Crítica | Homem-Formiga e a Vespa - Overdose de fórmula Marvel
Após lançar seu mais político e maduro filme com Pantera Negra, e também seu projeto mais megalomaníaco e grandioso com o épico Vingadores: Guerra Infinita, é curioso que a Marvel Studios agora siga para uma aventura com aquele que literalmente é seu menor personagem. Demonstra o senso de humor que se estende até mesmo ao calendário do produtor Kevin Feige, que compreende o desejo dos fiéis seguidores da Casa das Ideias por algo mais leve após toda a catástrofe dramática provocada pelo Thanos de Josh Brolin há alguns meses atrás. E, saindo da diversão açucarada do primeiro filme de Peyton Reed, Homem-Formiga e a Vespa chega para preencher tabela e entregar um pouco de diversão despretensiosa. Só é uma pena que esta continuação seja tão episódica e represente alguns passos para trás ao estúdio, que caminha para algo mais interessante.
A trama é situada após os eventos de Capitão América: Guerra Civil e antes dos de Guerra Infinita, trazendo Scott Lang (Paul Rudd) nos últimos dias de sua prisão domiciliar, consequência de sua presença ilegal no combate do Capitão América na Alemanha. Mesmo tentando se comportar e seguir às ordens de um agente do FBI (Randall Park), Lang é rapidamente atraído de volta à ação quando Hank Pym (Michael Douglas) e sua filha Hope Van Dyme (Evangeline Lilly) o convocam para ajudá-los em uma missão desesperada para mergulhar no perigoso Reino Quântico e encontrar Janet Van Dyme (Michelle Pfeiffer), que encontra-se perdida há mais de 30 anos. A viagem só é interrompida quando uma misteriosa entidade conhecida como Fantasma (Hannah John-Kamen) ameaça o grupo de heróis.
As falhas no plano
Peyton Reed tinha todas as chances a seu favor aqui. Saindo da sombra de Edgar Wright, que originalmente comandaria o primeiro filme e foi repentinamente demitido, agora era a chance do diretor e seu time de roteiristas enfim partirem de uma premissa e conceito completamente novos, sem pegar as "sobras" do roteiro de um criador como Wright. Infelizmente, é justamente no roteiro em que temos a maior deficiência. Assinado por Chris McKenna, Erik Sommers, Andrew Barrer, Gabriel Ferrari e do próprio Rudd (viram quantos nomes? Nunca é um bom sinal), a trama deste segundo filme é desconjuntada e desinteressante. Inseguros em apostar em algo completamente inovador na fórmula Marvel, no que deveria ter sido uma aventura sci-fi ao estilo de Viagem Fantástica (com Hank, Scott e Hope viajando pelo Reino Quântico), o quinteto de roteiristas se vê na necessidade de enfiar diversas subtramas e distrações desnecessárias à narrativa central.
O grande problema a ser solucionado (o resgate de Janet) é adiado das formas mais estúpidas possíveis, onde nunca uma ação é reação de algo. Ou temos o laboratório de Hank sendo constantemente roubado - o fato de este agora ser uma miniatura possibilita essas muletas- -por algum personagem (geralmente o mesmo) ou alguma falha no plano demanda que os heróis atravessem outro obstáculo antes de enfim embarcar. Por exemplo, quando Hank precisa encontrar um meio de localizar seu laboratório após perdê-lo, Scott imediatamente os leva para o escritório de Luis (Michael Peña) e seus amigos (Damian Dastmalchian e Tip 'T.I.' Harris), onde a única desculpa é ter algumas piadas com o trio, que inadvertidamente fazem Hank ter a ideia de encontrar um rastreador - agora levando-os ao personagem de Laurence Fishburne. O encontro com Luis surge desnecessário, como se Peyton Reed estivesse apenas preocupado em oferecer diferentes esquetes com os personagens - mas algumas definitivamente funcionam, sendo um efeito pontual.
