 2017
Crítica | Jogos Mortais 3 (2006)
Publicado originalmente em 29 de novembro de 2017
Crítica | Jogos Mortais 4 (2007)
Publicado originalmente em 30 de novembro de 2017
Crítica | Jogos Mortais 5 (2008)
Publicado originalmente em 1 de dezembro de 2017
Crítica | Jogos Mortais: Jigsaw (2017)
Publicado originalmente em 28 de novembro de 2017
Crítica | Jason X - Tão ridículo que diverte
Chega um momento em toda franquia duradoura que aquela pergunta que não quer calar acaba saindo da boca de algum produtor roteirista: e se levarmos ao espaço? Foi assim quando James Bond forçou a re-entrada em 007 contra o Foguete da Morte, quando o imortal conde vampiro assombrou uma tripulação em Drácula 3000 e os rumores sobre Vin Diesel e sua família de Velozes e Furiosos apostarem raxa no espaço sideral ficam mais fortes a cada dia. Com a New Line ainda lutando para Freddy vs Jason realmente acontecer, Sean S. Cunningham exigiu que algum novo filme de Sexta-Feira 13 fosse lançado, para que o interesse popular em relação a Jason Voorhees - que estava adormecido desde 1993 - não se extinguisse. Juntando o útil ao agradável, foi aí que o nosso assassino slasher fez a viagem definitiva com o infame Jason X.
A trama começa alguns anos no futuro de 2008, com Jason Voorhees (Kane Hodder) sendo enviado para criogenia após uma série de experimentos liderados por um burocrata (David Cronenberg, em uma participação aleatória e hilária). Quando o assassino se revolta e começa a matar todos, a agente Lowe (Lexa Doig) contém a situação, mas acaba congelada com Jason. Após 455 anos, Lowe e Jason são resgatados por uma equipe de exploração espacial, que leva os dois para sua nave, onde seguem para Terra 2. Claro, não demora para que Jason acorde novamente e inicie uma nova série de assassinatos... dentro de uma nave espacial!
Esse filme é simplesmente divertidíssimo. Talvez a melhor forma de comparação seja com a série de filmes Sharknado, onde temos algo tão ruim e ridículo, que a experiência acaba por tornar-se agradável, mas com uma grande diferença: ao contrário da pavorosa franquia de tubarões voadores (essa magia nunca me atingiu, me desculpem), o décimo filme de Jason Voorhees tem uma certa qualidade em sua realização, quase como um episódio antigo de Stargate ou Andromeda; não por acaso, a atriz Lexa Doig é a protagonista. É mais uma paródia B de sci-fi do que um filme de terror propriamente dito, tanto que Jason X não faz muito sentido dentro da cronologia oficial, afinal, Jason deveria estar no inferno e não sendo usado como cobaia de cientistas no futuro, então quando uma das personagens comenta que "uma criatura que não pode ser morta seria valiosa demais para ser despejada", sabemos que o texto de Todd Farmer é uma metalinguagem sobre a própria franquia e suas continuações intermináveis.
É divertido e bizarro ver como Farmer mistura personagens típicos de filmes de exploração espacial, com os clichês banais do slasher movie da franquia Sexta-Feira 13. Pois onde mais você imaginaria ver cientistas adolescentes cheio de tesão em pleno convés de comando de uma espaçonave? Ou talvez que as oficiais da nave todas usam tops? Novamente, é mais uma paródia do que um filme sério, e Farmer realmente força a barra ao explorar uma personagem andróide (vivida por Melyssa Ade), mas confesso que me diverti quando a história requer uma luta pesada entre a inteligência artificial (com metralhadoras e roupas de couro) e Jason. É um guilty pleasure dos grandes.
Em quesitos visuais, é um filme que lembra muito as produções do Syfy, especialmente as séries de ficção científica mencionadas acima. James Isaac cria um mundo verossímil e suficientemente futurista, sem nunca chamar muita atenção para si. Claro que o CGI usado em algumas sequências (como o bizarro tratamento com formigas) envelheceu terrivelmente, mas os cenários e a ambientação funcionam. Ver Jason nesse contexto tão diferente é animador, especialmente quando o assassino usa algumas armas improvisadas (vide o congelamento da cabeça) para executar suas vítimas, e algumas sequências envolvendo locais escuros quase são capazes de nos lembrar de Alien, O Oitavo Passageiro - ou, no pior dos casos, de Alien - A Ressurreição.
Um festival do ridículo que acaba sendo uma diversão involuntária (ou não?), Jason X é um rumo bizarro para a série Sexta-Feira 13, e explora bem a mistura do gênero slasher com a ficção científica. De cabeça aberta e sem pretensões, o espectador pode encontrar muito para se divertir.
Jason X (EUA - 2003)
Direção: James Isaac
Roteiro: Todd Farmer, baseado nos personagens de Victor Miller
Elenco: Lexa Doig, Kane Hodder, Lisa Ryder, Chuck Campbell, Melyssa Ade, Peter Mensah, Melody Johnson, Jonathan Potts, Derwin Jordan, Phillip Williams, Dov Tiefenbach, David Cronenberg
Gênero: Terror, Ficção Científica
Duração: 93 min
https://www.youtube.com/watch?v=pZll4rLyQmM
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