Crítica | Palm Springs é diversão despretensiosa
Com Spoilers
Há um entendimento entre muitos dos fãs do gênero, que a estrutura de roteiro das produções audiovisuais que tratam a respeito de loops temporais, geralmente, tem uma trama batida, já que é sabido a respeito que o protagonista terá de vivenciar o seu dia repetidas vezes no mesmo dia, e isso quase que infinitamente, até que dê um jeito de quebrar aquele enigma acerca do loop temporal. E é nessa pegada que funciona a narrativa de Palm Spings.
Andy Samberg, o astro da série de humor Brooklyn Nine-nine, interpreta Nyles, um homem que está em um relacionamento conturbado com sua esposa que o trai. Nyles conhece a jovem Sarah (Cristin Milioti) em uma festa de casamento e logo se encanta por ela. O que parecia estar sendo um romance acaba por se tornar totalmente o contrário quando um homem (J. K. Simmons) surge aleatoriamente caçando Nyles, e eis que nesse momento aparece uma caverna misteriosa. Dentro dela parece ter algo similar com o de uma energia. Obviamente, Sarah entra nesse buraco e acaba por fazer parte da maldição que Nyles já vive: o de sempre acordar no mesmo dia.
É uma história contada e recontada em diversas produções, tanto em séries quanto em filmes. Filmes como A Morte te Dá Parabéns (2017) e No Limite do Amanhã (2014) usaram e abusaram dessa fórmula, que se bem empregada consegue tirar as mais diversas sensações do público. Em Palm Springs esse artifício é bem desenvolvido e feito de um jeito que não deixa o longa cansativo para o espectador.
Diversão Garantida
O roteiro de Andy Siara utiliza da receita já vista nos filmes mencionados acima e também no de alguns episódios de seriados. Porém, com a diferença de mostrar o protagonista gostando de viver um dia após o outro, esse é o diferencial de Palm Springs. Nyles tem uma vida que ele mesmo não leva a sério, e depois de muitas tentativas de se matar para tentar sair do looping temporal que se meteu, acaba por achar tudo aquilo normal, e o pior, o personagem não mudou em nada com o tempo que está dentro do loop.
A situação envolvendo o loop o deixa mais humano com o tempo, pois o que a trama, ao se aprofundar na história de Nyles, nos mostra é que é que o personagem não se importa muito em sair daquela situação, ou seja, a mensagem é que Nyles não pensa em um futuro, só pensa mesmo em viver o presente, e isso só muda quando Sarah acaba por entrar no loop sem querer, e é a força de vontade dela, junto com a paixão que ele nutre por ela, que acaba mesmo mudando o jeito de Nyles pensar.
A criação do romance entre a dupla é bem desenvolvida, até pelo fato de Sarah ser totalmente o oposto de Nyles. Ele não aparenta ser uma pessoa madura, enquanto que Sarah apresenta traumas do passado, que faz da personagem muito mais interessante que o próprio protagonista. É um acerto apresentar a personagem de uma forma mais dramática, algo que dá uma quebra no humor praticado no primeiro ato quando Sarah descobre estar vivendo em um loop temporal.
A direção do estreante Max Barbakow é inteligente e até surpreende pela decisão que encontra ao mostrar os caminhos tomados pelos personagens, claro que em alguns momentos a produção parece óbvia nos rumos que os personagens vão tomar, assim como em algumas situações o diretor parece se perder em não dar um grande desenvolvimento para ambos, principalmente na vida de Nyles antes de entrar nessa enrascada.
Há bons momentos de humor na trama, principalmente no primeiro ato em que muitas confusões acontecem com Sarah descobrindo que acabou caindo em um loop infinito. Andy Samberg se sai bem em trazer um personagem muito parecido com o de Jake Peralta, que interpreta em Brooklyn Nine-nine, o de um homem que parece infantil em alguns momentos, mas que logo amadurece e toma decisões sérias. A grande surpresa mesmo está com a aparição de J.K. Simmons que está ótimo como o homem que busca vingança contra Nyles, transformando essa vingança quase que em um esporte. Sua presença acaba trazendo graça para a narrativa, mesmo que as cenas sejam bastante violentas.
Feitiço do Tempo
A fórmula clássica e consagrada pelo filme O Feitiço do Tempo (Harold Ramis) é o elemento principal da produção e o diretor, assim como acontece com a maioria das produções do gênero, consegue fazer com que o longa se desenvolva ao redor desse problema que é o loop temporal, fazendo com que as situações transmitidas ao público sejam as mais diferentes possíveis, levando desde tensão, terror, e até mesmo humor para os espectadores.
Porém, é difícil fazer um filme com essa temática e não cair na mesmice de sempre, que é o fato do loop acabar por se tornar algo extremamente repetitivo, fazendo parecer com que o roteiro não saiba para onde ir. Mas isso só acontece em alguns momentos da trama de Palm Springs, no demais o longa consegue se reinventar rapidamente e apresentar uma nova situação que leve a história adiante. O jeito com que o romance entre os dois personagens é apresentado também é algo interessante. De início Nyles só queria curtir, mas depois percebe que está apaixonado, o que resulta em bons momentos dramáticos.
Palm Springs é um bom entretenimento no fim das contas, mesmo apresentando um tema que já foi muito mostrado em diversas tramas, mas que nunca se esgota, sempre há uma história nova para ser desenvolvida. E o longa de Max Barbakow consegue surpreender de forma bastante despretensiosa e divertida.
Palm Springs (idem, 2020 – EUA)
Direção: Max Barbakow
Roteiro: Andy Siara
Elenco: Andy Samberg, Cristin Milioti, J.K. Simmons, Peter Gallagher, Meredith Hagner
Gênero: Comédia, Fantasia, Mistério
Duração: 90 min
https://www.youtube.com/watch?v=CpBLtXduh_k&ab_channel=Hulu
A Verdadeira História de Ned Kelly – Elenco de peso é o grande atrativo da cinebiografia
Uma Nova Visão Sobre Ned Kelly
Apesar de sua história ser bastante conhecida em muitos países, principalmente na Austrália, o criminoso conhecido pelo nome de Ned Kelly e que causou um grande terror na terra dos cangurus quando o país ainda se encontrava sob colônia britânica, tem em seus atos praticados no período de conhecimento público, mas mesmo assim não teve um grande destaque no cinema até agora, mesmo com algumas produções já focando em sua história.
Dirigido por Justin Kurzel (Assassin’s Creed) A Verdadeira História de Ned Kelly traz novamente à tona a trajetória do homem e sua gangue que lutava contra a dominação inglesa. A produção foca bastante no protagonista e apresenta os fatores que o fizeram chegar até onde chegou. O longa aborda principalmente a sua relação familiar que foi apresentada de forma bastante problemática pelo diretor.
