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Crítica | O Outro Lado do Vento – A Ressurreição da última obra-prima de um Gênio Esquecido

No meio das usuais conversas sobre diretores “à frente do seu tempo”, com certeza já devem ter ouvido o nome de Orson Welles sempre sendo citado, e exaltando sobre seu grande feito histórico com Cidadão Kane e sua revolução universal da técnica cinematográfica que inspirou e definiu gerações à fio. Poderíamos passar horas aqui discutindo como o mesmo se refletiu em todos os seus filmes subsequentes, e até hoje extremamente subestimados, mas tome o filme em questão aqui como um dos maiores exemplos da atemporalidade de Orson Welles.

Afinal como alguém, Welles incluso, poderiam prever que O Outro Lado do Vento sequer seria um dia lançado, ou que se tornaria um dos melhores filmes de 2018, décadas depois, e que seria uma das maiores pérolas da rede streaming da Netflix? Imprevisível e inegavelmente brilhante. Pelo menos para aqueles que realmente abraçaram ou sequer compreenderam a investida tanto narrativa quanto técnica que Welles realizara aqui na década de 70, que tanto seria uma retratação fidedigna do cinema e o universo hollywoodiano de seu tempo, e quem sabe, talvez, o de agora também.

Escuso também dissecar aqui toda a longa, polêmica e triste história envolvendo as filmagens e produção de O Outro Lado do Vento, que quase tomou a década de 70 inteira em extensas gravações; refilmagens repentinas; cortes orçamentários e problemas graves de direitos autorais da produção. Enfim, Serei Amado quando Morrer, um excelente documentário sobre tudo isso, lançado em simultâneo com o filme na Netflix e serve quase como um making of perfeito para todo o drama dessa história. A história em questão aqui é sobre o breve retorno à vida de Orson Welles no cinema (ou Netflix).

A Breve ressurreição de Orson Welles

Sendo posto de volta à vida graças a compra da Netflix que garantiu o produtor Frank Marshall (Os Caçadores da arca Perdida, Sinais) e o trabalho de montagem adicional de Bob Murawski (Trilogia Homem-Aranha, Guerra ao Terror), um pequeno empréstimo do amigo Sam Raimi, também especulado estar envolvido no novo financiamento da restauração do filme junto com nomes como Wes Anderson e Noah Baumbach, e claro Peter Bogdanovich (A Última Sessão de Cinema, Lua de Papel) e Beatrice Welles, filha do gênio em questão, e trouxeram a vida O Outro Lado do Vento, o último trabalho como diretor que Welles faria em vida.

A trama pode soar bizarra mas simples de se entender em base. Na mais simples definição, é um filme dividido entre duas secções. Um dos filmes é um documentário gravado à comando do cinegrafista Brooks Otterlake (Peter Bogdnanovich) documentando o aniversário do diretor Jake Hannaford (John Huston) e uma festa organizada por cineastas e repórteres para assistirem uma prévia de seu novo filme, também intitulado, O Outro Lado do Vento, cuja produção fora pausada por falta de verba e a morte do ator protagonista, John Dale (Robert Random). O que seria no mesmo dia da misteriosa morte do próprio Hannaford.

Enquanto a outra seção da narrativa, é a exibição do filme em simultâneo, que consiste no personagem motoqueiro de John Dale seguindo uma misteriosa mulher indígena (Oja Kodar) por um caminho bem obscuro e misterioso. Com as duas histórias acontecendo simultaneamente, uma dentro da outra. Mas o fator tão diferencial e marca registrada de Welles em cima do filme é se tratar de um “mocumentário”, um filme representando eventos de ficção, mas apresentados como se fosse um documentário. Mas que não deixa de soar como se fossem fatos quase verídicos da vida íntima de Welles e daqueles à sua volta.

A narração inicial em off de Brooks Otterlake, já denota isso quanto este diz estar documentando a misteriosa morte do amigo diretor Jake Hannaford, ao mesmo tempo que quase soa como um testemunho metalinguístico do próprio Peter Bogdnanovich ao falar de sua relação real com Welles ou na forma com que ele o retratou no personagem em que interpreta, errada, exagerada ou caricata? Que não compreendeu os sentimentos verdadeiros dele para com Welles, mas que para ele não se importa mais, apenas dar vida ao filme do velho amigo

E que, na melhor forma Welles de ser, relata a formação do filme e da narrativa assim como O Outro Lado do Vento se formou de fato, através do resgate de cenas e registros de cineastas e documentários que testemunharam a última festa de Jake Hannaford antes de sua morte, ou do resgate de todo o material filmado por Welles antes de sua decaída como artista em Hollywood.

