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Crítica com Spoilers | Star Wars: Os Últimos Jedi – A Hora e a Vez de Luke Skywalker

Com Spoilers

A Disney conseguiu tornar o Natal uma época ainda mais mágica. Se antes a franquia Star Wars sempre foi marca de diversão lançada no verão americano, a Disney mudou todas as regras do jogo ao colocar o lançamento de O Despertar da Força justamente para dezembro, uma época mais modesta para blockbusters temendo efeitos colaterais do clima frio na bilheteria. Em uma jogada brilhante, a Disney conseguiu capitalizar ainda mais o Natal, reunindo o lançamento do filme para impulsionar a venda de produtos licenciados para as pessoas se presentearem nas festas de fim de ano.

Quem testemunhou, viu história ser feita. Star Wars estava de volta aos cinemas um novo episódio após uma década. Os resultados foram avassaladores na bilheteria, rapidamente conquistando o bilhão, além dos elogios de uma crítica comportada e talvez muito influenciada pela emoção. O Despertar da Força tinha sérios problemas narrativos, jogando muitos dos seus ‘furos’ para serem resolvidos em outros filmes, além de uma sensação nada confortável de ser um remake disfarçado de Uma Nova Esperança.

Essa abordagem menos arriscada da Disney era perfeitamente compreensível. Não queriam desagradar os fãs de longa data, além do desejo de atraírem novos públicos juvenis para a franquia. Portanto, era muito esperado que o aguardado Episódio VIII trouxesse um novo frescor para Star Wars, apostando uma história realmente inédita, que explorasse a fundo as problemáticas dos misteriosos personagens do episódio anterior.

O nome escolhido para conquistar essa difícil tarefa surpreendeu muita gente: Rian Johnson, um dos diretores independentes mais autorais da contemporânea Hollywood. Com tanta personalidade, seria fácil para Johnson se comportar na visão pré-formatada e rígida de um estúdio gigantesco? De certa forma, não. O diretor abre mão de modo considerável de sua assinatura cinematográfica para deixar essa nova trilogia visualmente mais homogênea possível, enquanto no campo da narrativa, também há apostas muito inglórias enquanto outras surpreendem por estraçalhar as expectativas do espectador.

A Faísca que Acenderá uma Revolução

Os Últimos Jedi começa freneticamente depois do tradicional opening crawl. A Resistência foi dizimada pela Primeira Ordem. Fugindo da base anterior, as tropas reminiscentes são emboscadas por General Hux (Domhnall Gleeson) e seus encouraçados poderosos. Encurralados, Leia (Carrie Fisher) e Poe Dameron (Oscar Isaac) fazem de tudo para que suas naves resistam aos impetuosos ataques dos inimigos, enquanto Finn (John Boyega) ainda permanece adormecido se recuperando dos ferimentos da batalha contra Kylo Ren (Adam Driver).

Enquanto isso, Rey (Daisy Ridley) finalmente encontra Luke Skywalker (Mark Hamill) isolado na ilha escondida do planeta Ahch-To, na esperança de que ele volte a batalhar pela Luz, além de auxiliá-la a encontrar seu próprio caminho na Força.

Para a felicidade geral da legião de fãs, Rian Johnson, também roteirista da obra, cumpriu o que prometeu: a história é parcialmente original, mas não chega nem perto de ser perfeita. Com a responsabilidade de fechar pontas soltas do anterior, obedecer as exigências feitas a ferro pelos produtores da Disney, além de conseguir contar uma boa história valorizando os novos e antigos personagens. Uma tarefa estressante e nada fácil.

Como de costume em capítulos intermediários de trilogias, Johnson respeita a “regra” de manter o grupo separado até sua conclusão. Com isso, temos a escolha de segmentar a narrativa com três pontos de vista distintos contando histórias diferentes: Rey, Poe e Finn são os protagonistas de seus “filmes” individuais, já que todos se comportam como histórias fechadas – somente a de Poe e Finn conseguem se relacionar bem, já que a jornada de Finn é originada a partir da história de Poe.

É bem perceptível que Johnson simplesmente não sabe muito bem o que fazer com Poe e Finn já que os dois recebem um tratamento muito inferior ao da história da Rey com Luke. Com Poe, ficamos presos junto a ele na última nave da Resistência, fugindo a todo custo do destróier gigante de Snoke (Andy Serkis), capaz de rastrear naves até mesmo na velocidade da luz. Basicamente, em todo esse trecho, a Resistência só resiste enquanto Poe faz de tudo para salvar a facção.

Para isso, Finn e Rose (Kelly Marie Tran), uma nova personagem, partem para Canto Bight, um rico planeta focado em jogos de azar a fim de encontrar um hacker que consiga desativar o rastreador da nave da Snoke, permitindo a fuga da Resistência para novas bases.

Embora nenhuma seja particularmente memorável ou, de fato, original, existem situações curiosas que despertam o interesse do espectador. A mais forte e óbvia é a linha narrativa de Rey, na qual conhecemos um novo Luke cheio de rancor e medo, além de contatos através da Força com Kylo Ren. Aqui temos o melhor ponto do filme e que realmente é trabalhado com cuidado para desenvolver apropriadamente esse trio de personagens.

