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Análise | Marvel’s Spider-Man: Miles Morales – Uma comemoração ao PS4 e um brinde ao PS5

Quem imaginaria que a Sony mudaria radicalmente de postura entre a geração do PS3 para a do PS4? Após coroar a geração do PS3 com o lançamento de The Last of Us, o console ficou totalmente sem novos exclusivos após o lançamento do PS4 poucos meses depois. 

Entretanto, agora na virada de geração para o PS5, felizmente a evolução tecnológica não significou o final completo dos exclusivos da Sony para o PS4. Quem achava que Ghost of Tsushima seria a despedida derradeira se enganou, pois Spider-Man: Miles Morales veio para provar dois pontos: o console está mais vivo do que nunca e também para brindar a estreia da nova geração. 

O melhor de tudo? O game é excepcional e eleva o padrão de qualidade absurdo que já havia sido alcançado com Marvel’s Spider-Man de 2018 provando mais uma vez o talento inesgotável da Insomniac Games. 

Um Conto de Natal

Assim como o game original, Miles Morales conta com um roteiro de respeito. Ainda que não chegue aos patamares de ser uma das melhores histórias já contadas com o personagem, a Insomniac dedica a mesma atenção no texto do game para trazer algo novo e de qualidade. 

Evitando os spoilers ao máximo, os eventos do jogo se passam um ano depois do término da campanha de Spider-Man. Agora Peter já treinou Miles por uma quantia significativa de tempo e, para aproveitar uma viagem de trabalho com Mary Jane, deixa toda Nova Iorque aos cuidados do novo Homem-Aranha. 

Sozinho, Miles se encontra em uma verdadeira enrascada. Em época das festividades de Natal e em plena campanha eleitoral de sua mãe Rio Morales, uma nova gangue criminosa surge na cidade: os Undergrounds. Mirando na empresa energética bilionária Roxxon, a trupe deseja roubar fontes de energia para fins escusos. 

Seguindo a trilha de migalhas, Miles investiga o grupo e descobre detalhes de uma conspiração perigosa e outros segredos que abalam profundamente a sua própria vida. 

Tendo em mente que se trata de um jogo derivado, é compreensível que como o foco narrativo seja muito mais linear e ligeiro que o do original. Entregando por volta de oito horas de entretenimento, Miles Morales consegue nutrir uma identidade narrativa bastante própria, explorando novos personagens e oferecendo um tratamento distinto para construir o protagonista. 

Miles, felizmente, é bastante diferente de Peter Parker, embora compartilhe os mesmos valores altruístas. O protagonista tem sim seus espelhamentos óbvios à Parker, mas se sustenta bastante como um indivíduo nada genérico. Por ser um Homem-Aranha muito mais jovem e inexperiente, os diálogos não contam em geral com as tiradas clássicas do personagem e são um pouco mais “afobados” em desespero já que Miles se esforça ao máximo para não decepcionar Parkers e os nova-iorquinos. 

Aliás, é justamente por essa constante autocrítica que o personagem realiza revelando uma infinidade de inseguranças que ele se torna tão interessante. Mesmo que Parker seja vulnerável, Miles transparece muito mais essa característica. Ele é imprudente com algumas regras básicas do vigilantismo e é ingênuo em demasia. 

O apoio coadjuvante também é bem formado, embora não haja uma atenção muito especial nisso. Os elementos mais importantes se concentram na relação de Miles com outros dois personagens, incluindo o grande vilão da trama que possui uma boa motivação, ainda que nada original. O maior problema da narrativa é a previsibilidade absurda da história. 

Quase todas as reviravoltas já são notadas horas antes de acontecerem. Talvez falte uma maior sutileza, não apenas no texto, mas bem como nas atuações e dublagens que, mesmo assim, seguem muito acima da média e impressionam. 

A escala, um tantinho menor que a do game original, também é bem-vinda. Agora finalmente estamos com um Homem-Aranha que realmente é o “amigão da vizinhança”, já que muito do foco da história está na proteção e carinho de Miles com Harlem, seu novo bairro onde a avó morava. Interações com pedestres, artistas de rua e comerciantes locais oferecem um sentimento bastante consistente de unidade e heroísmo. 

Roupa nova do Aranha

Em 2018, era difícil imaginar o que a Insomniac poderia aprimorar na jogabilidade de Spider-Man. Com exploração e combate fluídos e muito divertidos, a fórmula praticamente já era perfeita. Na mecânica do jogo, apenas os minigames envolvendo circuitos em um design clássico de “canos” ficavam devendo devido à estrutura já muito datada na época. 

