PlayStation anuncia redução nos valores do PS5, PS4 e acessórios
Após uma nova redução do IPI em produtos de jogos eletrônicos emitida pelo Governo Federal, a Sony repensou novamente os preços dos produtos PlayStation e anunciou uma redução muito bem-vinda.
Confira tudo o que mudou:
- PlayStation5 Edição Digital – de R$ 4.199,90* por R$ 3.899,90*
- PlayStation 5 com leitor Blu-ray Ultra HD – de R$ 4.699,90* por R$ 4.399,90*
- Controle sem fio DualSense Branco – de R$ 469,90* por R$ 439,90*
- Controle sem fio DualSense Cosmic Red – de R$ 499,90* por R$ 469,90*
- Controle sem fio DualSense Midnight Black – de R$ 469,90* por R$ 439,90*
- Câmera HD – de R$ 419,90* por R$ 389,90*
- PlayStation 4 – de R$ 2.799,90* por R$ 2.599,90*
- Controle sem fio DUALSHOCK 4 Jet Black – de R$ 299,90* por R$ 279,90*
- Controle sem fio DUALSHOCK 4 Colors – de R$ 319,90* por R$ 299,90*
Os novos preços estarão disponíveis assim que os estoques retornarem ao normal.
Crítica | What If…? – 01×02: E se... T'Challa se tornasse o Senhor das Estrelas?
Após uma estreia morna na quarta passada com o episódio focado na Capitã Carter, What If…? retorna elevando o nível da proposta trazendo agora um universo onde o T’Challa, tradicionalmente o herói Pantera Negra, como o Senhor das Estrelas. Ainda que a escrita permaneça medíocre, é aqui que a série começa a mostrar suas particularidades ao trazer realidades realmente distintas.
7 Saqueadores e um Segredo
O curto episódio de meia hora escrito por A.C. Bradley comprova que o formato escolhido ainda é questionável, afinal é preciso condensar muita história para pouquíssimo tempo hábil de desenvolvimento.
Estabelecendo T’Challa como o Senhor das Estrelas, descobrimos que a equipe de Saqueadores de Yondu acaba sequestrando o menino errado. Em vez de Peter Quill, é T’Challa, ainda criança, que acaba na nave do saqueador. Anos depois, T’Challa se torna o Senhor das Estrelas, agora um famoso herói reconhecido nas galáxias.
Após reencontrar Nebula, T’Challa aceita o pedido de ajuda da heroína e parte com sua equipe para Luganenhum onde tentará roubar um item precioso da coleção do Colecionador que pode acabar com toda a fome no universo.
Excetuando o começo do episódio, Bradley molda a narrativa nos conformes mais clássicos de uma história de roubo. Há a clássica montagem paralela dos personagens explicando o roubo enquanto a ação da execução do plano é exibida. Entretanto, enquanto traz os Saqueadores realizando uma ação que certamente é a cara do grupo de trapaceiros, toda a caracterização é distinta.
A proposta de Bradley é basicamente mostrar o oposto do que esses personagens são na linha do tempo clássica: disfuncionais, desunidos e perigosos. Aqui todos são amigáveis, verdadeiros amigos da vizinhança, heróis, organizados e se comportam como uma família. Por divergir e tornar todos tão certinhos, é inevitável que o grupo perca um pouco de sua graça original.
Essa versão do Senhor das Estrelas nada mais é que um Pantera Negra espacial sem o traje característico. Em essência, T’Challa continua o mesmo personagem já visto no MCU: focado, obstinado, heróico e de fraco senso de humor. Aliás, são nas diversas piadas que o episódio mais sofre, afinal Bradley não é James Gunn.
Seja nas interferências irritantes de Korath, agora um integrante dos saqueadores e uma personificação dos fanboys da Marvel, ou com diálogos vindos diretamente de memes como acontece com Thanos em uma versão radicalmente diferente da estabelecida canonicamente. Não há muita justificativa ou desenvolvimento para essas mudanças repletas de potencial. O que é uma verdadeira pena.
Tornar o Colecionador o principal vilão da trama também é algo prejudicado pelo ritmo frenético dessa série. O personagem se torna ainda mais caricato, repleto de frases de efeito, mas ao menos coloca alguns dos itens de sua coleção em ação revelando diversas referências divertidas.
Enquanto no episódio anterior tínhamos um visual mais brando, esse aqui explora com louvor toda a explosão de cores tão característica dos filmes Guardiões da Galáxia. Embora o visual seja acertado, a ação é bem menos interessante que a apresentada anteriormente. Sem fluidez e repleta de recortes na montagem, a falta de zelo por uma coreografia menos genérica fica escancarada. Não há inspiração alguma para distinguir os estilos de luta de alguns dos integrantes dos Saqueadores.
Bradley também tenta apelar para alguns toques emotivos a la O Homem de Aço, inclusive, mas não é possível afirmar que realmente funcione com perfeição por causa da pressa. Infelizmente, T’Challa descobre uma verdade que deveria mudar toda a sua relação com seus amigos, mas se torna um aborrecimento temporário apenas. Em questão de minutos, tudo está bem novamente.
O trabalho de dublagem continua medíocre assim como no episódio anterior. Mesmo trazendo nomes de peso para reprisar seus personagens - apenas Dave Bautista que não retorna para dublar Drax, todos parecem estar no piloto automático, incluindo Chadwick Boseman que traz, infelizmente, a sua última participação no Universo Marvel. Somente Benicio Del Toro que traz uma performance consideravelmente pior do que as vistas originalmente.
Com tantos probleminhas e acertos apenas fundamentados na proposta original da série, What If…? ainda precisa de mais atenção para tornar essas histórias realmente fundamentais e interessantes. Por enquanto, ainda se trata de apenas um brinquedo novo que a Marvel nos ofereceu e que logo cairá em desuso.
What If…? – 01×02: E Se... T'Challa se tornasse o Senhor das Estrelas? (What If… T’Challa became a Star-Lord?, EUA – 2021)
Showrunner: A.C. Bradley
Direção: Bryan Andrews
Roteiro: A.C. Bradley
Elenco: Jeffrey Wright, Chadwick Boseman, Josh Brolin, Michael Rooker, Benicio Del Toro, Karen Gillan, Sean Gunn, Djimon Hounsou, Seth Green
Gênero: Aventura
Streaming: Disney+
Duração: 30 min
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O fim e o começo do mundo | O final explicado de Evangelion 3.0+1.01: A Esperança
Afinal, o que raios eu acabei de assistir? Essa pergunta talvez reflita muitas reações dos novos e antigos fãs de Neon Genesis Evangelion após assistirem ao capítulo final do Rebuild of Evangelion, Evangelion 3.0+1.01: A Esperança.
Esse sentimento de completa confusão mental é familiar para quem já acompanha a franquia há bastante tempo, mas felizmente é possível afirmar que o final do Rebuild é um pouco menos complicado que o final original exibido em O Fim do Evangelho em 1997.
Como esperado, o texto está repleto de spoilers. Também é preciso já avisar de antemão que Hideaki Anno fez esse filme assumindo diversos metacomentários envolvendo o fandom de Evangelion e como ele próprio acabou refém da obra por diversos anos, o motivando também a criar o Rebuild of Evangelion para finalmente sepultar a franquia e colocar um ponto final definitivo.
Gendo e seu plano diabólico
Assim como em Neon Genesis Evangelion, Gendo segue na busca de causar o Terceiro Impacto e iniciar a Instrumentalização Humana, um evento cataclísmico que permitiria todos os seres vivos da Terra se tornarem uma só consciência, um só ser.
Com isso, Gendo estaria reunido, enfim, com sua falecida esposa, Yui, também mãe de Shinji, o nosso protagonista. Em essência é basicamente isso o que importa no desenrolar do final do filme no embate entre as forças da WILLE contra a NERV.
Em primeiro momento, a WILLE aposta nas forças de Asuka e na unidade 02 para conseguirem deter Gendo, destruindo o EVA 13 que é parte vital do plano do vilão para iniciar o Terceiro Impacto. Como a 02 fica com medo e possui um instinto de autopreservação, ela desiste de destruir o EVA 13.
Asuka, porém, indignada, decide usar sua carta na manga ao remover o seu icônico tapa-olho, revelando que ela possui um inibidor de Força L que a impede se virar um Anjo - tudo isso por conta de ter sido infectada ao ter pilotado a unidade 03 que estava com o Nono Anjo a bordo em Evangelion 2.22.