E que, nas próprias palavras de Bogdnanovich, ou Otterlake, serve como um testemunho cinematográfico do artista e do homem que Hannaford, ou Welles, foram em seus últimos dias como diretor, vindo de um passado de glórias e buscando se adequar no cenário atual do cinema. Ficção e realidade andando de mãos dadas quase como sendo a mesma dentro e fora do filme.

Orson Welles na Nova Hollywood

Algo que o mundo com certeza perdeu a chance de ver se concretizar na época, que foi a chegada de Welles na era avant-garde do cinema americano, vindo de uma carreira iniciada no drama clássico nos anos 40 com Cidadão Kane e Soberba, passando pelo cinema Noir com Marca da Maldade e Dama de Shangai nos anos 50 e indo para o drama Shakespeariano com sua não oficial trilogia Otelo, Macbeth e Falstaff – O Toque da Meia-noite; chegaria a hora do mestre se aventurar na era dos cineastas jovens quebrando as normativas de estúdio e do cinema da velha Hollywood, apostando em filmes de autor e com um forte pé na realidade e no drama trágico de personagens. E Orson Welles, sendo o rebelde que sempre foi, estava pra se encaixar como uma luva nessa nova era.

Mesmo que O Outro Lado do Vento demonstre o quanto ele ainda se mantivesse o mesmo em seu estilo próprio e único, Welles estava em busca de inovar o que poderia se esperar da técnica e forma do cinema em sua época, e usa da história do diretor decadente de Hannaford como forma perfeita para isso.

O roteiro descreve diálogos carregados de nuances em temas tanto expelidos e explorados ao longo do filme, como novamente o fator criativo do diretor em fazer seu cinema numa época que não à dele; a adoção de técnicas e estilos modernos que possam atrair o grande público do “hoje”; a presença de jovens cineastas na festa de Jake discutindo o verdadeiro valor do cinema no cenário atual ou o que ele realmente apresenta no que outrora era a Nova Hollywood.

A diferença entre fazer um filme bom e um filme excelente. Poderia isso se refletir entre o filme feito por Hannaford, um suposto filme art-house com pretensões enigmáticas, e o falso documentário satírico de Welles?! Talvez. Um pouco pretensioso e ególatra por parte do diretor? Com certeza, mas quem disse que isso é algo ruim?! É exatamente por isso que Welles está se aventurando aqui fora de seu status como suposto mestre pilar que muitos lhe colocavam, e viria aqui adotar uma linguagem mais “amadora” ao mesmo tempo que carregue um certo toque classicista. Talvez demonstrado que não há uma distância tão grande entre ambos.

Há uma tonalidade bem próxima do brega na conjuntura dos diálogos, com longas pausas para efeito dramático e trocas de olhares penetrantes, com os personagens andando para um lado e para o outro enquanto o seu público de câmeras os cercam, o que mostra uma clara estrutura teatral adotada, com lugar para até monólogos repentinos e de efeito complexo e dramático quando vemos Hannaford do nada divagando sobre como “filmes e amizades são mistérios”.

Que dividem espaço com os jovens cineastas e repórteres cinéfilos discutindo tanto sobre o cinema de Jake Hannaford como sobre suas intenções cinematográficas no cenário atual, e sobre o que raio se trata o seu filme (uma sutil tênue linha de mistério do filme, como todo filme de Welles possui), e a montagem intercala seus diálogos com os manequins de John Dale sendo carregados, onde você não pode evitar se não rir da forma com que Welles está tirando sarro dessa geração tão jovem com seus discursos pífios, idéias fúteis e pretensões inequívocas.

Contendo rápidas cameos de diretores como Claude Chabrol (Mulheres Diabólicas), Curtis Harrington (A Noite do Terror), Paul Mazursky (Bob, Carol, Ted E Alice), Henry Jaglom (Someone to Love) e Dennis Hooper (Sem Destino) e críticos como Pauline Kael basicamente interpretando ela mesma. O que torna todas as discussões desses personagens, embora carregadas de nuances sobre a forma social de idéias que indústria a indústria se forma, também mostram como Welles está pouco se lixando para tudo que dizem, pensam ou podem representar para o que é o cinema em si. O que indica um dos motivos pela escolha da linguagem documental que Welles adota aqui, que vai além do que sendo puro experimentalismo.