A exposição também é um problema grave. Logo no início, temos um desconfortável monólogo do agente de Randall Park para a jovem Cassie (Abby Ryder Fortson) onde nos é vomitado todo o contexto e situação atual que explica a prisão de Scott, em um tipo de diálogo que faz qualquer explicação cabeluda de Christopher Nolan parecer um monólogo introspectivo de Terrence Malick. É pior ainda com a vilã Fantasma, que é facilmente um dos piores antagonistas que a Marvel já foi capaz de oferecer, que explica suas motivações e origem no estilo mais preguiçoso e clichê possível, com flashbacks e diálogos expositivos que literalmente interrompem a narrativa central - e não fazem a menor diferença no final, por mais que o texto tente oferecer uma motivação coerente para a personagem, e a novata Hannah John-Kamen é extremamente talentosa e convincente em suas intenções agressivas.
Pequena Grande Família
Mas não que tudo seja mal executado. Quando Homem-Formiga e a Vespa funciona, o efeito é mais do que satisfatório. A começar com Paul Rudd, que continua sendo um ator extremamente carismático e divertido, e cujas cenas com sua filha Cassie proporcionam momentos de afeto e carinho que nenhum outro filme do estúdio é capaz de replicar - e é uma pena que esses momentos sejam tão poucos, vide a bonita cena em que Scott e Cassie brincam dentro de sua casa em um jogo elaborado para mantê-la entretida durante seu confinamento. O roteiro brilha justamente quando oferece a criatividade do efeito de diminuição e aumento de tamanho, o que sequências que permitem que Rudd explore todo o seu potencial cômico, e manterei a surpresa de tais cenas para o espectador.
Da mesma forma, ver Evangeline Lilly ganhar mais destaque em sua estreia como a heroína Vespa é um sopro de ar fresco. A Marvel pode ter algumas personagens femininas bem presentes, mas poucas tem a presença e o carisma da veterana de Lost, que oferece a combinação perfeita de humor, drama e experiência para Hope, além de manter uma relação interessante com Rudd, que vai um pouco além do básico clichê do "romance entre dois polos opostos". Também continua eficiente Michael Douglas como Pym, aqui em uma performance um pouco mais intensa do que no anterior, e que ganha mais força quando a ótima Michelle Pfeiffer enfim surge no terceiro ato. Só é uma pena que sua participação seja tão rápida, além de servir mais como macguffin e ex machina do que uma personagem inteiramente desenvolvida.
E quanto menos eu falar de Judy Greer e o nível de carinho absolutamente creepy a qual o personagem de Bobby Cannavale exibe em tela, melhor.
Quase uma Viagem Fantástica
Em termos de direção, o novo Homem-Formiga não faz feio em relação ao anterior. Com as novas trucagens e habilidades das partículas Pym, Reed é capaz de aumentar a escala (ou diminuir, de certa forma) das cenas de perseguição de carro, lutas e outras setpieces muito interessantes. Dentre todos os heróis da editora, o Homem-Formiga (talvez seguido pelo Doutor Estranho) é o personagem que melhor oferece soluções visuais para seus poderes, e Reed se diverte ao tornar um embate em uma cozinha parecer letal graças ao tamanho das facas em relação à uma minúscula Vespa ou a capacidade de destruição de uma Pez-Dispenser da Hello Kitty em tamanho jumbo. O uso rápido do poder de diminuição em veículos também mostra-se divertido nesse quesito, com Hope despistando e atacando carros inimigos ao usar a vantagem do tamanho menor para confundi-los.
Reed também abraça um pouco mais a psicodelia que o terceiro ato do original flertava. Primeiramente, com os poderes de faseamento de Fantasma, que traz uma versão diferente do velho poder de "atravessar coisas". A cada faseamento, vemos inúmeros vestígios de suas formas anteriores, quase como se a personagem "congelasse" antes de mover-se, o que garante um oponente fascinante para heróis diminutos: algo que não se pode ver contra alguém intangível. Fica ainda mais deslumbrante quando Reed enfim nos leva para dentro do Reino Quântico, garantindo as imagens mais coloridas e realmente vibrantes que o estúdio já trouxe até hoje, sem medo de ser maluco ou cartunesco demais, e realmente servindo à proposta de um lugar perigoso e desconhecido.