Porém, quando Asuka converte toda a unidade 02 em Anjo, ela faz exatamente o que Gendo planejava. Com o contato de um Anjo e um Lilin, a chave para o Terceiro Impacto se inicia. 02 é destruída junto com Asuka, absorvida pela unidade 13 no processo. Sua consciência descobre que ela na verdade é apenas uma clone predestinada pela NERV para ser a Segunda Criança assim como Rei Ayanami.
No caos do Terceiro Impacto, o Anti-Universo é aberto. Esse novo lugar se trata de uma dimensão criada pelos alienígenas ligados a Adão e Lilith que chegaram à Terra através da nave Lua Negra - a que se torna a Lança de Longinus, usada por Gendo. No Anti-Universo onde o tudo é o nada e vice-versa, Gendo aguarda por Shinji, que está em posse da Lança de Cassius, para iniciar a Instrumentalização Humana.
Hora de crescer, Shinji
Depois de muitos anos aguardando por esse momento definitivo, Anno entrega aos fãs o embate entre Ikari Shinji e Gendo. O protagonista extremamente deprimido, idealista e escapista decide encarar a realidade de vez e resolver enfrentar seu maior medo: seu pai. Pedindo à Misato para pilotar o EVA 01 novamente, Shinji parte ao Anti-Universo munido da Lança de Cassius.
Sabendo que Shinji provavelmente perderá a luta e precisará de uma ajuda adicional, Misato decide usar toda a Wunder para criar uma nova lança, a Lança de Gaius, que representa o desejo da humanidade de ser livre novamente e traçar seu próprio destino. Enquanto toda a tripulação faz os arranjos finais para a espinha dorsal da Wunder se converter na Lança, Shinji parte ao Anti-Universo.
Depois de alguma porradaria entre pai e filho, com ambos não conseguindo acertar um golpe definitivo já que estão em um espaço de consciência coletiva, Shinji decide conversar com Gendo e compreender de fato qual é a motivação de seu pai e sua história.
Anno então confirma ao fandom que Gendo era um homem que nunca superou o luto da morte de Yui, a única felicidade de sua vida. Para conseguir estar reunido com sua esposa, precisa criar a Instrumentalização Humana. Nesse cenário de desolação e choque para Shinji, descobrindo que não possui a menor importância para seu pai, Gendo consegue criar o Impacto Adicional ao fundir as duas lanças e iniciar a Instrumentalização.
O EVA imaginário surge representado pela medonha cabeça gigante em CG de Rei e toda a humanidade começa a ser dizimada. Nesse momento, Misato consegue criar a Lança de Gaius na Wunder e faz um ataque suicida diretamente no olho do EVA imaginário para entregar a lança a Shinji.
Com a lança em mãos, Shinji escuta as dores de seu pai que se abre para o filho pela primeira vez. Ao ficar exposto verdadeiramente, Gendo ganha a empatia de Shinji que descobre que seu pai é exatamente como ele: alguém que anseia por ter relações humanas, mas profundamente ferido por elas. Um frustrado completo disposto a realizar o fim do mundo para conseguir conquistar seus desejos egoístas, escapistas e idealistas - lembram das atitudes de Shinji para conseguir se reunir com Rei novamente? Pois é.
Tocado pelo amor de Shinji, Gendo entende finalmente que Yui sempre esteve ao seu lado, o amando todos os dias, através do filho, fruto dessa união tão especial em sua vida. Percebendo o quão negligente foi com Shinji e do dano que causou na vida dele, ele desiste da Instrumentalização permitindo que Shinji decida o destino da humanidade com a Lança de Gaius.
A Nova Gênese
Após o diálogo catártico com seu pai, Shinji finalmente está livre para escolher o futuro que quer para todos nós. Se tornando literalmente Deus, com um poder imensurável em mãos, o garoto é confrontado por Kaworu que pergunta o que ele deseja fazer. E felizmente Shinji está mudado, ele finalmente cresceu e não irá repetir as atitudes egoístas que marcaram o final de End of Evangelion.
Em vez de optar pela Instrumentalização que permitiria que todos ficassem juntos em uma só consciência, ele opta pelo livre arbítrio e a beleza do caos que permeiam as relações humanas, totalmente fora de seu controle. Se ele será amado ou não, feliz ou não, sabe que é problema dele e de mais ninguém. Dessa forma, ele procede com o reset de um novo mundo, um novo gênese, onde não há mais EVAs e Anjos, apenas humanos.
Antes de realizar seu movimento final, ele parte para libertar seus companheiros e dizer algumas últimas palavras, afinal o seu destino dentro dessa escolha é, provavelmente, a morte. Primeiro é a vez de Asuka. Após descobrir se tratar de um clone, está em crise tentando compreender o que a faz ser especial, sua individualidade no mundo. Em uma conversa com Kensuke, Asuka compreende que ela é suficiente exatamente por ser quem ela é e está tudo bem.
Sem o peso dessa cobrança, é surpreendida por Shinji que a encontra na icônica praia do apocalipse de End of Evangelion. Anno dessa vez mostra Shinji demonstrando afeto a uma Asuka abandonada e desolada, confessando que a amou e que o sentimento era recíproco durante os eventos de Evangelion 2.22 legitimando toda a ira que Asuka sentiu por não ter sido salva pelo protagonista quando ficou presa no EVA 03.
Sem ter chance de responder, Shinji a liberta do EVA 13, permitindo que ela reencarne novamente e seja feliz. Altruísta, né? Depois é a vez de Kaworu onde Anno confirma a teoria que o Rebuild acontece após os eventos de End of Evangelion. Em seu diálogo, Kaworu explica a Shinji que eles já se reencontraram diversas vezes, fadados a um ciclo temporal que sempre culminam no mesmo resultado nas tentativas frustradas dele tentar fazer Shinji verdadeiramente feliz.
Kaworu percebe que esse desejo na verdade é parte de seu egoísmo, pois sua missão em fazê-lo feliz é apenas para saciar seu ego - exatamente como Fuyutsuki ao ajudar Gendo a completar a Instrumentalização (certamente um bom paralelo).
Assim como Shinji e Gendo, ele também procura alguém para amar e ser amado em anseios egoístas. Por isso que a tragédia sempre se repetia: o verdadeiro altruísmo não acontecia de fato. Tamanho egoísmo é o de Kaworu que ele mesmo escreveu essa predestinação no Livro da Vida, para sempre se reencontrar com Shinji em diversas encarnações.
Liberto desse papel, Kaworu agora terá que ressignificar sua existência e Shinji parte para libertar, enfim, Rei Ayanami cuja alma ficou presa na unidade 01 no final de Evangelion 2.22 quando acontece o Quase Terceiro Impacto. Aqui, toda a ação acontece dentro de um estúdio de televisão/cinema, com elementos de alienação jogados em volta (os controles de videogame, por exemplo).
É aqui que Anno faz a sua mais profunda crítica ao fandom que tornou Rei uma waifu, extremamente sexualizada, um receptáculo de desejos infantis e idealização machista. Quando Shinji a encontra, Rei está segurando uma boneca, simbolizando um nenê. A metáfora sobre essa questão de ser waifu e virar uma boneca fadada a brincar de casinha para sempre com os otakus mais doentes do fandom é o tapa na cara que Anno queria dar depois de tanto tempo incomodado com o rumo que os fãs trataram Rei.
Shinji a liberta desse papel e a convence a ser livre, encontre finalmente o seu lugar no mundo, pois agora não existirão mais EVAs e sua existência não será resumida a um jogo cruel de predestinação e ordens da Nerv/Gendo. Haverá vontade e ímpeto de viver, descobrindo os prazeres da vida exatamente como a Rei-Q descobriu antes de morrer diante dos olhos de Shinji. Ela foi feliz e quis fazê-lo feliz sem esperar nada em troca, pois sabia da inevitabilidade de sua morte.
Bastante bonito, não? Mas calma que Shinji ainda tem mais a provar ser um grande herói. Após libertar seus amigos, ele então procede para se sacrificar com a Lança de Gaius e iniciar o reset no mundo. Mas então é impedido pela unidade 13 que ainda é pilotada por Gendo. Liberto da unidade 01, Shinji descobre que Yui está comandando o EVA. Dessa forma, Gendo e Yui finalmente estão reunidos, juntos novamente, se sacrificando para que o filho seja livre e feliz.