Documentando a falsa arte

A linguagem puramente documental não é um estilo de filmagem que poderiam imediatamente se relacionar à Welles, mesmo que essa não tenha sido sua primeira e única excursão no mesmo, o que tanto prova sua imensa versatilidade nunca bem reconhecida como um exímio diretor visual como também inventividade ao adotar essa linguagem em uma narrativa ficcional e dramática que segue sim os moldes de três atos de estrutura, mesmo dentro de um desenvolvimento consistindo em cortes rápidos e abruptos e que exigem sim a máxima atenção do público para o que ele tem a dizer em seu desenvolvimento.

E o filme dentro do filme seria Hannaford, como uma óbvia personificação de Welles, no cenário atual tentando realizar um filme de cunho “artístico” tentando atingir o gosto da nova massa, ou melhor, realizando um filme que ele nunca realizaria, mas que está completamente satirizando o tom e estrutura de dramas Europeus, principalmente os filmes de Michelangelo Antonioni como: A Aventura, O Eclipse, Blow Up, Zabriskie Point

Sendo esse suposto filme de stalkerismo e suspense erótico nos moldes europeus de linguagem nula e contemplativa, passando inicialmente pelos cenários da Nova Hollywood cheio de motoqueiros, drogas, sexo e rock’n roll, e depois no final passando por cenários que lembram a velha Hollywood como uma viela que lembra uma clássica cidade Noir isolada ou um cenário de um filme Western abandonado. Uma cutucada violenta de Welles em querer demonstrar a total decadência da velha Hollywood agora dominada pelo silêncio inóspito da Nova Hollywood, onde só o violento vendo destruindo suas estruturas que se é ouvido.

Com seu forte teor erótico representando na misteriosa personagem feminina podendo facilmente ser interpretado como quase que uma personificação dos desejos “não puritanos” de Orson Welles. Não à toa, a atriz Oja era sua amante na vida real e subtende-se que é também de Hannaford dentro do filme, constantemente se dirigindo à ela como Pocahontas e ela denotando uma raiva latente e misteriosa em seu olhar, em “ambos os filmes”.

Todo um mistério de relações presente em ambas seções, em uma um ar de dominação sexual de uma força feminina misteriosa e perigosa sobre um jovem ingênuo, e na outra relações mais pútridas entre o diretor e o jovem ator protagonista que claramente mostra sinais de pressão e assédio psicológico quanto com sua misteriosa atriz co-protagonista. Tudo escondido ou apresentado como ecos entre a montagem corriqueira e misteriosa.

Um trabalho de montagem esse de Bob Murawski (e também previamente de Orson Welles) fantástica em sua proposta, mas que infelizmente fora acusada por alguns de fraudaria e “amadora”, talvez exatamente de forma proposital e seguindo o exato intuito original de Welles, sem falar que várias partes do filme já tinham sido montadas pelo mesmo. E é impressionante ver como tudo consegue ter uma continuidade lógica mesmo após ter passado por quase cem horas de filmagem e sofrido duras refilmagens, principalmente envolvendo todas as cenas com o ator Rich Little que originalmente estava interpretando o personagem de Otterlake, onde aliás dá pra se notar alguns poucos e rápidos takes de footage e silhuetas dele ainda presente para deixar a continuidade narrativa prosseguindo muito bem.

Tanto que as cenas voltadas para a comédia onde Bogdnanovich interpretava um repórter com os mesmos três jeitos de Jerry Lewis tiveram que ser cortadas. Não querendo dizer que o humor esteja ausente, muito pelo contrário, mesmo em um filme carregado de toques sarcásticos e amargos, é uma narrativa carregada de tiradas rápidas, improvisos exaltados dos atores e inúmeras piadas sutis envolvendo a indústria. Até na forma em que o filme é organizado provoca-se risos nervosos pela estrutura quase caótica em que se constrói.

