A Luz Eterna | O Final de O Farol Explicado

Spoilers

O novo filme de Robert Eggers (A Bruxa), O Farol, é uma inusitada história sobre dois homens que tem como a missão de serem os guardiões de um farol na costa do Maine. Óbvio que por ser um filme de Robert Eggers, as coisas não são bem o que aparentam ser de início.

Nos próximos parágrafos vamos nos aprofundar melhor em algumas passagens simbólicas e bizarras do filme e tentar encontrar respostas e soluções para algumas questões que parecem (pelo menos foi o que pensamos) não ter significado.

Thomas é Proteus

Não é a primeira vez que Robert Eggers desbrava no cinema relações humanas conflitantes, já havia feito isso com grande impacto em A Bruxa, mas ali já havia trabalhado também algo que vem se tornando um marco também de seu cinema: a alegoria. Para alguns cinéfilos, isso vem se tornando simplesmente fantástico, algo que torna o cinema mais rico em histórias originais, para outros é simplesmente um saco ter que ficar assistindo a algo e ter que decifrar tudo o que se assiste, desde a sereia que surge rapidamente, até mesmo o farol como um símbolo.

É bastante nítido que o filme tem uma pegada na mitologia grega. Isso não é óbvio, até por que o diretor não faz nada óbvio e isso não é o foco de suas narrativas. Há diversos caminhos que podem ser percorridos e interpretados pela narrativa, que os personagens ficaram loucos de estarem ali presos e que suas relações foram se desgastando com o passar do tempo, mas isso é o que pode ser visto por cima. Há na realidade algo a mais que é muito corriqueiro de ser visto nas tramas de Eggers.

Robert Eggers fez várias referências mitológicas em O Farol, e a primeira delas diz respeito sobre Winslow (Robert Pattinson) ser na uma espécie de Prometeu e dá um direcionamento bastante forte para o personagem de Thomas (Willem Dafoe). Há uma cena, quando Winslow insulta, em uma cena bastante impactante, o personagem de Thomas e sua capacidade de preparar uma lagosta, este então o retalia com uma reação bastante anormal e excessivamente raivosa, chegando até mesmo a jogar uma maldição envolvendo os Sete Mares e Poseidon em Winslow.

E o pior é que essa maldição feita de forma extremamente exagerada acaba por se concretizar em uma noite, isso no momento considerado o clímax do filme, em que Winslow e Thomas, os dois faroleiros, acabam por brigar de forma explosiva.

Essa cena em si chama bastante a atenção, pois nesse momento Winslow repara, ao ganhar vantagem sobre Thomas todo machucado, que esse está na verdade transformado em outra coisa, com outro aspecto não humano. O corpo de Thomas está na água, há tentáculos saindo dele como se fossem suas pernas e o corpo é feito de algas marinhas e cracas.

Há também um chifre de coral saindo de sua testa. Tudo isso leva a crer uma coisa: a de que Thomas é Proteus, mais conhecido na mitologia por ser o deus do mar e também chamado de “O Velho Homem do Mar”. Proteus é filho de Poseidon e do Oceano, ele está no filme representando a violência e a imprevisibilidade e o lado mutável da natureza. Proteus é também um metamorfo muito famoso, fato esse que faz muito sentido para todos os acontecimentos que são transmitidos no filme.

Se Thomas é Proteus em si essa é uma questão a ser discutida, mas Winslow, o novo faroleiro, acredita que seu colega é aquele conhecido como o Velho do Mar. Thomas era o cara mais experiente da ilha, era ele que comandava o farol, era o marinheiro e o chefe. Suas qualidades fazem o sentido de que ele seja o Velho Homem do Mar.

E o que está acontecendo com o Farol? E o que diabos está acontecendo com o farol? Iremos descobrir a seguir.

