Crítica | A Lenda de Candyman - Um conto de violência e horror
Quando Clive Barker lançou a coleção intitulada de Livros de Sangue, em haviam vários contos de horror e ficção no qual futuramente acabaram sendo adaptados para o cinema, um desses contos viria a se torar o clássico conhecido pelo nome de O Mistério de Candyman (1992). Nessa época o autor não tinha ideia de que uma versão tão poderosa de sua obra pudesse ser lançada como assim é com A Lenda de Candyman, longa dirigido pela competente diretora Nia DaCosta (Passando dos Limites).
O reboot da franquia de Candyman já era esperado há algum tempo pelos fãs da franquia, mas por algum motivo não saía do papel e demorou longos anos para que acontecesse. Diferente de franquias consagradas e conhecidas de Hollywood, como Pânico, Hora do Pesadelo e Halloween, Candyman nunca teve o devido tratamento pelos produtores e diretores quando adaptaram a obra para o cinema, até mesmo a versão original de 92 é cheia de furos e não aprofunda vários temas relevantes para a trama, deixando muitas questões vagas.
A Lenda de Candyman, Candyman...
A lenda antiga já dizia que basta falar o nome dele cinco vezes em frente ao espelho que Candyman irá surgir para buscar e matar de forma cruel a pessoa que proferiu o seu nome. A grande pergunta de quem assistia aos filmes antigos é de quem realmente era esse homem que surgia para matar suas vítimas e porque ele fazia isso? Respostas foram dadas de forma atravessada ao longo do tempo, mas nada em definitivo e sempre de modo superficial.
As motivações de Candyman quase nunca haviam sido realmente desenvolvidas a fundo em nenhuma das produções que esteve no cerne da discussão, é como se ele surgisse para matar por matar, não que não seja apenas isso, mas há algo a mais por trás desse impulso assassino que era simbolizado no personagem interpretado por Tony Todd e que em A Lenda de Candyman chega a outro nível, com uma mensagem forte e enraizada que o roteiro trata de nos apresentar pouco a pouco.
Com participação de Jordan Peele, Nia DaCosta e Win Rosenfeld, o roteiro é um verdadeiro primor, algo que geralmente não ocorre no gênero de horror/terror. Jordan Peele é um nome já conhecido do público, tendo dirigido produções consagradas pela crítica, como Corra! e Nós, é um roteirista que sabe tratar certos temas na medida certa e os desenvolve com um ritmo equilibrado. Candyman não é um filme fácil de se fazer, ainda mais para um público ávido por produções com mensagens de fácil assimilação e acostumado com longas de terror com roteiros baratos.
Crítica Social
Se tem algo que Jordan Peele aborda como ninguém em suas obras audiovisuais é a argumentação da crítica social, e o roteirista e a diretora Nia DaCosta voltam a abordar o tema de um jeito em que simplesmente não deixam pontas soltas a respeito da origem do até então vilão, além de dar mais vigor para a lenda e seu propósito de existir. A cineasta nos apresenta Candyman de uma forma mais aprofunda e o mais importante de tudo: realizando um debate na sociedade como uma película deve proporcionar, algo que poucos filmes de horror conseguem ou nem tentam fazer ultimamente.
Candyman, antes de se tornar um mito, não foi apenas um homem que sofreu um crime de ódio por ter se apaixonado por uma mulher branca como foi dito no longa de 1992, nesta nova versão sua origem – ou suas origens – recebe um outro caminho, o caminho do preconceito racial. Em A Lenda de Candyman são mencionados o nome de vários homens negros que sofreram algum tipo de crime de ódio durante a história, crimes esses gerados pelo preconceito, que é mostrado pela diretora em vários momentos, um deles em uma cena impactante de vários policiais espancando um homem que oferecia doces a uma criança, uma cena devastadora e chocante.
O que Jordan Peele e Nia Da Costa oferecem é uma obra atemporal e que é muito bem vinda em momento em que manifestações contra o racismo ocorrem por todo o mundo e gera um debate necessário em uma produção que nasceu com esse propósito. É de se estranhar que essa franquia nunca havia debatido o tema do racismo de forma tão aprofundada antes, erro esse que agora é totalmente deixado para trás com esta nova versão.
Violência e Brutalidade
Há todo um mistério inicial em mostrar o prestigiado pintor Anthony McCoy (Yahya Abdul-Mateen II) na busca pelas raízes históricas da lenda local do Candyman, mas na realidade o que o artista se depara é com uma história da violência, não apenas em Cabrini Green, local onde começaram os assassinatos, mas também as raízes históricas da violência em que muitos homens negros sofreram e que acabaram por se tornarem as lendas chamadas de Candyman. É essa a ideia do longa, a de discutir a história da violência, não apenas policial, mas toda a violência histórica que cerca esse assunto e que foi resumido no filme.
Para o público que ama filmes com muito sangue sendo esguichado e com mortes violentas essa versão é um prato cheio, mas se ilude quem acha que as mortes ocorrem sem um propósito. Elas são bem trabalhadas, e com o tempo o roteiro vai mostrando o real motivo destas mortes estarem acontecendo. Como um bom filme de terror não poderia deixar de ter cenas brutais de fora, e elas existem aos montes, para mostrar que a lenda se torna vingativa com o tempo, mais sombria e sem pensar nos seus atos cometidos.
O mais interessante do reboot fica em relação a ligação que o roteiro faz com o Mistério de Candyman. No longa original, há uma estudante (Virginia Madsen) que trabalha para entender como a lenda urbana age nas pessoas e ela mesma passa a ser atormentada pela figura sombria do homem com o gancho. A questão é que existe uma conexão direta que dita as regras e ajuda o roteiro de Peele e Nia a ganhar força, os roteiristas só deram uma melhorada no que já existia no longa de 92, o deixando mais violento e sanguinolento.
A Lenda de Candyman é entretenimento que funciona como alívio para um cenário viciado em obras de baixo padrão e de roteiros ridículos, o público provavelmente não vai se impressionar de imediato com o longa, mas só de gerar uma discussão sobre temas tão relevantes já é um grande avanço. Que mais filmes como a Lenda de Candyman sejam produzidos e que uma sequência venha o mais rápido possível.