Um mundo sem Evangelion
Logo após o reset, Shinji acorda em uma praia. Agora tudo está de volta ao “normal”, com o mar azul pela primeira vez dentro dos filmes Rebuild. Entretanto, nessa paz, Shinji tem dificuldade de encontrar um novo propósito e tentado novamente pelo escapismo. Isso é representado pela desconstrução do processo da animação indo até uma rotoscopia simples e sem cor para o mais simples dos storyboards sem movimento.
Até que é surpreendido por Mari que sobreviveu a todos os eventos após fazer a 05 literalmente consumir os outros EVAs - alô Attack on Titan! É você? Ela surge com a unidade 05 que a preservou da morte dentro do reset. Ao gritar por Shinji, a animação novamente toma forma e ao cair no mar, no exato instante que toca a água, tudo volta a ser colorido mais uma vez. Mari traz um novo propósito de vida a Shinji, uma nova chance de ser feliz.
Sem EVAs no mundo, a maldição que os pilotos sofriam acaba e eles podem crescer fisicamente. Na cena seguinte, em uma estação de trem, vemos toda a turma já adulta. Asuka está sentada em um canto enquanto Rei conversa com Kaworu. Shinji aguarda até ser surpreendido por Mari. Rola um flerte pesado entre os dois onde Anno sugere que ambos possuem um envolvimento amoroso.
Mari chama Shinji para sair dali e partir em uma nova aventura, removendo a coleira explosiva que é o último vínculo de Shinji com seu passado ligado aos EVAs e toda a sua miséria existencial como piloto.
Os dois então saem correndo da estação e partem para a cidade de Ube, lugar onde Hideaki Anno nasceu. Logo, fica claro o metacomentário. Shinji sempre foi um alter ego de Anno que enfrentou crises pesadas de depressão, muito também por conta do destino de Evangelion e da recepção dos fãs.
Através dos rebuilds, ele se liberta e liberta também essa legião infindável de otakus da obsessão por Neon Genesis Evangelion, afinal no novo mundo onde Shinji vive, não existem mais EVAs. Mari, como já revelado, é a representação da esposa de Anno, Mocoyo, e por isso acaba virando o par romântico de Shinji.
Como ela é uma pessoa alheia ao universo original de Evangelion, foi uma forma interessante de Anno também acabar com todas as fanfics de waifu entre Shinji, Asuka e Rei. A escolhida é mesmo Mari, uma personagem nova, assim como Mocoyo foi novidade em sua vida após a criação da franquia.
Nesse novo mundo totalmente curado e crescido, Anno agora traz um final otimista e diferente. Admite que é bom ter seus momentos escapistas, mas que não se pode viver somente deles. É preciso encarar a realidade e ver toda a beleza que existe lá fora. Para as pessoas, enfim, viverem. Para os fãs superarem Evangelion de uma vez por todas. Afinal, se o conselho não for abraçado dessa vez, Anno já mostrou o futuro trágico do escapismo com o final original em 1997.
Bonito, mas e a Mari?
De fato, tem um aspecto bem bizarro envolvendo a Mari aqui. A personagem, em geral, não é bem trabalhada em todos os filmes e muito do seu desenvolvimento fica pairando em sugestões um tanto perturbadoras.
Em Evangelion 3.33, através de uma foto, o espectador tem conhecimento que Mari era uma antiga amiga de Yui e Gendo, participando dos projetos de criação dos EVAs e também tendo conhecido Shinji ainda quando bebêzinho.
Nos momentos finais do filme, vemos Mari conversando com Fuyutsuki, o braço direito de Gendo. O papo é bem superficial, mas repleto de ressentimento por Fuyutsuki que a chama de Maria Iscariotes, em analogia direta a Judas Iscariotes, o traidor de Jesus Cristo que o entregou por trinta moedas de prata.
Fuyutsuki a chama assim provavelmente por causa do seu envolvimento na criação da Nerv e dos EVAs, mas por ter se negado a seguir as vontades de Gendo após a morte de Yui, em sua busca de iniciar a Instrumentalização Humana.
Por ter sido uma das primeiras pilotos de EVAs, Mari acabou amaldiçoada e não cresceu por décadas, permanecendo no corpo de uma garota adolescente.
Isso explica também o motivo de sua habilidade gigantesca com os robôs e por ter uma unidade exclusiva. Além disso, também justifica o modo sempre curioso da personagem se comportar com os outros personagens, demonstrando saber mais do que todos eles.
Enquanto torna o lore bastante rico e a personagem interessante, é um tanto assustador pensar no envolvimento amoroso de Mari com Shinji já que ela praticamente tem mais que o dobro da idade do garoto, além de tê-lo conhecido ainda criança.
Mas a bizarrice sempre fez parte de Evangelion então por que não? Fora todo o lance edipiano que surge se colocarmos Mari como uma representação de Yui, afinal o desejo de matar o pai também é presente em todo Evangelion. E Rei e Yui praticamente possuem as mesmas feições. Pois é.
É isso. Dessa forma, Anno encerra sua exaustiva jornada iniciada em 1995 ao conseguir pegar o mundo de surpresa e ter revolucionado toda uma indústria com Neon Genesis Evangelion. Caso queira saber a minha opinião sobre o filme, basta clicar aqui.
Crítica | Evangelion: 3.33 Você (não) pode refazer - O terceiro é sempre o pior
Há leves spoilers no texto
Toda a ideia por trás do Rebuild of Evangelion é bastante bonita. Hideaki Anno queria provar um ponto, revolucionar a indústria de animes mais uma vez e usar o sucesso comercial dos filmes para conseguir financiar novos projetos cada vez mais ousados para uma faixa etária mais adulta.
O discurso era esse e ele realmente cumpriu o prometido com a verba gigantesca arrecadada, afinal quem duvidaria do tremendo sucesso que um retorno de Neon Genesis Evangelion faria depois de dez anos sem novos conteúdos?
Mas a verdade é que Anno também queria enterrar alguns dos fantasmas do passado - que, inclusive, ficaram tão presentes que o diretor caiu em depressão novamente logo após a produção de Evangelion: 3.33 Você (não) pode refazer, atrasando substancialmente a conclusão do rebuild (que estreou somente agora em 2021, mais de dez anos depois da estreia de Evangelion: 1.11 Você (não) está sozinho.
Enquanto o primeiro filme se tratava de um remake praticamente frame a frame dos primeiros seis episódios do anime em uma qualidade de animação muito superior e o segundo já apresentava conceitos realmente inéditos à franquia, Evangelion: 3.33 é um filme que beira ao suicídio criativo levando muita gente a se perguntar o que raios se passava na cabeça de Anno.
Você (não) vai entender
Ao contrário dos outros dois longas, Evangelion: 3.33 começa depois de um salto temporal de 14 anos inteiros. Ikari Shinji está em um sarcófago junto com seu EVA 01 na órbita da Terra. Em uma missão de resgate, Asuka e Mari são incumbidas de trazer Shinji e seu EVA novamente à Terra em segurança para dar prosseguimento aos planos de Misato.
Depois de uma enorme porradaria contra um Anjo, Asuka consegue retornar à Terra com Shinji onde ele finalmente desperta de seu coma de quatorze anos. Sem receber quaisquer respostas às suas perguntas, Shinji ainda está obstinado a encontrar Rei e acaba aceitando fugir com uma pessoa que parece com ela para o QG da NERV.
Lá, ele descobre a terrível verdade sobre o que aconteceu depois de sua tentativa de salvar Rei durante o clímax do filme anterior. Confiando na palavra de seu pai, Gendo, Shinji aceita pilotar a nova unidade EVA-13 com o misterioso Kaworu Nagisa na esperança de consertar o que acabou fazendo.
Não há como tirar a culpa das costas de Hideaki Anno com o desastre narrativo que se trata esse filme, afinal ele basicamente descarta 95% do trabalho desenvolvido nos outros dois filmes. É como se o Rebuild sofresse um retcon violento, pouco justificado, afinal o Terceiro Impacto foi prevenido no final do filme anterior, e totalmente confuso para apresentar conceitos que não atingem nem perto de seu potencial.