O Farol

É muito claro que Eggers se inspirou em contos de HP Lovecraft para criar sua estrutura narrativa de O Farol. Qualquer palavra que tenha Lovecraft, geralmente, já dá para ter uma interpretação de que aquilo é relacionado a algo assustador, ou a algo medonho ou enlouquecedor. O farol em si como objeto é Lovecraftiano, um inferno que pode ser abominável, mas que não é um monstro ao estilo Dagon ou Cthulhu.

Uma das coisas que precisamos reparar é que o farol em si é a coisa mais antiga do filme. Desde o início ele está lá, e sua luz é na realidade o fogo, o fogo eterno que Proteus no momento tem como missão manter vivo. É por isso que toda a noite entra ali e não deixa Winslow entrar junto. 

A luz do farol não é o inferno em si como muitas pessoas vem dizendo, a luz funciona mais como se fosse o poder da entidade que mantém seus servos em um sistema de opressão enquanto estão ali residindo na morada, ou seja, na ilha. Pode-se reparar que o que Winslow faz, sendo mandado por Thomas, sendo uma espécie de um empregado, com os seus deveres, lembram muito o de uma pessoa que precisa servir a essa entidade, e Winslow sempre é obrigado por Thomas a fazer essas coisas para manter as engrenagens da ilha funcionando.

Obviamente que Winslow acredita que possa subir lá e cuidar do farol, e nem imagina que há um conhecimento proibido ali. Thomas já não é mais Thomas, ele reside como faroleiro, mas na forma de um deus, no caso Proteus, isso desde que teve acesso ao farol e e a todo o poder proibido que a luz emana.

Winslow é Prometeu

Após Winslow matar o que ele via como Proteus, então passou a se considerar digno de ter acesso a todo o conhecimento do Farol e de todo o seu poder. Então sobe as escadas em direção ao segredo que ali residia em direção ao olho do monstro e de toda a sua força. Obviamente que Winslow não estava preparado para tudo o que estava guardado para ele naquela sala e tão logo desejaria nunca ter entrado ali.

Desde que chegou até a ilha Winslow quis por que quis ver o farol. É como se tivesse sido atraído de alguma forma para lá, sido encantado como a sereia faz com os pescadores com o seu charme. O conhecimento do farol é para poucos, é um monstro secular, talvez milenar, que poucos conseguiriam suportar, talvez por isso necessite de um guardião.

Aquele momento em que Winslow olha para a luz e a luz olha de volta para ele é como se a loucura estivesse entrado nele, e então o personagem tivesse perdido toda a sua sanidade, conseguiu um vislumbre de todo o conhecimento existente, mas isso foi algo tão grande para ele que não conseguiu suportar e então caiu pelas escadas.

O que é visto depois faz uma clara alusão ao mito de Prometeu. Após Winslow cair da escada há um corte e o vimos então todo deformado, sendo atacado por várias gaivotas devorando o seu corpo. Ele não tem mais o que fazer a não ser que está condenado a virar migalhas de pássaros. Podemos retornar ao início do filme, quando Thomas disse que as gaivotas são as almas dos marinheiros mortos, e quando o próprio Winslow acabou por matar um pássaro. A grande questão que você deve estar se perguntando é onde que Prometeu se encaixa nisso tudo?

Na mitologia, Prometeu foi um Titã muito conhecido que roubou o fogo dos deuses para entregar à  humanidade, porém sofreu uma punição de Zeus que acorrentou Prometeu pela eternidade a uma rocha, ou no caso de O Farol, a uma ilha, e o forçou que resistisse que águias devorassem seu fígado dia após dia, tendo esse órgão regenerado para que no outro dia fosse novamente comido pelas águias novamente.

Obviamente que no filme isso não fica claro que o corpo de Winslow será regenerado dia após dia pela eternidade, mas fica muito claro, pela expressão no rosto do personagem, que há muito sofrimento e que essa dor não irá passar muito brevemente.