Só é, novamente, uma pena que não tenhamos uma exploração maior desse ambiente. O fato de Reed intercalar a viagem solitária de Hank ao subatômico com uma perseguição de carros envolvendo Luis e uma terceira cena com Scott descontroladamente tornando-se gigante na baía de São Francisco tira grande parte do impacto do que poderia ser uma sequência ambiciosa e realmente diferente da fórmula Marvel, algo que Pantera Negra e Guerra Infinita fizeram sem hesitar. Porém, não deixa de ser uma incontestável conquista visual para o estúdio, que parece mais disposto a abraçar as cores vibrantes.
Mais um episódio
Mesmo que conte com bons momentos, Homem-Formiga e a Vespa parece uma decaída para a Marvel Studios, que vinha perfeitamente ousando e testando novos limites com suas últimas produções. O novo filme de Peyton Reed se beneficia de um visual vibrante e uma dupla de protagonistas absolutamente carismática, e que me fariam ver mais filmes meramente por sua presença. Mas era de se esperar algo que fugisse da velha fórmula, ainda mais quando sua proposta é tão audaciosa.
Homem-Formiga e a Vespa (Ant-Man and the Wasp, EUA - 2018)
Direção: Peyton Reed
Roteiro: Chris McKenna, Erik Sommers, Paul Rudd, Andrew Barrer e Gabriel Ferrari, baseado nos personagens da Marvel
Elenco: Paul Rudd, Evangeline Lilly, Michael Douglas, Michelle Pfeiffer, Michael Peña, Laurence Fishburne, Hannah John-Kamen, Walton Goggins, Bobby Cannavale, Judy Greer, Damian Dastmalchian, Randall Park, Abby Ryder Fortson
Gênero: Aventura, Ficção Científica
Duração: 118 min
https://www.youtube.com/watch?v=0HGBv7s1Y7E
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Especial | Halloween
A noite em que Michael Myers voltou para a casa, em 31 de outubro de 1978, marcou o cinema de terror.
Teríamos ali a popularização do subgênero do slasher, com o assassino criado por John Carpenter e Debra Hill inspirando uma onda de personagens populares que até hoje seguem sua excepcional estreia. Aqui, reunimos todo o nosso conteúdo da série Halloween, que teve uma turbulenta e fascinante trajetória pelas telas do cinema ao longo de sua existência.
Confira:
Crítica | Halloween: A Noite do Terror (1978)
Publicado originalmente em 1 de julho de 2018
Crítica | Halloween II: O Pesadelo Continua! (1981)
Publicado originalmente em 2 de julho de 2018
Crítica | Halloween III: A Noite das Bruxas (1982)
Publicado originalmente em 3 de julho de 2018
Crítica | Halloween 4: O Retorno de Michael Myers (1988)
Publicado originalmente em 4 de julho de 2018
Crítica | Halloween 5: A Vingança de Michael Myers (1989)
Publicado originalmente em 5 de julho de 2018
Crítica | Halloween 6: A Última Vingança (1995)
Publicado originalmente em 6 de julho de 2018
Crítica | Halloween H20: Vinte Anos Depois (1998)
Publicado originalmente em 7 de julho de 2018
Crítica | Halloween: Ressurreição (2002)
Publicado originalmente em 8 de julho de 2018
Crítica | Halloween: O Início (2007)
Publicado originalmente em 9 de julho de 2018
Crítica | Halloween 2 (2009)
Publicado originalmente em 10 de julho de 2018
Crítica | Halloween (2018)
Publicado originalmente em 17 de outubro de 2018
Crítica | Halloween Kills: O Terror Continua (2021)
Publicado originalmente em 14 de outubro de 2021
LISTAS
Ranking da franquia Halloween
Publicado originalmente em 11 de julho de 2018
Especial | Indiana Jones
Quando um dos mais aclamados diretores de cinema de todos os tempos se une ao talentoso criador de Star Wars, a Sétima Arte ganha uma de suas pérolas mais preciosas. Sinônimo de aventura, Indiana Jones é o fruto da paixão de Steven Spielberg e George Lucas pelo cinema matinê, e que garantiu uma trajetória divertidíssima durante sua passagem pelas telas, onde Harrison Ford o imortalizou com muito carisma.