A Lenda de Candyman (Candyman, Canadá, Estados Unidos – 2021)
Direção: Nia DaCosta
Roteiro: Jordan Peele, Win Rosenfeld, Nia DaCosta, Clive Barker (livro)
Elenco: Yahya Abdul-Mateen II, Teyonah Parris, Nathan Stewart-Jarrett, Colman Domingo, Kyle Kaminsky, Vanessa Williams, Rebecca Spence, Carl Clemons-Hopkins, Tony Todd
Gênero: Horror, Ação
Duração: 91 min
https://www.youtube.com/watch?v=FEzR0sZjGPs&t=2s&ab_channel=UniversalPicturesBrasil
Crítica | Caminhos da Memória - Um Sci-fi sem grandes momentos
É triste para o cinéfilo que assistir ao filme Caminhos da Memória (Lisa Joy) seja uma tarefa tão árdua. A produção que claramente tentou trilhar um caminho clássico dos thrillers com muito suspense e mistério é uma ficção científica que não convence em nenhum aspecto. Até que começa bem, principalmente em seu primeiro ato, mas depois se torna uma total bagunça e perda de tempo.
O longa conta a história de Nicolas Bannister, interpretado pelo eterno Wolverine Hugh Jackman, um homem que é veterano de uma guerra e que trabalha com a recuperação de memórias muito queridas por quem contrata seus serviços. Tudo muda quando conhece Mae (Rebecca Ferguson) e se vê no meio de um labirinto de mentiras que precisa descobrir um jeito de sair dessa situação.
A ideia de trabalhar com memórias é algo bastante interessante, até porque quem não gostaria de acessar suas memórias preferidas a todo instante, indo a um profissional especializado para fazer isso? Porém, a ideia se sai falha quando a diretora Lisa Joy passa a desenvolver esse pensamento, que não se sai confuso em sua abordagem. A questão em relação a memória é que o longa quer dar uma lição de moral a respeito das lembranças e como elas podem impactar uma alguém, quão prejudicial elas podem ser em fazer uma pessoa viver no passado ou fazer com que elas fiquem presas a essas memórias que já se foram eternamente, tal fato faz com que o filme acabe por ficar preso a essa narrativa e não desenvolva a própria tecnologia em si e sua razão de existir.
Tanto é verdade que em vários momentos da produção essa mensagem já havia sido passada, e o roteiro voltava para dizer isso, mas de um jeito totalmente confuso, sem dar a entender o que realmente a diretora queria fazer no final das contas, ou tratar sobre as memórias ou sobre o caminho do protagonista em se reencontrar com sua paixão por Mae. A grande questão nisso tudo é que o personagem de Hugh Jackman acabou nem sendo desenvolvido do jeito que deveria. Sabe-se apenas que ele foi para a guerra e pouca coisa a mais, o que dá mais ainda a impressão de que o roteiro esqueceu de desenvolver os personagens para focar totalmente na ideia das memórias e do grande mistério que rondou o filme todo.
Esse grande segredo, pode-se dizer que de início foi uma distração interessante, mas a partir do momento que acaba se tornando uma paranóia na vida de Nicolas, e que o público percebe que aquela perseguição vai tomar grande parte da trama, começa a gerar uma expectativa exagerada e depois de algum tempo que o mistério persiste e não é solucionado começa a se tornar chata a perseguição, para não dizer o jeito que a trama termina, de um jeito bastante frustrante e sem graça.
É evidente que por ser um thriller o suspense é o principal elemento a ser desenvolvido na narrativa e é o que prende a atenção de início no público, pois é justamente o suspense que cria o tal do mistério. A ideia da diretora foi a de revisitar um gênero bastante conhecido do cinema, que são os suspenses noir. O longa segue exatamente a cartilha que se pede as produções deste gênero, com citação de passagens dramáticas, representação de problemas sociais e personagens marginalizados, além do principal que é o fato de contar com uma vítima que geralmente não é tão indefesa quanto se parece. Tudo isso pode ser visto em Caminhos da Memória, não exatamente nesta ordem, mas estão lá.
Talvez possa ser um exagero dizer, mas o que pode se perceber também é que a diretora buscou em clássicos da ficção científica referências para montar sua obra. Uma que surge a mente rapidamente é Blade Runner. Não é forçar a barra dizer isso, pois a fotografia sombria e o futuro apocalíptico lembram – muito de longe isso é verdade – a produção de Ridley Scott. A ideia de um futuro em que cidades são consumidas por oceanos é algo bastante interessante, para não dizer atual, mas novamente a ideia em si acaba sendo esquecida tão rapidamente surge no primeiro ato. A diretora se prendeu tanto com o fato de ter que solucionar todo o segredo por trás de Mae que acabou esquecendo o mais interessante, que é a tecnologia em si e a ambientação em que o protagonista se encaixa, duas abordagens que poderiam render muito mais, mas que infelizmente são usadas de modo superficial.
Há alguns elementos do roteiro que são usados para dar maior força para a narrativa e fazer com que a trama seja tocada com maior facilidade, sem precisar ficar mostrando tudo o que acontece e sem precisar filmar tantas cenas, esse elemento é bastante presente durante todo o filme, que é a narração. Em alguns momentos a narração feita por Hugh Jackman se torna tão desnecessária com frases poéticas falando de um mundo ruindo que fica evidente a mensagem da questão social que a cineasta quis passar para a trama, mas novamente isso não é algo que fica claro, é uma mensagem que fica em segundo plano.
A própria ideia do futuro apocalíptico e sua construção são bem estruturadas até um certo aspecto. O roteiro não deixa muito claro se o futuro - ou presente - por qual motivo chegou até aquela situação, sabe-se que foi por causa de uma guerra, mas não se sabe ao certo que guerra foi essa, pois, ela só é mencionada vagamente. O que a diretora e roteirista Lisa Joy faz é apenas dar algumas pinceladas dos acontecimentos, sem se aprofundar muito nesta questão.
Durante todo o filme Nicolas Bannister correu atrás de seu grande amor Mae, uma mulher enigmática e discreta, que aparentemente parecia ser uma coisa, mas após uma reviravolta de roteiro se mostra uma possível vilã e depois o roteiro define um outro caminho confuso para a personagem. O romance entre Nicolas e Mae é mal estabelecido, as coisas acontecem rapidamente, com Hugh Jackman fazendo caras e bocas de apaixonado, algo realmente ridículo e que nem a maioria das novelas brasileiras fariam, isso para não dizer que o casal não tem química alguma quando estão em cena juntos, não convencendo em nada como um casal apaixonado.
Ainda falando da atuação de Hugh Jackman, o ex-astro da franquia X-men se sai bem quando está trabalhando em cenas de ação, agora quando as cenas envolvem um tom mais dramático suas atuações destoam bastante de suas duas parceiras de cena: Rebecca Ferguson e Thandiwe Newton, duas atrizes que tem personagens com trajetórias prejudicadas pela trama, mas que se saem bem até onde se pede, mas que poderiam entregar bem mais com suas interpretações se as personagens ajudassem.