A forma com que cada frame picotado de diferentes câmeras e ângulos, em cores e P&B se colidem sucessivamente, tudo se torna quase um festival surrealista com cores cristalinas e granuladas e diálogos ininterruptos entre velhos e jovens cineastas com a constante mudança de enquadramentos. Com o filme documentado sempre sendo capturado pelo quadradão 4:3, com a constante alternância entre cores das várias câmeras, e o filme dentro do filme sendo filmado em um widescreen belíssimo e mantendo uma coloração viva quase naturalista e as vezes algo perto do neon em uma cena particular que é enervante e inesquecível, e visualmente belíssima onde a misteriosa personagem de Okdar mostra seus “instintos” em prática.

Mesmo que busque se ater à essa linguagem crua da Nova Hollywood presente em sua linguagem experimental, muito naturalmente por parte de Welles que havia fazendo coisas completamente diferentes em seu estilo na época, há aqui uma forte mistureba quase confusa de gêneros se colidindo por todos os lados: uma comédia crítica e satírica do mundo de hollywood; um drama de forte cunho psicológico de um lado e um experimento metalinguístico de outro, tudo dentro de um cenário que aspira a decadência e o caos. A festa de Hannaford que Welles encena carrega uma energia de quase vida própria que lembra filmes como A Vida é Bela ou 8 ½ de Federico Felini.

Mas Welles não se atém em só a homenagear ou experimentar em estilos de diferentes artistas e movimentos de sua época, como ainda mantém muito da sua própria linguagem presente. A forma tão “classuda” com que ele filma Zarah Valeska, a personagem de Lilli Palmer, revela um sentimento tanto de contemplação pelo “old school” quanto de saudade da era clássica que foi seu nascimento no cinema afinal. Ou na forma como que Hannaford a chama de mãe sinaliza a vertente de pessoalidade e familiaridade muito íntima com a história.

A própria relação de Hannaford com Otterlake é claramente o mesmo tipo de relação de amizade que Welles e Bogdnanovich nutriam entre si, e são todas representadas de forma incrivelmente reais e contadas através de seu visual. Se por um lado nunca vemos Hannaford ou Zarah juntos no mesmo frame, indicando uma distância frustrante e triste para uma mulher que tanto admira.

E no outro vemos a relação mestre e discípulo, sempre grudados um no outro, revelando todo um aglomerado de sentimentos de admiração e inspiração, mas também inveja e frustração que certas decisões de um afetaram o outro e vice versa. O que ocasiona outra típica marca das histórias mais Shakespearianas de Welles como Falstaff, Otelo ou o próprio Marca da Maldade, uma traição irremediável.

Outra vez o eco autobiográfico que inevitavelmente se desperta na obra? Ou uma expedição mais à fundo e íntima do que faz de Hannaford ou Welles, um artista.

A Sombra de Kane

Não é difícil não notar, tanto assistindo ao filme quanto lendo sobre ele aqui, o quanto há óbvios ecos de Cidadão Kane presentes em O Outro Lado do Vento, muito na análise figurativa tanto do diretor quanto da pessoa que é Jake Hannaford, tudo à partir da visão particular das pessoas à sua volta e com quem convive mas nunca a partir dele (pelo menos até o final).

Para alguns isso vai soar como uma mera retomada do diretor de seus louros antigos, o que é o extremo contrário onde a obra se mostra ser uma óbvia visão tão autobiográfica de Welles para sua carreira, até mais eu diria do que seu prévio (e igualmente grandioso) Verdades e Mentiras. Mas enquanto aquele se figurava como um falso documentário sobre um artista fraudulento onde o narrador autoconsciente de Welles tomava quase total protagonismo da narrativa, O Outro Lado do Vento pode seguir um pouco da mesma linha de narrativa experimental, mas tem em si uma boa história linear à se contar, ou melhor, documentar.

E se enquanto Charles Foster Kane também servia como uma ousada sátira à figura do magnata William Randolph Hearst, um político conhecido pela sua personalidade exacerbado e controlador podre de rico. Jake Hannaford também se apresenta como sendo uma sátira de um personagem obsessivamente masculino como Ernst Hemingway (cuja relação com Orson Welles nunca foi das melhores), com um ar de machismo exacerbado que esconde uma homossexualidade enrustida por debaixo e especulada à sua volta que só o enerva.

Isso tanto deve-se à força narrativa que Welles conseguiu construir e sobreviveu ao seu tempo, como também desperta essas estranhas e fortes nuances que se refletiram na vida real dos artistas envolvidos graças à algumas ótimas performances que encontramos aqui. Todo o elenco está bem na verdade e ao longo do filme se tornam figuras únicas e memoráveis na vida de Hannaford.

