Crítica | Esquadrão Suicida - Versão Estendida
Parecia piada na hora, mas todos sabíamos disso. A Warner novamente oferece uma versão estendida para seus lançamentos da DC, e o próximo a seguir essa linha é o polêmico e criticado Esquadrão Suicida. Mas, primeiramente, é necessário explicar a diferença entre esta versão estendida e o Ultimate Cut para Batman vs Superman: A Origem da Justiça. O corte de Zack Snyder era realmente uma versão do diretor, uma que ele mesmo já havia mencionado antes mesmo da estreia do filme, enquanto esta nova versão de Esquadrão Suicida traz apenas algumas cenas estendidas sob ordem do estúdio, já que o próprio David Ayer alega que a versão dos cinemas é a sua versão do diretor - controvérsia da bagunça de reshoots e remontagens à parte, claro.
Então, é muito evidente que apenas 13 minutos inéditos não serão o bastante para salvar o desastroso filme dos vilões da DC. Tão pouco tempo não corrige problemas de estrutura, montagem e roteiro ruim, e não provocam o efeito absurdo que o corte estendido de BvS tinha para a narrativa e o desenvolvimento de seus personagens. Aqui, o único beneficiado de fato é o subestimado Coringa de Jared Leto, que teve uma significativa porção de cenas cortadas do produto final e até alguns macetes de montagem e reshoots para mudar o contexto de sua relação abusiva com a Arlequina de Margot Robbie.
A única cena que se destaca e que é verdadeiramente inédita é mais um dos flashbacks que acompanham a transformação da Dra. Harleen Quinzel na psicótica Arlequina, trazendo uma perseguição de moto onde a ex-psicóloga encurrala o Coringa no meio da rua e tenta convencê-lo de seu amor por ele enquanto aponta uma arma à sua cabeça. É interessante pelo retrato surtado da relação dos dois e para ver mais da performance excêntrica e exageradamente divertida de Leto, mas me incomoda que - assim como a cena do tanque de ácido - a cena é inserida em um ponto nada elegante e que oferece mais um desvio para a narrativa já desfocada e mal encontrada do filme. E ainda que seja ótimo ver mais um pouco do arco Amor Louco, o roteiro de Ayer para tal cena sofre por diálogos nada sutis e simplesmente ruins, como a frase "Meu coração te assusta, mas uma arma não?". Como o restante do filme, são diálogos formados por frases de efeito forçadas, que soam ótimas em um trailer, mas não numa narrativa coesa.
Temos um diálogo um pouco maior e mais interessante na cena em que o Coringa eletrecuta a cabeça de Harleen durante sua fuga do Asilo Arkham. E só. Infelizmente não temos mais nada com Jared Leto, mesmo que tenhamos visto algumas cenas adicionais nos trailers (como quando surge com o rosto queimado e morde o pino de uma granada ou a frase "Mal posso esperar para lhe mostrar meus brinquedos") ou tenhamos ouvido falar de regravações que aliviaram sua relação com a Arlequina. Certamente ainda temos muito material do Coringa ainda trancafiado na sala de edição, já que o próprio Leto afirmou que todas as suas cenas cortadas dariam um filme inteiro só do Palhaço do Crime.
De resto, não há nada de muito memorável ou notável. A cena do Esquadrão no bar ganha alguns minutos a mais com cada personagem escolhendo um tipo diferente de bebida (também presente em um dos trailers), vemos mais da Arlequina interagindo com Crocodilo (Adewale Akinnuoye-Agbaje), Diablo (Jay Hernandez) e Bumerangue (Jai Courtney) durante o primeiro arco em Midway City - bom para ver mais da carismática Robbie, mas nada que realmente acrescente ao desenvolvimento de personagens - e duas cenas que tentam fortalecer uma amizade entre Pistoleiro (Will Smith) e Rick Flag (Joel Kinnaman), com o militar falando de seu amor por June Moon (Cara Delevingne). Também temos uma pequena cameo do diretor David Ayer como um dos guardas de Belle Reve e o Crocodilo destroçando alguns dos minions de Magia.
E é isso. Esquadrão Suicida permanece o mesmíssimo filme com os mesmos problemas de roteiro, ritmo e atmosfera, e os minutos adicionais não oferecem todas as cenas que fomos prometidos; até mesmo Katana (Karen Fukuhara) usando os poderes de sua espada não está presente (mais uma cena que vimos nos trailers), sendo também uma decepção. Vale para ver mais do Coringa do Jared Leto, mas não é uma versão que vale ser conferida por tão pouco de novo.
O único jeito de consertar esse filme é com um remake.
Esquadrão Suicida: Versão Estendida (Suicide Squad: Extended Cut, EUA - 2016)
Direção: David Ayer
Roteiro: David Ayer
Elenco: Will Smith, Margot Robbie, Jared Leto, Viola Davis, Joel Kinnaman, Jai Courtney, Cara Delevingne, Adewale Akinnuoye-Agbaje, Jay Hernandez, Karen Fukuhara, Adam Beach, Scott Eastwood
Gênero: Ação
Duração: 133 min
https://www.youtube.com/watch?v=MAkqI6B2J9U
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Crítica | Harry Potter and the Chamber of Secrets
Uma das coisas mais esperadas por muitos jogadores são as tão aclamadas continuações de seus títulos favoritos, mas às vezes surge uma enorme pergunta que acaba dividindo milhares de opiniões de jogador para jogador, afinal, seria a continuação de um título melhor que seu antecessor?
Seria ele capaz de melhorar os erros do primeiro título, mas acabar errando em pontos que já estavam bons? A resposta está exatamente na continuação do jogo Harry Potter and the Chamber of Secrets lançado para todas as plataformas em 2002.
Diferente do estilo do seu antecessor de resumir ao máximo possível a história do jogo, HPCS agora tem um roteiro mais longo e aprofundado, dando realmente a imersão de estar dentro do filme. Como muitos já sabem, Harry agora está no segundo ano da escola de magia de Hogwarts, porem mal sabe ele que coisas estranhas e esquisitas estão ocorrendo nos corredores da escola. Cabe a ele e seus amigos descobrirem quem está por trás desses eventos malignos e descobrir o real culpado por toda essa confusão.
Uma das grandes mudanças do jogo é a expansão e detalhamento dos diversos cenários que o jogo contém, graças a essa mudança a exploração, ficou muito mais divertida dando a opção de o jogador usar diversas magias tanto fora como dentro do castelo para achar os diversos coletáveis presentes no jogo. Também vale lembrar que com a expansão do cenário os objetos e detalhamento do jogo ficaram muito mais bonitos e superando um pouco o jogo anterior, outra coisa é que podemos notar que o segundo jogo da série ficou um pouco mais sombrio comparado com o primeiro tendo momentos mais escuros e tensos que o jogador irá encarar.
Para aqueles jogadores que não se importavam muito com os coletáveis, podem agora se preocupar. Diferente do seu antecessor os “Cromos de Bruxos” agora são muito uteis para dar upgrades na barra de vida de Harry, coletando 10 cromos de bronze Harry ganha uma nova barra de vida extra aumentando sua sobrevivência nas fases, ao todo existem 101 Cromos, sendo divididos em ouro, prata e bronze, ao coletar todos uma área secreta é liberada para o jogador poder entrar.