O roteiro, se é que se pode chamá-lo assim, é ínfimo. O filme realmente só começa depois de quase 25 minutos de ação ininterrupta apresentando agora as novas versões dos personagens que pouco se assemelham com aqueles que você já havia visto nos outros filmes.
Tirando Asuka, a única com uma motivação decente para ter ódio profundo de Shinji, é inexplicável como Ritsuko e Misato se comportam com certo desprezo ao protagonista, o culpando pelo o que aconteceu com o mundo - sim, no fim das contas, o Terceiro Impacto aconteceu, mas não totalmente, então é chamado de Quase Terceiro Impacto. É engraçado que Misato, nos minutos finais de Evangelion: 2.22 literalmente grita encorajando Shinji a finalmente fazer o que ele acha que deve ser feito: salvar Rei Ayanami.
Jogando no lixo as boas ideias do filme anterior, Anno agora adota o militarismo pós-apocalíptico transformando essas personagens carismáticas em verdadeiras geleiras que insistem em não responder absolutamente nada das inúmeras perguntas que Shinji faz (e que o espectador certamente também as faz mentalmente enquanto assiste ao filme).
Em apenas um simples diálogo, muitas das atitudes que se revelam problemáticas para Shinji posteriormente, seriam evitadas. São decisões arbitrárias do roteiro e totalmente injustificadas do ponto de vista narrativo. Os personagens tomam decisões estúpidas sendo que antes elaboravam planos geniais para derrotar os anjos.
Por que Misato não explica ao protagonista o que aconteceu durante os 14 anos? Por que ela não explica o motivo da cisão da NERV que agora é a vilã da humanidade enquanto a resistência da WILLE é a última esperança dos que restaram? Por que tanta hostilidade com Shinji e não usá-lo para ajudar na luta contra a NERV sendo que todo mundo sabe que no próximo filme ele voltará a pilotar o EVA 01 para salvar a humanidade? São conflitos realmente muito rasos e não espere que eles sejam muito bem resolvidos no filme subsequente porque não são.
Sempre há o argumento que se “passaram muitos anos e todos eles foram perdendo a humanidade”, mas, francamente, é uma das defesas mais fracas para uma preguiça monumental de Anno em trabalhar direito essa nova proposta que ele força ao espectador. Para encher linguiça, há diversos diálogos vazios com baboseiras militares sempre presentes na franquia, mas que simplesmente se tornam pastiche aqui.
Chega a ser cômico que Anno queira evitar tanto a exposição para definir as regras desse novo mundo dizimado, mas ainda adote os piores vícios possíveis dos animes: o hábito dos personagens frequentemente explicarem a ação ou descreverem o que se passa na tela.
O desenvolvimento destes personagens que, quem acompanhou o anime e conhece a história sabe o quão ricos são, é totalmente inexistente. Shinji está confuso em praticamente 60% do filme e depois se culpa exaustivamente pelo Quase Terceiro Impacto sendo que a culpa não é dele, pelo menos não de modo intencional.
Rei Ayanami, aquela de Evangelion 1.11 e Evangelion 2.22, é inexistente. A personagem reaparece no filme através de outra clone criada por Gendo. Suas interações com Shinji não despertam qualquer mudança e as situações dos encontros dos dois se tornam cada vez mais repetitivas.
Embora isso enriqueça Shinji, que não quer aceitar a realidade do fracasso de seu resgate e de ter dizimado meio mundo no processo, também prejudica e muito o ritmo de um filme curto, mas extremamente arrastado - os problemas vão muito além da narrativa.
Outras ideias são simplesmente jogadas e também nunca mais retomadas dentro do filme. A questão do tapa-olho de Asuka é uma problemática, assim como a “maldição do EVA” que faz com que todos os pilotos nunca mais cresçam. As novas formas de vida que surgiram na Terra depois do Quase Terceiro Impacto também são vistas como ameaça, mas também nunca há uma explicação certa do que aconteceu direito. É tudo realmente sem capricho.
Essa falta de zelo simplesmente beira o cômico e o mau gosto no clímax quando Gendo literalmente se torna um vilão de quadrinhos da Era de Ouro se limitando a dizer que “tudo seguiu exatamente como o planejado” quando na verdade seu plano foi frustrado completamente. Coisas que ele não tem controle algum, como as atitudes de Kaworu ou de um Shinji surtado, correm “exatamente como o planejado”. É ridículo.
Mas tem algo que se salva na história do filme? Sim, acredite, tem. Uma das reclamações clássicas dos fãs do anime é a falta de interação entre Kaworu e Shinji que se limita a praticamente apenas um episódio. Aqui, Anno finalmente aborda isso e trabalha de modo belo a crescente amizade entre os dois.
Os diálogos são bons o suficiente para crer no amor de Kaworu por Shinji que, finalmente, passa a aceitar um pouco de agrado, afinal ele é chutado por todos os que estimava e conhecia. Ainda há as nuances sutis homossexuais, o que deixa Kaworu um personagem ainda mais interessante do que o esperado.
Kaworu é a personificação da realidade que Shinji precisa enfrentar para crescer, já que seu personagem sempre toma atitudes guiadas pelo idealismo e pelo escapismo. Todo o arco de Kaworu é para ensinar essa lição de encarar a realidade e encontrar a esperança para mudar o futuro, embora a conclusão disso seja bem rudimentar como veremos mais abaixo.
Inegável que existe tanto beleza quanto tensão sexual entre Shinji e Kaworu durante as diversas sessões que os dois fazem ao tocar piano nas ruínas do QG da NERV - a gente perdoa a absoluta bizarrice que é ter um piano de cauda impecável da Yamaha, afinado e lustrado, no meio de um cenário desses, afinal a metáfora visual é boa, apesar de óbvia: existe beleza, esperança e amor até mesmo em um lugar tão destruído e desolado.
Enquanto realmente cria com louvor a amizade entre os dois e torna Kaworu um personagem inesquecível, Anno joga boa parte disso no lixo durante o clímax do filme. Em determinada situação, Kaworu implora para que Shinji não faça algo pois ele percebeu que aquilo seria extremamente perigoso.
Shinji, obviamente, não escuta o amigo e faz novamente uma “shinjisse” - uma montanha colossal de lixo. As consequências disso são drásticas e definem boa parte do drama de Shinji no próximo filme, mas é muito cruel com o roteiro dessa obra aqui, além de jogar o protagonista novamente no mesmo ciclo narrativo de sempre.
Shinji, que aprende a confiar em Kaworu e percebe que o menino não tem intenções ruins com ele, simplesmente não escuta o amigo e não cresce. Ele literalmente regride narrativamente do que já havia sido desenvolvido em Evangelion 2.22. É surreal, é porco e é de uma arrogância gigantesca demonstrada por Anno.
Importante mencionar que Mari também recebe algum tratamento adicional aqui e até mesmo fica sugerido um passado diretamente conectado aos pais de Shinji, mas tudo se limita a uma promessa que não será cumprida no filme seguinte.
50 tons de vermelho
O visual de Evangelion 3.33 definitivamente é algo divisivo. Anno tenta ser novamente revolucionário como conseguiu ao definir o visual icônico de toda a saga e principalmente dos Impactos em End of Evangelion, mas não é o que acontece aqui.
Há sim cenários belíssimos, principalmente os que mostram a desolação do QG destruído da NERV, abandonando todo o sentimento de segurança e resistência que ele detinha quando intacto. Há diversas homenagens com os enquadramentos clássicos que vem desde os mangás. As já citadas cenas com Shinji e Kaworu tocando piano são verdadeiramente brilhantes em todos os aspectos.
A trilha funciona e emociona, a montagem se torna bastante fluida e a direção pega detalhes e pontos de vista inesperados para mostrar essa conexão espiritual que ocorre entre os dois. O ápice disso também vem com a escolha de apresentar alguns desenhos em rotoscopia bastante simples em uma bela homenagem aos sempre polêmicos dois episódios finais da série.
Enquanto esses detalhes funcionam, da NERV destruída e dos encontros musicais dos personagens, o mesmo não pode ser dito para o visual adotado para representar o resto desse novo mundo destruído.
