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Crítica | Star Wars: Os Últimos Jedi – O Pior filme da saga desde A Ameaça Fantasma

O gigantesco sucesso comercial de O Despertar da Força, à despeito das críticas sobre o filme ser uma grande cópia de Uma Nova Esperança sedimentou, logo cedo, Star Wars como uma das principais propriedades intelectuais da Disney. Tal fato, sim, já era óbvio e mesmo assim a companhia optou por seguir o caminho mais seguro, sem arriscar praticamente nada e, no fim, acaba entregando um bom produto, mas ausente de originalidade. Tiveram êxito em inaugurar essa nova trilogia, introduzindo personagens com os quais podemos facilmente nos relacionar, mas, ao mesmo tempo, deixaram-nos com o temor de que todos os subsequentes episódios dessa trilogia não passariam de releituras da trilogia original.

Entra o nome de Rian Johnson, sem dúvidas o mais autoral dos poucos diretores que já passaram pela franquia – os receios diminuíram. Pelo menos em partes, afinal, a Disney já demonstrara o forte controle criativo que exerce em suas obras com os filmes da Marvel, além disso, os trailers apenas reforçavam os temores levantados, colocando esse Episódio VIII perigosamente perto de O Império Contra-Ataca, indicando, possivelmente, mais uma cópia pouco inspirada. O que Johnson nos entrega, no entanto, definitivamente não era o esperado – Os Últimos Jedi, de fato, nos surpreendeu, mas não positivamente.

Seguindos os eventos de O Despertar da Força, a trama nos leva de volta ao conflito entre Primeira Ordem e Resistência. De um lado, a frota liderada pela general Leia Organa (Carrie Fisher) tenta escapar de um ataque à sua base, cuja localização foi descoberta pelos inimigos. De outro, temos Rey (Daisy Ridley), enfim, encontrando Luke Skywalker (Mark Hamill), ansiando para que ele retorne à Resistência, trazendo consigo esperança de volta à galáxia – além, é claro, de tentar convencer o desmotivado Mestre Jedi a treiná-las nos caminhos da Força. Ambos os cenários se complicam ainda mais com as investidas de Kylo Ren (Adam Driver) e o Supremo Líder Snoke (Andy Serkis), ambos determinados em acabar com qualquer resquício dos Jedi e da República.

Evidentes, em partes, já nos primeiros minutos do longa, os problemas de Os Últimos Jedi impedem a necessária criação do vínculo emocional entre espectador e obra. Johnson, diretor e roteirista, cria um amontoado de situações vazias, pouco inspiradas – que vão desde batalhas repletas de CGI sem qualquer peso, que parecem ter sido tiradas de um videogame na dificuldade mais fácil; até subtramas claramente desnecessárias, sem qualquer impacto na trama geral ou na construção de seus personagens.

Sem dúvidas, grande parte desses deslizes são oriundos do texto, que opta em trabalhar individualmente cada personagem previamente apresentado em seu antecessor. Soa quase como uma obrigatoriedade, exigência de estúdio, que certos personagens ganhem destaque, criando barrigas, que, no fim, somente aumentam a duração da obra, fazendo com que ela chegue a desnecessários cento e cinquenta e dois minutos. Finn e Poe ambos se enquadram nesse meio, tendo sidestories próprias de pouca ou nenhuma importância para o cenário geral, visto que suas decisões e ações em nada impactam a conclusão do filme.

Cria-se a amálgama entre sequências feitas para vender figuras de ação – através da inclusão de novos personagens e retorno de alguns que, de fato, poderiam ter ficado de fora – e a insistência do texto em repetir a mesma mensagem em diversos arcos paralelos. Tratados como estúpidos, os espectadores devem ouvir mais de uma vez, insistentemente, que a galáxia não é formada meramente por Luz e Sombras, que existe algo no meio. O grande problema disso é que um dos lados, não muito tempo atrás, destruiu cinco planetas inteiros, portanto, abandonar o maniqueísmo com tal informação em mente chega a soar como esquecimento do que veio antes, ou puro desleixo.

Seu foco determina a sua realidade

Maior agravante, porém, é que a constante troca entre os diversos focos narrativos apenas prejudica o que, de fato, há de engajante na obra – o que se resume aos trechos envolvendo Rey, Kylo Ren e Mark Hamill basicamente. Formulaicas são as transições entre tais arcos, apoiando-se em citações diretas ou indiretas a personagens, criando o intenso vai-e-vem que preenche todo o longa, não deixando espaço para que, de fato, nos entreguemos à narrativa, especialmente considerando que muito do que vemos, no fim, não faz diferença alguma.

A montagem burocrática cria constantes rupturas no ritmo, dilatando ainda mais a nossa percepção da duração total da obra. Ao pular de personagem em personagem de maneira pouco inspirada, temos a sensação de que grande parte do longa apenas nos enrola, na tentativa de criar a expectativa para os outros lados da trama. Tudo o que consegue fazer, no entanto, é diminuir nosso interesse pelo produto final.