Caminhos da Memória não é um filme ruim em seu todo, há bons momentos como a boa ambientação de um futuro apocalíptico e uma tecnologia que se fosse melhor aprofundada poderia ser facilmente utilizada em Black Mirror, de resto é bastante esquecível, com roteiro com alguns furos e com uma direção que não vai mais além do necessário.
Caminhos da Memória (Reminiscence, Estados Unidos – 2021)
Direção: Lisa Joy
Roteiro: Lisa Joy
Elenco: Hugh Jackman, Rebecca Ferguson, Thandiwe Newton, Cliff Curtis, Marina de Tavira, Daniel Wu, Mojean Aria, Brett Cullen, Natalie Martinez, Angela Sarafyan
Gênero: Mistério, Romance, Ficção Científica
Duração: 116 min
https://www.youtube.com/watch?v=5pDKVBS27JE&ab_channel=WarnerBros.PicturesBrasil
Crítica | Caros Camaradas! - Trabalhadores em Luta – Quando o Idealismo Cega
É de conhecimento histórico que a União Soviética amassava e retalhava de forma dura manifestações que pediam melhores condições de trabalho ou qualquer outro tipo de manifestação trabalhista, como greve, sofriam represálias por parte do governo local. Isso ocorria em qualquer parte do território em que a o governo soviético tinha poder. Um desses protestos é muito bem retratado na produção Caros Camaradas – Trabalhadores em Luta (Andrey Konchalovskiy).
O longa é baseado no massacre que ocorreu no ano de 1962 na cidade russa de Novocherkassk quando trabalhadores soviéticos decidiram se manifestar para que tivessem melhores condições, além de uma possível ameaça de greve que poderiam fazer havia o risco de que outras cidades também fizessem o mesmo, algo que poderia colocar o poder do Kremlin em xeque. Obviamente que o governo reage rapidamente para sufocar o protesto da forma mais violenta possível, colocando militares e a KGB para realizar a função.
Mas o foco da trama não é o conflito em si entre forças armadas soviéticas e manifestantes e sim a busca da protagonista Lyuda (Yuliya Vysotskaya), uma mãe que trabalha para o partido soviético e tem a filha, uma trabalhadora da fábrica, entre uma das possíveis vítimas no dia do banho de sangue causado pela KGB.
O diretor e roteirista Andrey Konchalovskiy (Paraíso) trabalha de forma inteligente as duas partes do conflito. Primeiro ao mostrar a exaltação de Lyuda pelo partido que trabalha e por não acreditar que seria capaz de presenciar algo do tipo, ainda mais algo assim acontecendo justamente com sua filha, depois trabalha o choque ao mostrar o outro lado, da mãe que vê o que acontece com a filha e com os grevistas
Essa busca de Lyuda por sua filha acaba tomando grande parte da trama e que só realmente tem fim depois de muito tempo, após a protagonista se meter em vários momentos de apuros, até porque os soviéticos estavam de olho em todos que agissem fora da normalidade. Há uma virada de roteiro perto do fim que surpreende mais pelo acontecimento em si que pelo acontecido e mostra que o diretor sabe bem trabalhar os vários elementos que está acostumado, como a emoção e a surpresa.
O roteiro é elogiável também por criar uma atmosfera de total tensão desde o início, com as greves, o massacre, e depois a tentativa de encontrar a filha, e o longa ter sido feito em preto e branco só ajudou a deixar as situações mais reais possíveis. A contradição entre mãe que acreditava no regime e depois passa a desacreditá-lo após presenciar o massacre também é interessante, não que ela questione o sistema, mas ela vê que os trabalhadores estavam de certa forma certos em lutar contra o partido que antes ela defendia, e isso é algo que a produção quer mostrar, a cegueira ideológica que muitas pessoas tinham no período. Mas essa é uma discussão que infelizmente não é aprofundada na trama.
Caros Camaradas! Acerta em criar um ambiente sufocante ao mesmo tempo que não esquece o drama dos personagens nem o conflito que cada um está passando. A direção de Andrey está fantástica em saber lidar com a questão política do período, e o diretor não se perde em nenhum momento na trama. Um grande exemplar do que o cinema russo é capaz de nos proporcionar.
Caros Camaradas! Trabalhadores em Luta (Dorogie tovarishchi, Rússia – 2020)
Direção: Andrey Konchalovskiy
Roteiro: Elena Kiseleva, Andrey Konchalovskiy
Elenco: Yuliya Vysotskaya, Vladislav Komarov, Andrey Gusev, Yuliya Burova, Sergei Erlish, Alexander Maskelyne
Gênero: Drama, História
Duração: 121 min
https://www.youtube.com/watch?v=ffLDiiCipMU&ab_channel=A2Filmes
Crítica | O Charlatão - Um Drama Real
Para prender a atenção um bom drama precisa ter em sua história elementos narrativos que possam atrair o público e fazer com que este fique preso a trama do início ao fim, causando se não um fascínio pelo menos um encanto pelo o que está sendo assistido. É nesse cenário de criar um bom toque dramático que surge o interessante O Charlatão.
O longa conta a história de Jan Mikolášek (Ivan Trojan), um conhecido fitoterapeuta tcheco que viveu e realizou milhares de diagnósticos de pacientes apenas analisando a urina de pessoas humildes, políticos influentes do Partido Comunista e até mesmo oficiais nazistas, tudo isso sem cobrar nada em troca da cura por meio das plantas. Obviamente que o regime comunista não iria deixar alguém com tamanho prestígio à solta e uma acusação de assassinato o leva a julgamento.
É um drama que prende a atenção do início ao fim pela história de vida do protagonista, um homem que ansiava como meta não o poder, não era egoísta em querer viver em meio a riqueza pessoal que os homens poderosos amam expor, era sim alguém humilde e que tratava as pessoas de graça e que usava o seu dom para o bem, não o usava para obter nada de forma arbitrária.
Obviamente que não dá para cravar que é um retrato fiel, até porque não dá para dizer que muitas das coisas que foram apresentadas no longa são verdadeiras. Por exemplo, há quem diga que Jan curou milhões de pessoas e não milhares, mas é difícil de dizer com veracidade. Em cinebiografias há sempre essa margem para algumas interpretações e a diretora Agnieszka Holland (A Sombra de Stalin) consegue interpretá-las todas de forma excepcional, assim como fez em muitas de suas outras produções.