O Rebelde em Excesso

Já que o longa se divide em três, nada mais conveniente que tratar a análise do roteiro da mesma forma. Originalmente, era para Poe Dameron ter morrido em O Despertar da Força, mas muita gente gostou da performance de Oscar Isaac decidindo deixá-lo como um dos pilares da nova trilogia.

Com o novo episódio, chegou a hora do personagem ganhar mais tempo de tela, mesmo que seja bastante desnecessário. Em suma, eles assumem arquétipos fáceis de compreender, já resumindo bastante a necessidade de desenvolvê-los com muito capricho. Com Poe, temos a perfeita figura do rebelde revolucionário que coloca a causa acima da própria vida e também da vida dos outros.

É importante mencionar algo agora. Mesmo que tenhamos três narrativas diferentes, todas têm a mesmíssima moral. Os Últimos Jedi está concentrado em destruir a visão binária do bem e do mal apresentado em toda a saga até agora.  Um grande acerto de Rian Johnson, que aproveita o roteiro apressado de O Despertar da Força, que permite a modelagem imprevisível do destino desses personagens, tanto que muita gente aguardava uma mudança da Rey para o Lado Negro da Força. Logo, conhecemos tons de cinza raramente vistos na saga principal.

Com Poe vemos que apesar das boas intenções, o herói comete erros ao ser preconceituoso com a Vice-Almirante Holdo (Laura Dern), nova líder da Resistência depois de Leia ter “morrido” em uma explosão – chegaremos lá em breve. Holdo e Dameron duelam em um enorme conflito de egos para encontrar a melhor solução de fuga pela sobrevivência. Muitas das cenas destinadas a Poe basicamente focam nisso, fazendo o longa andar em círculos deixando a narrativa à deriva. É algo proposital, mas certamente não contribui em nada para o ritmo arrastado da obra.

Fora isso, a própria personagem Holdo não despertar muito do nosso interesse através da atuação impassível de Laura Dern. Aliás, quase todos os novos personagens de Os Últimos Jedi são desastrosos de tão superficiais. Na conclusão desse arco, Poe descobre que Holdo estava comandando a nave para chegar a Crait, lar de uma antiga base da Aliança Rebelde – nunca é justificado o motivo dela não informar todos os outros líderes reunidos na nave, incluindo Poe. Logo, é algo totalmente artificial, apenas mais uma das muitas narrativas mirabolantes que Johnson cria para forçar algum desenvolvimento em um personagem secundário, já adulto, que nunca tinha compreendido, até então, que as pessoas são mais complexas do que a divisão entre heróis e vilões, glória e desonra. Inacreditável.

Para nivelar esse núcleo e salvar ele do marasmo completo, temos, felizmente, a presença de Leia em uma triste despedida de Carrie Fisher para a personagem, já que a atriz faleceu em 2016. Só de ter a presença da icônica Leia, as coisas melhoram um pouco. Agora já muito experiente, a princesa também virou uma excelente estrategista militar – há muito cuidado de Johnson nessa parte, adaptando estratégias conforme as vantagens entre os lados se alteram significativamente.

Mas até mesmo no destino de Leia, Johnson consegue se atrapalhar com más decisões. Durante um ataque, motivado por Snoke para decidir seu lado definitivo, Kylo Ren parte para destruir a sala de comando na nave da Resistência, mas acaba desistindo de matar sua mãe. Porém, outros caças que estavam ao seu lado, completam a missão e destroem a ponte de comando, lançando Leia para o vácuo do espaço.

Naturalmente, seria uma boa despedida para a personagem, tornando Ren mais complexo. Mas, a custo de tentar surpreender o espectador, Johnson decide reviver Leia, a fazendo acordar no espaço, manipular a Força, como nunca havíamos visto antes, para chegar em segurança à nave (“não é assim que a Força funciona!”). Por conta dos ferimentos, a personagem é aposentada por algumas cenas piorando a situação do núcleo narrativo. No fim, Leia não morre e permanece viva para um próximo filme. Uma decisão realmente muito, mas muito questionável, já que Fisher está morta. Até visualmente a cena decepciona com um CGI trabalhado de modo rasteiro ao tornar Leia um Superman ou Mary Poppins genéricos ao sair “voando” pelo espaço.

Drástico Finn

De longe, o pior núcleo narrativo de Os Últimos Jedi é o concentrado na aventura de Finn e Rose. Assim como Dameron, Finn passará por uma jornada com o mesmo objetivo: ver os tons de cinza dentro de uma guerra de interesses opostos. Quando descobre que a nave da Resistência está com as horas contadas, o personagem decide salvar sua própria pele a fim de evitar que Rey também chegue em um local condenado.

Tentando fugir em uma cápsula de fuga, Finn é nocauteado por Rose, outra personagem inédita irritante. Johnson até consegue criar coisas legais para os dois, figuras contrastadas. Finn continua flertando com o heroísmo, agora cheio de fama pelas conquistas anteriores, mesmo sendo um covarde completo. Já Rose é corajosa e sonhadora, mas totalmente desconhecida para a Resistência, uma zé-ninguém.

Johnson, preocupado em trazer profundidade para quase todos os coadjuvantes, monta um paralelo do sacrifício da irmã de Rose, piloto do último bombardeiro que consegue destruir um encouraçado da Primeira Ordem, com a decepção de Rose ao perceber que o herói que idolatrava, Finn, é apenas mais um covarde qualquer. É um ótimo ponto de partida cheio de potencial, mas nunca visitado novamente para melhor desenvolvimento.