Em HPCS agora os “Feijõezinhos” contém um enorme valor, funcionando realmente como uma moeda no jogo, ao redor do castelo existirão diversos alunos que podem te vender cromos, itens de poção, varinhas e outros acessórios para Quadribol, logo o jogador deve ficar atento em coleta-los e saber bem aonde investir nos itens listados.
Por falar em Quadribol, aqui tivemos uma mudança totalmente radical do seu antecessor, antes você podia controlar Harry livremente e tentar pegar o pomo de ouro, tendo uma movimentação difícil e um controle que não colaborava muito com o jogador.
Já em HPCS Harry segue automaticamente o pomo tendo apenas que enfrentar outros alunos que estão tentando fazer o mesmo objetivo, outra mudança é que agora o jogador poderá enfrentar outros times na hora que achar melhor apenas se encaminhado para o campo de Quadribol, mas vale ressaltar que é possível perder uma dessas partidas já que em seu antecessor era impossível perder uma partida de Quadribol.
Como no seu antecessor a corrida de pontos entre as casas ainda existem, porém, mais acirradas, conseguir uma maior quantidade de ponto para sua casa faz com que Harry entre em um tipo de bônus podendo coletar um número enorme de “Feijõezinhos” em um tempo pré-determinado, logo um bom rendimento nas aulas de magia e nos desafios dos mesmos podem lhe dar boas recompensas no final.
HPCS também traz uma inovação, os combates de magias, aqui Harry pode duelar com diversos alunos das 4 diferentes casas e conseguir pontos para Grifinória. Os duelos vão ficando cada vez mais difíceis conforme o jogador vai vencendo. O duelo persiste apenas em acertar seu adversário com sua magia e desviar do inimigo, vence quem acabar com a barra de energia primeiro.
A quantidade de magias presentes em HPCS são bem maiores e interessantes do que a do seu antecessor, porém, o modo de aprende-las continua sendo o mesmo. Talvez a grande mudança nesse aspecto seja o aumento da duração desses desafios, a dificuldade ainda fraca e simples continua presente não dando um desafio para o jogador ser surpreendido. Uma inovação é o fato que agora Harry pode fazer poções de cura coletando recursos com outros alunos ou nos próprios baús dos desafios de magia.
HPCS é um daqueles jogos que podemos citar ser melhor que seu antecessor. Aqui os produtores pegaram todas as qualidades de seu anterior e fundiram com novos elementos e conceitos. O jogo não é mais tão infantil tendo algumas pegadas mais obscuras em certos momentos. O aumento do cenário deu origem a uma exploração maior e mais elaborada e a interação com os alunos de Hogwarts estão muito melhores graça ao sistema de comercio que o jogo proporciona, de fato HPCS é uma continuação que ultrapassa seu antecessor e surpreende os fãs da franquia.
Crítica | Harry Potter and the Philosopher's Stone
A fama de Harry Potter, sem dúvidas, é de se respeitar. Muitos já devem ter pelo menos lido algum dos livros ou assistido um dos filmes no cinema. A magia que a saga traz conquistou uma legião de fãs de diversas idades a admirarem o bruxinho e a se identificar com diversos personagens da saga. Nos videogames o sucesso não poderia ser diferente e em 2001 a Eletronic Arts lança o primeiro jogo baseado no filme com o mesmo nome ”Harry Potter e a Pedra Filosofal” para todas as plataformas.
Mencionar o enredo do jogo HPPF é uma coisa interessante. Diferente dos filmes e livros, o jogo tenta reduzir ao máximo possível o enredo e focando nas partes mais importantes das aventuras de Harry como o nascimento do dragão Norbert, o salvamento da personagem Hermione contra o trasgo e o clássico jogo de xadrez bruxo. Também vale ressaltar de algumas animações após alguns capítulos completos mostrando um velho livro e o narrador contanto a história de algumas partes do jogo.
Por ser um jogo do ano de 2000 os gráficos são bem antigos, mesmo para a época onde o motor gráfico de Max Payne e Tony Hawk eram as grandes maravilhas do momento, HPPF não tem um motor gráfico tão forte, porém podemos notar alguns momentos de surpreender os jogadores. Até mesmo os mais exigentes, com o detalhamento e preenchimento com quadros, estatuas e alunos acabam embelezando os cenários da escola de Hogwarts.
Um ponto muito importante de parabenizar o jogo é sua exploração, os coletáveis estão espalhados em lugares secretos na escola de Hogwarts, logo o jogador tem que ficar bem ligado com espelhos secretos, paredes invisíveis e passagens escondidas em torno dos cenários, podemos parabenizar outro aspecto bem original do jogo HPPF no qual retrata o andamento do progresso no jogo.
Normalmente os jogadores estão acostumados com múltiplas fases ou com uma série de capítulos, mas aqui em HPPF temos aulas de magia e os desafios que os professores acabam lhe pedindo para ser concluídas, um método bem original e bem pensado por parte dos produtores do jogo.
Ao começar, vamos reparar nos famosos “feijões de todos os sabores” que seria um tipo de moeda que o jogo coloca, porem a sua utilidade não é muito bem explorada e pensada, não podemos fazer nada com esse item a não ser juntar e trocar de vez em quando para os irmãos Wesley por uma figurinha, no final das contas os feijões são apenas preenchimento para o jogo não ficar muito incompleto.
A jogabilidade de HPPF não é das melhores, um problema muito incomodo é o fato de que não podemos mexer a câmera que fica trava no personagem Harry, dificultando escalar obstáculos e até mesmo mirar em inimigos. Os pulos de Harry também são bem esquisitos não dando uma impressão de que ele está se jogando em alguma plataforma ou que irá desviar de magias ou inimigos.
No jogo também podemos jogar o tão famoso Quadribol contra as outras casas na escola de Hogwarts. A mecânica é bem pensada para voar e acelerar a vassoura. Aqui Harry tem que pegar o Pomo de ouro, para isso Harry precisa voar através dos arcos que o Pomo cria ao voar na quadra. O segredo para vencer essa partida é apenas ter calma e levar o tempo que precisar já que nesse modo o jogador não tem como perder a partida de Quadribol.
Existe uma versão não oficial do jogo que está dublada em português e que teve realmente um ótimo trabalho, mesmo sendo esquisito ter outros dubladores fazendo a vozes de Harry Hermione e Rony acabamos nos acostumando bem e dando uma chance, uma das coisas complicadas é erros de fala de algumas magias saindo com outras pronuncias, a interação de personagem para personagem é bem simples e não espere muitas falas vinda de Harry Potter já que em todo o jogo ele fica calado a não ser para citar as magias.
Por ser um jogo voltado para o público mais infantil, HPPF não tem muitos desafios e nem mesmo uma dificuldade mediana. Para aqueles jogadores mais experientes é possível finalizar o jogo sem ao menos ser derrotado uma única vez, a duração do jogo não é muito grande podendo ser finalizado em torno de 5 a 7 horas o seus 100%, mesmo sendo simples e sem desafio algum o jogador fica preso e cria um certo carinho pelo jogo motivando a vasculhar a escola por segredos e a interagir com certos alunos.
HPPF é um jogo clássico de uma velha geração de bons jogadores, mesmo sendo um jogo simples e sem dificuldade sua beleza está voltada nos cenários bem produzidos e música bem usada em cada momento do jogo. A exploração é muito bem-vinda no jogo e dá vida ao tão grande castelo de Hogwarts.
