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Crítica | Amigos Para Sempre – Um remake eficiente, mas desnecessário

Lançado em 2011, Os Intocáveis logo se tornou um sucesso de público e crítica não apenas em seu local de origem na França, mas no mundo todo. A produção dirigida por Olivier Nakache e Éric Toledano trazia uma trama sensível e bela sobre diferenças e relações humanas. Um filme único e difícil de se pensar feito com outro elenco ou de outro jeito, mas isso aconteceu e o resultado está no remake americano, Amigos Para Sempre (Neil Burger).

A ideia do longa é a de colocar os dois protagonistas Phillip Lacasse (Bryan Cranston) e Dell Scott (Kevin Hart) que vivem em lados opostos da sociedade para um primeiro confronto que logo se tornaria a sustentação de todo o roteiro. Lacasse vive bem com o dinheiro que recebeu antes do acidente que tirou seus movimentos das pernas e dos braços e por isso depende de alguém para cuidar dele, já Dell Scott é um homem que vive um dia após o outro, sem um futuro profissional aparente, poucos acreditam em seu potencial até que o encontro com Lacasse mudasse sua vida. 

Não é uma produção brilhante como o original conseguiu ao retratar um tema tão interessante com tanta intensidade e profundidade. Neil Burger fez o que sentia vontade na história e trabalhou o tema como achava que devia fazer, desenvolveu os personagens mostrando suas vidas e os problemas de cada um, suas diferenças e depois criou uma trama colocando até um ar de mistério em relação a vida amorosa de Lacasse e sobre o futuro pessoal de Dell Scott, fatores que ajudaram a dar uma maior sustentabilidade ao personagem de Bryan Craston

Os dramas vivido pelos personagens é uma escolha interessante feita pelo roteiro, mas a dramaticidade é totalmente apagada pelas piadas frequentes. Não há emoção nas cenas de dor e sofrimento dos protagonistas, a carga pesada é retirada hora pela quebra da ação para outra cena, hora pela escolha de uma carga mais leve para a situação ocorrida. Sempre que o diretor tentar criar um drama pesado ele vai pelo caminho errado, acaba caindo em outros sentimentos que não são o que quer passar para o público. Como, por exemplo, a cena em que Lacasse encontra com uma desconhecida, na qual se corresponde por um bom período de tempo, há uma escolha por tentar criar um drama sobre a limitação do personagem rico que se sente inutilizado, mas esse argumento é tão mal utilizado e um pouco forçado que tira toda a força dramática da cena. E não é a única vez que isso ocorre, pois há outras situações em que isso acontece. 

Algo que realmente aborrece é a escolha do humor empregado. Fazer humor com um filme que tem uma carga tão dramática quanto este tem é algo um pouco complicado, ainda mais se for tentar fazer algo espontâneo, como Os Intocáveis conseguiu fazer. Não a toa o humorista Kevin Hart foi designado para o papel, realmente seu personagem parece ter sido escrito para ele, pois sempre aparece com tiradas cômicas e engraçadas. De início, o humor é uma saída inteligente do roteiro para dar maior envolvimento do público com a história e para dar maior leveza para um filme de carga pesada. 

O problema está na frequência com que essas piadas são feitas, praticamente a todo o instante. Não passa um minuto sem que Kevin Hart não faça uma piada. Na primeira meia hora é interessante ver um homem pobre conhecendo o mundo de um homem rico, quando Dell Scott começa a cuidar de Lacasse ocorrem situações que realmente demandam um humor. Em Amigos para Sempre esse é um artifício utilizado tantas e tantas vezes que começa a ficar chato, cansativo e em alguns momentos idiota, isso para não dizer desnecessário. Um exemplo são as conversas românticas que Dell Scott tinha com a personagem de Nicole Kidman, eram tão infantis e bombas que chegavam a ser constrangedoras. 

Um roteiro que se prende no humor para desenvolver toda a ação precisa de um bom humorista para usar esse elemento com mastreia. Kevin Hart se sai bem como o cara pobre que vai descobrindo um mundo novo, cheio de novidades e vai encontrando no dia a dia uma realidade diferente da que vivia até pouco tempo atrás. Se sai tão bem que rouba totalmente o filme, o protagonista começa a ser só seu e escanteia os outros personagens. Kevin está tão solto em cena que parece estar apresentando um show de comédia de stand up. Claro que por ser focado quase que exclusivamente em seu personagem algumas de suas tiradas ou situações são forçadas, algo que acaba tirando a força do roteiro e mudando um elemento tão interessante que se encontrava na versão francesa, que é a do humor espontâneo. 

Bryan Cranston, mesmo seu personagem não tendo todo o protagonismo que se imaginava que teria, está bem no papel do homem que está preso a uma cadeira para o resto da vida e precisa de alguém para o ajudar. O problema é que seu papel não ajuda muito e são poucos os momentos dramáticos que podemos presenciar realmente o quão bom ator ele é. Coloca a alma em sua interpretação, é simpático quando precisa e alegre quando necessário. Nicole Kidman não convence em sua interpretação, sua personagem é horrível, para não dizer sonsa. Até se entende que é uma mulher contida, sem alegria e que guarda seus sentimentos para si, mas fica óbvio desde o início o porque dela estar lá.

Remakes americanos de filmes de outros países geram histórias interessantes, mas que acabam perdem o real significado da versão original. Ao se adaptar para a cultura americana há uma perca significante quanto a roteiro e trabalho da trama, e o longa dirigido por Neil Burger é dessas produções que se prendem bastante nos personagens e nas situações para criar algo novo. A mudança aqui foi tão grande que acabou perdendo a alma do original, se tornando um filme vazio e que não acrescenta em nada ao que já foi visto por aí.

O final é daquelas situações que estão no roteiro justamente para dar um ar de felicidade para o protagonista. A ideia é que a felicidade pode estar ao seu lado e que o amor é um sentimento que não enxerga formas físicas. Uma mensagem bonita, mas vazia e sem profundidade, pois o trabalho desse sentimento até chegar ao final não acontece. O diretor não quis fazer algo óbvio, mas acabou justamente fazendo o contrário, pois o final é justamente óbvio e nada original.

Amigos para Sempre é uma produção para se assistir com toda a família, pois há conflitos e questões interessantes que geram discussões e podem ser aproveitadas ao se assistir em grupo. O problema mesmo é em relação ao roteiro que não soube aproveitar uma trama tão interessante para se aprofundar em vários questionamentos, oportunidades existiram, como o pensamento de Lacasse em se matar por estar cansado de estar naquela situação, assim como muitas outras que o diretor tem a chance de discutir melhor, mas acaba não fazendo. 

Amigos Para Sempre (The Upside, EUA – 2017)

Direção: Neil Burger
Roteiro: Jon Hartmere
Vozes originais:Kevin Hart, Bryan Cranston, Nicole Kidman, Aja Naomi King, Jahi Di’Allo Winston, Genevieve Angelson, Golshifteh Farahani
Gênero: Comédia, Drama
Duração: 125 minutos

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Publicado por Gabriel Danius

Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

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