O que ocorre é o caminho mais óbvio, Finn e Rose se apaixonam ao decorrer da missão suicida para encontrar o hacker em Canto Bight. É justamente aí que esse núcleo começa a descarrilar com força.

Canto Bight talvez seja a pior ideia que já aconteceu a Star Wars desde Jar Jar Binks. A sequência que envolve a busca desse hacker/decodificador é repleta de desvios absurdos na missão, com fugas entediantes, reviravoltas burocráticas que visam estender ainda mais a passagem, péssimo humor, um design visual ordinário, além das resoluções de conflito mais preguiçosas dessa nova trilogia até agora. São inúmeros deus ex machina para salvar a pele de Rose e Finn aliadas a conveniências narrativas e roteirismos para fazer essa história andar.

Em um lugar como Canto Bight, seria relativamente fácil resolver os problemas dessa sequência tenebrosa: inserir, enfim, Lando Calrissian nessa nova trilogia. Porém, isso nunca acontece, já que Johnson insiste em apresentar novos personagens. No caso, para resolver o entrave do núcleo de Poe e a resistência sem fim da Resistência, conhecemos o gaguinho DJ, interpretado com muita vontade por Benicio Del Toro.

O escuso personagem é a personificação completa da mensagem do filme sobre o certo e errado, da problemática da moral binária entre bem e mal. Não é possível confiar em DJ, tanto que uma reviravolta de traição é telegrafada desde que conhecemos o personagem – traição desconfortavelmente similar, aliás, a de Lando em O Império Contra-Ataca. Ele também tutela Finn, mostrando que o mundo é mais complexo do que ele imagina, com motivações diversas para as pessoas se aliarem a determinados lados. Assim, Rian Johnson consegue embalar uma crítica batida contra o mercado da guerra, o capitalismo, gente rica e dos negociantes de armas.

Mesmo com uma mente criativa como a de Rian Johnson, Star Wars não consegue se livrar de certos clichês narrativos já esgotados. Novamente temos a imposição de desativar algum aparelho in loco que deixará a nave inimiga vulnerável de alguma forma – no caso, o destróier de Snoke não conseguirá rastrear a Resistência na viagem na velocidade da luz. Logo, Finn, Rose, DJ e BB-8 conseguem se infiltrar e quase concluir a missão até que o previsível acontece e DJ trai o trio bonzinho em nome do bom e velho lucro.

Todo mundo fica aprisionado, prestes a serem executados. Mas, de modo parecido como visto em Rogue One, Holden decide usar a última nave da Resistência contra o encouraçado inimigo ao viajar na velocidade da luz em direção a ele – nessa altura, os sobreviventes já fugiram em naves de fuga para Crait. É um bom deus ex machina “justificado” para salvar a dupla que consegue sobreviver à uma explosão que quase mata todos os presentes no hangar – chega a ser ridículo até. Para “corrigir” uma intensa reclamação do filme anterior, Phasma surge para finalmente mostrar a que veio.

Curioso que por conta desse “bendito” projeto transmídia da Disney com Star Wars, somos impelidos a comprar outro produto para entender como Phasma sobreviveu após os eventos de O Despertar da Força – lembrando que ela foi para o compactador de lixo de um planeta que explodiu. Johnson não se preocupa em situar qualquer peso ou relevância para a personagem que age apenas como mais uma capanga treinada para derrotar Finn e Rose. Importante mencionar que, também para salvar a dupla mais uma vez, BB-8 surge em outro deus ex machina pilotando um AT-ST. Johnson trata esse núcleo inteiro na base da repetição de situações, não colaborando em nada para o sentimento de progressão da história.

Phasma é derrotada com facilidade, em outra reviravolta forçada, e todos fogem para Crait com a ajuda de BB-8. Caso não tenham percebido através do texto, toda a histeria de Poe Dameron e a jornada de Finn e Rose são totalmente irrelevantes para a trajetória principal do filme. Eles apenas estão lá para reforçar uma mensagem já marretada no núcleo protagonista. Ou seja, se trata de filler, encheção de linguiça completa, algo de redundância irritante. Uma pena que a maior parte da originalidade do texto do filme seja justamente a sua mais inútil.

Pérola na Tempestade

Mesmo que Johnson erre tanto com os personagens coadjuvantes, temos a maior força de Os Últimos Jedi consideravelmente intacta: a relação entre Rey, Kylo Ren e Luke Skywaker. Começando pelos problemas, esse núcleo apresenta poucos, mas Rian Johnson tem uma mania irritante com esses personagens em específico: subversão de expectativas a todo o custo, mesmo que sacrifique lógica e coerência interna.

Superado isto, Johnson realiza um bom trabalho, inclusive com cenas cômicas mais refinadas com o auxílio do carisma dos Porgs e da interpretação dócil de Daisy Ridley e dos olhares carregados e expressivos de Mark Hamill, que só melhorou o talento com a idade. Para introduzir essa narrativa, Johnson já nos oferece a primeira subversão de expectativa com Luke jogando o sabre dos Skywalker para baixo do penhasco – algo totalmente fora de tom com o que já conhecemos do personagem.