A ideia do cineasta era a de dar um tom mais dramático para o famoso criminoso e de também mostrar como ele interagia na época em que o personagem vivia. Mas claramente o cineasta se perdeu ainda no primeiro ato, transformando um filme com bastante potencial em algo extremamente monótono.
Construção da Narrativa
A narrativa da produção é muito bagunçada, montada de um jeito que o espectador se perde ao seguir a trajetória de Ned Kelly. Há momentos que fica claro como o filme se perdeu em sua história e que obviamente isso ocorreu na pós-produção, lugar que o longa foi editado.
Nos dois primeiros atos são abordados temas como família, a rotina do protagonista ainda quando jovem e depois Ned Kelly já em sua fase adulta. Por ser um filme longo é de se entender que o roteiro quis apresentar muitos momentos da vida do criminoso, mas que era tanto material a ser abordado que o cineasta acabou se perdendo no que ele realmente queria contar.
Há um claro buraco entre o segundo e terceiro ato, em que não sabe bem qual cronologia que se seguiu e nem se entende direito o que aconteceu com o personagem em sua jornada pessoal. Já no primeiro ato há algo que realmente já demonstrava os erros que a produção iria seguir, com o personagem de Russell Crowe surgindo do nada e com o mesmo efeito desaparecendo sem motivo algum.
Uma Cinebiografia vazia
A questão familiar é algo bastante importante para a trama e também para entender melhor o porque de Ned Kelly ter se tornado quem se tornou. Mesmo o diretor tendo perdido muito tempo nessa relação, algo que torna o filme extremamente cansativo, o filme ainda assim acaba por ter furos narrativos que fazem com essa relação se torne mais desgastante com o tempo.
Outra coisa que chama bastante a atenção no longa é a respeito dele não conter uma mensagem clara. Há tantos diálogos jogados e que não são trabalhados a fundo que faz com que a trama, e por consequência sua mensagem, se tornem vazias, sem um envolvimento maior dos personagens na história. A própria questão envolvendo os britânicos contra os irlandeses é algo que não é aprofundado na narrativa.
Elenco de Peso
Mesmo contando com um elenco de força, tendo nomes consagrados compondo o longa, não é de se estranhar que a produção ganhe força justamente pelas boas atuações pontuais do conjunto.
A atuação mais contundente é a de George MacKay, que interpreta Ned Kelly. O astro de 1917 (Sam Mendes) tem uma interpretação feroz e que dá ainda mais força para um protagonista que é apresentado de uma maneira mais dramática do que se esperava. Graças a sua atuação é que é possível de se chegar ao final da produção, caso contrário seria muito difícil continuar com a experiência de assistir ao filme.
Nomes de peso como Nicholas Hoult (Tolkien), Charlie Hunnan (Magnatas do Crime) e Russell Crowe (Fúria Incontrolável), que compõem o elenco secundário, têm atuações mais contidas e muito disso se dá pelos personagens mal escritos. Talvez o personagem de Hunnam seja o mais interessante destes, do resto são apenas traços caricatos de intérpretes que não vão a lugar algum.
A Verdadeira História de Ned Kelly têm bons momentos, mas eles se esvaem muito pelo longo tempo do filme e também muito pela narrativa sem força e foco. Não é uma perda de tempo total, mas fato é que poderia ter um roteiro melhor trabalhado e adaptado. Ned Kelly continua sem ter uma produção do tamanho de sua lenda.
A Verdadeira História de Ned Kelly (True History of the Kelly Gang – Austrália, 2019)
Direção: Justin Kurzel
Roteiro: Shaun Grant
Elenco: George MacKay, Nicholas Hoult, Charlie Hunnam, Essie Davis, Russell Crowe
Gênero: Biografia, Crime, Drama
Duração: 124 min.
https://www.youtube.com/watch?v=jVtKqu8FZPc&ab_channel=A2Filmes
Crítica | Mulher-Maravilha 1984 - Uma triunfal sequência
Desde sua estreia, no ano de 2017, Mulher-Maravilha logo se tornou um grande sucesso de público e crítica ao trazer para as telonas as aventuras da Deusa Diana Prince, ao enfrentar vilões superpoderosos e dando conta deles com tamanha maestria o filme foi tamanho sucesso que obviamente não seria difícil de imaginar que a Warner iria investir em uma sequência, que pode não ser tão grandiosa em efeitos especiais como os fãs esperavam, mas que cumpre o papel de entreter o público. Mulher-Maravilha 1984 (Patty Jenkins) é sim tão espetacular e impressionante como todos apostavam que seria além de ser também um passo a mais no gênero dos filmes de super-heróis, ainda mais dentro do que a DC concebia em suas produções.
É normal, ao assistir a filmes de heróis presenciar muita destruição, pancadaria, invasões alienígenas e mais recentemente piadinhas aleatórias sendo jogadas no roteiro, mas muito antes dessa nova geração de produções de filmes de super-heróis, foi lançado no ano de 2002 o longa Homem-Aranha, dirigido por Sam Raimi, e que se pode dizer que Mulher-Maravilha 1984 tem muito em comum. Nessa continuação, a heroína faz tudo o que o herói da Marvel fez em seu filme solo e que é algo muito importante e que as produções do gênero acabaram por perder em sua essência ao só se importar com cenas impressionantes e impactantes. Em Wonder Woman 1984 (nome original) Diana salva crianças, pensa em salvar a humanidade, sonha em um mundo melhor e até mesmo pensa em salvar os vilões de suas próprias armadilhas egocêntricas.
Diana já era assim no primeiro filme, mas de um jeito meio romântico, o que a diretora Patty Jenkins fez de uma maneira bastante inteligente foi pensar a heroína e as situações que ela está inserida como algo mais sério, mas não de um jeito sombrio como Zack Snyder (Madrugada dos Mortos) pensaria se fosse o diretor. Patty cria ao seu estilo um jeito próprio de demonstrar pelo roteiro um caráter mais sério de contar a história, apresentando com o seu tempo os protagonistas e os vilões, sem pressa e atropelos, tanto que o filme é até longo para os padrões de filmes de super-heróis e mesmo assim não é nada cansativo, pelo contrário, o espectador nem vê o tempo passar de tão bom que é.