A cineasta tcheca tem em sua cinegrafia ótimos exemplares de produções que discutem temas como a família e principalmente o passado, tema esse que aqui em O Charlatão está bastante presente, hora mostrando a vida de Jan quando jovem e como se tornou um curandeiro ou para mostrar como o presente como um retrato da vida na antiga União Soviética.
Alguns vão dizer que o ritmo da produção é lento, e é mesmo, e isso não é um defeito, na realidade há um tempo para tratar cada assunto e eles são bem apresentados ao seu tempo. Mas não aprofundados como deveriam e nem como o público espera que sejam tratados. O problema é que é um filme longo e tem uma hora que não tem para onde a história correr, e é aí que se tem a impressão que é uma produção parada.
O Charlatão é uma ótima pedida para quem gosta de filmes sobre guerra, mas que não tenham uma temática violenta, e que ao mesmo tempo apresente a biografia de um grande nome que seja desconhecido por parte do público, caso de Jan, uma pessoa com muita história para contar e que recebe uma produção a altura de seu nome.
O Charlatão (Charlatan, República Checa – 2020)
Direção: Agnieszka Holland
Roteiro: Marek Epstein, Martin Sulc, Jaroslav Sedlácek
Elenco: Ivan Trojan, Josef Trojan, Juraj Loj, Jaroslava Pokorná
Gênero: Drama, História
Duração: 118 min
https://www.youtube.com/watch?v=UJ0NUHjeiCc&feature=emb_title&ab_channel=A2Filmes
Crítica | O Homem nas Trevas 2 É a Sequência que os fãs esperavam
Com Spoilers
Quando foi lançado, em 2016, O Homem nas Trevas foi um estrondoso sucesso de bilheteria, surpreendendo de forma positiva aos estúdios e a crítica que viu com bons olhos sua trama bastante original. O longa trazia na história o solitário homem cego chamado Norman Nordstrom (Stephen Lang) e que de vilão acaba se tornando em uma espécie de anti-herói após um grupo de assaltantes invadirem a sua casa em busca de dinheiro. Obviamente que uma sequência viria e chega com o nome de O Homem nas Trevas 2 (Rodo Sayagues).
A grande questão desta continuação e que todos querem saber é se há alguma conexão direta com o primeiro filme e a resposta já de antemão é não e isso não é spoiler. É uma trama totalmente diferente e isolada e o roteiro engana bem, pois não detalha em nada e nem dá pistas se o encontro do homem cego com aquela menina no início do longa está relacionado com os acontecimentos que ocorreram logo após o primeiro filme. Portanto, há todo um sentimento de tentar entender e se inserir na narrativa e o que de fato está acontecendo na vida dele, pois é sabido que este senhor cheio de segredos sempre quis ter uma filha e agora do nada ele tem uma. A grande questão é de onde surgiu essa garota e qual sua origem.
O Retorno do Homem nas Trevas
Os roteiristas Fede Alvarez e Rodolfo Sayagues deram um jeito de mostrar que o anti-herói – ou para muitos o vilão – está agora vivendo uma nova vida. Óbvio que é aí que os roteiristas começam a dar alguma ação e meio que repetem a trama do primeiro longa, fazendo novamente os vilões invadirem sua residência que agora além de se defender terá uma tarefa extra: defender também a vida de sua filha. Esse elemento a mais é o que dá o tom em todo o filme por sinal. Norman não luta pela sua sobrevivência e sim pela jovem Phoenix, até porquê os vilões da vez não estão atrás dele e sim da menina, e esse é um dos dois plot twits interessantes e que irá surpreender o público.
Nesta continuação há se não espetaculares pelo menos duas ótimas viradas de roteiro que são feitas com muita inteligência. A primeira virada faz com que o anti-herói novamente se mostre um vilão e a segunda o transforma novamente em um herói, e o melhor de tudo é que desta vez há uma oportunidade para uma possível redenção de Norman que até o momento não havia acontecido na franquia, não havia tido essa oportunidade em nenhum dos dois filmes do homem cego pensar sobre os seus crimes, até porque a ideia dele estar preso em sua escuridão perpétua é um castigo sem fim para ele pensar sobre os crimes que cometeu e até esse segundo ato o personagem não havia pensado nas atrocidades que havia realizado, e essa foi uma oportunidade interessante para remodelar o protagonista e o transformar em um herói completamente.
Porém, para as futuras sequências, caso elas existam, é necessário pensar qual caminho que irão seguir, pois até então há muita incoerência no que querem fazer com Norman, retratam o homem cego como sendo um lunático sequestrador de pessoas ou apresentam ele apenas como um cara que se defende de assassinos e de pessoas que entram em sua casa pensando em mata-lo. Os roteiristas precisam enfim chegar a um consenso do que realmente querem fazer, porque a cada filme está ficando mais confuso entender o que querem, além de estarem levando a trajetória do protagonista para um lado mais sombrio e bagunçado.
Ação e Violência
Se os fãs esperam por um banho de sangue irão receber em grandes proporções, mas o foco não é a violência em si e sim a ação presente na vingança pessoal de Norman. A ideia do longa é a de fazer uma espécie de Busca Implacável do gênero de horror com muito sangue e o objetivo é alcançado com sucesso. Mesmo novato na direção Rodo Sayagues mantém o nível do primeiro quanto a estrutura de desenvolvimento dos acontecimentos, principalmente em relação as cenas de luta e também a respeito da atmosfera de horror que é muito bem construída, chegando até a ser mais brutal em alguns momentos.
Algo que salta aos olhos nesta sequência fica em relação a agilidade de como a história é contada. No primeiro ato há um trabalho mais pensado em como as coisas são trabalhadas e depois no último ato fica evidente como as coisas se tornam corridas, principalmente no confronto final contra os vilões. Isso é algo comum em filmes de ação, muitas produções se perdem no ato final, pensando apenas em apresentar o confronto final e esquecendo outras questões que ficam abertas. A grande diferença em O Homem nas Trevas 2 foi mesmo a questão da redenção em si do homem cego que aconteceu de uma forma elogiável, mas também foi meio jogada na trama, se fosse melhor trabalhada poderia render mais para o protagonista.
Claro que o roteiro traz as suas deficiências e se o espectador ficar pensando muito elas saltam aos olhos, como o fato de não ter aparecido um policial se quer em toda a trama, ou o porque do fato de não ter surgido nenhuma ligação do primeiro filme para assombrar o protagonista, são questões que ficam no ar e podem ser tratadas como furos de roteiro e que o diretor, por ser um iniciante, poderia ter trabalhado melhor na produção. Ficou evidenciado que queria apenas trabalhar a vingança de Norman e apenas isso. Ou os roteiristas podem ter pensado em uma possível continuação e tratar destes assuntos em um terceiro filme, mas aí é muito achismo.