Similarmente, o texto de Johnson insere, frequentemente, doses e mais doses de humor, intercalados com momentos dramáticos importantes – não me refiro à típica comédia presente na saga desde sua concepção e sim gags mal-inseridas, que prejudicam nossa imersão e envolvimento emocional com potenciais icônicos momentos. Aliás, a própria trilha de John Williams tem seu diálogo com a imagem abalado por tal razão, visto que as composições dialogam com os momentos dramáticos, sem combinar com as interrupções do artificial humor presente no longa, passando a impressão de que tais melodias foram criadas antes que o filme fosse gravado.

Não bastasse isso, tais inserções indevidas deminuem a presença de certos antagonistas, diminuindo a sensação de urgência, além de criar forte artificialidade na maioria dos conflitos, que já não tem à seu favor os já falados efeitos especiais sem qualquer peso aparente. Bom exemplo disso é o general Hux (Domhnall Gleeson) que é reduzido a provocar risadas na audiência, não sendo nem um pouco construído durante a projeção, desperdiçando por completo o óbvio paralelo entre sua postura e a da Alemanha Nazista.

Evidente que grande parte da artificialidade e ausência de desenvolvimento de personagens se dá em conta do projeto transmídia realizado pela Disney, que praticamente força o espectador a consumir as obras paralelas desse universo, tratando os filmes como apenas um material a mais e não os pontos principais da saga. A mera presença de determinados indivíduos na trama já deixa isso bem claro, criando, mais de uma vez, dúvidas sobre como ou por que eles aparecem em dado lugar. Isso enfraquece a narrativa como um todo.

Ironicamente, muitos dos personagens unicamente trabalhados durante o longa também acabam sofrendo com péssimas decisões tomadas no texto – um deles, em específico, funciona como o maior banho de água fria de toda a franquia, rivalizando apenas com o tratamento dado a Darth Maul e General Grievous nos prévios filmes. Tal pressa em resolver conflitos existentes entre esses indivíduos ainda cria a impressão de que determinados trechos da obra estão em fast forward, como se tivessem gastado todo o tempo disponível com os muitos focos desnecessários presentes no longa.

Eu tenho um mau pressentimento sobre isso

A nada orgânica agilidade, pois, ajuda na formação de uma série de momentos deus ex machina, herança de O Despertar da Força – a diferença é que ainda conseguíamos acreditar em alguns do antecessor, já Os Últimos Jedi joga tudo para o alto e confia na aceitação cega do público perante tais forçados mecanismos de roteiro. Piorando o cenário mais ainda, muitos desses recursos se fazem presente meramente para gerar gags, como é deixado bem claro pela participação de BB-8 nesse filme, que recebe algumas curtas cenas com propósito único de criar comédia, à custo da lógica interna da obra.

Triste constatar que icônicos personagens perdem espaço em razão dessas artimanhas baratas, como Chewie e R2-D2, diversas vezes esquecidos ou ignorados durante a trama. Era de se esperar que o reencontro de Luke com tais personagens gerasse algumas emotivas cenas, mas nem isso vemos, desvalorizando totalmente toda a história da saga – se a intenção é a de deixar de lado os velhos personagens, então bastava criar algo inédito, que não se passasse no mesmo período ou próximo dos filmes anteriores. Ao invés disso, o que temos é um profundo desrespeito com a mitologia da franquia.

Perante tal amontoado de péssimas decisões, roteirismos e táticas baratas de agradar o público, a obra ainda conta com certos momentos que demonstram o quão diferente poderia ter sido o produto final sem a voraz interferência do estúdio. A própria direção de Johnson deixa isso bem claro, exibindo alguns dos mais belos planos da saga, os quais, infelizmente, são indevidamente cortados antes da hora, sendo curtos demais, limitando por completo a contemplatividade das sequências – muitos desses quadros são claramente encurtados a favor da inserção de cenas de descontração, como se as produção não confiasse na atenção do espectador, que precisa ser recobrada incessantemente através de piadinhas fora de contexto.

Aliás, o desconforto visual dessas intermitências é nítido, com a decupagem resumindo os momentos de humor a planos mais fechados, quebrando a organicidade das sequências, especialmente quando intercalados de enquadramentos mais abertos, dando a impressão de que essas inserções foram feitas às pressas, sem grandes esforços para criar  um visual mais linear. Tais desconfortos, no fim, prejudicam a construção de Johnson nos trechos mais dramáticos, claro, fazendo com que importantes planos soem desconexos do restante, pela clara diferença na maneira como são apresentados.

Percalços constantes, barrigas desnecessárias, ausência de identidade visual, personagens mal desenvolvidos, dentre todos os outros fatores apresentados fazem com que as sequências efetivamente bem construídas do longa fiquem perdidos. Grande parte da interação entre Rey, Luke, Kylo e até Snoke fazem parte desses bons momentos, remetendo a outros detalhes da saga (dos filmes, não do universo expandido) de maneira dramática, com peso emocional evidente. Como, portanto, se deixar levar por esses focos de qualidade quando rodeados por duvidosas decisões, muitas das quais desconsideram ou ignoram informações e acontecimentos anteriormente estabelecidas? A obra não permite nosso engajamento, ela lima qualquer esperança disso, reduzindo alguns dos mais importantes acontecimentos da saga a meros detalhes, adendos.