Spoilers
Nesta sequência a trama irá girar em torno de uma pedra dos desejos, que obviamente será o centro das atenções de toda a narrativa, e é justamente ela que faz rodar a história, um ótimo elemento que é muito bem inserido no filme e bem desenvolvido, não deixando buracos e não faz algo que a maioria dos filmes do gênero acabaria por fazer, que seria o de dar poderes mágicos ao ponto do vilão Max Lord (Pedro Pascal) os soltar e enfrentar de igual para igual a heroína. O que acontece é que Max Lord acaba realizar desejos e é uma sacada bastante interessante, pois nos quadrinhos Lord não é exatamente do jeito que é retratado no longa, ele é um vilão caricato, cheio carisma e malandro e que de início pensa em enriquecer facilmente, mas logo perceber que pode realizar mais e mais desejos. O mais interessante é que Jenkins não o retrata como um vilão que sonha em dominar o mundo, ele é apenas egoísta e ganancioso, quer ter tudo para si mais e mais, quanto mais poder ter em mãos melhor e isso também é algo diferente do que é visto em muitos filmes do tipo.
A criação dos dois vilões, Max Lord e Cheetah (Kristen Wiig), é muito bem concebida, fazendo com que ambos não sejam na realidade vilões no sentido conhecido da palavra, mas sim personagens que acabaram corrompidos pela pedra do desejo e que também acabaram por perder sua humanidade ao receber um poder ilimitado que não tinham antes e acabaram por encontrar o lado mais sombrio que tinham em si, algo foi despertado em suas vidas e a pedra apenas alimentou esse lado liberando o seu pior. É uma mensagem bastante interessante e que também dá uma grande reviravolta em relação ao que muitos filmes inspirados em quadrinhos tentaram fazer e não conseguiram e que em Mulher-Maravilha 1984 é feito de maneira muito bem trabalhada, por etapas, sem precisar atropelar os personagens e criando e apresentando seus dramas pessoais para o público.
Claro que por ser o foco da narrativa e ser o grande vilão da história o personagem de Pedro Pascal acabe por ter maior tempo de tela em relação a personagem de Kristen Wiig, o que é uma pena, já que Wiig está ótima no papel de Barbara Minerva, tanto que no primeiro ato chama bastante a atenção sua interpretação e acaba por ser um dos grandes destaques do filme. Outro dos grandes méritos de Jenkins é fazer com que a trama tenha uma reviravolta e que Pascal ganhe força com o tempo e se torne o grande vilão, mas que mesmo assim não se apague a força que Wiig havia recebido antes, a atriz apenas perde força mesmo e some em alguns momentos, aparecendo em momentos eventuais e em boas cenas de ação que fazem com que o filme ganhe mais e força.
A atuação de Pedro Pascal também é um destaque no filme, que é recheada de sarcasmo e acabou combinando perfeitamente com o que demandava para o vilão: um empresário do petróleo que queria enriquecer facilmente. Pascal tem um carisma e uma simpatia que impecavelmente se encaixa com o personagem e por ser um vilão que realiza desejos, obviamente, irá enganar muitas outras pessoas no longa. Gal Gadot também está ótima como a protagonista e da produção de 2017 para Mulher-Maravilha 1984 sua interpretação melhorou bastante no papel de Diana e isso não tem muito a ver com a atuação de Gadot em si, mas também com a personagem que melhorou bastante em relação ao filme anterior para esta sequência.
O que aconteceu nesta continuação foi que Patty Jenkins acabou por deixar Diana menos durona e mais humana, com problemas realmente que uma mulher poderia vivenciar em seu dia-a-dia, mas sem esquecer que ela ainda é uma heroína, ela apanha, sangra, fica exposta a tiros, questões que realmente são diferentes do que foram presenciadas até no cinema em relação a heroína e que no primeiro filme não foram tão aprofundadas. Tais fatos são levados tão a fundo pela diretora que pode levar parte do público a ter pena de tanto que Diana apanha dos vilões.
Havia grandes expectativas a respeito de como seria o retorno de Steve Trevor (Chris Pine) e seu retorno é um dos acontecimentos mais interessantes do longa, pois traz um alívio cômico necessário para a trama além de dar mais intensidade para a personagem da Mulher-Maravilha. Fora que seu retorno é importante para acontecer algo que não havia sido feito com decência no longa anterior, que foi uma despedida entre Diana e Trevor, e isso acaba ocorrendo em uma cena emocionante e importante que serve como uma mensagem para que a heroína passe a viver seus dias sem olhar para o passado e passe a viver o presente sem precisar esperar o retorno de seu amor que se foi.
Mulher-Maravilha 1984 é entretenimento de primeira e provavelmente um dos melhores filmes da DC. Em efeito de comparação com Aves de Rapina (2020) é superior em roteiro, direção, protagonistas melhores definidos, e se comparar com outras produções mesmo da DC o longa de Jenkins acaba se sobressaindo por sua qualidade. Wonder Woman 1984 tem boas cenas de ação, mas não aquelas com destruição a cidades em grande escala, até porque não fazia o menor sentido para o roteiro, a destruição é mais em caráter mundial e metafórico, até porque o vilão quer criar um colapso mundial ao criar muros entre nações, criar uma guerra mundial entre Rússia e EUA com mísseis sendo lançados por ambas as partes. Que seja um aprendizado para a DC e que os próximos filmes não apenas do estúdio, mas também da Mulher-Maravilha continuem nessa pegada.
Mulher-Maravilha 1984 (Wonder Woman 1984 – EUA, 2020)
Direção: Patty Jenkins
Roteiro: Geoff Johns, Patty Jenkins, Dave Callaham
Elenco: Gal Gadot, Pedro Pascal, Chris Pine, Kristen Wiig, Connie Nielsen, Robin Wright, Kristoffer Polaha
Gênero: Ação, Aventura, Fantasia
Duração: 151 min.
https://www.youtube.com/watch?v=xXEwp0uQmjM&t=5s&ab_channel=WarnerBros.PicturesBrasil
Crítica | O Poderoso Chefão - Desfecho: A Morte de Michael Corleone - Um Final Digno
Com Spoilers
É verdade que O Poderoso Chefão: Parte III (1990), e que devia fechar com chave de ouro a trilogia de sucesso que teve ínicio com Marlon Brando interpretando o poderoso mafioso siciliano que vai para os Estados Unidos e cria um império do crime, não passou de um filme arrastado, cheio de cortes mal feitos na edição final, e contou com excesso cenas desnecessárias, e isso fica claro com os vários diálogos que se tornam supérfluos durante a trama do longa. Dito isso, ganha força um novo olhar feito pelo diretor Francis Ford Coppola ao revistar a história e criar uma nova versão revisada intitulada de O Poderoso Chefão - Desfecho: A Morte de Michael Corleone.