A jogabilidade peca em muitos momentos e obriga o jogador a se acostumar com a mecânica travada e os movimentos complicados de Harry, relembrar cenas importantes do filme não tem preço e pode trazer muita nostalgia a todo tipo de jogador, com toda sua fama Harry Potter tem um lugar especial no mundo dos games fazendo seus jogos clássicos e antigos ainda serem muito bem apreciados até mesmo nos anos atuais de videogame.
Crítica | Elle
O fato de que, em pleno 2016, podemos entrar no cinema e encontrar um novo filme de Paul Verhoeven não é algo que deve ser subestimado. Indubitavelmente um dos nomes mais provocantes e marcantes que já passou pela Hollywood dos anos 70-90, o cineasta holandês redefiniu conceitos importantes do blockbuster em Robocop e O Vingador do Futuro, além de ter empurrado as barreiras da sexualidade no cinema mainstream com Instinto Selvagem e - independente da qualidade - o massacrado Showgirls. Há mais de uma década que não víamos algo de peso de Verhoeven (depois de A Espiã, o cineasta voltou à Holanda para Steekspel), mas agora o autor retorna no controverso Elle, que também é o representante oficial da França para uma vaga no Oscar.
Adaptada do romance Oh..., de Philippe Dijan, A trama começa brutalmente ao nos apresentar à Michèle (Isabelle Huppert) sendo estuprada por um invasor em sua casa. Ela tenta lidar com as consequências do ato e encontrar o responsável, que pode estar relacionado à sua vida pessoal, marcada por um passado violento e polêmico envolvendo seu pai presidiário, ou profissional, onde chefia com sua amiga Anna (Anne Consigny) uma desenvolvedora de games que trabalha pesado para lançar um novo produto.
Esse é apenas o básico para entender Elle, que mergulha em diferentes narrativas e ramificações ligadas à vida da protagonista, que no melhor estilo Verhoeven, é bem longa do convencional. Logo de início já somos jogados a uma história peculiar quando vemos a reação de Michèle ao estupro, levantando calmamente e arrumando a louça quebrada durante a ação; quase como se o ato violentíssimo não tivesse ocorrido (o plano onde Michèlle está nua na banheira e a espuma branca lentamente preenche-se com sangue é fabuloso), e a partir daí vemos como a protagonista é forte e praticamente indestrutível - nunca ao ponto de tornar-se uma figura idealizada, muito pelo contrário. Nas mãos de Isabelle Huppert, temos uma das personagens mais versáteis e fascinantes do ano, seja em sua habilidade de virar a mesa contra virtualmente qualquer pessoa ou assumir o controle de uma situação com facilidade, Michèle é um trem expresso que nos dá prazer e até divertimento de se observar, e a veterana atriz francesa merece todos os créditos do mundo por sua atuação sarcástica, afetiva e carismática.
O texto de David Sirke é habilidoso ao fazer de Michèlle uma personagem absolutamente multifacetada, e pode-se dizer que este é o grande foco de Elle: as dimensões de seus personagens, que são todos muito bem construídos e desenvolvidos ao longo da narrativa. Sirke vai lentamente nos revelando os eventos que marcaram o passado da protagonista e o motivo exato de seu pai estar na cadeia, é algo extremamente bem conduzido por Verhoeven em uma narrativa perfeitamente capaz de envolver o espectador. As reviravoltas são intensas e até abraçam uma atmosfera novelesca, também pontuada pela trilha sonora exagerada de Anne Dudley, que faz questão de comentar com dramaticidade diversos pontos chave da história - e é uma breguice muito bem vinda aqui.
As subtramas também preenchem com perfeição o universo de Elle, a começar por Vincent (Jonas Bloquet), o abobado e inseguro filho de Michèle que se vê preso a um iludido relacionamento com Josie (Alice Isaaz), uma jovem um tanto desequilibrada e manipuladora; ver a relação dos dois Michèle garante ótimos momentos de alívio cômico, especialmente quando a gravidez de Josie traz um resultado inesperado. A vida sexual da protagonista é outro ponto delicado, e onde reside um dos aspectos mais controversos de Elle: além de manter um caso com o marido de Anna (Christian Berkel), manter um flerte com o vizinho casado Patrick (Laurent Lafitte) e uma relação surpreendentemente apaziguada com seu ex-marido, Richard (Charles Berling), é curioso como Michèle está estranhamente atraída por seu agressor. É um tema extremamente complexo e cabeludo que Verhoeven e Sirke abordam de forma eficiente e que faz sentido da trama, que acaba direcionada para questões de voyeurismo e até masoquismo.
É uma narrativa que definitivamente não deve agradar a todos, especialmente por essa estranheza e olhar clínico sobre decisões inusitadas, mas que certamente deve chamar a atenção da maioria. Por exemplo, o fato de termos tantas subtramas é benéfico para garantir dimensão e personalidade a absolutamente todos os personagens do longa, mas também garante que muitas linhas acabaram inconclusivas ou resolvidas abruptamente - o passado violento da protagonista, por exemplo, é praticamente abandonado quando o espectador descobre o que de fato aconteceu ali, assim como a resolução do conflito entre Michèle e um de seus empregados.
Elle é um retorno eficiente e forte para Paul Verhoeven, que vê na ótima Isabelle Huppert a chance de criar uma personagem multifacetada e mergulhá-la num universo estranho e fascinante, rendendo uma das experiências mais interessantes do ano. Só o fato de termos uma nova adição à filmografia peculiar de Verhoeven já é motivo de celebração.
Crítica | Harry Potter e a Pedra Filosofal
Harry Potter e a Pedra Filosofal é um dos mais fortes e bem trabalhados filmes de aventura, transbordando com atmosfera, pincelado com o macabro e o sublime – e surpreendentemente fiel à sua fonte original. Muitos erros poderiam ter sido cometidos, mas nenhum deles se concretizou: a firme direção de Chris Columbus tornou-se um clássico encantador que faz jus à estória. O romance escrito por J.K. Rowling é vívido e diversas vezes esbarra no visceral, e sua adaptação para os cinemas poderia tornar as coisas um tanto quando fofas e confortáveis.
Mas não foi isso que aconteceu.
Mostrando-se como um Indiana Jones para um público mais jovem, o longa conta uma história de aventuras sobrenaturais e emocionantes, onde personagens multicoloridos e excêntricos alternam a vez em cena com criaturas assustadoras – um cão de três cabeças, uma infestação de visgos assassinos e um ser imortal de duas cabeças que bebe sangue de unicórnio. Assustador, sim, mas não tanto como você pode pensar – o suficiente.
Três jovens espirituosos são o centro do filme. Daniel Radcliffe interpreta Harry Potter, com óculos de aro redondos e um pouco mais velho do que o imaginei quando li o livro pela primeira vez. À época, o ator já havia dado vida a David Copperfield no filme homônimo da BBC, e se Harry será o herói de sua própria vivência nesta história, ainda não fica claro nos primeiros minutos.