Confira aqui todo o nosso conteúdo sobre as aventuras de Indy:
Cinema
Crítica | Os Caçadores da Arca Perdida (1981)
Publicado originalmente em 14 de março de 2018
Crítica | Indiana Jones e o Templo da Perdição (1984)
Publicado originalmente em 17 de março de 2018
Crítica | Indiana Jones e a Última Cruzada (1989)
Publicado originalmente em 18 de março de 2018
Crítica | Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (2008)
Publicado originalmente em 26 de março de 2018
Crítica | O Exterminador do Futuro: A Salvação - Guerra Cyberpunk
Com a recepção morna de A Rebelião das Máquinas, a franquia Exterminador do Futuro entrava no complicado período que enfrenta até hoje: as reinvenções para sobreviver. A cada novo projeto, estúdio e distribuidora, a saga de James Cameron ganha uma nova roupagem e abordagem, e em 2009, com os direitos sendo transferidos de Mario Kassar e Andrew G. Vajnar para a Halcyon Company, veríamos pela primeira vez um capítulo da franquia completamente diferente dos demais. Esquecendo a viagem no tempo e a já redundante fórmula de impedir o Julgamento Final, O Exterminador do Futuro: A Salvação vem com a empolgante premissa de ficar apenas no futuro apocalíptico que os outros filmes haviam apenas sugerido. O resultado? Muito menos do que poderia ser, mas não deixa de ser um entretenimento eficiente.
A trama é ambientada na Los Angeles de 2018, mas um pouco diferente da que conhecemos agora. A humanidade foi praticamente erradicada após a Skynet tomar consciência no Julgamento Final, e pequenas facções de um grupo conhecido como a Resistência lutam contra andróides e exterminadores, procurando humanos sobreviventes. Nesse cenário, John Connor (Christian Bale) precisa provar seu valor e tornar-se o líder da Resistência, e o grande teste vem quando ele precisa garantir a sobrevivência de seu futuro pai, ainda um jovem Kyle Reese (Anton Yelchin). No meio disso tudo, um estranho chamado Marcus Wright (Sam Worthington) acorda nesse cenário desolado, e apresenta uma estranha conexão com a Skynet que pode determinar o futuro da guerra.
As Consequências do Julgamento Final
Era o caminho ideal para a franquia. A ausência de novidades em A Rebelião das Máquinas demonstrava que a fórmula estava batida, e até mesmo a série de TV Terminator: The Sarah Connor Chronicles também já tinha extraído muito suco daquela dinâmica familiar, então é certo assumir que uma história ambientada na guerra futurista era o único caminho possível - afinal, todos sabemos o mumble jumble que o então inédito Exterminador do Futuro: Gênesis iria causar, certo? O roteiro traz apenas os nomes de John Brancato e Michael Ferris creditados, visto que o contrato da dupla do filme anterior incluía um quarto filme, mas é de conhecimento geral que o longa foi uma bagunça nesse departamento. Nomes como os de Paul Haggis, Shawn Ryde e até mesmo de Jonathan Nolan passaram pelo texto, que acaba soando desnecessariamente complexo e inchado de tantas subtramas; em algo que deveria ser algo simples e direto, como foi Mad Max: Estrada da Fúria alguns anos depois.
As ideias certamente funcionam. Ter Connor como uma espécie de "messias" por parte dos resistentes e taxado como lunático pelos superiores é uma linha de raciocínio lógica e condizente com o caráter religioso de seu próprio nome, além de se realista por não deixar um qualquer assumir a liderança da única linha de defesa da Humanidade. A inversão de papéis envolvendo o jovem Kyle Reese também é divertida, pelo simples de fato de termos o protetor do primeiro filme entrando no papel de alvo principal, e precisando ser salvo por seu próprio filho adulto, para garantir sua existência... É um paradoxo maluco, mas digno do trabalho original de Cameron. O problema é que nenhuma dessas linhas ganha um tratamento apropriado, com Brancato, Ferris e todos os outros escritores fantasmas trazendo um tom esquizofrênico e diálogos que se levam a sério demais e forçam um tom sombrio que jamais convence.