O arquétipo estereotipado do mestre rabugento de passado sombrio caiu como uma luva para esse novo Luke Skywalker que Rian Johnson ousa nos apresentar – isso, obviamente, exige que o espectador acostumado com o Luke impulsivo, determinado e impaciente da trilogia original aceite essa nova realidade que o herói se encontra. Claro que a maior conquista disso é a performance de Mark Hamill, conseguindo transparecer todo o conflito psicológico intenso que o personagem sofre, fortalecendo um roteiro deficitário para estabelecer esse retrato trágico.

Johnson toma escolhas erradas com os outros núcleos e investe muito pouco tempo para nos acostumarmos com este Luke mentiroso e covarde, o que dificulta a associação ao personagem tão aventureiro e teimoso de outrora. Aqui, o roteirista exagera na dose de cenas nas quais Luke ignora completamente os pedidos de ajuda de Rey. Conhecemos mais de sua rotina, mas sempre estamos distantes do personagem, de algum modo.

Ao menos, para fazê-lo mudar de ideia sobre o treinamento para Rey, o roteirista acerta em cheio ao inserir a clássica mensagem de Leia para Obi-Wan em Uma Nova Esperança quando R2-D2 reencontra seu antigo amigo. É um dos momentos mais emocionantes e genuínos do longa, conseguindo aquecer o coração de qualquer fã. Uma pena somente que Johnson ignore R2-D2 e Chewbacca por quase todo o filme, além de alguns reencontros não serem tão impactantes como deveriam.

Johnson consegue resolver bem uma questão complicada: o desenvolvimento de Rey e Kylo. Por meio de uma conexão mental através da Força, justificada posteriormente, os dois passam a conversar e descobrir mais sobre a história de cada um, chegando até a desenvolver certa tensão sexual em certo ponto.

Apesar da moral sobre os tons de cinza entre a maldade e a bondade, é de se estranhar que Johnson aposte nisso justamente com esses personagens, pois tudo é calcado em pressupostos e informações muito vazias. Johnson impõe as regras do jogo a todo momento, nunca se preocupando de fato em embasá-las melhor com flashbacks caprichados – e olha que temos três variações do mesmo acontecimento!

Onde deveríamos encontrar respostas, Johnson apenas suscita ou perpetua perguntas de outrora: como a Nova República foi tão desleixada a ponto de permitir a ascensão de uma nova Ordem maligna na galáxia por quase trinta anos? Snoke tinha uma ligação com Skywalker? Como Snoke se envolveu com Kylo Ren durante sua adolescência? Como Luke Skywalker, Mestre Jedi, que conseguiu resgatar Darth Vader do Lado Negro, desistiu tão facilmente do próprio sobrinho? Como raios esse sabre perdido em O Império Contra-Ataca retornou? Onde estão os Cavaleiros de Ren, presumidos outros estudantes desertores de Luke? A Primeira Ordem só foi financiada através da extração e venda de minérios naturais?

Forçando muito a barra, podemos responder algumas dessas questões com as falas de Luke nas quais ele admite que ficou arrogante após virar uma lenda vida, o destruidor do Império. Só é bastante difícil de aceitar que aquele herói otimista e humilde tenha se transformado tão ferrenhamente com linhas de diálogos tão pobres – aliás, esse filme inteiro sofre com diálogos que deixam a desejar. Um rápido resumo em flashback, auxiliando a imagem com uma narração over, resolveria esse entrave tão grande a respeito da posição covarde do protagonista de outrora.

De toda a forma, o personagem aceita tutelar Rey, afinal o filme precisa avançar. Em momento de brilhantismo cinematográfico, temos uma lição muito bonita envolvendo o equilíbrio da Força, a modelando mais como uma força natural do que um talento aproveitado pelos Jedi ou Sith.

É particularmente correta essa problematização sobre os Jedi que Johnson faz. No pensamento egoísta de Luke, certamente há pontos válidos já que os Jedi não respeitavam de fato o equilíbrio que a Força necessita – isso é bem explorado na trilogia prelúdio. Enfim, Luke renega seu dom e dos Jedi, expondo bem seu ponto de vista para Rey, que começa a ser tentada pelo lugar sombrio e maligno da ilha.

A motivação dela ser seduzida é clara e bastante forte: descobrir enfim quem são seus pais. Mas a caverna não oferece respostas e nem mostra alguma premonição de qualquer tipo – novamente Johnson subverte as expectativas do público ao mudar a estrutura da Jornada do Herói. Porém a deixa vulnerável o suficiente para conversar com Kylo Ren e descobrir a terrível verdade que jogou o personagem para o Lado Sombrio: Luke tentou matá-lo enquanto ainda era aprendiz.

Por si, Johnson consegue conferir mais complexidade a Kylo, além de jogar mais motivações honestas para Luke se isolar. Desde a vergonha da tentativa de homicídio, da intenção sombria, até com o medo de encarar novamente sua irmã depois de ter destruído a vida normal de Kylo Ren, desequilibrando a Força. Isso já seria suficiente para mostrar os tons cinzentos entre o bem e o mal, destruindo a imagem de herói que Luke tinha preservado dos filmes anteriores.

Com essa decepção em relação a Luke, Rey é motivada a ir encontrar verdades com Kylo Ren, acreditando que conseguiria convertê-lo para a Luz. Johnson aproveita esse jogo dúbio de intenções para criar momentos instáveis e enervantes com muita precisão. O encontro da heroína com o vilão, agora mais afáveis um com o outro, se torna um dos maiores trunfos de Os Últimos Jedi.

