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Análise | Sekiro: Shadows Die Twice

A desenvolvedora FromSoftware já vinha fazendo jogos ousados e interessantes desde a década de 90. Já nos seus primeiros jogos, se observa um brilhantismo que poucas desenvolvedoras conseguem. A empresa não era nem de longe tão falada quanto é hoje, mas entregou jogos percursores como King’s Field (Que inspirou diretamente Dark Souls) e Armored Core.

Anos depois, Hidetaka Miyazaki, com 29 anos e uma cabeça cheia de ideias entra na empresa, mudando para sempre tanto a desenvolvedora quanto a indústria dos games. Após saber que estavam desenvolvendo Demon’s Souls, um jogo de fantasia RPG, um gênero que era extremamente interessado em trabalhar, pediu logo para se juntar ao time. Seus superiores duvidavam do potencial do projeto e ele esteve a beira de ser cancelado. Caso isso acontecesse não teríamos a série Souls, Bloodborne e muito menos o jogo que estamos analisando aqui.

Demon’s Souls foi um sucesso expressivo no Japão, mais tarde se tornando um jogo cult ao redor do mundo. Não tardou para que Miyazaki recebesse o aval para dirigir e produzir mais um jogo, Dark Souls. Lançado em 2011, o jogo encantou os jogadores pelo seu mundo rico, sua narrativa complexa e sua dificuldade, numa época em que jogos considerados difíceis estavam ficando cada vez mais raros.

O jogo foi um fenômeno global e tanto as continuações, quanto Bloodborne venderam bem e receberam críticas em sua maioria positivas. Foi cunhado o termo soulslike para os jogos que pegam emprestado o estilo da série Souls. Após todo o sucesso que Miyazaki conseguiu para a desenvolvedora, tornou-se presidente da FromSoftware e retorna para produzir mais esse jogo, Sekiro: Shadows Die Twice.

Sombras do Passado

Havia uma série de jogos que eu costumava jogar bastante nas gerações do PS1 e do PS2, Tenchu, que tinha como protagonistas uma dupla de ninjas no Japão feudal. Na infância eu não me cansava desses jogos, zerando-os diversas vezes. A FromSoftware detém os direitos da franquia e percebo alguns paralelos entre Sekiro e Tenchu, a começar pela temática, ambos tem ninjas protagonistas no japão feudal.

As semelhanças que eles tem em termos de gameplay com Tenchu são algumas das interessantes características que diferenciam o jogo de seus predecessores. Como em Tenchu, o personagem usa um gancho para locomover-se rapidamente, dando grande liberdade ao jogador na movimentação. O stealth que não era tão presente nos jogos Souls é imprescindível aqui. Você pode optar por passar por uma área catando briga com todos os inimigos que vê pela frente ou como o bom shinobi que o protagonista é, passar sorrateiramente, matando os inimigos um por um silenciosamente.

Visualmente o jogo é praticamente impecável, tanto os cenários quanto os personagens são renderizados com o mesmo capricho, os efeitos de iluminação são incríveis e o nível de detalhamento que eles dão a coisas pequenas, como até mesmo os flocos de neve se acumulando é louvável. A animação não deixa nada para reclamar, todos os movimentos são fluidos e bem feitos, não há personagens que pareçam robóticos como em alguns outros jogos que vão sendo lançados.

É Morrendo que se Aprende

O combate se difere da série Souls, é mais dinâmico. O personagem pode bloquear, se esquivar, quebrar a guarda do oponente com um bloqueio bem calculado ou desferir um contra ataque devastador, o famoso “parry’ já conhecido para os fãs de longa data dos jogos do Miyazaki. O uso dessas técnicas é determinado pelo tipo de ataque que o inimigo for usar, alguns golpes são extremamente difíceis de serem esquivados e é necessário bloquear, outros não podem ser bloqueados e devem ser evitados, por aí vai.

A habilidade de parry desse jogo chama-se Mikiri, para desferi-lo, deve-se calcular o tempo certo para bloquear e logo após desviara o ataque do inimigo, pressionar o botão de esquiva, para quebrar instantaneamente a guarda do inimigo, que fica vulnerável para que você desfira muito dano a ele. A técnica requer prática para ser feita corretamente, felizmente há um NPC no jogo que está a disposição somente para que você aperfeiçoe suas habilidades.

Pratica é a palavra chave desse jogo. Assim como nos outros jogos, quase não há tutorial e o jogador tem que aprender na marra. Cada novo inimigo encontrado é uma nova maneira de se jogar a ser descoberta, principalmente com os bosses. O jogo tem mais ou menos uma dúzia de chefões principais, com mais vários outros mini bosses, cada um com diferentes movimentos e táticas diferentes para derrotá-los.

Como exemplo temos a Lady Butterfly, com uma alta gama de ataques, a abertura que ela deixa para o jogador contra atacar é pequena, portanto a estratégia que usei consistia em aproximar-se dela o máximo possível, bloquear todos os ataques, atacar assim que ela parava e desviando dos que não podiam ser bloqueados. Com o Touro Flamejante, a estratégia foi ficar sempre próximo a ele, não deixando espaço para que ele desferisse sua investida, um golpe praticamente instakill e atacá-lo pelos flancos. Tudo isso aprendi após estudar os movimentos da inteligência artificial dos bosses, que requer muitas mortes e muita paciência, não há outro jeito. É recompensador de uma maneira especial passar de um chefe difícil nesse game, a sensação é impagável.