Deixado quando ainda era bebê na frente de uma casa suburbana, Harry é criado por sua tia e seu tio numa relação não-mútua e pobre, por assim dizer, até ser convocado por uma revoada de cartas para estudar na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts – uma Oxford para bruxos, mas na qual você até pode dizer a palavra “maldito” sem ter problemas. Na escola, Harry aprende sobre a arte das poções, dos feitiços, e do manejo da vassoura. Ele é resguardado de perto pelo diretor Alvo Dumbledore: um velho – e alto – bruxo de longas barbas branco-pérola, interpretado por Richard Harris, cuja habitual presença de cena se encaixa perfeitamente com o tom da obra. Harris é assistido pela austera e amante da disciplina Minerva McGonagall, Professora e Vice-Diretora: uma performance à la Jean Brodie de Maggie Smith. Ian Hart é o tímido e introspectivo Professor Quirrell, e Alan Rickman dá vida ao soberbamente sinistro Severo Snape, proferindo suas falas de forma praticamente estática e aterrorizante.
Mas Harry não está sozinho nessa jornada. Já nos primeiros momentos em Hogwarts, se torna amigo do desastrado alívio cômico da franquia, Rony Weasley, um Jack Wild para Mark Lester interpretado por Rupert Grint, e Emma Watson como a magnífica Hermione Granger: imperiosa, impetuosa e extremamente leal a seus valores.
Os efeitos especiais para este filme são simplesmente estonteantes: a direção de fotografia de John Seale e o design de Stuart Craig atraem-se de forma indescritível. Fiquei boquiaberto aos incríveis planos do saguão de entrada de Hogwarts, com suas escadas movediças e quadros falantes e animados. A cena principal de Quadribol, um excêntrico esporte que se joga voando em vassouras, é surpreendentemente emocionante.
E aquelas casas! É sério que em 2001 crianças de Amersham até Zâmbia podem realmente se importar para qual casa os protagonistas serão selecionados? A resposta é sim. Os novatos, em seu primeiro dia, passam por um teste de “livre-arbítrio”, por assim dizer, no qual sentam-se num banquinho e sobre suas cabeças é colocado o aparentemente temível Chapéu Seletos. Obviamente, esta sequência nos relembra do discurso em Carruagens de Fogo (1981) feito pelo diretor, no qual os calouros de Cambridge descobrem que ser um homem de Caius é muito melhor que ser, por exemplo, um Trinity. Mas a diferença não chega aos pés daquela existente entre Sonserina, a casa dos talentosos e sedentos por poder, e Lufa-Lufa, a casa dos nerds e risonhos.
Columbus lida com toda a fantasia de forma direta – tanto quanto possível – e felizmente nunca sucumbe à tentação de distorcer a história para agrado dos adultos ou para impor uma dose extra de “surrealismo” obtuso, o que seria horrivelmente errado e condescendente. É interessante especular o que teria acontecido caso Terry Gilliam fosse contratado para dirigir Harry Potter – talvez se tornaria uma obra multicolorida recheada com camadas de paternalismo e círculos narrativos. Ou então uma adaptação natalina de Alice no País das Maravilhas. O filme de Columbus, embora preso em total fidelidade ao livro, nunca desaponta tanto sua fonte original quanto seu público-alvo.
É um investimento de seriedade, o qual é ressarcido quando chegamos ao clímax catártico da narrativa, muito mais importante que a batalha de Harry para reaver a Pedra Filosofal – um plot levemente desapontador tanto nas telonas quanto nas páginas. O ponto de virada ocorre quando o protagonista tem uma visão de seus falecidos pais no lendário Espelho de Ojesed, um objeto encantado que tem a capacidade de refletir nossos desejos mais íntimos. A história de Harry Potter – sua opressão pela família “trouxa” e então seu empoderamento através da magia – não faz sentido sem o fato da morte de seus pais. É algo que se relaciona às fantasias mais inerentes a qualquer criança: o medo do abandono misturado com o gostinho de liberdade.
O pai de Harry é uma versão um pouco mais calva e mais sorridente dele mesmo. Sua mãe é – bem, alta, com cabelos escuros, olhos cândidos, assim como a filha da autora. Eles são seraficamente calmos, e sua presença heroica os torna muito semelhantes aos pais biológicos do Super-Homem, Jor-el e Lara, os quais colocaram seu bebê indefensível dentro de uma nave e o mandaram para um lugar onde ficaria a salvo, antes de explodirem em seu planeta-natal Krypton. Certamente, a figura paternalista de Harry é efetivamente substituída por Dumbledore – uma representação quase divina. E o filme não esconde a presença diabólica de Voldemort (dublado originalmente por Richard Bremmer), que desafiou a autoridade e caiu dos céus e, agora, deixando um rastro de sofrimento por onde passa, convence seus seguidores que não há o bem e o mal: há apenas o “poder”.
Nada poderia ter mais ares de uma série épica que essa. Há pernas. Há asas. Há até vassouras voadoras. A ótima saga Harry Potter, à época em que estreou, competiu com os próprios filmes de James Bond. E Harry envelheceu com o passar dos anos, levando seus fãs com ele através dos caminhos tortuosos da adolescência e da própria vida adulta. Obviamente, vemos muito da fórmula da jornada do herói, tanto nos livros quanto nos longas-metragens, aludindo a outras franquias de sucesso como Star Wars. Mas o formulaico existe para ser quebrado; afinal, todas as histórias já foram contadas – agora é necessário descobrir novos métodos de narrá-las, e é isso que a saga criada por Rowling faz.
Ao final de fantásticos e divertidos 152 minutos, a velha frase “deixá-los querendo mais” ficou piscando na minha cabeça. Acho que nunca vi essas palavras fazerem tanto sentido.
Harry Potter e a Pedra Filosofal (Harry Potter and the Sorcerer's Stone, EUA – 2001)
Direção: Chris Columbus
Roteiro: Steve Kloves, J.K. Rowling
Elenco: Daniel Radcliffe, Emma Watson, Rupert Grint, Adrian Rawlins, Alan Rickman, Alfie Enoch
Gênero: Aventura, Família, Fantasia
Duração: 125 min
https://www.youtube.com/watch?v=CLJv2Qi98jU&ab_channel=L.G.R
Crítica | A Garota no Trem, de Paula Hawkins
Algumas obras levam vários anos para serem lançadas como filmes depois que os direitos são comprados, gerando assim uma expectativa e ansiedade por parte de seus fãs. Não foi isso que aconteceu com A Garota no Trem. O livro escrito por Paula Hawkins foi lançado em 2015 e nesse ano já ganhou um filme (que a nossa equipe já analisou, confira!). E é claro que quando vemos uma história gerar tanto interesse assim, podemos acreditar que algo interessante existe e nesse caso, o livro não decepciona.
Conhecemos Rachel Watson, uma mulher divorciada e alcoólatra que pega o mesmo trem todos os dias para ir e voltar de seu trabalho em Londres. No caminho o trem costuma parar em frente a uma casa onde ela gosta de observar um jovem casal e criar teorias sobre a vida deles na sua cabeça. O casal tem algo de especial e nostálgico, já que eles moram na mesma rua onde ela morava com Tom, seu ex marido. Além claro de, do trem, eles parecerem extremamente felizes e apaixonados. Porém Megan (a moça do casal) acaba desaparecendo misteriosamente e todos acreditam que Rachel viu algo já que parece que foi vista onde a vítima foi vista pela última vez.