Obviamente que não é um filme novo da franquia O Poderoso Chefão. O que o diretor Francis Ford Coppola fez foi praticamente refazer o filme inteiro, pois havia muito material da época em que foi filmado e produzido pela Paramount, algo que possibilitou que o cineasta revisitasse a obra e fizesse o seu corte final e enfim realizasse a montagem que todo cinéfilo e fã da franquia realmente gostariam de assistir nas telas. E o resultado realmente impressiona, nem parece que é o mesmo filme assistido há trinta anos.
Alterações Feitas
A grande pergunta que fica é o quê dá na cabeça de um diretor em refazer o seu filme depois de tanto tempo após sua estréia nos cinemas e a justificativa pode ter duas: ou excesso de capricho ou em amarrar as pontas soltas que o roteiro não conseguiu preencher na versão original, e é justamente isso que o Desfecho: A Morte de Michael Corleone, que aqueles desavisados (existem pessoas que não assistiram ao clássico O Poderoso Chefão, acredite) podem interpretar o título como um spoiler, quer trazer, pois o diretor imagina ir pelos dois caminhos ao revisitar o longa que fechou a trilogia clássica.
Ao retornar para o cenário da máfia italiana, em seu terceiro episódio em que Michael Coleone (Al Pacino) tenta de todas as formas deixar o seu passado criminoso de matança para trás e tenta adquirir a Immobiliare, uma empresa bilionária e ligada ao Vaticano, e que daria plenos poderes para a família Corleone, além de limpar o seu passado sombrio, com isso Michael acaba caindo no meio de um jogo de poder que não pensava que iria estar ligado ao tentar a aquisição da empresa.
Porém, a versão original roteirizada por Mario Puzo e Francis Ford Coppola, traz muitos problemas de roteiro. Não que o filme seja ruim, algo que realmente ele não seja, mas há muitos problemas de edição no filme e isso fica muito claro com a nova versão reeditada, mas não apenas problema de edição como também um problema claro de montagem, são questões simples de escolha que Coppola na época fez a sua escolha que acreditava ser a melhor para a produção, mas que não eram as melhores para a narrativa, tanto que na versão original entraram muitas cenas desnecessárias, que não serviam para realmente contar a história e que poderiam ter sido cortadas no corte final, mas ficaram ali apenas por capricho do diretor.
Na primeira uma hora já evidente a diferença em relação ao longa de 1990, pois o cineasta corta a cena em que Al Pacino está na igreja e já apresenta os personagens de maneira mais ágil na festa que o protagonista irá receber a homenagem da Santa Igreja. Nesta mesma festa, que na versão original é totalmente retalhada e que é apresentada de maneira tosca, com os personagens tendo vários atritos uns com os outros, é difícil de entender algumas relações, relações essas que serão importantes para o restante da história, portanto é nessa festa que muito se dá as muitas falhas do roteiro da versão original, ou seja, os muitos cortes gerados na versão original nessa festa acabaram gerando falhas de construção da narrativa do longa e o diretor tratou de retratar isso, colocando várias cenas adicionais e assim pode-se entender várias questões que não se havia entendido antes.
Com as novas cenas acrescentadas muitas situações ganharam relevância e entendimento, principalmente na primeira uma hora de filme em que Coppola adicionou muito material adicional. Na cena da festa, na briga entre Vincent (Andy Garcia) e Joey Zasa (Joe Mantegna), na versão original, era incompreensível entender o porquê dos dois mafiosos terem raiva um do outro e também era difícil de entender quem era aquele mafioso chamado Zasa. O cineasta deu uma encorpada e mais volume para a cena a deixando maior e dando mais destaque para aquele evento que Michael Corleone recebe o prêmio da Igreja e ocorre a briga entre Zasa e Vincente, sendo assim, na nova versão ficou muito mais interessante e muito mais fácil de entender a inimizade entre os dois personagens, e assim ficou também mais agradável acompanhar o restante da narrativa que está se desenrolado.
Muitas outras mudanças serão feitas a partir desta festa que é a porta de entrada do filme, algumas perceptíveis e outras nem tanto e o diretor vai mudando um ângulo de câmera aqui e outro ali, coisas que não funcionaram na versão original ou vai apenas cortando cenas que não deram certo, como a da personagem Mary Corleone (Sofia Coppola) correndo ao não aceitar a negativa de seu pai por não permitir que ela se relacione com seu primo Vincent. No original ela iria correr em tom de revolta e seu irmão iria dizer que ela iria entender alguma hora a situação. Essa e outras cenas são desnecessárias e Coppola foi cortando por entender que elas realmente não fazem o menor sentido e não empurram a narrativa adiante, apenas estavam na versão original por algum capricho.
Alguns cortes foram pontuais também, principalmente em relação as participações de Sofia Coppola e Andy Garcia, no caso da atriz ficando menos tempo em tela, e do ator sendo cortado de cenas desnecessárias e surgindo nas cenas mais relevantes. Os cortes de edição estão mais ágeis, algo que funciona em permitir que a ação transcorra com maior velocidade e de forma menos tediosa possível.
Vale a Pena Conferir a Nova Versão?
Na realidade, para os fãs das antigas é bem provável que O Poderoso Chefão: Parte III seja um clássico absoluto e que uma nova versão só sirva mesmo como o próprio nome diz, um desfecho da história e como uma versão alternativa, e não para substituir ao filme que encerrou a trilogia de forma oficial.
O longa lançado em 1990 é até hoje injustiçado pelas suas falhas narrativas, tanto de roteiro como de arcos dos personagens, o jeito como a história foi tratada e como algumas decisões em relação a direção foram tomadas. Foi justamente com esse fim que Coppola resolveu lançar esta nova versão, que é bem mais atraente e mais interessante, e com todas as cenas acrescentadas, cortes feitos, diminuição de tela de alguns personagens e outras mudanças realizadas, mesmo assim algumas coisas não mudam nesta nova versão.
Uma delas é a interpretação apagada e insonsa de Sofia Coppola, já no filme original a atriz se destacava, mas de forma negativa e como a filha do diretor do longa tinha bastante tempo de dela acaba por saltar aos olhos como a atriz se saiu não tão bem no papel de Mary Corleone. Algo que não muda também é o roteiro que é bastante voltado para o drama, mas há um sentido para esse excesso de dramalhão até porque a família Corleone passa por um momento de ruptura, Michael com o seus dois filhos e também no seu ideal em deixar um legado para sua família e porque não também para a sociedade, já que ele adquirindo a Immobiliare teria plenos poderes para isso.