O Homem nas Trevas 2 é exatamente o que os fãs queriam, mas a grande questão é se terão suas perguntas respondias nesse segundo capítulo. Quem for assistir pensando no primeiro filme irá se frustrar, até porque não há conexão alguma com o anterior e esse é o principal barato do longa que tem uma das premissas mais interessantes dos filmes de horror que foram lançados recentemente, até porque as pessoas se surpreenderam, quando o primeiro filme foi lançado, ao serem pegas torcendo por um homem cego que de início era o bonzinho da história e depois se torna o vilão. Há de se concordar que poderia até render uma história de origem para uma série de TV sobre como Norman Nordstrom se tornou cego, história é o que mais tem para se desenvolver nessa franquia.
O Homem nas Trevas 2 (Don't Breathe 2, EUA, Sérvia – 2021)
Direção: Rodo Sayagues
Roteiro: Fede Alvarez, Rodo Sayagues
Elenco: Stephen Lang, Brendan Sexton III, Madelyn Grace, Rocci Williams, Stephanie Arcila, Bobby Schofield, Adam Young
Gênero: Horror, Ação
Duração: 98 min
https://www.youtube.com/watch?v=cbz9_K3mw1E
Crítica | Space Jam: Um Novo Legado – O Jogo que Quem perde é o público
LeBron James é uma das grandes lendas do basquetebol americano. Consagrado por suas performances em quadra, o jogador deixou um rastro de vitórias por onde passou, liderando suas equipes pelo caminho das conquistas, do Cavaliers ao Los Angeles Lakers os desafios foram os mais diversos possíveis, mas nenhum chegou aos pés do enfrentado em Space Jam: Um Novo Legado.
No longa, dirigido por Malcolm D. Lee, e que tem como objetivo recontar a trajetória de sucesso que Michael Jordan junto com Pernalonga e sua turma do Looney Tunes fizeram com maestria no filme da década de 90. A tarefa não era das mais fáceis, já que a produção protagonizada por Jordan era conduzida de maneira bastante eficiente e equilibrada, além de trazer um toque de diversão. Era uma produção engraçada e cativante algo que não se manteve nesta sequência.
A continuação de Space Jam (1996) é uma decepção do início ao fim, e isso tem a ver com os caminhos escolhidos pelo roteiro, e não tem nada a ver com a escolha de LeBron James como protagonista, podia ser até mesmo Neymar ou qualquer outro jogador em seu lugar que provavelmente o filme iria fracassar em sua trajetória de sucesso.
O roteiro é ruim e ineficiente em criar laços dramáticos com o público e também em transformar o personagem de LeBron em um protagonista atraente. A proposta de vencer o jogo a qualquer preço apenas para salvar o filho das mãos de um algoritmo maluco não é algo suficientemente forte para prender a atenção do espectador. No original tínhamos Jordan já desistido da carreira do basquete para ir para o baseball, algo mais realista que isso impossível, pegaram algo que ocorreu na vida real e levaram para as telas.
Óbvio que Space Jam é pura fantasia, mas dava para tentar dar um toque de realidade no roteiro. Space Jam: Um Novo Legado tenta fazer isso criando conflitos familiares ridículos e constrangedores entre LeBron e seu filho e também não surte efeito algum no espectador, e o pior que os diálogos são tão ruins que parecem saídos de alguma novela mexicana. O mais triste disso tudo é que esse atrito entre pai e filho acaba corroendo uma grande parte do roteiro e já é de imaginar o que acaba acontecendo, pois acaba por ofuscar outros personagens interessantes, no caso os desenhos.
Atrapalhou também que os roteiristas quiseram repetir o mesmo filme de antigamente, sem mudar nada, repetindo assim a fórmula do passado para dar certo com o público e acabou que o roteiro seguiu exatamente a mesma receita do longa passado. Chega a ser bizarro como o diretor não mudou nada, recriando até mesmo cenas icônicas e consagradas, como a clássica enterrada de Jordan e a conversa da virada no vestiário quando o time dos Looney Tunes está perdendo e retornam mais empolgados e surpreendentemente desbancam os vilões no ato final. Nada surpreendente para um filme que se repete a todo instante.
O mais incrível de tudo é que nesta nova versão se perdeu a alma dos personagens. Em uma produção com personagens tão impactantes como Pernalonga, Piu-Piu e Frajola, que eram para serem engraçados, suaves e divertidos, acabaram na realidade por se tornarem chatos, monótonos e extremamente sem graça. O problema é quiseram inventar demais e tentaram dar novas funções para alguns personagens. Chega um momento que começa a se contar nos dedos o tempo para terminar o filme.
Os Looney Tunes são personagens clássicos da Warner, são amados pelo público e com seu grande carisma conseguem segurar qualquer produção. Porém, o desafio é complicado para a turma que em Space Jam sobrevive de algumas tiradas que não fazem efeito algum, já que o roteiro repetido não ajuda muito. Atrapalhou também o fato de o diretor querer dar importância para muitos personagens que não tem importância alguma e que são secundários. Seria mais interessante se tivesse desenvolvido os vilões secundários ou dado mais importância para eles.
A própria concepção do vilão tinha uma boa ideia inicial por trás, o algoritmo que iria recriar um jogo real de basquete em um game, mas até nisso ficou bobo o jeito que é a ideia é trabalhada e desenvolvida. O vilão interpretado por Don Cheadle, que de início era malvado e que depois acaba se tornando caricato e é pessimamente mal explorado.
LeBron James e seu carisma se salvam de uma derrota total e isso é um elogio em meio a uma completa catástrofe que é a sequência de Space Jam. Infelizmente sua simpatia não funcionado jeito que deveria e isso ocorre justamente porque seu personagem é ruim, sonolento e chato, não colou o papel de pai do ano que quer salvar o filho das garras do algoritmo malvado, algo que já vimos em inúmeros filmes, portanto nada de novo.
Space Jam: Um Novo Legado infelizmente não deixa um legado e trilha um caminho esquecível para futuras sequências, que provavelmente irão acontecer, já que a Warner tem uma franquia bastante lucrativa na mão, só precisa pensar como a desenvolver de uma maneira que possa atrair o público. Era um desafio muito grande realizar uma continuação de um clássico antigo que trazia Jordan como protagonista e a escolha de um roteiro desastroso com uma direção fraca mostra um total descaso pela produção, que poderia ter sido muito melhor concebida.
