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Crítica | Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola – Uma Comédia de (Muitos) Erros

Danilo Gentili é um dos humoristas mais populares de sua geração. Ele, assim como muitos outros, nasceram ou na internet ou em shows de humor de stand up comedy. Sempre foi a favor de que o humor não tenha limite e de que o politicamente correto é desnecessário. No filme Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola o ator faz aquilo que os fãs buscam em suas produções, com um roteiro que soa como uma provocação para aqueles que defendem o politicamente correto.

Dirigido por Fabrício Bittar, o longa e é baseado no livro de autoria do próprio Gentili e falha ao tentar adaptar uma história que é bastante discutida no cenário atual. Hoje em dia vivemos em um mundo totalmente diferente de dez, vinte, trinta anos atrás. A escola em cada época foi diferente e não só ela, mas o jeito de ensinar e até mesmo os alunos que viviam em um tempo sem celulares e sem internet tinham um comportamento diferente. e a ideia era a de fazer um humor escrachado com a sociedade atual. 

Um tema que é muito debatido atualmente e que antigamente não era nem se quer de conhecimento público é a questão do bullying, que é o ato de praticar “zoeiras” excessivas contra uma pessoa por causa de sua cor, raça ou religião. Gentili e o diretor até tentam organizar uma crítica ao politicamente correto, mas falham miseravelmente. Fica claro nas frases dos personagens, principalmente dos protagonistas, que não há um aprofundamento nessas discussões. 

Na trama, os estudantes Bernado (Bruno Munhoz) e Pedro (Daniel Pimentel) são dois alunos que vivem o cotidiano normal de dois alunos em uma escola. Precisam fazer as tarefas de casa e ir bem nas provas. Pedro não vai bem no colégio, antes era o melhor aluno da escola, mas depois da morte de seu pai, seu rendimento despenca. Já no nono ano se torna uma decepção, tanto para os professores como para o diretor (Carlos Villagrán) que cobra atenção do garoto para que tire um 10 na prova final, só assim passaria de ano. Essa é a missão de Pedro, estudar para tirar um dez. É então que encontra uma caixa com objetos antigos e vai procurar o dono desses objetos junto com seu amigo. 

Essas bugigangas eram do personagem de Danilo Gentili que estudou na escola há muito tempo. Na época, era o pior aluno da escola. Ele treina os dois garotos para se tornarem os piores alunos da escola. É a partir do momento que Pedro encontra o personagem de Gentili que toda a trama começa a fluir. O garoto então inocente tem o caminho desvirtuado e aprende a fazer todo o tipo de coisa para infernizar a vida dos professores e do diretor. Ele dá aulas de como deixar de ser um “cabaço”  e parar de ser certinho e começar a ser mais malandro.

Danilo Gentili sempre teve seu nome envolvido em polêmicas. A última é que teria dado vodka, por acidente, para Maisa beber em seu talk show The Noite. No filme não poderia ser diferente, há algumas cenas que chamam a atenção por serem polêmicas. A primeira é quando o personagem de Bruno Munhoz tem que pegar no pênis de Fábio Porchat logo no início. Já a outra envolve um garoto praticar terrorismo contra a escola no final do filme. Essas foram escolhas do diretor junto com Danilo Gentili para que fossem filmadas. Elas podem chocar em um primeiro momento, mas depois você percebe que tudo aquilo está inserido dentro do contexto que o longa apresenta. 

Gentili não esta nem aí em chocar o público. O politicamente incorreto é o que prevalece com cenas escatológicas, garotos bebendo álcool e até mesmo bullying pesado contra os professores. Só que a maioria dessas partes não são engraçadas e por ser uma comédia isso é uma falha grave. O humor que tanto fez a fama do apresentador aqui  é fraco e raso. Precisa forçar ao extremo as situações para trazer a risada. Gentili apenas ensinou os garotos a serem os piores alunos da sala por que quis, não teve uma motivação aparente. 

Outro assunto debatido no filme sem muita profundidade, é a de qual seria a real função da escola. Coloca os professores e os próprios métodos de ensino como arcaicos e apresenta os magistrados como sendo todos ultrapassados. De início é uma cena bastante inteligente, mas depois se excede e acaba ficando repetitivo, e o diálogo com o porque precisamos ir à escola para estudar fica em segundo plano dando lugar a busca do garoto por Gentili. 

Depois que Danilo entra em cena é que entendemos qual a real história que o filme quer contar. Os garotos o encontram e pedem para que os ajudem a tirar dez na prova final. Só que Gentili tem desavenças com o antigo diretor e quer de alguma forma se vingar dele e vai usar os garotos para o atingir. O que antes parecia um filme se tornou outro, seria até o caso de pensar se o uso do personagem de Danilo era realmente útil para o longa e se não seria melhor focar nos garotos na escola e colocar um vilão em seu lugar, que seria obviamente Carlos Villagrán.

Por sinal, o uso de Carlos Villagrán (o eterno Kiko de Chaves) como antagonista é um acerto. Foi ótimo vê-lo em um papel que não seja o mesmo que fez em quase toda sua carreira profissional. Há até uma piada muito bem jogada sobre isso em uma discussão entre Gentili e Villágran. Ele está ótimo como diretor, seria bastante interessante terem usado ele como um vilão que atormenta os garotos, aqui ele está mais para um disciplinador que para um diretor cruel. Outro que apareceu pouco, mas muito bem foi Fábio Porchat, que interpreta um homem tarado com forte tendências para abusar de crianças. Mesmo sendo um personagem jogado ali e sem propósito, tem sua graça, principalmente na cena final que realmente foi hilária.

Já a atuação de Danilo Gentili ficou muito superficial sendo ele mesmo. Quem vai ao cinema assistir a um filme com o humorista quer vê-lo fazendo mais do que já faz no Talk Show. Sua atuação é engessada e não tem uma presença que seja a altura de Villágran. A única cena que os dois são colocados juntos fica clara a diferença de atuação entre os dois. 

Obviamente, a produção não é para o público infantil, mas sim para adolescentes e adultos que sejam fãs de filmes politicamente incorretos ao estilo American Pie ou Superbad.  Gentili ganhou bastante experiência aqui e deve aprender uma lição que é a de que fazer humor de talk show é diferente de fazer humor para o cinema, a linguagem é diferente de um para outro. 

Não se vê nenhuma piada espetacular por parte dele, há alguns momentos cômicos e só. Gentili crítica quem fica dando sermão sobre bullying e sobre o politicamente correto e esqueceu de que era uma comédia que podia ter sido muito melhor explorada. É uma boa produção que sai do lugar comum das comédias brasileiras. Ele tenta chamar a atenção para algo que seria a mudança do comportamento da sociedade, principalmente em relação aos adolescentes de que o politicamente correto estaria deixando os jovens muito certinhos. 

Escrito por Gabriel Danius

Como se Tornar o Pior Aluno da Escola (Brasil – 2017)

Direção: Fabrício Bittar
Roteiro: Danilo Gentili, do livro Como Se Tornar O Pior Aluno da Escola
Elenco: Bruno Munhoz, Danilo Gentili, Carlos Villagrán, Moacyr Franco, Fábio Porchat, Daniel Pimentel, Raul Gazolla, Joana Fomm, Rogério Skylab
Gênero: Comédia
Duração: 90 minutos

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Publicado por Gabriel Danius

Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

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