A progressão de personagem funciona coletando itens específicos que melhoram os atributos do personagem. Coletando quatro raízes é possível aumentar a vitalidade e a resistência do personagem e memórias aumentam o ataque. Raízes podem ser encontradas tanto após derrotar um chefão ou em locais secretos, já as memórias só podem ser obtidas após matar chefes principais. Há um item principal usado para cura no jogo que é aumentado ao entregar sementes de cabaça a Emma no templo dilapidado.

Uma interessante adição são as ferramentas prostéticas, armas acopladas ao braço que auxiliam no combate, como shurikens, bombinhas e machados para citar algumas. Há habilidades desbloqueáveis e o jogador vai acumulando experiência, que pode ser trocada por essas habilidades. Ao morrer, não se perdeesses pontos, como deduziria um jogador de longa data dos Souls, o que é perdido são moedas, que podem ser usadas na compra de itens e aperfeiçoamentos nas ferramentas do braço prostético. As moedas só não são perdidas caso o jogador receba auxilio oculto, entretanto cada vez que o jogador morre, os npcs vão adoecendo com a maldição e você recebe o item praga do dragão, que diminui suas chances de receber esse auxilio. Tendo uma gota de sangue é possível curar a praga, restaurando suas chances.

Inteligência artificial dos inimigos nunca foi um dos fortes dos Souls, mas aqui não há inimigos burros, caso algum te veja se aproximando, ele de pronto já alerta os outros e nenhum deles se suicida se jogando de um precipício do nada, como era o caso nos Dark Souls. O jogo não tem modo online, assim não é possível chamar um amigo para jogar com você e ajudá-lo, o que de certa forma torna o jogo mais difícil, mas pelo menos agora podemos pausar, ao contrário dos Souls.

Apesar do Miyazaki ter essa filosofia de não guiar o jogador pela mão e ser “difícil, mas justo”, o jogo apresenta algumas adições que facilitam a vida do jogador. O subtitulo “Shadows Die Twice” não é meramente ilustrativo, você pode literalmente morrer duas vezes. Morrendo, você pode reviver com metade da sua vida d onde você parou. Caso esteja lutando contra um chefão, que geralmente tem pelo menos duas vidas, você também pode reviver duas vezes. Após conseguir tirar a primeira vida, a segunda ressurreição é desbloqueada.

Seu Nome é Sekiro

Sekiro: Shadows Die Twice se passa no Japão em meados do século XVI. A abertura mostra a origem de nosso personagem. O protagonista é um órfão de guerra, que perdeu os pais após o terrível Isshin Ashina invadir as terras. Em seu caminho, encontra o lendário shinobi conhecido como Coruja, que o adota e o treina nas artes ninja. Anos depois Genichiro Aoyama sequestra o herdeiro divino Kuro, na esperança de usar seu sangue maldiçoado para criar um exercito imortal. Na tentativa de salvar Kuro, Seju enfrenta Genichiro, perdendo tanto a luta e seu braço, somente sobrevivendo pois Kuro oferece o sangue amaldiçoado. Ele recebe a alcunha de “Sekiro”, o lobo de um braço.

A partir daí a história começa, Sekiro tem o objetivo de salvar o seu lorde e achar um meio de curar a maldição, enquanto seu passado esquecido vai sendo revelado. A narrativa difere dos demais jogos do Miyazaki pela narrativa mais linear. Há um número maior de cutscenes e a estória vai sendo exposta de uma maneira mais clara, aspecto que o separa de seus antecessores. Você pode conversar com NPCs e encontrar documentos que lhe darão mais detalhes sobre a estória. Há três finais diferentes, que podem ser desbloqueados após cumprir os requerimentos específicos. Sem surpresa nenhuma, a estória é boa, os personagens e as relações entre eles são bem desenvolvidas e a estória é envolvente, fazendo com que o jogador sempre queira avançar para saber o que acontece a seguir.

Uma Jornada Completa

Sekiro: Shadows Die Twice evolui a fórmula da FromSoftware a um novo patamar, entregando um jogo belíssimo, estratégico e impressionante. Mais uma vez comprova que a desenvolvedora é uma das mais inovadoras e influentes dos últimos anos. O jogo deixa pouco a reclamar, tenho apenas duas pequenas observações, as vezes ocorre uma queda de framerate e de vez em quando a mira é desativada sem motivo aparente, acontecendo em alguns chefes, custando algum dano ao personagem. Arrisco dizer que o jogo é um dos melhores dessa geração e caso vcê seja fã da série Souls e Bloodborne o jogo é altamente remendado. Caso você seja dos que não se aventura por esses jogos por achá-los dificeis demais, eu o encorajo a dar uma chance para esse.

Agradecemos a Activision pela cópia cedida para essa análise.

Titulo: Sekiro: Shadows Die Twice (2019, Japão)

Desenvolvedora: FromSoftware

Estúdio: Activision

Plataformas: Playstation 4, Xbox One, PC

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Publicado por Daniel Tanan

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