Space Jam: Um Novo Legado (Space Jam: A New Legacy, EUA – 2021)
Direção: Malcolm D. Lee
Roteiro: Juel Taylor, Tony Rettenmaier, Keenan Coogler, Terence Nance, Jesse Gordon, Celeste Ballard
Elenco: LeBron James, Don Cheadle, Cedric Joe, Khris Davis, Sonequa Martin-Green, Ceyair J Wright, Harper Leigh Alexander, Xosha Roquemore, Stephen Kankole, Jalyn Hall
Gênero: Animação, Comédia, Fantasia
Duração: 115 min.
https://www.youtube.com/watch?v=t1m7zl8H-kE&ab_channel=WarnerBros.PicturesBrasil
Crítica | Tempo - Intrigante e Perturbador
Com Spoilers
Se alguém lhe perguntasse se você sabia ou gostaria de saber quanto tempo ainda lhe resta de vida ou quanto tempo ainda tem até envelhecer, com certeza muitos iriam ter a curiosidade de saber a resposta, enquanto outros irão esperar até que o fim da chegada do período do processo naturalmente terminasse para que pudesse descobrir o real resultado. Em Tempo, novo trabalho de M. Night Shyamalan, o ciclo temporal da vida passa com tanta rapidez que nem se percebe quando que ocorreu e como aconteceu que de uma hora para a outra que os personagens cresceram e envelheceram com tanta velocidade.
M. Night Shyamalan conta em sua carreira com alguns sucessos de público e crítica, em algumas de suas tramas o cineasta não sabe bem como as desenvolver suas, e é isso que acontece em Tempo. O diretor não erra do mesmo jeito que errou em produções como Fim dos Tempos e Depois da Terra, mas também não acertou como fez em O Sexto Sentido e Fragmentado. O longa também não destoa de nada que o diretor havia feito antes, e sua narrativa é equilibrada o suficiente ao ponto de dar um ritmo um tanto acelerada para a trama.
Adaptado da Hq Castelo de Areia, dos autores Frederik Peeters e Pierre-Oscar Lévy, acompanhamos a trajetória de diversas famílias que estão tirando férias em um hotel e são levadas pelo gerente para uma praia paradisíaca afastada de tudo e de todos. Obviamente que o local esconde algo que mais para a frente o público irá descobrir como uma anomalia bizarra que acaba levando a um processo que acarreta repentinamente na vida dos personagens, a ilha acelera o tempo de vida de todos em questão de horas, e acabam nem percebendo que estão crescendo e morrendo em questão de segundos, minutos e dias, sendo que na trama cada meia hora é um ano que cada personagem está passando na praia, e o pior que não encontram jeito algum de sair de lá.
Há uma mensagem que Shyamalan quer passar ao espectador e isso fica evidente já no trailer (para quem assistiu) não há muito mistério ou surpresas. Não tem a ver apenas com o tempo que nos resta na Terra, mas também com o tempo que deixamos passar. Acabamos fazendo tantas tarefas em nossas rotinas que acabamos por nos atropelas e não perceber o mais importante que está ao nosso lado e somente em certas situações limites que, possivelmente, ou não, acabamos por perceber o quanto de tempo perdemos em nossas vidas e não nos esforçamos realmente para alcançar certos objetivos para ficar ao lado de quem realmente amamos e nos importamos e em tempos. É uma mensagem simples e que é dita de maneira direta, sem muita enrolação, está sendo representada ali pelas famílias e principalmente pelo casal Cara (Gael García Bernal) e Prisca (Vicky Krieps).
Há uma boa intenção por parte do diretor em entregar um projeto final que tem como finalidade chocar o público, isso se levar em conta o plot final, ou sua virada de roteiro que surge justamente com a ideia de transformar e dar uma noção de que aqueles acontecimentos da praia não estão ocorrendo ao acaso. Quando o espectador é levado ao final já não há tanto entusiasmo, até porque já há uma ideia de que aquelas mortes da ilha estão ligadas a alguma experiência particular de alguma empresa ou até mesmo, porque não, de algum reality show, e Shyamalan não surpreende ao entregar o final um pouco antes justamente o que se é imaginado.
O roteiro, que trabalha a própria questão do tempo junto com a ideia do envelhecimento, faz com que essas duas noções, que são bem diferentes uma da outra, sejam bem executadas até certo ponto e acabem se tornando atraentes para o público, causando até mesmo um sentimento de horror, fazendo com que o público se coloque naquela situação limite terrível em que os personagens se encontram. Mas há situações que o diretor não soube trabalhar e elas saltam aos olhos.
Uma delas envolve a própria questão da conformidade, em um dado momento, apenas para citar como exemplo, quando o casal Cara e Prisca descobrem que os filhos deles, que antes eram crianças, agora são na verdade adolescentes, há apenas uma rápida reação de surpresa por parte dos atores e isso acontece o tempo todo com todos os personagens quando vão descobrindo os segredos da praia, ou seja, ocorre um rápida conformidade que não faz muito sentido para um filme sobre o tempo, pois se realmente acontecesse algo do tipo a primeira reação de alguém seria de total desespero e não de aparente calma como realmente é demonstrada no filme. Para efeito de comparação, na série Lost, há uma demonstração muito maior de desespero que em no longa de Shyamalan e essa é uma sensação que não se tem ao assistir a trajetória dos ilhados.
Muitas das situações que irão ocorrer são bem óbvias e algumas foram até entregues no trailer, havia até uma ideia de que poderia ter algo de surpreendente, mas acaba sendo aquilo mesmo e Shyamalan não tenta inventar nada, entrega aquilo que imaginamos mesmo. Falta uma certa ousadia para um cineasta que as vezes surpreende com tramas geniais e bizarras em suas produções e vamos concordar que em Old (nome em inglês) a estranheza está muito presente, assim como em outros longas, para não dizer como na maioria de seus filmes.
Tempo não é de longe dos melhores trabalhos de M. Night Shyamalan, lhe falta ousadia para ir adiante na trama e nas subtramas, mas também não é um filme ruim, há uma mensagem interessante e tem um toque de horror ao estilo de Midsommar e Ilha da Fantasia. A palavra que fica ao assistir é que o filme é frustrante, apenas isso. Havia muita expectativa para esta nova produção, provável que funcionasse melhor como uma série, assim como Servant, a série de terror que Shyamalan dirigiu para a Apple TV. Tempo, no fim das contas, não é uma total perda de tempo.