O estranhamento aumenta ainda mais, conforme colocamos grandiosos combates de sabres de luz, um deles sendo um dos melhores da franquia, lado-a-lado com batalhas espaciais ou até mesmo conflitos terrestres que não passam a menor sensação de ameaça, como se a imagem não refletisse o que o texto almejava construir. Triste fim esse, no qual enxergamos a possibilidade de um filme muito melhor, limado por decisões, espero eu, provenientes diretamente do estúdio. Decisões essas, que, pela evidente pressa que inserem na narrativa, fazem com que a obra pareça ser a conclusão da trilogia e não seu capítulo intermediário, deixando, assim, poucos motivos para nos vermos, de fato, ansiosos pelo que está por vir.

Faça ou não faça. Tentativa não há.

Não ajuda, claro, o fato de que muitas das sequências que deveriam ser icônicas da obra não passam de releituras do que já veio antes. Nossos temores sobre esse ser um remake disfarçado, pois, praticamente se concretizam. Ao invés do que vimos no Episódio VII, no entanto, o que é feito aqui sai apenas de uma fonte, puxando diversos pontos de vários longas da franquia, desde as mais óbvias de O Retorno de Jedi e O Império Contra-Ataca – em cópias pouquíssimo inspiradas e artificiais, pelo fato de precisarmos acreditar que algo simplesmente igual está acontecendo de novo – até as menos evidentes, como é o caso de cenas claramente tiradas de O Despertar da Força.

Falar sobre atuações em um filme desses, portanto, não pode ser considerado, sequer, justo. Com elenco de peso, formado por veteranos e estreantes, ninguém tem o necessário espaço para brilhar. Hamill até chama a atenção, mas suas cenas são tão perdidas dentro de uma trama hesitante que não conseguimos perceber isso tudo como uma grande oportunidade perdida. Fruto, claro, de um texto que desconsidera o que veio antes e insere motivações frágeis para o personagem.

O mesmo pode ser dito da saudosa Carrie Fisher, que certamente não tem a despedida que merece da franquia, contando, inclusive, com uma cena “vergonha alheia”, das mais deus ex machina possíveis, que mais soa como uma inclusão de última hora. Fisher deixará saudades, mas contemplar seus trabalhos anteriores na franquia é a melhor maneira de se despedir da atriz.

Já John Boyega e Oscar Isaac, ambos têm de trabalhar com arcos superficiais e desnecessários, desvalorizando suas apresentações no filme anterior, ao passo que suas personalidades não são nem um pouco aprofundadas. Cabe a Daisy Ridley e Adam Driver, portanto, levar todo o longa nas costas, visto que são os únicos com uma trajetória fluida e orgânica, que não depende de saltos, que esquecem tudo o que está no meio. Existe uma nítida química entre ambos, que possibilita, ainda que breves, momentos verdadeiramente dramáticos no longa-metragem.

Esses pontuais acertos, claro, não são capazes de nos fazer esquecer toda a tragédia que os cerceia, muito pelo contrário. Como já dito, as qualidades de Star Wars: Os Últimos Jedi permanecem perdidas, sendo necessário esforço para lembrarmos do que efetivamente vale a pena ser salvo, já que todo o restante apenas demonstra o quanto Rian Johnson e a Disney erraram a mão nesse filme. Trata-se de uma obra que não apenas se esquece do que veio antes, como constantemente altera sua própria proposta, estragando personagens, enquanto outros permanecem no raso, nos entregando um dos piores longa-metragens da saga Star Warsreiterando nossos temores iniciais e o quanto o forte controle criativo da Disney prejudica essa galáxia muito, muito distante.

Star Wars: Os Últimos Jedi (Star Wars: The Last Jedi, EUA – 2017)

Direção: Rian Johnson
Roteiro: Rian Johnson
Elenco: Daisy Ridley, John Boyega, Mark Hamill, Adam Driver, Gwendoline Christie, Domhnall Gleeson,  Carrie Fisher, Billie Lourd, Andy Serkis, Laura Dern, Oscar Isaac,  Benicio Del Toro, Kelly Marie Tran
Gênero: Ficção científica, fantasia
Duração: 152 min.

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Publicado por Guilherme Coral

Refugiado de uma galáxia muito muito distante, caí neste planeta do setor 2814 por engano. Fui levado, graças à paixão por filmes ao ramo do Cinema e Audiovisual, onde atualmente me aventuro. Mas minha louca obsessão pelo entretenimento desta Terra não se limita à tela grande - literatura, séries, games são todos partes imprescindíveis do itinerário dessa longa viagem.

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