Rachel não é confiável. Não consegue ficar um dia sem beber e sempre liga ou tenta encontrar com seu ex marido, além de não se lembrar de nada da noite em que Megan desapareceu, tendo apenas pequenos flashes do que pode ter acontecido. Mas está empenhada a provar para si mesma que não teve nada a ver com esse caso, que não matou Megan. Então decide contar ao marido de Megan, Scott, e à policia que a viu com um outro homem na varanda dias antes. Scott passa a confiar nela, mas a polícia ainda não.
Seguindo a mesma fórmula de outros livros de sucesso, como Garota Exemplar, esse surpreende no quesito desenvolvimento do mistério em torno do desaparecimento de Megan. O leitor precisa colher as pistas que a história lança até a conclusão e o uso de três narradoras contando os fatos foi uma escolha inteligente da autora para esse fim.
A principal narradora é a própria Rachel, vemos toda a história principal pelos seus olhos, cheios de conflitos internos e problemas causados pela não superação de seu divorcio e pelo vício na bebida. A segunda narradora é Megan, que nos apresenta fatos da sua vida e alguns de seus conflitos internos até desaparecer. Esse talvez seja o ponto mais importante, pois ela nos dá detalhes extremamente ricos que contribuem muito na montagem do "quebra-cabeça". E a terceira narradora é Ana, a nova mulher de Tom. O foco dela é principalmente questionar Rachel e os fatos que ela apresenta, querendo assim confundir o leitor. Afinal ainda não sabemos se Rachel é boa ou má, na verdade nem ela mesmo consegue saber direito seu papel em tudo isso, já que não se lembra muito da noite.
Não se engane, essa escolha de usar as três mulheres como narradoras não foi algo aleatório. Todas estão ligadas por diversos fatores, incluindo alguns conflitos internos quanto aos seus relacionamentos. E acredite, esse é o ponto mais belo da história! A autora conseguiu retratar assuntos como abuso e depressão com toda a sutileza esperada e ao mesmo tempo com toda a monstruosidade necessária, tudo isso tendo como pano de fundo o desaparecimento da Megan. Tudo isso pode parecer confusa e realmente é se não prestar muita atenção, o único artifício usado ara diferenciar quem está escrevendo o capítulo é o próprio nome dele que no caso é o nome da narradora.
Porém como vários outros excelentes livros, esse também tem um pequeno problema na sua conclusão que nesse caso acontece muito rápido. Não existe uma preparação, nenhum desenvolvimento. Acontece apenas dos pontos certos e importantes serem ligados e a "solução" é jogada na cara do leitor e isso me decepcionou um pouco. Mas não é algo de atrapalha tanto assim, pois mesmo sendo apressado, o clima de tensão que foi criado durante toda a narrativa continua no conflito final.
Se procura um thriller que busca tirar o leitor de sua área de conforto com questionamentos que vão além da ficção e um mistério que no primeiro momento pode ser óbvio, mas se a cada capítulo te surpreende essa deve ser a sua escolha. A Garota no Trem mesmo com uma conclusão apressada não decepciona com sua narrativa rica e com um mistério digno de grandes autores já consagrados.
Obs: Se ainda não assistiu ao filme recomendo que leia o livro e corra para assistir. Não é só uma adaptação fiel, mas visualmente belíssimo. Acredite, vale muito a pena!
A Garota no Trem (The Girl on the Train, Reino Unido – 2015)
Autor: Paula Hawkins
Publicação no Brasil: Grupo Editorial Record
Tradução: Simone Campos
Páginas: 378 páginas
Crítica | O Nascimento de uma Nação (2016)
O Nascimento de uma Nação - não confundir com o clássico de D.W. Griffith - é o primeiro filme de Nate Parker como diretor, que já atuou em O Grande Desafio, Sem Escalas, entre outros. O filme conta a história de vida de Nat Turner, escravo de uma fazenda de algodão no sul dos Estados Unidos que aprende a ler e se aproxima da bíblia, começando então a pregar a palavra de Deus para outros escravos da região, a mando do dono de sua fazenda, que ganha dinheiro em troca dos serviços de Nat. Tudo isso para cessar o começo de uma revolta de escravos que vinha crescendo devido ao descontentamento dos mesmos. Nat presencia momentos de pura violência contra os outros escravos e o sentimento de revolta cresce dentro dele no decorrer da história, até o momento que decide comandar sua própria revolta.
Algo que é necessário ressaltar, é o próprio Nate Parker. Além de dirigir, ele assina o roteiro e assume o papel principal do filme. Como ator ele não deixa a desejar; Parker coloca todos os sentimentos e forças que possui em sua atuação, o que cativa os olhos de quem vê o filme. Pode-se falar também que ele fez o mesmo na cadeira de diretor, onde se demonstra bastante eficiente, mas ainda tem um longo caminho de refinamento pela frente, como é notado na cena onde vemos um canhão executado de forma enfadonha.
É no roteiro que vemos o real problema de O Nascimento de uma Nação. A história já começa com alguns clichés, como Nat ser uma espécie de líder nato - devido a profecias da cultura dos escravos trazidos da África -, logo quando criança, mas essa profecia morre logo quando a trama começa. Ela não mais é abordada, em nenhum momento posterior do filme. O roteiro também se demonstra falho ao mostrar o local em que a história se passa. No começo do filme a impressão que se tem da Fazenda de algodão em que Nat trabalha é de que é um lugar pacato, onde o Senhor de Engenho trata bem seus trabalhadores, e essa impressão continua quando se tem um salto temporal e o filho (vivido pro Armie Hammer) toma posse das terras.
Mas tudo isso se transforma abruptamente. O fazendeiro que sempre parecia um pouco indignado, em relação aos maus tratos das fazendas vizinhas, sofre uma transformação repentina que é marcada com o surgimento de um capataz, que não tinha aparecido anteriormente na história, mas cujo envolvimento prévio na história fica implícito. O fazendeiro, que no filme nunca tinha maltratado um escravo, manda Nat para ser açoitado, sem nenhum motivo aparente. E quando os machucados de Nat estão sendo costurados, percebe-se que ele já tem várias cicatrizes providas pelo chicote, o que passa, para quem assiste o filme, sensações de confusão e indagação, que nada mais são do que problemas da narrativa.
O problema ainda vai mais embaixo. A prometida revolta dos escravos começa a acontecer mais ou menos nos 25 minutos finais da projeção. O filme inteiro é a construção do sentimento de revolta de Nat, e o espectador espera ansiosamente, porém nada muda no personagem, até os momentos finais. O clímax do filme é puramente a revolta, porém ela é feita de forma apressada, mal montada e falhando ao demonstrar a magnitude do que realmente aconteceu. Ao final do filme, um letreiro aparece e informa ao espectador que a revolta durou dois dias e teve como resultado a morte de 60 donos de fazenda. Parker retrata o mesmo acontecimento como se tivesse se desenrolado em pouco mais de um dia, e que só apresentara algumas fazendas como alvo. Aí temos a narrativa falhando novamente.