Tempo (Old, , EUA – 2021)
Direção: M. Night Shyamalan
Roteiro: M. Night Shyamalan, Pierre-Oscar Lévy e Frederick Peeters (Hq Sandcastle)
Elenco: Gael García Bernal, Vicky Krieps, Thomasin McKenzie, Alex Wolff, Rufus Sewell, Abbey Lee, Nikki Amuka-Bird, Ken Leung, Aaron Pierre, Eliza Scanlen, Embeth Davidtz, Emun Elliott, Alexa Swinton, Francesca Eastwood, Nolan River, M. Night Shyamalan
Gênero: Drama, Mistério, Thriller
Duração: 108 min.
https://www.youtube.com/watch?v=zxnVGnQKM4E&ab_channel=UniversalPicturesBrasil
Crítica | Um Lugar Silencioso - Parte II - Um Filme Feito para Lucrar
Quando estreou, em 2018, Um Lugar Silencioso surpreendeu aos fãs de filmes de terror e a crítica especializada por trazer algo de novo para um gênero que vinha se arrastando há algum tempo com efeitos práticos toscos, que não surtiam grandes resultados no público e que não traziam um roteiro atraente a ponto de fazer o horror se tornar algo pop ao ponto que John Krasinski conseguiu fazer.
É natural, e bastante óbvio também, que a Paramount iria tão logo desenvolver uma sequência que recebeu o acréscimo de Parte II, algo não tão original, ao seu título. Em Um Lugar Silencioso – Parte II continuamos a acompanhar a saga de Evelyn Abbott (Emily Blunt) com seus dois filhos, uma delas surda e que ajudou bastante a dar maior dramaticidade e suspense em muitos trechos do primeiro filme. A família agora tenta encontrar um norte e em sua nova aventura acabam por encontrar um novo personagem que já era conhecido deles antes do apocalipse acontecer, trata-se de Emmett, interpretado por Cillian Murphy. Obviamente que vários acontecimentos vão surgindo com o passar do tempo, até para que o filme possa ser desenvolvido e para que possa ser atraente para o público, e nisso eles vão se colocando em situações e mais situações de perigo, ou seja mais do mesmo.
Nesse segundo capítulo, o longa ainda tenta resguardar ainda alguns elementos que fizeram do anterior um clássico, mas é impossível que se mantenha a qualidade nesses casos quando se trata de uma continuação, até levando em conta o jeito que a trama é desenvolvida. Não haveria muita lógica se o roteiro não tentasse, pelo menos, contar como ocorreu o apocalipse alienígena desde o início, falha que muitas produções acabaram sucumbindo justamente porque o público acabou por ficar muito curioso em querer encontrar respostas sobre quem eram aqueles seres que estavam na terra. Produções como The Walking Dead que mostram o misterioso apocalipse dos zumbis, mas não sua origem, acabam por cair nesse erro de não responder tais perguntas e sucumbem rapidamente, pois o espectador logo fica de saco cheio em não sabe sua origem.
Mas tais perguntas só são respondidas de forma superficiais em Um Lugar Silencioso Parte II, com os aliens caindo do espaço em naves grandiosas e causando rápida devastação. O foco mesmo desta continuação está na ação, que foi o grande diferencial do anterior e novamente no suspense que é bem trabalhado, mas que neste novo capítulo se torna mais óbvio, tanto que o espectador acaba por suspeitar quase sempre de onde vem os sustos e acaba meio que acertando de onde eles surgem.
Queira ou não essa obviedade acaba transformando a obra em menos original do que era em sua essência. A ideia se mantem, com sua estrutura sendo trabalhada no mesmo formato, sendo basicamente uma cópia do primeiro filme, mas com a diferença de que os perigos enfrentados pela família e as situações que enfrentam são totalmente diferente, deixando um sentimento no ar de que poderia ser mais atraente a história, além de deixar o sentimento de ser apenas um repeteco.
Na realidade, os produtores e a distribuidora, com o pensamento de criar uma franquia bem sucedida e lucrativa, decidiu fazer uma sequência, uma aposta alta e ousada, já que o primeiro longa original é um clássico. A questão é que ninguém havia previsto que uma pandemia iria devastar o mundo, fazendo com que a bilheteria de muitas produções fossem impactadas, inclusive da própria continuação.
Um Lugar Silencioso: Parte II não é um filme ruim, pois cumpre bem o seu papel de entreter o público, é sim bem interessante e com boas cenas de ação e de terror e acaba pregando bons sustos e com boas doses de suspense. O problema mesmo é que não traz nada de novo e fica preso ao formato que acabou criando, sendo assim, não sabe direito qual caminho trilhar na história, tanto que acaba por terminar com um caminho indefinido, dando a ideia de que terá uma sequência.
Um Lugar Silencioso: Parte II (A Quiet Place Part II, EUA – 2021)
Direção: John Krasinski
Roteiro: John Krasinski, Scott Beck, Bryan Woods
Elenco: Emily Blunt, John Krasinski, Millicent Simmonds, Noah Jupe, Cillian Murphy, Djimon Hounsou, Scoot McNairy
Gênero: Drama, Horror, Ficção Científica
Duração: 97 min
https://www.youtube.com/watch?v=McQb7-K_GbM&list=PLsX3_DFG6oLMmxEY_VDpAsE_tn4cFZc1J&ab_channel=ParamountBrasil
Crítica | Algum Lugar Especial - Um Drama Inspirador
Com Spoilers
John (James Norton) é um pai que se dedica integralmente ao seu filho Michael (Daniel Lamont) e sozinho, já que sua esposa e mãe do garoto foi embora depois do parto. Porém, algo trágico ocorre em sua vida e precisa decidir se irá conceder seu filho para a adoção ou não.
Essa é a trama de Um Lugar Especial, que foi inspirado em fatos reais, e traz uma história de vida que irá tirar lágrimas de quem for mais emotivo. O drama, ao tratar de um tema tão particular do personagem, acaba por fazer o espectador experimentar o sentimento que o pai tem naquele momento sente, até porque John está de mãos atadas e não tem com quem deixar a criança e isso é algo que acaba sendo manifestado de forma emotiva pelo espectador que assiste.
É difícil não ter empatia e não se comover com o que está acontecendo a John, que de todas as formas protege o seu filho para não saber a verdade sobre a doença que aflige a ele. A questão dramática é muito bem trabalhada neste ponto, sem precisar apelar para situações que façam o público chorar, tudo vai acontecendo da forma mais natural possível, acompanhando o dia a dia de John até o derradeiro momento que terá de tomar uma decisão.