É um filme nostálgico e que vale a pena para recordar os tempos em que os filmes de máfia levavam a sério o roteiro e a paixão pelo cinema, em que os personagens tinham seu protagonismo, mas que não se sabia que chegariam até o fim vivos ou não e esse é um dos principais trunfos de O Poderoso Chefão: Parte III, depois de um terceiro ato em que surge uma ópera espetacular e que nesta versão não há grandes mudanças, a não ser o acréscimo de novas cenas, eis que o filme termina com uma tragédia, assim como foi toda a franquia e que resume de forma perfeita como foi toda a vida da família Corleone.
O Poderoso Chefão - Desfecho: A Morte de Michael Corleone (The Godfather, Coda: The Death of Michael Corleone – EUA, 2020)
Direção: Francis Ford Coppola
Roteiro: Mario Puzo, Francis Ford Coppola
Elenco: Al Pacino, Diane Keaton, Andy Garcia, Talia Shire, Eli Wallach, Joe Mantegna, George Hamilton, Bridget Fonda, Sofia Coppola, Raf Vallone, Franc D’Ambrosio, Helmut Berger, Don Novello, Richard Bright, Donal Donnelly
Gênero: Drama
Duração: 157 min.
https://www.youtube.com/watch?v=buEh-9XBupk&ab_channel=Ingresso.com
Crítica | Sozinha - Um thriller que empolga
A receita dos grandes thrillers de sucesso é bastante comum de ser acompanhada ou de ser entendida, geralmente há um assassino ou psicopata à solta perseguindo sua vítima que se sente ameaçada constantemente e não encontra uma forma de escapar daquele misterioso vilão, e claro: sempre há o clímax, é nele que acontece a maioria das viradas do roteiro. Essas características estão muito presentes nos thrillers e podem ser encontradas em muitos filmes do gênero e um deles é Alone (John Hyams).
Produções de baixo orçamento, geralmente, precisam de um bom roteiro para prender a atenção do público e o longa dirigido por John Hyams (Black Summer) segue exatamente essa trilha ao criar uma protagonista forte, Jessica (Jules Willcox), com um passado que tem algo escondido nele, um trauma bastante pesado, e é justamente esse choque que a personagem viveu em uma parte de sua vida que faz com que o filme já comece com uma espécie de segredo, mas esse fato em si não é o principal mistério a ser abordado pelo roteiro, o elemento mais relevante em si é o vilão e sequestrador que está para aparecer na vida da moça e toda a perseguição em que irá ocorrer mais adiante.
A trama tem como foco principal a fuga de Jessica por parte de seu perseguidor implacável interpretado pelo ator Marc Menchaca (Black Mirror), e mesmo sendo uma ideia simples o diretor consegue manter a atenção do público presa por grande parte do tempo, mesmo que algumas decisões não sejam as mais inteligentes possíveis, como na cena em que a personagem simplesmente sai correndo sem direção descalça pela floresta e gritando, mas essas soluções são necessárias, até porque é um filme de sobrevivência e certas situações ajudam a deixar o público entretido nos acontecimentos pelo qual a protagonista vem passando.
O roteiro é óbvio, mas isso não atrapalha na experiência de acompanhar toda a angústia e terror psicológico por qual Jessica passa, ela é perseguida, atacada e sofre os mais diversos abusos por parte do sequestrador, e é aí que entra a questão da obviedade, pois o espectador já acompanhou tantas produções do gênero que fica fácil entender o que irá acontecer nos próximos takes, se fizer o mínimo de força para tentar adivinhar por quais caminhos Jessica irá ou o que o sequestrador irá tentar fazer é bem capaz de o público acertar, mas mesmo assim o filme continua interessante e prendendo nossa atenção na tela, pois queremos saber como tudo aquilo vai terminar.
Por ser uma história que se arrasta em apenas um acontecimento, o da perseguição em si, há um suspense que é bem trabalhado causado por uma tensão bem estruturada, mesmo com o roteiro repetitivo essa tensão acaba funcionando e se reinventa, principalmente em situações ocasionais causadas por elementos que o diretor coloca em cena que ajudam a dar esses efeitos, casos do senhor que surge para ajudar Jessica e a cena em que ela se joga na cachoeira. São idéias que o roteiro vai tendo para manter a expectativa do espectador em alta, fazer com que a tensão continue sempre elevada, mesmo com toda essa repetição acaba dando certo, pois as situações são bem construídas e há ainda um outro fator que ajuda em todo o suspense que é a receita do vilão malvadão que corre atrás da moça indefesa, receita essa que sempre dá certo nos thrillers.
Mesmo com um elenco reduzido o destaque naturalmente acaba por se tornar a protagonista Jules Willcox (Apanhador de Pesadelos), que tem uma interpretação ótima e em comparativo a outras produções do gênero, em que a vítima foge do psicopata, Jules não tem uma atuação que irrita o espectador, seus gritos não são histéricos e não parece ser uma protagonista frágil, com medo de agir contra o perigo. O vilão, interpretado por Marc Menchaca, é bastante convincente no papel do psicopata sequestrador, não carrega vícios e ainda consegue o principal para um filme de suspense: irritar a todos com suas maldades.
Já é conhecido que o traço principal das produções do cineasta John Hyams seja a correria, pois se olhar para o que o diretor já fez de relevante há sempre esse estilo empregado, só olhar para as séries de terror Z Nation (2014) e Black Summer (2019) em que zumbis correm de modo desenfreado atrás de suas vítimas criando caos e pânico por onde passam. E em Alone essa experiência do cineasta dá certo, tanto que é justamente nas cenas de perseguição que o filme se sobressai, mas na história em si peca bastante por falta de desenvolvimento. Como entretenimento Alone é um bom filme e que serve para passar o tempo.
Alone (Idem, EUA – 2020)
Direção: John Hyams
Roteiro: Mattias Olsson
Elenco: Jules Willcox, Marc Menchaca, Anthony Heald, Jonathan Rosenthal, Katie O'Grady
Gênero: Thriller
Duração: 98 min.
https://www.youtube.com/watch?v=NoP2mJiCzWQ&ab_channel=MagnoliaPictures%26MagnetReleasing
Crítica em Vídeo | A Dama e o Vagabundo (2019)
É notório que a Disney cada vez mais invista em produções live-actions, primeiro pelo fato delas trazerem um certo retorno financeiro - mesmo não tendo um grande apelo entre os críticos - segundo porque as histórias conseguem atingir um outro público que não assistia as animações do estúdio e que não fosse o infantil: no caso os adultos.