No horizonte, há cenários em 3D com uma miríade de prédios destruídos com tudo pintado em vermelho vivo. Como já estabelecido desde o primeiro filme, o mar também é vermelho então há uma mesmice visual cansativa. A nave da WELLE, Wunder, é vermelha e os seus interiores não trazem qualquer detalhe original. É tudo baseado no clichê visual mais neutro possível de enredos militares.
O filme também sofre com suas intermináveis sequências de ação. A que abre o longa, envolvendo o resgate de Shinji, muito bem animada e coreografada, contrasta logo após com uma das piores envolvendo a franquia: da decolagem da Wunder enquanto ela é atacada por inimigos iguais a ventoinhas gigantes de CPUs. Aliás, o excesso de computação gráfica nas cenas de ação prejudicam e muito a dinâmica e física da movimentação dos robôs gigantes se estapeando.
Todo esse tempo precioso para uma cena de ação genérica é desperdiçado e poderia facilmente resolver os núcleos problemáticos da narrativa. Infelizmente, o clímax também carece de algo mais original, embora seja nitidamente a segunda melhor sequência de ação do filme, já que há menor uso de CG durante os embates entre os EVAs.
Infelizmente, Anno, que enrola o filme inteiro para desenvolver diversos temas, decide acelerar todo o progresso da história enquanto a ação rola solta em tela. Literalmente do nada, o filme se torna uma montanha russa repleta de diálogos ligeiros e conceitos que não haviam sido apresentados até então, deixando até mesmo Einstein confuso.
Você (não) deve refazer
Há uma comparação famosa que ronda as conversas otaku mundo afora. Os rebuilds são comparados à trilogia prequel de Star Wars onde Anno comete os mesmos erros que George Lucas cometeu.
Assombrado por um sucesso gigantesco, tenta recapturar exatamente tudo o que há de bom e original de uma obra já concluída e elogiada pela vasta maioria de quem já consumiu. Mas simplesmente algo não dá certo. Não funciona e, no fim, a perdura a sensação de que não vale a pena o esforço.
Quando tentou alçar voos maiores, trazendo de fato um cenário mais original, Anno deu diversos tiros no pé. Não critico a coragem de levar a saga a novos rumos e situações ainda mais desesperadoras, mas condeno totalmente a falta de zelo em elaborar decentemente essa narrativa.
Evangelion: 3.33, ironicamente e involuntariamente, traça um paralelo entre Shinji e Anno (o diretor sempre admitiu que Shinji é um alter ego seu). Esse paralelo já está no título: Você (não) pode refazer.
Ele conta a história de que Shinji não consegue consertar o que foi feito, mas também mostra que, às vezes, é melhor o criador não refazer uma história que já foi muito bem contada anteriormente. Não é porque você pode, que você deve fazer.
Evangelion 3.33: Você (não) Pode Refazer (ヱヴァンゲリヲン新劇場版:Q, Evangerion Shin Gekijōban: Kyū - Japão, 2012)
Direção: Hideaki Anno, Masayuki, Kazuya Tsurumaki, Mahiro Maeda
Roteiro: Hideaki Anno
Elenco: Megumi Ogata, Kotono Mitsuishi, Megumi Hayashibara, Yūko Miyamura, Fumihiko Tachiki, Yuriko Yamaguchi, Motomu Kiyokawa, Kōichi Yamadera, Hiro Yūki, Miki Nagasawa, Takehito Koyasu, Akira Ishida, Tomokazu Seki, Tetsuya Iwanaga, Junko Iwao, Maaya Sakamoto
Gênero: Ação, Drama, Ficção Científica
Duração: 96 min.
Crítica | Evangelion 3.0+1.01: A Esperança - O novo testamento
Depois de quase uma década, finalmente o Rebuild of Evangelion terminou. De 2007 para cá, muita coisa mudou tanto no mundo quanto na vida do criador de Neon Genesis Evangelion, Hideaki Anno.
Em uma tentativa idealista de conseguir financiar ideias originais no campo do anime enquanto aproveitava a vasta fanbase da franquia para lucrar e corrigir "erros" da versão original, Anno chegou a cair novamente em depressão, se reergueu, dirigiu Shin Godzilla e constituiu família.
Para compreender Evangelion 3.0+1.01, infelizmente é preciso entender também da história de Anno e do impacto sociocultural que Evangelion teve no Japão quanto na indústria de animes. Ironicamente, também é importante ver a série original para compreender melhor a história do filme que segue tão confusa quanto só Evangelion consegue ser.
São tantos “metacomentários” tecidos por Anno para concluir essa história que, se pegarmos o filme como uma obra individual, se torna uma experiência totalmente diferente e bastante frustrante.
É um filme realmente feito para os fãs trazendo novamente a mensagem que o autor insiste tanto em martelar para sua audiência: não vivam de escapismo, aproveitem a vida e encarem a realidade porque, apesar de toda a indiferença e crueldade do mundo, ainda há beleza lá fora.
Agora, depois de tanto tempo, tantas polêmicas e conflitos com seus fãs, Anno finalmente conseguiu colocar um ponto final em Evangelion? A resposta é sim, mas ainda se trata de uma história repleta de problemas originados do desastroso Evangelion 3.33.
Correndo atrás do prejuízo
A história de A Esperança começa exatamente no ponto onde termina o terceiro filme. Asuka, Rei e Shinji vagam no mundo devastado pelo Quase Terceiro Impacto tentando chegar até a Vila 3, um dos últimos refúgios da humanidade no mundo inteiro.
Enquanto caminham até esse lugar seguro, Misato, Ritsuki e Mari levam a Wunder até Paris na tentativa de salvar a cidade dos efeitos avassaladores do apocalipse. Todo esse esforço é para reativar a NERV francesa e recuperar novas partes para montar novamente o EVA 02.
Todos correm contra o tempo, pois Gendo segue seu trabalho ininterrupto para conseguir desencadear o Quarto Impacto e finalmente ativar o projeto da Instrumentalidade Humana.
Passados quase nove anos desde a estreia de Evangelion 3.33, Anno teve a oportunidade de ler e escutar a opinião dos espectadores do filme. Com uma recepção nada amistosa em geral, o defeito mais marcante da obra foi percebido por todos: a completa falta de desenvolvimento dos personagens. Felizmente, deixando um pouco a arrogância e birra com os fãs de lado, o cineasta e roteirista parece ter reconhecido que as críticas estavam com a razão e se dedicou a corrigir esse erro tão pungente no capítulo final.
Durante todo o primeiro ato da obra que praticamente compreende metade do filme, Anno se dedica a dar mais atenção a alguns dos personagens. Infelizmente, não se trata de Shinji ou de Asuka, mas sim de Rei-Q, a nova clone de Rei apresentada no filme anterior.
Em uma jornada intimista e de escala reduzida, Anno usa toda a sua experiência adquirida no Studio Ghibli para fazer uma narrativa lenta e bonita tão característica dessa produtora. Através das interações entre Rei e os habitantes da Vila 3, a personagem passa a aprender a viver e ver a beleza na existência. Se antes ela não tinha quaisquer vontades e só seguia ordens, agora ela encontra maior propósito em sua existência, se tornando um verdadeiro ser, uma verdadeira personagem.
O trabalho é simples e meio clichê, mas bastante eficaz. Anno também aproveita esse arco bonito para dar continuidade a eventos presentes no filme anterior, como as tentativas de Shinji em despertar novamente o gosto pela leitura nessa nova Rei.
Começando a compreender mais sobre quem ela é e entendendo emoções humanas primordiais, Rei desenvolve um afeto por Shinji e passa a tentar interagir com ele buscando resgatá-lo do lugar sombrio onde se encontra. Anno basicamente faz o mesmo paralelo de busca por amor, afeto e altruísmo entre os personagens apenas trocando Shinji por Rei.
Enquanto o arco envolvendo Rei é satisfatório, seu desfecho é agridoce. Anno traça novamente outro paralelo envolvendo a relação de Shinji com Kaworu no filme anterior, repetindo alguns acontecimentos traumáticos, mas oferecendo resoluções diferentes para evidenciar um crescimento psicológico no protagonista. Infelizmente, por mais coerente que seja dentro dessa história, é inegável que o autor está se repetindo - e isso não acontece somente nesta vez.