A questão com o personagem de Marcus Wright é outra adição agridoce. Por mais que a revelação de que o sujeito seja um Exterminador sem saber seja eletrizante, seu conceito no geral não faz sentido. É uma máquina com órgãos e consciência? Tudo bem que estamos falando de ficção científica, mas nunca fica claro como Marcus pode ter sobrevivido após tantos anos e ainda funcionar nesse estado peculiar; e todo o clímax que envolve seu confronto online com a Skynet sendo representada por Helena Bonham Carter é simplesmente ridículo, além de passar sobrevoando pelo velho clichê da criatura que não encontra seu propósito para sobreviver. Mas Sam Worthington é bem eficiente e carismático em seu retrato de Marcus, sendo sua primeira grande performance em Hollywood antes do estrondoso sucesso de Avatar, naquele mesmo ano.
Antes da Estrada da Fúria
Como filme de ação, A Salvação funciona melhor. Não é surpresa nenhuma dizer que McG é a escolha menos inspirada do mundo para se dirigir um filme de Exterminador, mas felizmente vemos um esforço real do cineasta de As Panteras Detonando aqui. Optando por um visual completamente distinto dos filmes da franquia, e também de sua própria filmografia, McG e o diretor de fotografia Shane Hurlbut adotam um filtro de película especial que garante uma colorização predominantemente cinza e dessaturada ao filme, já estabelecendo um look pós apocalíptico impactante e capaz de criar uma atmosfera própria. Tal decisão estética também contribui para o visual sujo dos personagens, com destaque para os exterminadores criados através de um misto de maquiagem, efeitos práticos e CGI - os T-600 são amedrontadores com seu sistema de "camuflagem" que inclui roupas humanas e uma pele falsa sobre o endosqueleto metálico.
Na ação, McG se mostra mais inventivo e pé no chão do que o normal. Sua câmera é urgente e aposta em diversos planos longuíssimos, como aquele em que acompanhamos a queda de helicóptero de Connor em um único enquadramento no interior da cabine ou as trocas de eixo quando Marcus, Kyle e a pequena Star (Jadagrace) fogem de um posto de gasolina. Essa mesma abordagem é adotada em uma das melhores cenas do filme, quando o mesmo trio precisa fugir de "Moto-Exterminadores", uma atualização interessante e ameaçadora para este mundo. A câmera de McG é intensa na medida certa, ao passo em que a trilha sombria de Danny Elfman e a montagem precisa do veterano Conrad Buff IV são os toques finais para que essas sequências se sobressaiam.
Só fica menos interessante no clímax, que é certamente o setor mais fraco do longa. Aqui, a ação também torna-se um pouco mais debilitada, com muito mais CGI e uma estética clean que destoa radicalmente daquele universo. Claro, temos o memorável fan service com a aparição de um T-800 com a cara de um rejuvenescido Arnold Schwarezenegger para lutar com John Connor, mas não vai muito além disso.
Não deu pra salvar
Por mais saborosa que seja sua premissa, O Exterminador do Futuro: A Salvação não consegue viver à expectativa. Um roteiro amarrotado acaba ficando no caminho de uma condução muito eficiente e uma mitologia vasta, mas temos bons momentos quando o filme de McG se dedica exclusivamente à ação. É uma pena que o resultado seja apenas mediano. Quem sabe o futuro não ganha uma nova chance em outra realidade?
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O Exterminador do Futuro: A Salvação (Terminator Salvation, EUA - 2009)
Direção: McG
Roteiro: John Brancato e Michael Ferris, baseado nos personagens de James Cameron
Elenco: Christian Bale, Sam Worthington, Bryce Dallas Howard, Anton Yelchin, Moon Bloodgood, Common, Helena Bonham Carter, Jadagrace, Jane Alexander, Michael Ironside, Ivan G'Vera
Gênero: Ação, Ficção Científica
Duração: 115 min
https://www.youtube.com/watch?v=RFzR5WSpbcY
Especial | O Exterminador do Futuro
Uma das maiores pérolas do cinema de ficção científica americana, O Exterminador do Futuro é a jóia dourada na coroa do Rei do Mundo James Cameron. Oferecendo um misto de ação e conceitos de sci-fi fascinantes, a franquia teve uma trajetória turbulenta pelos cinemas, com muitos altos e baixos e verdadeiros marcos em sua passagem.
Aqui, reunimos todo o nosso conteúdo da saga que popularizou Arnold Schwarzenegger e lançou Cameron ao estrelato.