As Cinzas de Snoke

Snoke era um dos maiores mistérios de O Despertar da Força. Com milhares de teorias sobre quem seria ele, de onde veio, qual seu propósito e tudo o mais, Snoke ganhou muita curiosidade que finalmente esperávamos que fossem sanadas neste filme, ao menos parcialmente.

Mas, como sabemos, Rian Johnson quer te surpreender a todo custo, mesmo que acabe sacrificando boas ideias. Snoke é apresentado para nós fazendo algo que só vimos Vader fazer anteriormente: manipular a Força através de um holograma. Ou seja, o personagem é muito forte, com competências exemplares da manipulação da Força.

Andy Serkis acerta em cheio no tom caricatural e meio pimpão do antagonista. Ele é poderoso, arrogante e sabe que consegue destruir todos com o menor esforço. Sua maldade é divertida e rapidamente se torna alguém carismático e interessante capturando nossa curiosidade. Johnson, infelizmente, não explora nada de Snoke, por mais potencial que ele possua.

Na verdade, Snoke recebe um dos usos mais pedestres que um roteirista pode usar ao escrever uma história: ele se torna um mero instrumento de narrativa, um plot device. Relegar alguém tão forte e ameaçador a unicamente um uso é bizarro demais. Snoke é quem manipula e faz a conexão entre Kylo e Rey através da Força, criando as imagens que cada um quer ver em suas mentes – sim, o vilão admite isso em um clássico monólogo ultrapassado cheio de exposição.

Antes disso, ele estabelece um conflito interno sobre o patricídio de Kylo Ren. No encontro com Rey, Johnson começa a cometer os mesmos problemas que Abrams fez no filme anterior: copiar situações dos filmes originais. No caso, temos uma mímese da cena que Luke é confrontado pelo Imperador que o força ver as naves rebeldes sendo destruídas impiedosamente em O Retorno de Jedi. Aqui, Snoke força Rey a ver as naves de fuga do cruzador da Resistência sendo explodidos um a um.

Depois, o aprendiz consegue destruir o mestre de modo consideravelmente fácil. Snoke, o ás da Força, é enganado pelas intenções verdadeiras de Kylo Ren e acaba cortado ao meio pelo sabre dos Skywalker, que pousava no braço de sua poltrona estilosa. E assim acaba Snoke em Star Wars

Muitos defendem que isso é uma rima para homenagear o Episódio VI, mas é totalmente injustificado. Não faz sentido criar novos filmes para mimetizar deficiências de outros, afinal estamos pagando para ver situações inéditas que explorem o potencial dessa saga. Certamente não é o que acontece aqui. Aliás, claramente tivemos um build up, uma construção provocante, em O Despertar da Força que prometia algo que nunca foi entregue. Ao menos a trilogia original não fazia promessas desonestas. Johnson parece que não gostou de diversos conceitos que Abrams preparou no filme anterior e simplesmente se livrou delas sem o menor esforço criativo. Agora, com o personagem morto, não resta muito interesse em consumir qualquer outro produto que ouse trabalhar em profundidade o potencial que Snoke deixou para trás.

Ao menos temos uma ótima luta com sabres de luz entre Kylo e Rey contra os soldados pretorianos de elite que protegiam Snoke antes dele virar cinzas.

Sal e Sangue

Aqui começa o terceiro ato de Os Últimos Jedi, sua verdadeira derrocada final onde Johnson consegue apresentar muitos conceitos ruins e insistir em mais momentos anticlimáticos. Depois de tanta provocação, tanta enrolação para ver se alguém iria mudar de lado, absolutamente tudo fica exatamente como estava. Ou seja, o longa é redundante, acima de tudo.

Rey permanece do bem e fica incrédula quando Kylo Ren a convida para dominar a galáxia ao seu lado, sob uma nova bandeira. Assim como Luke, Ren acha que os Jedi, Sith, Resistência e Primeira Ordem devem acabar. Rian Johnson então decide encerrar um ponto de discussão infinito do filme anterior: quem eram os pais da Rey?

Bom, segundo o seu roteiro, não eram ninguém, uns viciados que a venderam para comprar bebida. Só isso. Apesar de ser um conceito necessário, para mostrar que os poderosos com a Força também podem vir de outras linhagens além da de Skywalker, que podem ser qualquer pessoa na galáxia, é totalmente decepcionante essa descoberta depois de tanto tempo esperando por uma resposta mais caprichada. É possível, mas improvável, que Kylo Ren tenha mentido.

Nesse impasse, os dois disputam o sabre de Anakin para acabar com o conflito – aparentemente, Rey tem o mesmo poder e aptidão de Kylo Ren, mesmo sem qualquer dose de treinamento. Aqui, as três linhas narrativas finalmente se unem e a nave de Snoke é partida ao meio. Kylo desmaia e Rey foge na nave do Líder Supremo – depois ela se teletransporta magicamente para a Millennium Falcon.

Com todos refugiados na base em Crait, o roteirista recria a mesmíssima situação desesperadora do início de O Império Contra-Ataca: a Resistência encurralada, tentando fugir, enquanto a Primeira Ordem, após sofrer uma grande derrota, contra-ataca com intuito de dizimar todos.