Já Shinji e Asuka ficam estagnados por boa parte do tempo. Traumatizado e profundamente deprimido, Shinji decide vegetar e sofrer por nunca conseguir salvar o mundo, mas só piorá-lo. O personagem não reage a bondade demonstrada pelos seus antigos amigos como Toji, Kensuke e Hikari. Anno desperdiça chances de criar elementos interessantes aqui com base nessa repetição exaustiva do “Shinji em crise” que está presente desde o primeiro filme dos Rebuilds.
O novo “despertar” de Shinji funciona, mas ainda assim, o personagem não avança além do esperado, do básico. Nota-se uma certa estafa criativa em Anno para contar essa história que já, querendo ou não, havia sido contada anteriormente (e melhor). Com Asuka, também há o mesmíssimo problema, da repetição de características já marteladas antes.
Ela é hostil com Shinji e sofre através desses conflitos. A personagem gosta do rapaz, mas ao mesmo tempo o despreza por não optar seguir em frente e batalhar contra os demônios tão presentes na rotina de todos. Então as interações entre os dois ficam na base da repetição por um bom tempo.
Há apenas uma cena na qual eles conversam e as coisas avançam um pouco. Felizmente Anno traz algumas boas surpresas ao final do filme, revelando algo importantíssimo sobre essa Asuka dos rebuilds que a torna um pouco mais complexa, além de ressignificar o final icônico de End of Evangelion.
Há bons elementos envolvendo também Misato e Gendo. Embora somente Gendo receba mais atenção para resolver seu arco de luto, escapismo e idealismo, Misato recebe diálogos importantes e também sofre uma transformação importante se impondo para defender Shinji quando mais necessário - algo que a perturba por conta das suas falhas e ausência com outro garoto na narrativa.
Infelizmente, elementos importantes envolvendo Mari que foram apresentados em Evangelion 3.33 são completamente esquecidos. Há até um diálogo misterioso com Fuyutsuki, mas que não esclarece nada. A personagem existe para injetar mais ação e definir um futuro para Shinji.
Dentro do “metacomentário”, ela é a personificação da esposa de Anno no universo de Evangelion e de tudo o que ela representa e conseguiu realizar para mudar sua vida. Entretanto, narrativamente, a personagem é mesmo bastante rasa e desnecessária.
Lá e de volta outra vez
Mas e a história? De fato, até agora só comentei sobre os personagens que, felizmente, possuem alguma coerência e contam com bons desfechos. Enquanto Anno segue uma abordagem segura e razoável para eles, a história novamente se apresenta bastante problemática e mais arbitrária do que nunca.
Os problemas são diversos. Além da narrativa estacionar por uma hora para fazer Shinji retornar exatamente ao ponto que ele estava no final de Evangelion 2.22, nada de relevante acontece até o clímax.
Há algumas explicações furadas sobre como a Vila 3 existe e dos dispositivos criados por Kaji, possuindo alguma semelhança com o aquário no segundo filme, mas nunca fica claro como tudo foi implementado para salvar a humanidade no meio do Quase Terceiro Impacto. O mesmo ocorre com o tapa-olho de Asuka.
Um detalhe interessante é que Anno se preocupa em resgatar uma frase meio emblemática de Rei em Evangelion 2.22 também envolvendo o aquário. Isso justifica dentro da narrativa o que acontece com Rei-Q, além de manter maior unidade, coesão, na tetralogia.
Quando enfim as coisas engatam para a tão aguardada batalha final, Anno apela e muito para diversas arbitrariedades que conseguem tornar esse clímax ainda mais confuso que Evangelion 3.33. Os diálogos envolvem um monte de baboseira de lore pouco explorado até então deixando qualquer um perdido. É tanta exposição e necessidade de deixar Gendo o mais intelectual e “sábio” possível que o personagem se torna uma verdadeira caricatura. Fora os teletransportes surreais que acontecem com Shinji.
Não importa o que aconteça, sempre tudo está de acordo com o planejado por Gendo. Há repetições de situações exatamente iguais ao que foi visto no filme anterior, como a Wunder sofrendo mais um ataque direto pela Seele. Naves começam a surgir do nada para emboscar os heróis e deixar a luta mais “emocionante”, parecendo que não há a menor esperança para deter Gendo.
E, honestamente, dentro da estrutura do filme, realmente parece não ter como deter o vilão. Tanto que a solução proposta é simplesmente bizarra e também ilógica. Anno começa a criar soluções e problemas como se fosse um mágico tirando coelhos da cartola com uma frequência insana.
A repetição também da ameaça dos novos impactos que Gendo quer causar também perde a força, afinal nessa tetralogia há tantos Impactos que eles perdem, ironicamente, o seu impacto narrativo. Em meio a uma confusão imensa de acontecimentos e muita verborragia sem sentido, Anno consegue reunir Shinji com Gendo e então o filme melhora.
Mas para o espectador chegar até a última meia hora que realmente faz valer a pena conferir o filme, terá que aguentar intermináveis minutos de ação confusa, exagerada, repleta de elementos gráficos em CG horrorosos e datados destruindo ainda mais a fraca concepção visual do filme. Anno tenta replicar o mesmo efeito icônico do visual do final de Evangelion, mas falha espetacularmente ao criar algo simplesmente brega e de mau gosto.
Importante salientar que, embora tenhamos cenas horrorosas de computação gráfica permeando o filme todo, tirando todo o peso e física dos EVAs durante as batalhas e o design cada vez mais genérico dos novos oponentes, o primeiro ato do longa possui animação tradicional de ponta, trazendo contrastes belos entre o deserto vermelho do final do mundo com o verdejante refúgio idílico da Vila 3.
Como citado, o ponto alto do filme é mesmo seu final. Anno resolve os personagens de um modo inesperado, sem apelar tanto para a ação como todos os outros filmes investiram. Destaque para Gendo que finalmente se torna um bom personagem e complementa bastante o desenvolvimento dele na série original.
Através de bons diálogos, Anno encerra anos de teorias e os “e se?” que permearam o fandom por tantos anos. Fica claro que ele deseja acabar toda essa loucura que virou o envolvimento dos fãs pela obra e da obsessão insana que a cerca desde sua criação. São finais que permitem que todos se livrem de Evangelion, se tratando literalmente de uma “nova gênese”. As teorias são confirmadas e a beleza de um final bem feito permanece.
Destaque para a inventividade da direção em desconstruir todo o processo de animação, indo da rotoscopia cada vez mais rudimentar até os rascunhos dos storyboards para tudo explodir em cor e animação fluída quando uma personagem pula no mar. A metáfora visual justifica todo o romance também um tanto bizarro que acontece no filme. Ela simplesmente traz um novo propósito de vida para um certo alguém após ele conseguir encarar a realidade, mas ainda pairando na sedução do escapismo.
Adeus, Evangelion
É seguro dizer que com Evangelion 3.0+1.01 finalmente termina toda essa loucura que Neon Genesis Evangelion havia se tornado. É um final que, acredito eu, agrade a vasta maioria dessa vez e traga um pouco mais de esperança em tom otimista sobre o que o futuro ainda nos reserva.
As mensagens e filosofia envolvendo a série e seus personagens continuam presentes e o filme tem seus ótimos momentos. Uma pena que para conseguir criar esse desfecho, Anno traga uma história medíocre e pouco inspirada, pois o que sustenta esse filme certamente são os personagens que já são consagrados de outras épocas. Ou seja, por si só, o longa não funciona e se você desgosta dos personagens, o cenário piora.
O fato diante disso tudo, depois de quatro filmes inteiros, permanece o mesmo, escancarado: Neon Genesis Evangelion já havia terminado e muitíssimo bem em 1997.
Evangelion 3.0+1.01: A Esperança (Shin Evangelion Gekijôban - Japão, 2021)
Direção: Hideaki Anno, Kazuya Tsurumaki, Mahiro Maeda
Roteiro: Hideaki Anno
Elenco: Megumi Ogata, Kotono Mitsuishi, Megumi Hayashibara, Yūko Miyamura, Fumihiko Tachiki, Yuriko Yamaguchi, Motomu Kiyokawa, Kōichi Yamadera, Hiro Yūki, Miki Nagasawa, Takehito Koyasu, Akira Ishida, Tomokazu Seki, Tetsuya Iwanaga, Junko Iwao, Maaya Sakamoto
Gênero: Ação, Drama, Ficção Científica
Duração: 154 min.