Além disso, não há como se envolver emocionalmente com os personagens. São todos porcamente desenvolvidos, e alguns ainda se contradizem, como o fazendeiro e também uma criança escrava, que trai a revolta em determinada uma empreitada. Você chega no clímax sem se importar com ninguém além de Nat, que é o único desenvolvido na história. Vale ressaltar que todos os atores estão muito bem no filme, o roteiro (novamente) é o problema. Ele falha em causar emoção no espectador, algo que 12 Anos de Escravidão faz com maestria ao utilizar tanto personagens cativantes, quanto momentos horríveis de crueldade contra o ser humano, para fisgar as pessoas que o assistem. Nascimento de uma Nação só tem a brutalidade como marca, para demostrar o sofrimento das pessoas escravizadas na época, o que por um lado é uma decisão corajosa, mas que acaba tornando-se um tanto inconclusiva e gratuita aqui. Além de tudo, o filme ainda tenta usar algumas cenas, fruto de visões de Nat, como metáforas que falham na execução por não terem muito espaço na história.
O Nascimento de uma Nação é um bom começo como diretor para Nate Parker. É um filme que recebeu muito hype e quer passar uma importante mensagem para o público, mas sofre muito com o roteiro, e um pouco com a direção precipitada de Parker.
Texto escrito por Daniel Sodré
Crítica | Snowden: Herói ou Traidor
“Aqueles que abrem mão da liberdade essencial por um pouco de segurança temporária não merecem nem liberdade nem segurança. ”. A frase histórica de Benjamin Franklin, um dos pais fundadores dos Estados Unidos da América, nunca fora tão atual como foi em 2013, ano da explosão diplomática que Edward Snowden causou ao revelar algo que todo mundo sabia, mas que ninguém tinha coragem de acusar: o governo te espiona a todo momento.
No caso, o governo americano, considerado o mais poderoso da Terra. Pensando na realização de Snowden, é interessante ver a presença de Oliver Stone em um projeto adaptando um acontecimento que poderia ter arruinado facilmente o governo democrata de Barack Obama – há um vídeo comparado o discurso do candidato vs. o discurso do presidente, tentando reparar todo o estrago causado por Snowden. Digo isso sobre Stone por causa de suas opiniões políticas sempre muito polêmicas alinhadas à esquerda no compasso ideológico.
Snowden claramente é um longa de pensamento pró-liberdade e contra o controle e expansão dos governos. Afinal, vendo Citizenfour, fica bem clara a posição do próprio Edward Snowden.
No filme, acompanhamos a história através de longos flashbacks que o protagonista, encarnado por Joseph Gordon-Levitt, conta à documentarista Laura Poitras e outros dois jornalistas nas suas sessões de entrevistas que dariam origem à matéria reveladora do The Guardian e também ao documentário Citizenfour que venceu o Oscar em 2015.
O roteiro de Kieran Fitzgerald e Stone então ficam nesse grande vai-e-vem entre os flashbacks e narrativa presente na maioria da obra. Nisso, há sim bom estabelecimento para entendermos quem é Edward Snowden e como ele acabou entrando em diversas agências de espionagem e segurança nacional dos EUA, trabalhando para a CIA, NSA entre outras empresas “terceirizadas”.
Já uma coisa que comentei em diversos outros textos é sobre o quão complicado pode ser analisar um roteiro que adapta uma história extremamente poderosa como essa. Inerente dizer que toda a representação simbológica de Snowden está presente no filme, mas o texto narrativo possui muitas fraquezas por justamente falhar na criação de conflitos. Ou seja, na ficcionalização da história de Snowden antes de chegar em Hong Kong para fazer a entrevista com Laura.
Há diversas tentativas em mostrar como Snowden é um gênio da computação e do raciocínio lógico – incluindo até mesmo uma metáfora recorrente e manjada da resolução de diversos Rubik Cubes. Através de cada novo emprego conquistado – algo que nunca é bem estabelecido, o filme apresenta novos personagens que expões diversos pontos de vista caricatos para justificar as medidas de “segurança” dos Estados Unidos pós 11/09.
Boa parte desses personagens são chefes de departamento onde o protagonista trabalha. Todo esse núcleo é para explorar o lado humano da narrativa enquanto tenta aplicar tensão crescente devido à paranoia de Snowden de crer que também é espionado enquanto descobre as medidas invasivas da privacidade do governo. Isso ocorre através de um incidente incitante bem absurdo e difícil de crer – boa parte dos problemas dessa cena recaem diretamente na direção de Stone.
Não ficando restrito ao núcleo de trabalho do protagonista, onde há investidas até mesmo em missões de espionagem um tanto bizarras, mas que também servem para apresentar tanto ao personagem quanto ao espectador as consequências diretas que a espionagem pode ter na vida de um cidadão, há também o núcleo romântico com a namorada de Snowden, Lindsay.
Novamente, romantizando a realidade, o roteiro busca interminavelmente por conflitos óbvios. Aqui, Lindsay é a perfeita antítese de Snowden. Ela, uma democrata, emocional, artista, da galera de humanas e descontraída. Ele, um republicano, matemático, lógico, rígido e tímido. Os dois se apaixonam perdidamente em um passeio no parque. Pois é, Narrativa Básica 101. Onde poderiam deixar a ficção mais atraente que a realidade, acabam apostando no padrão sem sal.
Além dos muitos empregos que começam e terminam sem muita explicação para o espectador, o relacionamento entre ele sofre diversos altos e baixos. Como o longa condensa muitos anos da vida do americano, é normal estranhar as elipses que delineiam o clima do namoro dos dois. Há bons diálogos com trocas de opiniões políticas e momentos românticos interessantes, porém, é tudo bastante telegrafado.
É evidente que um longa sobre espionagem e invasão de privacidade usaria esse tema como pivô de uma crise entre os dois e é justamente o que acontece. Infelizmente, essa impressão da ausência de nacos do filme é a que mais marca quando ocorre a típica briga, mesmo que tenha uma motivação genuína por trás disso tudo.
É o que falta nesse longa: investimento e desenvolvimento em seus personagens. Principalmente o arco da paranoia tinha que ser melhor trabalhado, investindo no filme mais tensão e emoção para te manter acordado – uma tarefa árdua, acredite.
O núcleo que acompanha a captação do documentário e do contato de Snowden com os jornalistas também não impressiona. Novamente, temos conflitos telegrafados como disputas editoriais dentro da redação do The Guardian, além de um temperamental Zachary Quinto interpretando Glenn Greenwald – que viu Citizenfour sabe que o ator errou feio na personificação.
Também, centrando mais falhas narrativas, nada é muito bem desenvolvido na relação de Snowden entre essas pessoas completamente estranhas nas quais ele confia sua vida. O que realmente segura Snowden é a atuação de Joseph Gordon-Levitt, claramente tentando uma vaga na Oscar race. Caprichando no sotaque, engrossando a voz, mantendo expressão corporal rija e tensa, de olhares repletos de pensamentos tenebrosos e preocupantes, além de feição exausta, Levitt entrega outra atuação de ponta confirmando sua fantástica versatilidade.
Graças aos seus esforços hercúleos, o personagem é muito afeiçoável e crível. Aplausos.
Se já a narrativa de Oliver Stone encontra-se bastante engessada, que dirá sua direção. Stone não modernizou sua linguagem, ainda recorrendo para um visual caricato e brega quando o personagem tem ataques de saúde ou até mesmo em metáforas visuais para lá de ultrapassadas. Pior, isso acontece justamente na sequência que deveria ser a mais ousada visualmente ao montar uma representação visual de toda a vigilância que NSA exercia sobre cidadão do mundo inteiro.