O live-action de A Dama e o Vagabundo foi lançado diretamente no Disney+ e não seria nenhum erro dizer que poderia facilmente ter estreado nos cinemas, pois atrativos o suficiente tinha para dar uma boa bilheteria e divertido ao público. Confira a crítica em vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=54laPjQt_lE
Crítica | Convenção das Bruxas - Um remake sem alma nem grandes pretensões
Convenção das Bruxas é um clássico dos anos 90, dirigido pelo cineasta Nicolas Roeg e que vinha da direção de filmes dos mais variados gêneros na década de 70, um deles é o terror Inverno de Sangue em Veneza (1973). Em The Witches (nome original do filme) o diretor conseguiu criar uma obra que assustou inúmeras crianças na época (e assusta até hoje), com elementos simples do terror, com o suspense de quem são as bruxas, o horror que elas praticam às crianças, e o próprio aspecto físico em si das bruxas. Sempre se falou sobre um remake de Convenção das Bruxas e ela foi feita, mas essa nova versão perde muito da alma de que tinha o longa original.
A produção original é uma adaptação do livro de Roald Dahl, o autor já teve obras adaptadas para o cinema como O Fantástico Sr. Raposo (2009) e O Bom Gigante Amigo (2016). Obviamente que o novo filme de Convenção das Bruxas traz algumas diferenças na história em relação a trama original, mas o problema nem é isso em si, pois mudanças sempre são bem vindas, até porque há alguns problemas de roteiro que o longa original deixa bastante a desejar que poderiam ser modificados na nova versão ou até mesmo melhorados, mas na realidade o que aconteceu foi bastante diferente.
Com direção de Robert Zemeckis, cineasta responsável por filmes clássicos como Contato (1997) e Náufrago (2000), o que se esperava era que o filme, pelo menos, mantivesse os alicerces que fizeram desta produção o grande sucesso que foi no passado, mas o diretor realizou várias modificações no roteiro que irão saltar aos olhos dos fãs. Algumas delas já no primeiro ato e que dão outro andamento para a narrativa, não há mais a garotinha presa dentro do quadro, um elemento de terror no longa de 1990 e que valia a pena adaptar para a nova versão, mas que foi deixada de lado. Outra mudança se dá pelo fato do jeito que a avó Grandma (Octavia Spencer) conta a história para seu neto (Jahzir Bruno), não há mais a emoção nem os elementos de tensão e medo quando são mencionadas as bruxas para o garoto pela primeira vez, algo que se via no original e que aqui parece tudo muito artificial. Tudo isso se perdeu por que o diretor quis fantasiar demais e não soube como recontar a história.
É natural que o roteiro traga muitas mudanças e elas são bem-vindas no sentido que acabam por tapar certos buracos deixados pela versão anterior, só que o longa deixa outras lacunas e esquece a que veio de fato. O filme tenta trazer novas situações que acabam por não dialogar com o público da maneira certa. o próprio ato final é uma perda de tempo sem tamanha, havia uma grande expectativa se as crianças continuariam transformadas em ratos para sempre e o diretor as frustra de forma banal, faz isso apenas para fazer um final diferente e possivelmente pensando em uma sequência.
Zemeckis vem realizando entre seus últimos trabalhos obras que não vem agradando muito o público e a crítica casos de Bem-vindos à Marwen (2018) e Aliados (2016), e em Convenção das Bruxas ele co-assina o roteiro ao lado de outros roteiristas conhecidos, como Kenya Barris (Um Príncipe em Nova York 2) e Guillermo del Toro (A Forma da Água). O diretor não faz um trabalho tão surpreendente desde Náufrago, apenas algumas produções competentes, caso de A Travessia (2015), mas falta algo para o diretor voltar a se reinventar ou retornar com um filme impactante.
A direção de Zemeckis é competente e mesmo derrapando no roteiro utiliza de elementos visuais que ajudam ao espectador a interpretar a narrativa. O visual das bruxas está menos grotesco e não se utilizou muito de atrizes anciãs para os papeis das personagens, isso para acabar com o estereótipo de que bruxas não são necessariamente idosas. O que faltou mesmo foram mais cenas de suspense. Houve muitas oportunidades em que o diretor poderia ter trabalhado esse cenário, mas preferiu ir pelo lado aventuresco da história.
Na realidade, Convenção das Bruxas foi feito para novos espectadores que não cresceram assistindo ao clássico da década de 90, e a ideia de realizá-lo era justamente de construir um novo público e meio que ignorando o antigo que cultuava a versão mais conhecida. O filme de Zemeckis não tem grandes atrativos, é fraco de novas idéias e não tem pretensão alguma de ser um filme fantástico, algo que fará com que muitas crianças e adolescentes de outras gerações passem a não adorar a produção com o tempo, na verdade é bem provável que o longa se torne esquecível com o passar dos anos.
Convenção das Bruxas (The Witches, EUA – 2020)
Direção: Robert Zemeckis
Roteiro: Robert Zemeckis, Kenya Barris, Guillermo del Toro, Roald Dahl (livro)
Elenco: Chris Rock, Jahzir Bruno, Octavia Spencer, Anne Hathaway, Stanley Tucci, Brian Bovell, Miranda Sarfo Peprah, Orla O'Rourke
Gênero: Aventura, Comédia, Família
Duração: 106 min.
https://www.youtube.com/watch?v=8TQLGcnJ3mc&ab_channel=WarnerBros.PicturesBrasil
Crítica | Transtorno Explosivo – Um drama de qualidade
O cinema já apresentou diversas histórias de drama em que o protagonista apresentava ou algum transtorno comportamental ou até mesmo uma fúria incontrolável em situações que não demandavam aquele tipo de atitude, casos do clássico Um Dia de Fúria (1993) e mais recentemente o longa alemão Transtorno Explosivo (2020) que é um tremendo soco no estômago.
A produção dirigida e roteirizada pela cineasta estreante Nora Fingscheidt tem uma trama pesada, carregada de uma violência angustiante. O filme acompanha o drama particular da jovem Benni (Helena Zengel), uma criança que se encontra em um período de sua vida que precisa se deparar com alguns problemas que envolvem a sua vida. Um deles é o de não ter um adulto comprometido a ouvi-la ou até mesmo a aconselhar, e outra questão que a revolta é a respeito do abandono de sua mãe, isso devido aos vários momentos que a garota explode em um sentimento de raiva incontrolável, em que a menina agride de forma violenta e acaba por xingar outras pessoas, e sua mãe não aguenta cuidar dela devido a esses acessos de raiva.