Crítica | True Detective - 3ª Temporada: Desacelerada busca implacável
O fardo da genialidade e do sucesso inesperado é algo que poucas pessoas conseguem lidar com plenitude psicológica. Ninguém esperava que em 2014, uma série de orçamento modesto contando com um bom elenco provaria que ainda existe novas formas de contar histórias de crime que conseguem assombrar e perturbar o espectador.
Nem mesmo o próprio criador de True Detective, Nic Pizzolatto, esperava o sucesso expressivo da série planejada apenas para contar aquela densa história dos detetives Rust e Hart. A audiência foi expressiva, a crítica consagrou de modo universal, as indicações ao Emmy e suas subsequentes vitórias aconteceram. A HBO encontrou um novo sucesso e um novo gênio em seus contratos.
Com o fardo do sucesso e a oferta muito generosa da HBO em dar sequência à série, a transformando em uma antologia - contando histórias fechadas a cada temporada, Pizzolatto cedeu à tentação e impôs a si mesmo um peso monumental: afinal como superar o brilhantismo da escrita da primeira temporada? Da elegância do conteúdo e da forma apresentada?
A inspiração veio através da pressão de curto prazo. No decorrer de meros meses, Pizzolatto se obrigou a entregar o que foi pedido e assim nasceu a história da 2ª temporada da série. Trazendo uma narrativa expansiva, muito mais ousada, com um mistério mirabolante e quatro personagens principais para desenvolver, infelizmente Pizzolatto teve que lidar com críticas bastante agressivas reclamando sobre a queda brusca de qualidade da série.
A lição foi dura e o contraste, cruel. Alçado como gênio, viu ser classificado como medíocre em um espaço de apenas um ano de intervalo. Afastado da HBO e sem inspiração, Pizzolatto passou um período expressivo sem escrever, mas a necessidade move o homem e a HBO também não queria perder uma de suas marcas mais importantes. Em 2018, foi anunciada a terceira temporada de True Detective e tudo indicava que as coisas sairiam diferentes desta vez.
De fato, as coisas são diferentes e também familiares, mas ainda assim não se trata da repetição do acontecimento que foi a primeira temporada dessa ótima série.
Em uma cidadezinha esquecida por Deus
Assustado pela repercussão negativa da 2ª temporada, é bastante compreensível que Pizzolatto tente contar uma nova história em um cenário mais contido e familiar. Em uma cidadezinha no interior do Arkansas, na região dos Ozarks, os detetives David Hays (Marhershala Ali) e Roland West (Stephen Dorff) são imbuídos da inglória missão de encontrar duas crianças desaparecidas da problemática família Purcell.
Na busca, elementos bizarros são encontrados, assim como o corpo do garoto Purcell, Will, em uma pose perturbadora. Mas não há o menor sinal da irmãzinha, Julie, nos arredores. Enquanto lidam com a burocracia de comunicar a morte de uma criança da comunidade, os detetives trabalham exaustivamente em busca de evidência para encontrar o paradeiro de Julie. O que eles não imaginam, é que esse caso marcará completamente as suas vidas como o derradeiro fracasso de suas carreiras.
É inevitável que quem já acompanha a série desde sua primeira temporada, faça paralelos constantes com ela. Até mesmo Pizzolatto, em certo momento, aborda diretamente os acontecimentos vistos nela na narrativa dessa história, as situando no mesmo universo. Temos novamente uma dupla de detetives íntegros em uma cidade pequena em busca de justiça para solucionar um crime bastante desconcertante.
Muito pouca coisa da 2ª temporada é reaproveitada aqui - apenas alguns entraves e indícios de corrupção dentro do departamento policial de Hays e das ambições políticas do promotor do condado. Pizzolatto realmente quis distância do trabalho anterior. O ritmo de acontecimentos e reviravoltas é extremamente lento. Acredite, é preciso de um café para ficar mais atento aos eventos desta temporada.
Não só pelo ritmo lento, mas por conta da escolha de como Pizzolatto decide contar essa história. O grande diferencial dessa temporada é sua estrutura não-linear, trazendo três momentos da vida do protagonista Hays. A primeira narrativa envolve a primeira investigação envolvendo os Purcell nos anos 1980.
A segunda acontece nos anos 1990 quando a polícia descobre uma pista importante envolvendo Julie. E a final nos anos 2010 trazendo Hays com 70 anos contando sobre o caso para uma equipe de documentaristas intrigados pela história. A narrativa principal é a que aborda a terceira idade de Hays, com a série funcionando fundamentalmente em flashback.
Pela escolha criativa, a tensão sobre o destino de alguns personagens se esvai, principalmente sobre a segurança dos protagonistas. O espectador descobre em questão de minutos que a investigação foi um fracasso e que o drama principal é como isso incomoda profundamente Hays em sua velhice. Embora eu ache a proposta extremamente corajosa, ela tem esse enorme porém que não colabora em deixar o espectador tenso e intrigado.
Os momentos mais intensos da temporada ocorrem, portanto, justamente na linha narrativa do “presente”. Inclusive, é uma pena que Pizzolatto não explore um pouco mais as questões sobrenaturais sempre presentes nas temporadas. Aqui, é indicado que, por vezes, Hays consegue interagir consigo mesmo em outras linhas temporais, causando um suspense muito criativo, além de conversar com sua falecida esposa, a escritora Amelia (Carmen Ejogo).
O roteirista concentra seus esforços muito mais no estudo do personagem protagonista do que na história em si que é mesmo o elo mais fraco da temporada. Porém, enquanto ele é feliz em mostrar o quão obstinado é Hays, de sua integridade e busca incansável por justiça, assim como o começo do elo romântico com Amelia que é fruto da investigação Purcell, há falhas injustificáveis sobre o protagonista.
Nesse vai e vem nos espaços narrativos, Hays nitidamente é perturbado por algumas questões e passa a se tornar um homem mais difícil, menos compreensivo e mais mandão. Principalmente em relação com Amelia. Ele a julga continuamente por ter escrito um livro sobre a investigação, por ter feito fortuna através da miséria dos outros e se recusa a escutar as dicas importantíssimas que ela tem a oferecer para solucionar o caso.
Fica sugerido que Amelia seja uma investigadora mais competente que Hays e que isso o frustre intensamente, mas isso nunca fica claro na trama. As explosões contidas de Hays, que mais se assemelham com birras, também parecem ser justificadas por traumas do passado envolvendo a Guerra do Vietnã, mas Pizzolatto também não se aventura muito nisso.
É irônico que em uma narrativa não-linear, tão pouco seja de fato desenvolvido para tornar Hays mais complexo, embora ele seja sim um bom personagem - só não muito bem escrito. Felizmente, há a presença ilustre de Mahershala Ali encarnando o protagonista, conseguindo fazer essas falhas da escrita se tornarem menos expressivas aos olhos do espectador, já que seu carisma é inegável.
Sua atuação chega em novos patamares quando traz Hays já na terceira idade, trazendo uma presença diferente na movimentação e expressões faciais, afinal seu personagem já começa a sofrer com a demência de Alzheimer, esquecendo de coisas importantes de sua vida e também da investigação. É ótimo que Pizzolatto saiba aproveitar muito bem essa questão da demência, a incorporando de modo magistral no final da trama, dando uma conclusão satisfatória para a história.
A natureza trágica de um crime
Mas não é só de protagonista que vive True Detective. O mistério e o decorrer da investigação são partes importantíssimas que, felizmente, não são negligenciadas aqui, embora não seja a melhor história já contada pelo roteirista. Trazendo os desenlaces, consequências e reviravoltas de uma investigação que atravessa décadas, Pizzolatto consegue apresentar elementos muito interessantes.
Um deles é justamente a amizade entre Hays e West, do aprendizado do parceiro e realmente se empenhar em uma investigação e encontrar justiça, encontrar a verdade e tomar um rumo na vida. É polêmico, mas acho West um personagem melhor escrito que o protagonista. Ele supera a todo momento as negligências e irreverências de Hays, sempre acreditando no parceiro, tentando trazê-lo para a triste realidade de um sistema policial que, muitas vezes, é falho, imperfeito.
Em West, fica maximizado o elemento genial de mostrar como Hays consegue impactar negativamente a vida de uma pessoa. Através dessa amizade, West acaba fazendo uma imprudência completa e se vê abandonado pelo amigo duas vezes no decorrer da investigação. Pizzolatto primeiro mostra essa característica cruel de Hays na vida de um suspeito adolescente durante as investigações entre 1980 e 1990.