Em vez de criar algo original, recorre novamente ao clássico “olho que tudo vê” a la Grande Irmão de 1984, formado por imagens em mosaico. É uma bela síntese para a direção dele aqui. Bastante cansada e impaciente. Repare em tantas sequências onde Stone captura os mesmos planos de alguém digitando, das inúmeras telas, de códigos-fonte. São elementos visuais necessários, porém dentro de um filme de duas horas, a repetição é um crime.
Apostando em soluções visuais fáceis, em linguagem mastigada, se valendo da força da representação dos atos de Snowden. Infelizmente, a técnica não salva a obra de ser apenas boa, mesmo que sem graça. Até mesmo a trilha musical não foge do básico, emulando o imaginário comum para músicas de filmes sobre informática e suspense.
Ao menos, no clímax, Stone parece acordar um pouco e conferir mais energia na montagem para criar tensão na “fuga” de Snowden para Hong Kong. Também acerta na encenação dos ápices dramáticos seja nas brigas do casal ou de cenas mais tensas de espionagem e daquelas destinadas a paranoia de Snowden, inclusive, rendendo uma ótima comparação no uso de drones. São momentos ligados por um fio bem frágil, mas que rendem ótimas cenas.
Snowden é um longa que chama a atenção por retratar um acontecimento tão recente na nossa História. Um acontecimento de potencial gigantesco para derrubar governos, mas que só trouxe mesmo um desconforto diplomático. O longa parece sofrer exatamente dessa falta de reação, incredulidade e entusiasmo que marcou o desfecho do caso do espião americano.
Então, como havia dito, o mundo não mudou. Snowden apenas confirmou algo que todo mundo sabia e algo que quase ninguém se importa em preservar: sua privacidade e liberdade.
Possivelmente seja o mal deste século: ter ignorado a mudança quando a oportunidade surgiu. As pessoas se contentam com os brinquedos virtuais novos, ainda são espionadas – não é possível crer que tenham desmantelado tamanha estrutura depois da polêmica, e muitos ainda condenam a atitude do espião em berrar ao mundo que algo de muito errado está acontecendo.
Não se trata de manter a segurança nacional, não se trata de prevenir atos terroristas, mas sim de eliminar inimigos políticos, controlar e interferir com autonomias diversas de outras nações, controlar o mercado de valores, mudar o destino de milhões de pessoas e, principalmente, preservar a integridade de um governo colossal e silencioso que, muito provavelmente, te devorará com nenhum esforço.
O 11/09 respira até hoje e Snowden é apenas mais uma de suas muitas consequências.
Crítica | Pequeno Segredo
O funcionário do cinema retira silenciosamente o cartaz de “Aquarius” e o substitui pelo de “Pequeno Segredo”, sob o olhar estupefato de meia dúzia de espectadores, num evento ligeiro, mas tão carregado de simbolismo que parece encenado. Protagonista acidental do drama político brasileiro que envolve também a militância partidária disfarçada de “comunidade cinematográfica”, o filme dirigido por David Schurmann deve passar para a história como a produção que desbancou “o outro”, dirigido por Kléber Mendonça Filho, na corrida sem fim pelo “Oscar brasileiro”. Como praticamente todos os subtemas que envolvem o Cinema Nacional, este episódio sem maior relevância acaba por sobrepujar os filmes em si – no caso de “Pequeno Segredo”, há motivos suficientes para gostar ou desgostar do filme sem parecer estar comparecendo à urna eletrônica.
“Pequeno Segredo” é um drama que lança mão de recursos narrativos consagrados (como a alternância cronológica) para contar uma história real ocorrida com a família do diretor e que despertaria pouco interesse não fosse seu desfecho com alta carga emocional. A brasileira Jeanne (Maria Flor) conhece o viajante neozelandês Robert (Errol Shand), ao mesmo tempo que acompanhamos as dificuldades do casal Heloísa e Vilfredo Shurmann (Júlia Lemmertz e Marcello Antony) para administrar a vida escolar e a passagem da infância para a adolescência de sua encantadora filha solitária que parece ter algum problema de saúde. Longe de todos esses personagens, uma autoritária senhora (Fionnula Flanagan) acompanha o desenrolar dos eventos, até que os conflitos começam a se cruzar e as relações temporais e familiares entre os personagens vão ficando mais claras.
O início é confuso porque alterna as três linhas de ação, presente e passado, diferentes cenários, narradores e pontos de vista, de modo que a melhor possibilidade para o espectador gostar do filme é concentrar-se no que realmente importa: a garotinha doente que será convertida eventualmente na verdadeira estrela e razão de ser do espetáculo. Incomodam também algumas inserções absurdas de merchandising (difíceis de aceitar numa produção cara para os padrões nacionais), especialmente aquela em que Robert desiste de enviar uma carta pelo correio brasileiro, provocando efeito cômico certamente involuntário.
Enquanto o filme avança, percebemos o esforço exímio do roteiro em amarrar as pontas, comportando dentro de um mesmo enredo relativamente coeso uma quantidade exagerada de matizes e informações dramáticas que só se encontram, finalmente, por engenhosa obra dos escritores: estamos diante de pelo menos três doenças diferentes, um acidente grave, três idiomas, quatro acentos étnicos, um exagero com o qual a direção tem ampla dificuldade de lidar e que, na verdade, poderia ter sido deixado pelo caminho – não fosse, talvez, o desejo dos produtores de servir um rodízio com a variedade mais ampla de pratos, tentando agradar todos os gostos possíveis e falando ao mesmo tempo de choque cultural, preconceito de raça, preconceito de classe, bullying, etc.
É surpreendente como a distribuidora bate cabeça ao permitir que o “pequeno segredo” – surpreendente e que, na verdade, é habilmente ocultado pelo roteiro, o que faz sua revelação elevar o filme e certamente penetrar o coração do público – seja comentado abertamente (é possível ver até mesmo o diretor falando sobre isso em entrevistas), o que traz à tona o fato de que mesmo os produtores não sabem muito bem o filme que tem em mãos.
A direção, por sua vez, sofre com a decisão costumeira de filmar a ação e os personagens diagonalmente, na altura dos olhos, ora mantendo a típica relação de estúdio de TV com os atores (ação de um lado, equipe de outro, câmeras a 45°), ora tentando cobrir o que acontece de todos os ângulos em movimentos de câmera dispensáveis. Não faz sentido gastar seis milhões de reais e ter à disposição cenários amplos se a câmera não deixa o drama respirar, privilegiando planos fechados e fundos desfocados mesmo nas externas e que só dão descanso nas filmagens aéreas. Essa limitação fica clara na cena mais importante do roteiro (onde as personagens de Lemmertz e Flanagan confrontam-se) e a câmera se perde tentando correr atrás dos atores, numa falha formal inadmissível num filme de grande porte. O olhar telenovelesco assumido acaba por diluir o efeito do que acontece no enredo, embora seja uma mania bastante conhecida e até certo ponto compreensível na cinematografia de um país onde a dramaturgia diária de TV predomina dentro da indústria audiovisual.
A maior parte das pessoas (e uma parcela significativa do jornalismo especializado) deixará passar os erros e acertos de “Pequeno Segredo”, optando por polemizar em torno de duas impressões (uma falsa e outra verdadeira) que correm em paralelo ao filme em si. A falsa é aquela que tenta convencer a opinião pública de que “Pequeno Segredo” foi escolhido para tentar o Oscar porque a Academia (ou seus folclóricos “velhinhos”) supostamente é resistente a material polêmico e tem preferência por “temas familiares”, quando basta uma olhadela na lista de títulos premiados com o Oscar estrangeiro para encontrar aborto, estupro, holocausto, eutanásia e conflitos de identidade de gênero em repetição mais que suficiente.