Alguns principais destaques ficam à cargo de Norman Foster que interpreta Billy Boyle, o pobre assistente de Jake Hannaford, que faz de tudo pelo seu chefe inclusive tentar vender o filme para um produtor brucutu em uma cena altamente tragicômica, e conquista com sua personalidade engraçado e fofo ao mesmo tempo que carrega uma amargura latente de um artista frustrado e nunca reconhecido em seus olhos (o que Norman infelizmente fora na vida real). Enquanto Peter Bogdnanovich facilmente vai ser criticado como um completo canastrão, o que ele está sendo propositalmente (e era conhecido por ser exatamente assim em sua época de sucesso e reconhecimento).

Mas claro quem rouba os holofotes é John Huston na pele e alma de Hannaford. Elogios nunca serão o suficiente para esse homem, mas um casting mais perfeito para esse papel só poderia vir de seu grande amigo Orson. Pois, assim como Welles, Huston sempre fora um diretor vítima do controle de estúdios, quase sempre o obrigando a mudar os finais cínicos e sombrios de seus filmes, em que era completamente apaixonado, para os finais mais hollywoodianos. Um igualmente rebelde por natureza, mas que nunca perdeu o sucesso e reconhecimento por décadas, mas como ator agora ele também tem O Outro Lado do Vento para se gabar de seu imensurável talento.

Seu Hannaford carrega aquele ar de machismo quase caricato em suas vestimentas de caçador e forma de andar como um cavalheiro, se enchendo de bebida e nunca deixando de ser seguido pela extensa fumaça de seu charuto (tal e qual Welles). Ele consegue abrir uma repentina expressão de raiva e mudar num piscar de olhos para um olhar cínico; olhar com total desprezo para as câmeras que o seguem e logo abrir um enorme sorriso amarelo cheio de charme e com um carisma inigualável. Mesmo que por breves momentos você consiga ouvir ele imitando o tom de voz de Welles, mas nada tão distrativo, e nada que impeça esse de ser um formidável trabalho de atuação de um mestre em seu ápice.

O Outro Lado do Vento

No final, O Outro Lado do Vento é mesmo um posfácio de Cidadão Kane e o que ele representou para a carreira de Orson Welles, um fim decadente para alguém que outrora houvera sucesso e respeito e hoje se tornou uma piada trágica para seus ditos admiradores. E que talvez aqui possa recuperar um pouco que seja do respeito e admiração que outrora tivera. Mas o que exatamente ele quis contar em uma história de decadência intitulado de “O Outro Lado do Vento”?

A figura de Oja, tanto a atriz de verdade quanto à personagem que marcara presença nos últimos filmes de Welles, diz algo em Serei Amado Quando Morrer que talvez sirva como uma perfeita explicação para o que o filme realmente se trata. Ela apaixonadamente falava de Welles, e como seu aparente ar de ameaçador, de como aquela longa capa e chapéu pretos o fazia parecer a personificação do próprio vento, mas ela conhecia o outro lado desse vento, o vento que acariciava, fazia levitar e dançar, o verdadeiro artista de coração puro, alma selvagem e personalidade extrovertida.

E para uma sumarização óbvia é isso, entre muitas outras coisas a se interpretar, que é O Outro Lado do Vento, o outro lado inexplicável e misterioso de seu grande artista. Que se não teve com esse o grande retorno que tanto almejava, pelo menos teve sua grande despedida que faz jus ao seu gênio.

O Outro Lado do Vento (The Other Side of The Wind – EUA, 2018)

Diretor: Orson Welles
Roteiro: Orson Welles, Oja Kodar
Elenco: John Huston, Cameron Mitchell, Peter Bogdanovich, Susan Strasberg, Edmond O’Brien, Joseph Mcbride, Lilli Palmer, Mercedes McCambridge
Duração: 122 min.

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Publicado por Raphael Klopper

Estudante de Jornalismo e amante de filmes desde o berço, que evoluiu ao longo dos anos para ser também um possível nerd amante de quadrinhos, games, livros, de todos os gêneros e tipos possíveis. E devido a isso, não tem um gosto particular, apenas busca apreciar todas as grandes qualidades que as obras que tanto admira.

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