A ideia da diretora é o de justamente apresentar os traumas que uma criança vivencia em sua infância e como isso pode ser prejudicial para o seu desenvolvimento, e não apenas isso, Fingscheidt também nos mostra a partir do ponto de vista de Benni como ela interpreta o mundo e também como a violência que ela prática a si e contra os outros somente a prejudica e não traz benefícios nenhum para si.
Todos esses traumas por qual Benni passa é muito bem trabalhado pela diretora, que trata um tema pesado de forma sensível e com um olhar humano para a vida da jovem garota, dando a interpretação de que crianças problemáticas não são assim porque querem e que com ajuda profissional e um pouco de carinho é possível ter uma mudança de comportamento.
O roteiro só frustra um pouco por não desenvolver mais a questão do transtorno comportamental em si, se ele tem cura ou até mesmo sua possível origem na menina. Mas isso não atrapalha em nada o andamento da narrativa, até porque ela é bem amarrada e desenvolvida pela diretora, sem deixar pontas soltas durante a história.
O final também deixa bastante a desejar, por não trazer uma solução prática para todos aqueles problemas que a jovem garota esteve passando. Pode-se dizer que é um final aberto em que há várias interpretações para o que se aconteceu depois dessa história tão pesada. A diretora quis dar um ar de suavidade para fechar o terceiro ato e assim tentar dialogar com o público de que a garota encontrou uma possível saída para o seu problema.
O destaque da produção, sem dúvida alguma, é todo de Helena Zengel (Relatos do Mundo) uma jovem atriz com muito potencial a ser alcançado e que consegue interpretar uma personagem extremamente complicada e com uma força na atuação que prende a atenção do espectador, até porque o elenco é reduzido e a história é toda focada em Benni, não há uma trama secundária, há personagens secundários e eles estão lá para dar força para a protagonista, que por si só sustenta toda a estrutura narrativa do longa.
Transtorno Explosivo é um grande filme, cheio de mensagens que podem ser interpretadas das mais diversas maneiras e que dá um enfoque para um drama que pouco é visto ou discutido no cinema. Não é uma produção feita para chorar, é mais para refletir e tirar alguma lição daquilo que está sendo visto.
Transtorno Explosivo (Systemsprenger, ALE – 2019)
Direção: Nora Fingscheidt
Roteiro: Nora Fingscheidt
Elenco: Helena Zengel, Albrecht Schuch, Gabriela Maria Schmeide, Lisa Hagmeister, Maryam Zaree, Melanie Straub
Gênero: Drama
Duração: 125 min.
https://www.youtube.com/watch?v=uMQokWquIgo&ab_channel=imovision
Crítica | O Halloween de Hubie – Adam Sandler mais caricato do que nunca
Adam Sandler é conhecido por ter uma carreira como ator de um estilo de filme só, interpretando papéis que geralmente não demonstram ser ele o astro de grande gabarito que é. Na maioria das vezes participou de comédias bobinhas e quase sempre sem muita graça. O astro trabalhou recentemente na produção da Netflix Joias Brutas (2019) em que fez um personagem mais sério, e desta vez retorna ao serviço de streaming com O Halloween do Hubie.
O filme é exatamente o que o público esperava ser em uma comédia protagonizada por Sandler: uma comédia que força no tom do humor e que só tem graça em eventuais situações que são bem trabalhadas pelo diretor Steven Brill (Para Maiores). Quem conhecia os trabalhos de Brill sabe bem que o diretor costumava dirigir comédias com um humor bastante duvidoso, para não dizer com piadas bobas e diálogos fracos.
E toda essa fórmula que Brill trabalhou em quase toda a sua carreira cinematográfica está em O Halloween de Hubie, que logo de início, quando o personagem de Adam Sandler e que dá nome ao filme (Hubie), já temos uma ideia de qual será o caminho a ser tomado pelo diretor para conduzir a narrativa, com Hubie bebendo ovos jogados por algumas crianças e os vomitando logo em seguida. Quem não curte esse tipo de humor ou não está acostumado com as obras do diretor, já no primeiro ato tem tempo o suficiente para abandonar o filme e começar a assistir outra produção.
As piadas são fracas, mas não por serem ruins, mas sim por serem pessimamente conduzidas pelo diretor. Ao criar algumas das situações – a maioria delas para humilhar Hubie e tentar fazer o público rir com essas atitudes – o cineasta acaba por fazer uma trama extremamente repetitiva, em que muitas das piadas só são reformuladas durante o filme para tentar fazer o espectador dar risada. Um exemplo são as várias cenas em que Hubie anda de bicicleta pelas ruas e precisa desviar de objetos jogados contra ele, pois os moradores da cidade fazem isso simplesmente porque Hubie é estranho e as pessoas querem apenas tirar uma com a cara dele.
Esta cena é algo que se repete bastante no roteiro, escrito por Adam Sandler em parceria de Tim Herlihy (Os Seis Ridículos), que é o fato de Hubie ser humilhado sucessivas vezes pelos moradores da cidade, além de levar vários sustos idiotas a todo instante. É tudo tão forçado que não dá pra entender qual a real mensagem do longa. Esta mensagem existe, que é a de não se cometer bullying com pessoas desengonçadas ou diferentes delas. Só que essa mensagem não é desenvolvida e nem é debatida a fundo, só surgindo no último ato e dando a clara impressão de que aquilo foi jogado no roteiro apenas para dar um sentido para a trama.
Outro fator que atrapalha bastante na experiência de assistir ao longa é o fato de o personagem de Hubie ser ruim, exagerado e extremamente caricato, tendo um sotaque irritante e usando uma garrafa térmica como um acessório que se parece um canivete com multifunções. E não apenas o personagem de Sandler é ruim, mas também todos os outros personagens secundários que aparecem no longa são igualmente fracos e com pouquíssimo carisma.
Se O Halloween de Hubie não é o pior filme da carreira de Adam Sandler, há um consenso de que ele está entre os piores. Mas o ator parece se sentir confortável com esses papéis, tanto que não foi o primeiro longa em que Sandler interpretou um protagonista caricato. A produção tem algumas piadas que funcionam, mas são poucas, dá até para contar nos dedos quais são. A produção tem o seu público cativo e isso é mais por conta do ator que propriamente do filme.