Felizmente, o que podia ser corrigido, foi. As mudanças já estão na apresentação do estilo de luta de Miles que é bastante diferente do de Peter, lançando socos improvisados e um jeito mais desajeitado e despojado de lutar. Tanto na movimentação de luta quanto na exploração da cidade se balançando nas teias. É algo de encher os olhos de tão bonito e impressionante. 

Os combos e novos inimigos estão presentes, além de nova linha de habilidades aprimorar a mecânica de combate obrigando o jogador a se lembrar das regras do esquema “pedra, papel e tesoura” que acontece para driblar inimigos prevenidos contra as novas habilidades de miles batizadas como Venom oriundos totalmente dos seus poderes bioelétricos. 

O stealth também foi aprimorado com a inclusão da camuflagem, permitindo que Miles seja mais sorrateiro na abordagem para confrontar inimigos que estão aos montes em cada nível “arena” projetado pelos designers que seguem de parabéns. Os espaços são enormes e bastante originais repletos de luzes neon e efeitos de sombras elaborados para apresentar os efeitos de iluminação muito melhorados presentes aqui. 

Nesses estágios, também estão presentes novos minigames de quebra-cabeça que agora recebem melhor detalhamento se tornando mais divertidos, pois aproveitam diretamente os novos poderes do personagem. 

Mesmo na versão de PS4, a apresentação do jogo não deixa de impressionar. Ainda que não receba as melhorias de ray tracing ou modos opcionais de 60 quadros por segundo, o console original ainda dá conta do recado elevando a barreira impressionante já estabelecida por Ghost of Tsushima e The Last of Us 2. Aliás, até mesmo o tempo de carregamento do jogo está extremamente mais curto. É impressionante!

Trazendo uma nova paleta de cores, repletas de contrastes bonitos e vibrantes, além de toda a recriação de Manhattan toda decorada para o Natal e o clima de inverno, Miles Morales é um manjar para os olhos. Com os efeitos combinados de HDR em televisores compatíveis, o que já era bonito, fica ainda melhor. 

Mesmo que a grande maioria da apresentação visual do game seja incrível, nota-se algumas coisas interessantes que não chegam a incomodar, mas revelam uma certa pressa no desenvolvimento do jogo. Bugs visuais, congelamentos e carregamentos de texturas atrasadas estão presentes aqui – algo praticamente inexistente no jogo original. 

Há, também, reciclagem de modelos e cenários para inimigos e fases secundárias. Porém, assim como no original, ainda é muito divertido cumprir os objetivos opcionais. Seja para aprimorar seus poderes, liberar ainda mais trajes – destaque para o uniforme sensacional de Homem-Aranha no Aranhaverso, e conhecer mais da relação entre outros personagens importantes de MIles. 

Além destas fases secundárias, o game também possui um app que Miles usa para ajudar a comunidade. Algumas dessas missões possuem pequenas histórias elaboradas que valem a pena conferir. Diante de todo esse conteúdo opcional, além da campanha principal, há um potencial de rejogabilidade imenso em Miles Morales. 

Presente para todos

Spider-Man: Miles Morales é uma carta de respeito da Sony à sua base consumidora extremamente fiel. Lançar o exclusivo como um cross-gen, um dos primeiros da História do estúdio, foi uma decisão acertadíssima, pois se trata de mais um título exclusivo primoroso que muita gente não poderia ficar de fora, afinal são milhões de PS4 vendidos ao redor do mundo ao longo destes sete anos. 

Ainda que curto, Miles Morales vale muito a pena. Não só para os fãs do Cabeça-de-Teia, mas para todos os que apreciam um bom jogo muito bem pensado, criado com bastante carinho e cuidado para trazer uma experiência única que consegue se desprender o suficiente do título original sem causar qualquer estranheza. 

De fato, é um jogo para todos. 

Agradecemos à Sony Interactive Entertainment pelo envio do jogo para a análise.

Marvel’s Spider-Man: Miles Morales (Idem, 2020)

Estúdio: Sony Interactive Entertainment, Insomniac
Gênero: Ação, Aventura, Mundo Aberto
Plataformas: PlayStation 4, PlayStation 5

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Publicado por Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema seguindo o sonho de me tornar Diretor de Fotografia. Sou apaixonado por filmes desde que nasci, além de ser fã inveterado do cinema silencioso e do grande mestre Hitchcock. Acredito no cinema contemporâneo, tenho fé em remakes e reboots, aposto em David Fincher e me divirto com as bobagens hollywoodianas.

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