em , ,

Crítica | After – Amor e Mediocridade

É comum que adaptações de livros para o cinema tenham diferença em relação a história abordada na literatura, mudando alguns elementos na trama original e tentando ficar o mais próximo possível do que os fãs queriam da obra no filme. After (Jenny Gage) é destas produções adaptadas que se tornaram filmes e que é inspirado no livro escrito por Anna Todd e que se tornou sucesso mundial por falar sobre um assunto já abordado em diversos livros, mas sob uma ótica diferente, algo que o longa tentou fazer, mas não conseguiu.

Por se tratar de um romance logo se vem a comparação com outras duas franquias bem sucedidas nas livrarias e também nos cinemas, caso de Crepúsculo que teve quatro filmes e a franquia Cinquenta Tons de Cinza com três longas. After vem nessa pegada, mas tentando dialogar com o público adolescente e adulto. A ideia da era a de criar um romance teen entre o protagonista rebelde Hardin Scott (Hero Fiennes-Tiffin) e a aparentemente garota ingênua Tessa Young (Josephine Langford), ao contar como pano de fundo a relação com a mãe de Tessa, sua rotina na faculdade e na criação de novos amigos. 

O que torna o longa de Jenny Gage uma produção terrível é o fraco roteiro adaptado assimilado com a péssima direção que aliados o transformam em um dos piores romances já feitos. O roteiro é extremamente óbvio no jeito que trabalha as situações, desde como os protagonistas se encontram, até as relações amorosas e familiares de Tessa Young. Essa obviedade é algo tão gritante que se você imaginar que algo irá acontecer em alguma cena ela realmente acontece, não há um mínimo trabalho em tentar surpreender o telespectador. Há um plot twist próximo ao final que tem essa missão de tentar causar uma surpresa no público, mas do jeito que foi trabalhado e de feito de forma tão preguiçosa que causa um efeito contrário. A ideia era a de criar uma empolgação no telespectador com uma trama tão piegas que chega a dar sono.

Romances têm como proposta apresentar personagens apaixonados e que vivam um amor incondicional, algo que acontece em After. Mas esse romance é tão mal estruturado e construído que o relacionamento mais parecia um entusiasmo entre dois jovens que uma paixão ardente propriamente dita. Não havia sentimento nas cenas em que os dois protagonistas estão juntos, nem as cenas mais quentes empolgavam de tão mal elaboradas que foram. A proposta era a de fazer um romance, mas as cenas de amor são tão toscas que é inevitável não causar  um humor não intencional em quem assiste, é difícil não rir nas cenas apaixonadas que eram para ser sérias. Esse relacionamento entre Tessa e Hardin é apresentado desde o início da história, mas perde-se uma grande parte do tempo do filme mostrando os dois juntos, algo que acaba tornando a trama extremamente maçante e repetitiva. Mostram os dois juntos, então corta para uma outra cena em que estão juntos e depois para outra cena juntos, nada acontece nessas partes  a não ser beijos e cenas vazias dos dois juntos. 

Há outra relação em After que poderia ter dado uma grande sacudida na história. Os momentos em que Tessa está com sua mãe Carol Young (Selma Blair) são os mais interessantes e é bastante triste que elas sejam curtas e rápidas. Tais cenas dão uma levantada nos acontecimentos que a protagonista vive e dão maior empolgação para o público que busca uma subtrama que seja mais empolgante que o relacionamento principal entre o casal. A mãe, queira ou não, é não apenas o sinal de alerta de Tessa para o perigo que o relacionamento possa ser, mas também uma espécie de consciência da garota que poderia ter sido muito melhor aproveitada do que foi.

Os personagens são extremamente mal concebidos e mal trabalhados. Em um primeiro momento parece que há algo de interessante em Hardin, sua relação com a mãe e com seu novo padrasto e seu novo meio irmão filho do padrasto. Há uma rebeldia nele que não é desenvolvida e deixa um grande vácuo em seu personagem, pois não se entende de onde vem tanta raiva e até mesmo esse sentimento de ódio é algo mal explorado. Já Tessa é a mesma coisa, há uma relação amistosa com a mãe que depois passa a ser conflituosa e nada mais que isso. Não há um trabalho em dizer por que ela não tem muitos amigos ou até mesmo o seu relacionamento com seu namoro antes de conhecer Hardin. A principal personagem e a mais interessante é Carol Young, têm bons momentos e é feita na medida certa. 

Se há um acerto em After é em relação a escalação de Selma Blair para viver a mãe de Tessa, a atriz foi diagnosticada com Esclerose Múltipla e muitos achavam que ela poderia parar de atuar. Selma Blair está ótima e há uma grande diferença em sua atuação em relação ao dos personagens principais. Josephine Lagnford apesar de inexperiente é bastante esforçada e quando está sozinha até que se sai bem, o problema é quando está atuando junto com Hero Fiennes que pode até não ser um péssimo ator, mas no longa ele está tão ruim que é difícil não rir de sua interpretação. 

Colocar diretores inexperientes em produções de que podem gerar uma grande bilheteria é algo bastante comum e a escolha de Jenny Gage é uma surpresa e um grande erro, pois não é uma diretora com uma vasta cinematografia,. algo que ajudou bastante em transformar um filme que tinha tudo para ser interessante em uma grande bizarrice de gênero, pois sua inexperiência pesou em alguns momentos. Os caminhos escolhidos para levar alguns personagens e algumas situações mostradas são tão mal feitas que é de se espantar que uma produção de Hollywood tenha caído em tais erros que mais beiram o amadorismo. O trabalho com os atores foi péssimo, tanto que a cena que os dois estão juntos são extremamente decepcionantes. Há muitas outras cenas mal filmadas, câmeras colocadas em locais errados, enquadramentos péssimos, fatos que nem YouTubers errariam Jenny consegue errar.

Possivelmente After foi feito mais pensando nos fãs que no público em geral, o que é um grande erro, já que há muitos telespectadores ávidos por esse tipo de produção, ainda mais os que ficaram órfãos de franquias recentes como Cinquenta Tons de Cinza. Por ser uma franquia literária é possível que novos filmes sejam feitos, mas há de se fazer um grande trabalho de recuperação para futuras continuações, uma mudança no tratamento da história e uma busca em melhorar a imagem do filme frente ao público. Somente o tempo irá dizer se haverá novas sequências e caso aconteçam que os fãs rezem para que não seja tão ruim quanto este. 

After (idem – EUA, 2019)

Direção: Jenny Gage
Roteiro: Susan McMartin, Anna Todd (livro)
Elenco: Josephine Langford, Hero Fiennes Tiffin, Selma Blair, Jennifer Beals, Peter Gallagher, Meadow Williams, Samuel Larsen, Inanna Sarkis
Gênero: Drama, Romance
Duração: 106 min.

Avatar

Publicado por Gabriel Danius

Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

Deixe uma resposta

Lista | 5 Filmes para começar David Cronenberg

Crítica | O Mundo Sombrio de Sabrina: 2ª Temporada – O Inferno na Terra