Ao menos, o texto é mais apressado, inserindo ação e reação na velocidade que devem acontecer. Johnson só faz uma última interpolação para mostrar um fã service com Luke e Yoda. É um bom momento do longa, mesmo que faça pouco sentido a motivação para o lendário mestre Jedi queimar o primeiro Templo Jedi e as primeiras escrituras. Mas nessa altura do filme, já estamos acostumados com Johnson jogar tantas coisas nada caprichadas em tela, principalmente envolvendo os personagens da trilogia original.

Na batalha final do filme, vemos que Johnson faz Poe agir de modos diferentes, admitindo a derrota e se negando a sacrificar o time inteiro contra a legião de novos AT-AT, que Ren e a Primeira Ordem comandam. Nesse momento, teríamos uma situação perfeita para se despedir de Finn, que decide se sacrificar para explodir uma arma que poderia quebrar a blindagem da base, enfim abraçando o heroísmo real que ele sempre flertou.

Mas, como sabemos, Rian Johnson adora plot twists ruins e não sacrifica Finn, que é salvo no último segundo por Rose – ele encara um pré-raio que consegue derreter metal, mas sai completamente ileso do contato do calor com a pele (Star Wars sempre obedeceu bem tudo o que envolve calor e queimaduras vide A Vingança dos Sith). Em outra jogada forçada, Johnson consegue criar um casal entre esses dois coadjuvantes sem química alguma. Rose, uma personagem claramente esgotada, também sobrevive.

Depois de mais alguns deus ex machina e soluções fáceis, o momento mais aguardado chega: Luke Skywalker entra para a batalha e reencontra sua irmã. Apesar do texto fraco, as performances de Hamill e Fisher são emocionantes para trazer à tona um reencontro que diz muito, mesmo sem muita conversa. São olhares trocados, de aventureiros e sonhadores, que de alguma forma, sabem que é uma despedida.

Johnson entrega momentos verdadeiramente épicos para vermos o personagem em ação durante uma luta curta contra Kylo Ren, agora Líder Supremo da Primeira Ordem. Em outra reviravolta bastante previsível para os espectadores mais atentos – Johnson faz Luke usar o sabre azul que claramente havia sido destruído momentos antes, temos a revelação que Luke apenas está usando uma projeção astral através da Força para permitir que a Resistência escape com Rey e Chewie.

Na pior das decisões, Johnson mata Luke Skywalker, pelo jeito por esgotamento ou só because of reasons. O que nos leva a pensar imediatamente por que? Por que matar Luke de modo tão anticlimático, sem permitir que ele brilhe mais um pouco na franquia iniciada pela força do personagem? Por que matá-lo, mas deixar Leia viva, enquanto Mark Hamill está vivo e Carrie Fisher, infelizmente, não? Isso gerará um desconforto enorme no próximo filme e será um absurdo completo se a Disney substituir Fisher por um bonecão CGI para concluir essa narrativa.

Aliás, também não faz muito sentido que Leia espere Rey retirar as pedras com a Força no fim da caverna, já que, segundo o filme, Leia consegue fazer o impossível com seu dom ao sobreviver no Espaço. É surreal. Na vontade de fazer algo diferente, Johnson cria diversos absurdos sempre na tentativa de tirar uma expressão de surpresa do espectador. E não ouse pensar que essa é a reviravolta final do filme. Antes de Rey partir, novamente há uma conexão com Kylo Ren, derrotado e sozinho, na sala principal do esconderijo.

Teoricamente, essa conexão não deveria mais existir já que Snoke morreu. Logo, Johnson consegue colocar em xeque todas as resoluções horrorosas que colocou no filme: Snoke está mesmo morto? Rey é parente de Kylo Ren visto que esse tipo de conexão é forte entre familiares? Ou seja, ainda teremos mais ladainha nessa polêmica a respeito da paternidade da protagonista? Ainda teremos mais problematizações redundantes sobre o bem e o mal no próximo episódio?

Eu sinceramente espero que não. Johnson tinha o propósito e intenção de destruir os pilares da franquia Star Wars ao eliminar a luta eterna entre Sith e Jedi, mas, no fim, não consegue concretizar em nada essa inglória missão. Sempre haverá o bem e o mal. Mesmo que haja tons cinzentos os separando, existem atitudes que definem essa estrutura clássica da narrativa da ficção.

Johnson sabe muito bem disso. Basta ligar os pontos e refletir: esse filme realmente segue a moral que emprega? Óbvio que não. Tirando algumas mortes importantes e mudanças de hierarquia, Os Últimos Jedi preserva os lados antagônicos da mesmíssima forma na qual ele começa.

O desenvolvimento dos personagens é pífio se levarmos em conta a longa duração do filme tornando esse capítulo, que deveria ser focado nessa evolução, totalmente redundante. Ele conclui diversos pontos dessa nova trilogia de modo desleixado, bizarramente alterando a ordem convencional de toda história contada por um escritor são, sem preparar com força o terreno para a conclusão no próximo filme. Os Últimos Jedi é um episódio filler de Star Wars.

O efeito disso tudo é devastador: não existe muita vontade em descobrir como essa história termina.