Com um roteiro simples e que trabalha as novas condições de saúde do pai e do filho acaba fazendo algo que alguns dramas não conseguiram, que é o de contar com poucas palavras e diálogos a história. Dia após dia vai ficando evidente que John está pior e a sua angústia em saber que não estará mais lá para cuidar do filho vai se acentuando, e o roteiro faz questão de mostrar todos os tramites em que ele percorre até chegar a derradeira cena final que é um verdadeiro soco no estômago, uma cena autoexplicativa que não precisa nos mostrar o que aconteceu de fato, pois já temos uma ideia do que ocorreu.
A direção de Uberto Pasolini é um dos destaques, pois em uma trama desse estilo seria muito mais fácil para o cineasta fazer um filme que descambasse para algo dramático ao estilo de uma produção mexicana, mas o diretor vai por outro lado e não tem como objetivo fazer apenas o público chorar, mas também refletir sobre a situação de John e queira ou não o espectador pensa automaticamente se caso isso acontecesse com si, como seria a reação?
Um Lugar Especial funciona bem com seu elenco reduzido, na maior parte do tempo com dois ou três personagens em cena e que vão nos apresentando a história. É um filme triste, sobre a vida e sobre os dilemas que vão surgindo pelo caminho, mas também um longa sobre decisões e sobre a importância de se ter alguém por perto. John teve o seu filho como grande amigo na sua jornada particular, até que não pode mais esperar e teve que ter coragem para se decidir.
Algum Lugar Especial (Nowhere Special, Reino Unido, Itália, Romênia – 2020)
Direção: Uberto Pasolini
Roteiro: Uberto Pasolini
Elenco: James Norton, Daniel Lamont, Eileen O'Higgins, Valene Kane
Gênero: Drama
Duração: 96 min.
https://www.youtube.com/watch?v=9uLH5RIZ2Ig&ab_channel=A2Filmes
Crítica | Black Summer (2ª Temporada) - Uma Sequência Desnecessária
Nunca os zumbis estiveram tão em evidência como estão agora. Todos os anos inúmeras produções são lançadas sobre a temática, algumas se sobressaindo a outras. A verdade é que os zumbis têm chamado mais a atenção do grande público que outros tipos de monstros, como vampiros e os lobisomens.
Quando parece que a temática já está se tornando repetitiva aparece algum novo produto audiovisual que faça os zumbis voltarem com tudo. A última leva se deu com a popular série The Walking Dead, fazendo com que muitas outras produções acabassem surgindo na mesma pegada, uma delas chamada de Black Summer.
Produzida pela Netflix, a primeira temporada de Black Summer estreou e chamou a atenção dos espectadores ao apresentar o apocalipse zumbi por um outro olhar, seguindo alguns personagens que fugiam do caos do fim do mundo e precisavam sobreviver. A ideia era basicamente mostrar os protagonistas correndo o tempo todo dos zumbis. Com esse viés surge a segunda temporada, que diferente da anterior se mostrou mais amarga ao tratar de alguns assuntos, e também perdendo muito do seu frescor.
Zumbis em Segundo Plano
A ideia de Black Summer, pelo menos na primeira temporada, foi a de trazer zumbis para a trama e focando muito na violência com que tudo estava acontecendo, muito parecido com o que Madrugada dos Mortos (2004) e Extermínio (2002) fizeram. A série deu certo em sua primeira temporada justamente por isso e por não ficar focando muito nos dramas particulares dos personagens pré-apocalipse. Na continuação, o que ocorre é bem diferente, com uma narrativa arrastada, quase parada para não dizer, se tornou um produto chato a ser consumido, alguns episódios chegam a dar sono de tão tediosos que são.
O triste de tudo isso é que acabaram deixando os zumbis de lado, fazendo com que se tornassem uma questão secundária para dar espaço ao drama da sobrevivência em si, mostrando como os sobreviventes da primeira temporada estão lidando com vários perigos, como o frio, fome e até mesmo o medo por encontrar outros humanos pelo caminho.
Portanto, o diferencial da produção da Netflix, em relação a TWD, foi justamente o de ter feito algo de diferente do que já tinha sido visto na primeira temporada e que não se repetiu nesta segunda parte, que é o confronto contra os zumbis. Apenas no último episódio é que realmente voltou às origens, sendo que há apenas alguns momentos de confronto ou medo dos zumbis por parte dos personagens nos episódios anteriores.
Spoilers a Seguir
Temporada Desnecessária
A temporada se torna desnecessária por não apresentar fatos novos que toquem a história para adiante. A impressão que se dá ao assistir aos cansativos oito episódios é o de que o roteiro quis focar apenas no modo sobrevivência dos personagens e esqueceu realmente da história. Os dramas foram focados apenas nos confrontos com os humanos, algo que já foi visto em diversas séries e filmes sobre zumbis, portanto, nada de novo foi feito.
O roteiro utiliza de um elemento narrativo que as vezes dá certo, mas que nesta série não deu muito, que é o fato de contar a história de forma desconexa, com os fatos sendo apresentados de uma forma que não seja linear, fazendo assim o espectador se perder na história e também perder o interesse no que está sendo apresentado.
Os personagens foram mantidos, mas algo bizarro ocorreu. É comum que produções que levem a sério suas histórias não tenham dó de matar um ou outro protagonista, mas o que acontece em Black Summer é surreal, com a maioria dos personagens sendo mortos, sendo que alguns eram interessantes. Não faz sentido perder tanto tempo os desenvolvendo para depois matá-los, os personagens secundários até faz sentido, mas alguns que soavam como protagonistas não.
Black Summer despontou como uma alternativa para as séries de zumbis que estavam no mercado, como The Walking Dead e Z Nation, essa última, por sinal, é bastante parecida com a produção da Netflix, mas com a diferença que é mal dirigida. O que ocorreu com Black Summer é que a nova temporada se tornou mais sombria e isso é elogiável, mas esquecer o principal elemento e que faz com que o público a assista, no caso os zumbis, isso já é algo imperdoável.
Black Summer: 2ª Temporada (Idem, Estados Unidos – 2021)
Criado por: Abram Cox, Karl Schaefer
Direção: Abram Cox, John Hyams
Roteiro: Craig Engler, John Hyams, Karl Schaefer, D.S. Schaefer, Jodi Binstock, Steve Graham, Abram Cox, Jennifer Derwingson, Henry G.M. Jones, Sarah Sellman
Elenco:Jaime King, Justin Chu Cary, Christine Lee, Zoe Marlett, Kelsey Flower, Sal Velez Jr., Erika Hau, Bobby Naderi, Manuel Rodriguez-Saenz, Jesse Limpscombe, Edsson Morales
Emissora: Netflix
Episódios: 08
Gênero: Ação, Drama, Horror
Duração: 45 min.
https://www.youtube.com/watch?v=O9-kJB8AVFA