Também é corajosa a forma de mostrar que os dois não são detetives geniais, mas competentes apenas. Provas são negligenciadas vez ou outra, buscas de suspeitos são interrompidas, suspeitos acabam pouco monitorados, há falhas de comunicação dentro do departamento, eles são manipulados por provas incidentais. Não se trata, no caso, de falhas da narrativa, mas para mostrar o quão impulsivos são os investigadores e como isso acaba afetando o caso.
Nas duas linhas temporais do passado, há estruturas similares de investigação culminando em um clímax violento. Neles, Pizzolatto consegue trabalhar temas bem-vindos como a destruição psicológica diante da perda da família, do abandono dos veteranos retornados de guerras, do preconceito à minorias, de como o racismo afeta diretamente Hays e também a West e do quão problemática pode ser uma comunidade que decide fazer justiça pelas próprias mãos resultando em violência despropositada - e como a polícia aproveita essas ocasiões para finalizar casos que são uma pedra no sapato.
São conceitos que ajudam a preencher melhor as reviravoltas da série, além de injetar um pouco de ação em uma temporada exaustivamente monótona. Apesar do mistério não ser muito difícil de ser desvendado, encontrando os culpados rapidamente - pelo menos para o espectador atento, a história envolvendo o contexto do crime é curiosamente original trazendo um mistério digno de um thriller de Hitchcock.
A circunstância do crime é bastante única e difere tremendamente das outras temporadas nas quais eram movidas pelo mal, corrupção, luxúria, poder e ganância. Aqui se trata de uma história de natureza verdadeiramente trágica onde, no final, há um sentimento de tristeza e arrependimento bastante presente. Felizmente, Pizzolatto guarda uma surpresa satisfatória para os momentos finais do último episódio amarrando com perfeição todo o legado da investigação de Amelia.
O roteiro é eficaz, mas não atinge o potencial prometido, além de ser prejudicado pela enrolação de diálogos que não dão a lugar algum e também até mesmo na criação de subtramas que só prejudicam o texto como o caso entre o filho de Hays e a diretora do documentário que entrevista o personagem.
O mesmo, felizmente, não pode ser dito da direção da série. Trazendo um time de apenas três diretores, incluindo a estreia de Pizzolatto como diretor, fica claro que todos trabalharam exaustivamente para conseguir trazer a atmosfera sombria, fria, de abandono e desespero que marcaram todo o visual criado por Cory Fukunaga na primeira temporada.
Os clássicos planos aéreos mostrando a vastidão rural do interior do Arkansas, do isolamento dos protagonistas diante de um perigo desconhecido, estão presentes, assim como as fusões que dão o charme noir da série. Ainda que não haja momentos de encenação realmente impressionantes, a direção se destaca pelas transações sempre muito criativas entre as três linhas temporais.
Uma delas, aproveitando a moldura do para-brisa do carro, mostrando os personagens e suas mudanças entre os três tempos, é extremamente criativa e muito bem executada. Já os momentos mais marcantes de encenação inteligente, ficam para mostrar as interações paranormais entre Hays em linhas temporais diferentes, também nos “apagões” de sua memória e nas vezes que é confrontado por seu passado nas quais toda a iluminação se torna mais teatral.
Visualmente, é muito eficaz para complementar algumas deficiências do texto para dar sustância a alguns momentos e comportamentos dos personagens. O mesmo se aplica a sempre eficaz trilha musical.
O fogo que nos consome
Por algumas vezes, a personagem Amelia, em suas aulas, cita o poema de Delmore Schwartz que afirma que o tempo é o fogo que nos consome. O poema é basicamente a síntese da terceira temporada de True Detective, servindo tanto como metáfora para a jornada exaustiva de Hays quanto a própria jornada profissional de Nic Pizzolatto.
Como criador, nota-se a estafa criativa para elaborar mais uma vez uma história de crime que realmente surpreenda e seja satisfatória. Com alguns problemas e bastante arrastada, é uma temporada boa, com bons personagens e uma boa história, mas o cansaço intelectual é presente e, honestamente, me entristece.
True Detective é a prova que algumas histórias já são boas o suficiente pela sua unidade. Por mais que a 2ª e a 3ª temporada sejam boas, ao meu ver, não são histórias essenciais. São acima da média, com certeza, mas a que custo? Poucas pessoas devem ter essa resposta.
No fim, é possível até mesmo interpretar que a revolta de Hays com a exploração comercial da história da tragédia seja uma revolta de Pizzolatto em permanecer escrevendo algo que o faz, no fundo, se sentir explorado. Tanto que agora, na possibilidade de uma vindoura 4ª temporada, a HBO esteja procurando outro roteirista. As histórias de crime de Pizzolatto, por ora, terminam aqui.
True Detective – 3ª Temporada (EUA, 2019)
Criado por: Nic Pizzolatto
Direção: Nic Pizzolatto, Jeremy Saulnier, Daniel Sackheim
Roteiro: Nic Pizzolatto
Elenco: Mahershala Ali, Stephen Dorff, Carmen Ejogo, Ray Fisher, Scott McNairy, Mamie Gummer
Emissora: HBO
Episódios: 8
Gênero: Suspense, Crime
Duração: 60 min
Silvio Santos é internado em UTI com COVID-19, diz site
Mais um grande artista brasileiro está internado por causa da covid-19: o apresentador Silvio Santos. Ele está na UTI do Hospital Albert Einstein, em São Paulo.
De acordo com informações do jornal O Dia, o apresentador de 90 anos deu entrada no hospital nesta sexta-feira (13) e foi direto para a UTI por conta do estado delicado.
Até o momento, não há nenhum pronunciamento oficial do SBT ou da família sobre o caso. Para a CNN, a filha do apresentador, Patrícia Abravanel, confirmou a internação.
O jornal O Globo divulgou, também nesta sexta, que as gravações do Programa Silvio Santos foram suspensas após um caso de coronavírus ser confirmado em um profissional da produção.
Disney anuncia valores do Star Plus no Brasil com planos a partir de R$ 32,90; confira
Finalmente a Disney revelou o preço das assinaturas do vindouro streaming Star+ que trará todo o conteúdo da Fox que não cabe na Disney+.
O site oficial da plataforma revelou que o plano mensal vai custar R$ 32,90 e o anual vai sair por R$ 329,90.
A plataforma também vai oferecer o Combo+, uma assinatura conjunta entre Star+ e Disney+. O acesso aos dois streamings sai por R$ 45,90 por mês.
O serviços será lançado no dia 31 de agosto trazendo todas as temporadas de Os Simpsons como grande destaque.
Temporada final de The Walking Dead terá estreia exclusiva no Star Plus
Ao contrário de toda a história da exibição de The Walking Dead, a Disney resolveu que a série não estreará simultaneamente com os Estados Unidos. O primeiro episódio chegará junto ao lançamento do serviço Star+, disponível em 31 de agosto.
Agora não se sabe se a série também será exibida no Star Channel, o antigo canal da Fox, mas a probabilidade é que não seja exibida na TV fechada para a série virar conteúdo exclusivo do streaming.
The Walking Dead chegará ao fim após a 11ª temporada, que foi dividida em três partes. Após a conclusão da série principal, a franquia vai ganhar um derivado focado em Daryl e Carol.
FX terá maratona de O Hobbit neste domingo (15); confira
O canal FX, que você pode conferir através da SKY TV, exibirá uma maratona de O Hobbit com a apresentação de A Desolação de Smaug e a A Batalha dos Cinco Exércitos uma seguida da outra.
O canal começará a transmitir os filmes a partir das 20 horas (Brasília) no domingo, dia 15 de agosto.
Coescrita e dirigida por Peter Jackson, e baseada no livro homônimo de J. R. R. Tolkien, a trilogia é situada na Terra Média e segue o hobbit Bilbo Bolseiro (Martin Freeman), chamado pelo mago Gandalf (Ian McKellen), para acompanhar treze anões liderados por Thorin II (Richard Armitage) em uma missão até a Montanha Solitária, onde tentarão recuperar os pertences dos anões que foram roubados pelo dragão Smaug (Benedict Cumberbatch).
É nessa aventura que Bilbo encontra o Um Anel que desencadeia a trilogia O Senhor dos Anéis.