Matando o Passado

O diretor Rian Johnson quer abraçar o diferente a todo custo. Como já exploramos, ele conseguiu minar o lore, a lógica e também o bom senso com o roteiro do longa. Então o que realmente salva esse filme? O que o torna um pedaço razoável de entretenimento para aproveitar nos cinemas? A técnica.

Rian Johnson com certeza é o diretor mais autoral que já passou pela franquia até agora. Apesar das exigências continuas da Disney em preservar uma lógica visual de linguagem cinematográfica herdada de O Despertar da Força. Por competência como diretor, Johnson consegue colocar sua marca em uma quantidade até mesmo surpreendente de cenas.

O diretor preserva a elegância da marca mantendo sempre a câmera estável, mas nunca a imobilizando por completo. Sempre temos direito a planos dinâmicos, com movimentos precisos, além de muito bem enquadrados oferecendo uma plástica visual excelente se comparada aos filmes anteriores.

O uso intenso de cenários reais com identidades próprias marcantes também colabora significativamente para aumentar o realismo das imagens. O destaque, obviamente, fica para a sala do trono de Snoke, envolta por um painel vermelho gigante se unindo com perfeição a proposta minimalista dos designers de produção. Com vestes douradas, fica claro que Snoke é um narcisista arrogante que gosta de ser o foco das atenções, enquanto é cercado pelo vermelho rubro da violência e maldade. Um bom estereótipo de vilão.

Aliás, Johnson consegue trabalhar relativamente bem com metáforas visuais para enriquecer o trabalho deficitário do texto com os personagens. Não são muitas as vezes que isso ocorre, mas é bastante eficiente. A primeira delas certamente acontece quando Kylo Ren destrói seu capacete, começando a enterrar o passado e abrindo sua vista para novos horizontes – um foreshadowing ambíguo que nos faz acreditar na sua conversão para a Luz antes dele matar Snoke.

As cores mortas e tempo constantemente nublado em Ahch-To para sustentar o luto de Luke também é adequado. E o completo oposto com a saturação em Crait igualmente funciona para demonstrar a ressurreição da Resistência. Já na despedida de Luke com Leia, temos outro momento de muita valorização da cinematografia de Steve Yedlin. Ao banhar os personagens com uma luz dura e direta fortíssima, cria-se silhuetas belas na contraluz, similar a um crepúsculo romântico, do amor e calor intenso que esses dois irmãos compartilham entre si. É uma das raras vezes que a cinematografia se torna uma verdadeira poetisa visual na saga. 

Johnson também consegue arquitetar boas cenas de ação, excetuando a fuga de Finn e Rose em Canto Bight. As batalhas espaciais têm um dinamismo, assim como as lutas envolvendo sabres de luz. Mesmo que tenhamos tão poucas aqui, ver Kylo e Rey lutando contra os guardas pretorianos foi absolutamente incrível, possuindo uma dinâmica de montagem ótima.

Já com o duelo final entre Kylo e Luke, Rian Johnson consegue trazer mais de sua autoria cinematográfica, mas homenageando assinaturas de clássicos do cinema japonês como Yazujiro Ozu e Akira Kurosawa. Com a câmera baixa, o diretor captura uma ótima antecipação clássica na linguagem dos filmes samurais. O mesmo se dá com a coreografia da luta, com pouquíssimos golpes entre os dois guerreiros. Tudo se concentra em atingir um golpe letal no oponente. É belo e mágico.

É justamente aqui que as cores vibrantes e vermelhas dos cristais escondidos debaixo de uma camada de sal branco em Crait colaboram para simular sangue, tanto no ataque final de Kylo Ren quanto na batalha com os speeders.

Para completar, a despedida visual para Luke também é feita com boas sacadas de imagem, principalmente ao colocar nosso querido personagem contemplando o horizonte e vendo os dois sóis de Tatooine pela última vez antes de ser um com a Força. 

Johnson tem uma constante mania em trazer imagens que ele julga ser inteligentes, mas que se tornam tornam repetitivas em pouco tempo. Repare que sempre em um pico dramático, temos um enquadramento heroico mostrando o último “alguma coisa”. Seja a nave de bombardeio enfrentando o perigo sozinha, ou o X-Wing de Poe Dameron, o speeder de Finn em seu quase sacrifício, com Rey ou Luke em diversos momentos, entre outros. É poético e belo no começo, mas Johnson simplesmente não sabe a hora de por o pé no freio e dar uma sossegada com muitos dos elementos do filme – isso inclui os meus argumentos sobre o roteiro também

Mas há sim distúrbios significativos que pesam negativamente a balança de Rian Johnson como diretor também. O maior problema do longa é estrutural, como já vimos com o roteiro segmentado em excesso. Isso acaba prejudicando a montagem também que constantemente se perde no meio de um pingue-pongue levemente irritante. Não colabora o fato de termos que acompanhar narrativas insossas que interrompem a todo momento a história principal mais interessante. Logo, o filme perde seu ritmo e se torna arrastado.

A duração por planos também é levemente incômoda pelo ritmo rápido da sucessão de imagens. Johnson não deixa o filme respirar e também acaba prejudicando bastante os enquadramentos mais elaborados que mal tem tempo para nos impactar já que são cortados em poucos segundos. Aliás, é curioso como Johnson tem tanta preferência por planos fechados, aproveitando pouco o potencial visual de diversas cenas que precisavam de planos maiores e majestosos. Felizmente, isso é corrigido no clímax do filme.