O Legado de Gugu Liberato para a Televisão Brasileira

Todos o conheciam como Gugu Liberato, mas seu nome de batismo era Antônio Augusto Moraes Liberato, também chamado por muitos de Augusto Liberato. Antes de ser o famoso apresentador de TV que todos conhecem, Gugu teve que batalhar e começou sua carreira logo cedo, aos quatorze anos de idade como assistente de produção do programa Domingo no Parque, antigamente apresentado por Silvio Santos, no SBT. 

Gugu Liberato, além de apresentador, trabalhou também como cantor, ator (trabalhou em sete filmes) e empresário. Seu primeiro programa na emissora de Silvio Santos, o SBT, foi o Sessão Premiada Paulista, já em 1982, apresentou o programa Viva a Noite, que em um primeiro momento era dividido em várias partes, e também apresentado por nomes como Jair de Ogum, Ademar Dutra e Mariette Detotto. O programa sofreu mudanças de formato, e Gugu passou a comandar sozinho o programa, que depois passou a ser dirigido por Homero Salles. Ao mesmo tempo em que trabalhava no Viva a Noite, Gugu começou a dirigir o Domingo no Parque.

Foi no programa Viva a Noite que Gugu passou a exaustão o grupo musical Menudo, em 1984, fato que fez com que o grupo brasileiro passasse a admirar o grupo musical e também o gênero tocado pela banda. Assim outros grupos musicais no mesmo formato foram lançados pelo programa, como Polegar e Dominó, se tornando assim Gugu um grande empresário de sucesso, lançando até sua produtora, a GGP, especializada também em filmes e séries.

Em 1988, Gugu reestreou no SBT, após rápida passagem pela Rede Globo. O apresentador ficou com grande parte da programação dominical no retorno como parte da negociação e desse período em diante foi que começou a apresentar os principais programas de auditório de sua carreira, e possivelmente os programas mais nostálgicos e importantes da televisão brasileira.

Dessa época nasceram programas como Passa ou Repassa, que apresentava sozinho, Domingo Legal, que concorria com o Domingão do Faustão, da Rede Globo, programa que havia sido criado para ser comandado por Gugu quando esse havia sido contratado pela emissora carioca, e o clássico Sabadão Sertanejo, que passava todos os sábados a noite.  Na década de 1990 Gugu Liberato teve uma audiência bastante favorável aos seus programas de auditório e isso devido muito ao seu carisma no jeito de apresentar, no formato simples de seus programas e nas atrações que levava aos programas.

Em tempos pré-internet, pode-se dizer, que Gugu Liberato era uma máquina de virais. Em quase todos os programas do Domingo Legal lançava uma atração diferente que se tornava o assunto mais comentado do próximo dia nas escolas ou no trabalho. Foram em seus programas que surgiram grupos musicais de sucesso populares que tomaram o Brasil, casos de É o Tchan, KLB e Mamonas Assassinas. Isso para não falar dos quadros que hoje em dia soariam como polêmicos, caso existissem, como Banheira do Gugu, em que mulheres e homens quase nus precisavam se agarrar em uma banheira para pegar sabonetes. Era um show de bizarrice, mas todos amavam assistir.

É inegável a importância de Augusto Liberato para a televisão brasileira, não apenas para os artistas que o apresentador ajudou na carreira levando aos seus programas de TV, mas também a televisão como estrutura em si, pois muito do que Gugu criou em seus programas de auditório acabaram servindo de referência e modelo para outros programas de outras emissoras por todo o país, e também para o próprio SBT. As atrações e os quadros criados em seus programas foram também muitas vezes imitados e se expandiram levando alegria pra muitas pessoas e deixando um grande legado para o entretenimento nacional. O jeito que lidava com o público também era algo a ser invejado pelos adversários e que demandava alegria e sentimento de responsabilidade pelo conteúdo transmitido aos telespectadores. O Brasil perdeu não apenas um grande apresentador da televisão brasileiras, mas também uma grande pessoa. Seu legado jamais será esquecido.