A verdadeira é que, colocados lado a lado, “Aquarius” perde para o filme de Schurmann por fazer menos sentido, universalmente, ao apoiar-se excessivamente num contexto político especificamente brasileiro para construir fama – quando “Pequeno Segredo” anda melhor sozinho, mesmo cambaleando de vez em quando, assim como a garotinha que dá vida e sabor à trama. Independente de abaixo-assinados ou manifestos de rede social, gritos de “Fora Temer” ou reclamações de cineastas desapontados, quando batem na tela os dois filmes, uma menina doente emociona e desperta reações que podem, eventualmente, fazer diferença na hora da competição.
Apesar de seus méritos (localizados especialmente na escolha do elenco e na construção labiríntica do enredo que, aos poucos, revela sua solidez em meio ao alto número de protagonistas, narradores e pontos de vista diferentes), “Pequeno Segredo” sofre com as falhas típicas de uma cinematografia nascida e criada em um mercado construído artificialmente, onde a concorrência entre os filmes deu lugar ao repetitivo exercício de cineastas que não sabem muito bem como gastar o dinheiro (público) que têm a seu dispor.
Os momentos em que nos perguntamos se assistimos a uma novela (e não a um filme), com todas as implicações formais que tal constatação nos traz, são contudo defeitos que não encontramos apenas aqui, mas em praticamente toda uma geração de realizações nacionais e que, possivelmente, só diminuiriam de peso caso a indústria andasse pelas próprias pernas – e não dependente da máquina estatizada que engloba desde o financiamento dos filmes, passando por reserva de mercado, até a manifestação da comunidade que rejeita – por motivações políticas – este título em benefício de outro (no caso, “Aquarius”) também forjado dentro do mesmo ambiente no qual a “política cinematográfica” sobrepõe-se ao cinema em si. É um erro, ademais, contrapor um ao outro quando mesmo “Pequeno Segredo” é um filme tipicamente resultante do ambiente regulatório que deu origem ao dirigido por Mendonça, sendo beneficiado por governos em todas as esferas possíveis e tendo custado ao menos o dobro que o filme do pernambucano.
Na verdade, isso tudo acaba importando menos ao público – a verdadeira razão de ser de qualquer cinematografia, vencedora do Oscar ou não – que o real e “pequeno segredo”, que literalmente descortina-se num desfecho encantador e delicado – o qual, mais que “valer o ingresso”, é sua única justificativa.
Crítica | Através da Sombra
“Através da Sombra” é mais um longa que mostra de como o cinema brasileiro está arriscando em determinados gêneros, no caso o suspense psicológico. Mas ele é feliz em sua execução? Mais ou menos, pois temos um filme que tem uma parte técnica muito boa e funcional, mas que tropeça em um roteiro bem problemático e uma direção irregular.
Baseado no livro “A Volta no Parafuso” de Henry James, o longa se passa nos anos 30 e conta a história de Laura (Virgínia Cavendish), uma professora que é contratada por um homem rico (Domingos Montagner), para ser tutora de seus sobrinhos, que moram em uma fazenda no interior do Rio de Janeiro. Chegando ao local, a professora vê que nem tudo é o que parece principalmente por conta do estranho comportamento das duas crianças, Elisa e Antonio (Mel Maia e Xande Valois).
O primeiro ponto que merece destaque no longa é o trabalho visual, graças a ótima fotografia feita por Pedro Farkas junto com excepcional direção de arte de Clóvis Bueno. Ao usar movimentos de câmera sutis e uma paleta de cores que drenam as cores, a fotografia ajuda a criar a atmosfera junto com os cenários do filme. Vemos um local isolado de qualquer cidade, uma fazenda enorme e um casarão com vários corredores que deixam o clima mais sombrio.
Além de serem muito bonitas, são trabalhos muito eficientes no sentido narrativo, pois toda a noção de ambiguidade que o roteiro tenta passar é feita através da fotografia e pela direção de arte. Diria que o único problema da fotografia está em deixar o ambiente claro demais nos momentos de tensão, mas no geral ela funciona muito bem.
O elenco do filme consegue carregar bem a trama. Virgínia Cavendish cria uma protagonista a qual nos importamos e que tem presença, além da atriz criar sutilezas que completam a personagem. Como a sua repreensão sexual, como vemos ao momento em que ela encontra o personagem de Domingos Montagner. Através de pequenos gestos e olhares, vemos que a personagem tem um desejo oculto, mas que não pode expor. A veterana Ana Lucia Torre consegue criar a personagem mais ambígua do longa. A sua Dina é uma mulher que demonstra muito amor com as crianças, mas aparenta esconder algum segredo. Em quase todos os momentos se percebe que Dina tem alguma coisa por trás da superfície da bondosa governanta da casa.
Já as crianças vão bem até certo ponto, pois mesmo os dois tendo uma ótima química e aparentam ser irmãos, Mel Lisboa acaba sendo superior a Xande Valois, sendo que o último é que tem a maior responsabilidade do longa. Mel consegue deixar Elisa uma personagem muita mais misteriosa do que Xande com o seu Antonio. Além da garota ter uma ótima presença de tela. Já Xande deixa Antonio como um menino mimado e arrogante, mas raramente ele se torna um personagem realmente misterioso.
Infelizmente o longa caí muita por conta do roteiro fraco e da direção irregular de Walter Lima Jr.(Os Desafinados). Começa no roteiro, pois falha ao construir o desenvolvimento do mistério. Tudo é feito de maneira muito rápida e que não consegue prender o espectador, além da ambiguidade que falei que é mais mérito da direção de arte e da fotografia do que no texto, pois os personagens que eram pra ser ambíguos são mal construídos. O grande problema está na construção da trama e principalmente no seu final, que tenta ser ambíguo, mas soa como se a trama não se concluísse. Um roteiro muito problemático que acaba tirando o suspense.
Como já foi dito, a direção é irregular, pois alterna entre bons e maus momentos. “Através da Sombra” tem planos lindos e muito bem compostos, que dão vontade emoldurar, que ajudam a criar a atmosfera. Já outros momentos que são risíveis e que não dão medo ou tensão em ninguém. Só se for uma tensão momentânea, mas que não acompanha o resto do filme e fica claro que o objetivo é que esse clima seja constante, mas falha nesse aspecto.
Outro fator o qual faz o longa falhar nos momentos de suspense é a trilha sonora. Não que ela seja ruim, ao contrário ela é ótima. Só que ela é usada em excesso e serve pra dizer o que o espectador deve sentir em determinados momentos. Além de o diretor deixar ela muito alta nos momentos que deveriam ter silêncio e acaba dando um fim ao suspense. Não é um problema apenas desse filme, mas sim na maioria dos filmes nacionais que usam a trilha como muleta para emocionar o espectador.
“Através da Sombra” se mostra um projeto ousado, tecnicamente bem feito e com boas sacadas, mas no fim a sensação é que poderia ter sido um filme muito melhor. Vemos boas intenções, mas no cinema isso não é o bastante, é necessário uma boa execução.