Existem sim bons momentos na montagem, inclusive chegando a criar um efeito de linguagem bastante inteligente que quase não tínhamos visto na franquia desse modo até então. Johnson consegue criar diálogos com Rey e Kylo em lugares totalmente diferentes ao decupar bem seus planos, além da inclusão de efeitos sonoros corretos que já transmitem a mágica para o espectador entender, igual ao que vemos em O Império Contra-Ataca entre Luke e Leia, ou Luke e Vader, perto do fim do filme. Temos várias transições que preservam a moldura do rosto dos personagens para irmos em outros núcleos ou simplesmente para reforçar ainda mais uma conexão sugerida por meio de texto.

O ponto mais alto da técnica da montagem fica com a rápida sucessão de planos silenciosos para ilustrar o efeito devastador do Cruzeiro Mon Calamari ao se chocar contra as naves da Primeira Ordem na velocidade da luz. De modo tão belo quanto, Johnson também acerta ao fazer uma sucessão de imagens sinestésicas para ilustrar o que se trata da Força quando Luke ensina Rey. Depois, há até mesmo uma experimentação surrealista quando ela decide explorar a caverna sombria da ilha.

De resto, temos o de sempre: ótimos efeitos visuais e sonoros, além de uma trilha sonora original de John Williams – agora muito superior à de O Despertar da Força. Aliás, é curioso que trouxeram de volta a marionete prática de Yoda para um longa tão moderno. As criaturas, quando feitas em efeitos práticos, impressionam bastante, incluindo os simpáticos Porgs, as raposas de cristal e as guardiãs de Ahch-to. Já com os cavalos alienígenas de Canto Bight, totalmente digitais, não temos um trabalho muito impressionante, apesar das criaturas expressarem as emoções necessárias para que Johnson encaixe uma mensagem ambientalista na obra.

Isso não terminará do jeito que você imagina

Bom, eu queria ter gostado mesmo de Os Últimos Jedi. Acreditava piamente que teríamos algo novo que expandisse o universo e cumprisse o objetivo de realmente desenvolver seus personagens de modo satisfatório e incisivo. Isso, de certa forma, acontece com Kylo Ren, que se torna imediatamente o melhor personagem dessa nova trilogia – aliás, Adam Driver está perfeito no papel, tornando a dor e o ódio do personagem realmente palpáveis para o espectador. É um bom conflito interno que ele passa, mas sua evolução, na prática, não altera absolutamente nada do que já não sabíamos em O Despertar da Força: ele é o vilão da trilogia.

O sentimento de enrolação permanece na cabeça e mesmo depois de duas visitas a esse filme, ele simplesmente não melhora. Os fatos que ocorrem aqui são desnecessários e não alteram em nada a ordem do jogo estabelecido: a Primeira Ordem está poderosa e tem um líder maníaco e a Resistência está em fuga. Poe Dameron não necessariamente precisava de um bom desenvolvimento e recebe apenas o já clichê: soldado impulsivo aprende a ser um líder responsável. Rey continua forte na Força, enterrando seu passado de vez (?). Finn finalmente abraçou o heroísmo real (como já tinha feito antes). E Leia permanece na mesma posição de outrora mesmo que seja escanteada no terceiro ato da fita.

Do jeito que J.J. Abrams havia preparado o terreno para esse longa, teria sido fácil Rian Johnson conseguir criar uma grande história, ainda preservando suas quebras de expectativa que tanto gosta, mas demonstrando um pouco mais de respeito pela história que a saga se originou – tanto é que Mark Hamill afirmou diversas vezes que não concordava em nada com o que Johnson tinha feito com Luke.

Tenho plena ciência que julguei o filme pela qualidade duvidável das ideias que apresenta na mesa, mas também mencionei os pontos que não tornam ele apenas um filme medíocre de Star Wars, mas sim uma decepção cinematográfica em geral. Rian Johnson conseguiu enterrar o passado, mas não com as glórias que merecia.

Com esse “entrave” da geração anterior expelida da franquia, a Disney poderá guiar Star Wars para onde quiser, inserindo suas doses de humor interrompendo o momentum dramático de diversas cenas, encaixando reviravoltas sem sentido, apresentando seus novos personagens com diversas críticas sociais e políticas e vendendo mais produtos licenciados para talvez responder as muitas questões que ainda permanecem em Os Últimos Jedi que foram largadas, esquecidas, na escuridão de uma galáxia muito, muito distante….

Star Wars: Os Últimos Jedi (Star Wars: The Last Jedi, EUA, 2017)

Direção: Rian Johnson
Roteiro: Rian Johnson
Elenco: Daisy Ridley, John Boyega, Mark Hamill, Adam Driver, Gwendoline Christie, Domhnall Gleeson,  Carrie Fisher, Billie Lourd, Andy Serkis, Laura Dern, Oscar Isaac,  Benicio Del Toro, Kelly Marie Tran
Gênero: Ficção científica, fantasia
Duração: 152 min.

 

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Publicado por Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema seguindo o sonho de me tornar Diretor de Fotografia. Sou apaixonado por filmes desde que nasci, além de ser fã inveterado do cinema silencioso e do grande mestre Hitchcock. Acredito no cinema contemporâneo, tenho fé em remakes e reboots, aposto em David Fincher e me divirto com as bobagens hollywoodianas.

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