O Halloween do Hubie (Hubie Halloween, EUA – 2020)
Direção: Steven Brill
Roteiro: Tim Herlihy, Adam Sandler
Elenco: Adam Sandler, Kevin James, Julie Bowen, Ray Liotta, Steve Buscemi, Rob Schneider, Maya Rudolph, Tim Meadows, Michael Chiklis, Shaquille O'Neal
Gênero: Comédia, Fantasia, Mistério
Duração: 102 min.
https://www.youtube.com/watch?v=_mUO2ukDTZk&ab_channel=NetflixBrasil
10 Filmes emocionantes e divertidos com cachorros
Com Spoilers dos Filmes Listados
Se há um subgênero dentro do gênero de filmes família que sempre teve lugar cativo entre o público, esse é sem dúvida o de filmes com cachorros. Sua popularidade se deve primeiro por ser um tema bastante presente na vida de muitas pessoas que têm esses animais como parceiros em suas moradias, segundo pelo fato de agradar ao público quase que em geral por trazer tramas divertidas ou dramáticas, como é visto na maioria das produções com cachorros.
Nesta lista são citados os filmes mais interessantes com cachorros que você pode ver na SKY. Confira abaixo:

10. O Chamado da Floresta (2020)
Os livros sempre foram fonte de inspiração para o cinema, e nesta clássica aventura, já levada várias vezes para a telona, é um clássico exemplo de como livros podem ser adaptados facilmente. O Chamado da Floresta é inspirado na clássica obra de Jack London e traz um cachorro diferente dos que já foram vistos em produções do tipo, com um cachorro feito de forma digital. A trama é batida, com o animal sendo sequestrado e desde então tentando se reencontrar no novo mundo que foi parar - no caso o Alasca - e que encontra no personagem de John Thornton (Harrison Ford) a melhor companhia para uma viagem sem volta.

9. Cão Vermelho (2011)
Este é um filme bastante desconhecido, mas não por isso deixa de ser interessante e com uma trama bastante sensível. Cão Vermelho conta a história de um cachorro que cruza os desertos australianos em busca de seu dono. Uma trama cativante e que é tratada com bastante delicadeza pelo diretor Kriv Stenders. O diretor tentou recriar a receita de sucesso novamente nas telonas em 2016 com o longa Cão Azul, mas que não teve o mesmo apelo de Cão Vermelho.

8. Quatro Vidas de um Cachorro (2017)
Outra produção que levou muitos às lágrimas foi o longa Quatro Vidas de Um Cachorro, em que traz um cachorro reencarnando várias vezes, mas sempre tendo um propósito em mente: o de reencontrar o seu primeiro dono e que ele considera como sendo o seu melhor amigo. A trama é um pouco fantasiosa, mas ela é tocada de forma sensível pelo diretor Lasse Hallström (O Quebra-Nozes e os Quatro Reinos), que atrai para uma história já batida, a do cão tentando reencontrar o seu dono, algo de diferente. O longa foi inspirado no livro de W. Bruce Cameron que foi um tremendo sucesso quando foi lançado em 2010.

7. Beethoven: O Magnífico (1992)
Este sem dúvida é outro clássico dentre as produções com cachorros. Na época de seu lançamento Beethoven se tornou quase que um adjetivo para cachorro arruaceiro e bonitinho de tanto que marcou as pessoas com sua graça. A narrativa é apresentada de forma sensível e com tons de comédia, além de trazer uma mensagem de como um cachorro pode sim criar um elo afetivo com alguém que não goste de cães.

6. Togo (2019)
Produção inspirada em fatos reais é mais focada no drama ao contar sua narrativa. Togo, o cachorro que dá nome ao filme, existiu e conseguiu um feito que muitos não acreditariam no período, percorrendo um vasto território para conseguir remédios para a população do Alasca. É uma trama bastante simples, mas que obviamente emociona ao espectador por apresentar o feito do cachorro com o seu dono Leonhard (Willem Dafoe). As cenas de aventura são fantásticas e elevam a tensão, só aumentando os feitos da dupla.

5. 101 Dálmatas (1961)
Se um cachorro já é o suficiente para criar simpatia e elos emocionais com o público o que há de se imaginar com 101 cães? A Disney é recheada de grandes animações clássicas, e uma delas é sem dúvida 101 Dálmatas. É óbvio que a animação produzida na década de 60 é mais levada para o lado da comédia, mas mesmo assim traz uma das vilãs mais conhecidas e lembradas do cinema: Cruella de Vil. Tão imponente que irá receber um longa live-action em 2021 protagonizado por Emma Stone (Zumbilândia: Atire Duas Vezes) e que é intitulado de Cruella.

4. Caninos Brancos (1991)
Caninos Brancos também é uma adaptação da obra de Jack London. Dentre as várias versões que o longa já recebeu pode-se dizer que a versão dirigida por Randal Kleiser (Querida! Estiquei o Bebê) é uma das mais clássicas. Uma trama fria, realista e que traz a história de amizade entre o protagonista Jack Conroy (Ethan Hawke) e o seu cão Jed. Não chega a emocionar tanto, até porque o longa é mais dramático e aventuresco, mas mesmo assim não deixa de ser um filmaço.
3. A Dama e o Vagabundo (1955)
Um dos clássicos da Disney, A Dama e o Vagabundo é uma animação fantástica que mostra a relação de amor entre uma cachorra de uma família rica com um cachorro vira-lata que vive nas ruas. Obviamente que não se pode falar desta animação sem mencionar a cena clássica em que os dois personagens comem macarrão e acabam por morder o mesmo fio, e assim acabam se beijando, tal cena se tornou tão clichê que pode ser vista em vários filmes de Hollywood. É um ótimo longa, feito para toda a família e cheio de belos momentos entre os dois protagonistas. Filme recebeu recentemente (2019) uma nova versão em live-action produzida para o Disney+.

2. Marley & Eu (2008)
Outro longa adaptado das páginas de um livro e que logo se tornou um clássico foi Marley e Eu (David Frankel). Produção é lembrada até hoje por sua história cativante e pelo seu final emocionante. Entra na categoria de belos filmes sensíveis, mas que também emocionam ao máximo o espectador, ainda mais por trazer um labrador tão fofinho quanto o do filme e sua relação com o protagonista (Owen Wilson).
1. Sempre ao Seu Lado (2009)
Este é sem dúvida alguma um filme que quem assistiu, se é uma pessoa emotiva, não irá esquecer tão cedo da bela história de Sempre ao Seu Lado. O longa conta a história de Hachiko, um cachorro da raça Akita, que cria laços desde quando era filhote com Parker (Richard Gere). É uma história bastante conhecida, já que também foi inspirada em fatos reais, e mostra como se sucederam os dias de Hachiko desde a morte de seu dono, quando começou a esperar em frente a estação de trem para o retorno de seu dono. É um drama impecável e que faz chorar até a pessoa menos emotiva, pois traz uma trama que além de ter sido inspirada em fatos reais é também bastante realista e nada fantasiosa ao apresentar os fatos.




