O fracasso de Halloween III: A Noite das Bruxas havia custado caro para a Universal Pictures. Desinteressada em produzir novos longas de terror na franquia Halloween – agora dormente por meia década-, o produtor Moustapha Akkad buscava uma nova casa para tocar o barco novamente, e com a clara intenção de trazer de volta o assassino Michael Myers; cuja ausência teria sido o principal motivo pela fraca resposta do público em relação ao terceiro filme – tirando o fato de ser um filme medíocre, claro. Akkad recorreu à Trancas International (e a distribuição ficou com a Fox) e também a John Carpenter e Debra Hill, mas as negociações acabaram indo por água abaixo quando o casal e Akkad entraram em desavenças criativas, e todos os direitos sobre a franquia acabaram ficando com Akkad.
Assim, rejeitando o pitch “cerebral demais” do roteirista Dennis Etchison e a sugestão de Carpenter de Joe Dante para dirigir, Halloween 4: O Retorno de Michael Myers é uma tentativa de voltar às raízes mais simples do original. E ainda que a ideia original de Etchison de fato fosse mais interessante, este quarto filme é a melhor continuação da franquia até então.
Assumindo os dez anos que passaram desde o primeiro filme, a trama começa quando o detento Michael Myers (George P. Willbur) novamente encontra uma maneira de fugir das autoridades; rapidamente despertando a atenção e paranoia de seu antigo terapeuta, o Dr. Samuel Loomis (Donald Pleasence). Com Laurie Strode (Jamie Lee Curtis) morta neste intervalo de tempo, descobrimos que ela deixou uma filha de 7 anos convenientemente chamada Jamie (Danielle Harris), que acaba tornando-se o alvo principal de Myers durante seu retorno à cidade de Haddonfield.
A premissa assume exatamente o que o público quer ver: Michael Myers em sua matança desenfreada. Da mesma forma como a franquia Sexta-Feira 13 errou em apostar em uma continuação sem Jason Voorhees em Um Novo Começo, Akkad faz um caminho similar ao do assassino de Crystal Lake e estabelece no título o retorno do assassino; em mais uma lição da franquia da Paramount, que batizara o capítulo seguinte de Jason Vive – e essa não seria a última lição tirada de Jason, mas chegaremos lá. Sem máscaras de Halloween macabras ou muitas invencionices, o roteiro de Alan B. McElroy surge quase como uma nostálgica viagem ao passado, novamente trazendo o clima da noite de Dia das Bruxas e os pequenos dramas adolescentes de novos personagens. Não é um trabalho brilhante, até mesmo por termos Loomis retornando vivo após ter sido explodido junto com Michael no final do segundo capítulo, e sua obsessão em torno de Myers novamente apelando para frases ridículas como “ele não é um homem, ele é o mal”.
O diferencial, e aí venho novamente oferecer um eco com Sexta-Feira 13, é a introdução de uma criança no centro da história. Assim como Corey Feldman tornou O Capítulo Final uma experiência muito mais interessante, a pequena Danielle Harris é capaz de provocar empatia ao longo da narrativa, seja pelo fato de sofrer um pesado bullying por sua trágica condição (a de ser uma órfã), a saudade de sua mãe e a relação eficiente com sua irmã adotiva, Rachel (Ellie Cornell). A mera imagem de Harris correndo desajeitadamente por uma rua escura com uma fantasia de palhaço é um bom representante do tipo de terror do filme, que explora de forma competente – ainda que abruptamente – a perda da inocência.
Na direção, Dwight H. Little faz o seu melhor para emular o estilo de John Carpenter (chegando até mesmo a oferecer uma bela rima com o prólogo em POV do original), mas oferece uma abordagem diferente para Myers. Antes um assassino silencioso das sombras, sua figura agora é a de um ser praticamente invulnerável e bruto, do tipo que usa uma espingarda para empalar suas vítimas contra a parede. Os jump scares são mais presentes dessa forma, mas Little consegue captar o senso de perigo à solta quando a narrativa estabelece um apagão em Haddonfield, fazendo com que um grupo de policiais saia pelas ruas para caçar Michael. Com a fotografia azulada e marcada por névoas de Peter Lyons Collister e a eficiente trilha sonora de Alan Howarth (que é feliz sem os sintetizadores de Carpenter, ainda que seu tema esteja presente), é possível, sim, ter momentos de tensão.
Só há um gigantesco problema nessa questão: inexplicavelmente, a máscara de Michael Myers é ridícula. Parecendo uma imitação barata da original, é impossível não olhar para este Michael e esboçar uma risada involuntária, já que parecemos estar diante de uma boneca inflável gigante. O grande mérito é quando Myers não usa o icônico visual, aparecendo com o rosto enfaixado nas cenas iniciais; consequência de sua incineração no segundo filme.
Mesmo que seja uma reciclagem de outras ideias da concorrência – e nem de longe se equipare ao brilhantismo do original – O Retorno de Michael Myers é uma boa continuação. É eficiente em atualizar e trazer novas ideias para o mesmo conceito claustrofóbico e da noite de Halloween, ao mesmo tempo em que oferece rimas inteligentes com seu primogênito. A lição fora aprendida: não se mexa em time que está ganhando, muito menos quando seu capitão é Michael Myers.
Halloween 4: O Retorno de Michael Myers (Halloween 4: The Return of Michael Myers, EUA – 1988)
Direção: Dwight H. Little
Roteiro: Alan B. McElroy, baseado nos personagens de John Carpenter e Debra Hill
Elenco: Donald Pleasence, Ellie Cornell, Danielle Harris, George P. Willbur, Michael Pataki, Beau Starr, Kathleen Kinmont, Sasha Jenson
Gênero: Terror
Duração: 88 min