Confira:
Crítica | O Exterminador do Futuro (1984)
Publicado originalmente em 25 de junho de 2018
Crítica | O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final (1991)
Publicado originalmente em 26 de junho de 2018
Crítica | O Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas (2003)
Publicado originalmente em 27 de junho de 2018
Crítica | O Exterminador do Futuro: A Salvação (2009)
Publicado originalmente em 28 de junho de 2018
Crítica | O Exterminador do Futuro: Gênesis (2015)
Publicado originalmente em 9 de julho de 2016
Listas
Ranking da franquia O Exterminador do Futuro
Publicado originalmente em 1 de julho de 2018
Crítica | O Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas - Fórmula repetida
Na maior parte das trilogias cinematográficas, há a crença de que o terceiro costuma ser o pior. Não é necessariamente mentira, mas é uma mera questão de perspectiva, pois geralmente o terceiro tem a ingrata tarefa de seguir dois bons filmes, com o segundo capítulo sendo algo mais inovador e até melhor do que o original. É o caso de O Poderoso Chefão, a trilogia Homem-Aranha de Sam Raimi, a antologia Alien e também se aplica a O Exterminador do Futuro, onde James Cameron havia feito História com seu excelente Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final, um filme que não só era uma continuação perfeita, mas também um excelente filme que oferecia um desfecho apropriado à uma trama que por si só já era resolvida no original, de 1984.
Mas, seguindo a sina da trilogia, o sucesso do segundo praticamente exige a existência de mais uma continuação, e Cameron demorou até que o terceiro Exterminador enfim saísse do papel. Foi a falência da Carolco Pictures, a demora para um roteiro concreto e a procura por um novo estúdio, que até afastaram Cameron (no momento, ocupado com a longa gestação de Avatar) da cadeira de direção, roteirista e até de produtor, já se dando por ter contado a história completa nos dois primeiros. Assim, nascia O Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas, um filme que não chega nem perto de capturar o brilho dos anteriores, mas oferece alguma diversão escapista.
A trama começa dez anos após o anterior, com John Connor (Nick Stahl) vivendo escondido e sem qualquer traço ou identidade que possa rastreá-lo, ainda temendo por uma futura ameaça da Skynet. Enquanto acaba reencontrando-se com uma ex-namorada de infância chamada Katherine Brewster (Claire Danes), Connor novamente é colocado na mira de um exterminador vindo do futuro, agora na forma feminina da T-X (Kristanna Loken). A fim de sobreviver e impedir o Julgamento Final novamente, uma nova unidade do T-800 (Arnold Schwarzenegger) é enviada para auxiliá-los.
Mais do mesmo
À primeira vista, é uma premissa completamente reciclada e redundante. Já havíamos tido essa dinâmica do exterminador protetor e John Connor com alguma figura feminina forte lutando para impedir o juízo final, e é basicamente o que temos aqui. Mas é preciso dar um tapinha nas costas dos roteiristas John Brancato e Michael Ferris, que são capazes de oferecer alguns pequenos elementos que justifiquem uma terceira viagem no tempo por parte da Skynet: além de Connor, a T-X tem uma lista de alvos secundários, de diversas pessoas que futuramente tornariam-se companheiros e líderes militares da Resistência de Connor, o que demonstra um raciocínio interessante por parte da Skynet: com Connor morto, outra pessoa assumiria sua posição, então faz sentido trazer múltiplos alvos desta vez - incluindo um peso maior para Katherine Brewster, revelada como a esposa de Connor no futuro.
Tirando esses elementos, é basicamente uma versão mais melancólica e sem o humor do anterior. Com Connor já crescido e em um estado quase depressivo, o terceiro filme carece do excelente bom humor e as piadas que marcaram o segundo filme, e mesmo quando Brancato e Ferris tentam apostar nesses momentos (como o "fale com a mão" ou o óculos estrelado), é uma bolada na parede, já que toda a atmosfera do longa é triste e "silenciosa". Claro, Schwarzenegger é carismático e consegue manter o Exterminador pontualmente divertido com seus one liners e a presença imponente, mas é um filme extremamente cinza. Tal característica só funciona de fato no inesperado clímax da produção, quando os heróis precisam lidar com o fato de que o Julgamento Final é inevitável, rendendo um dos desfechos mais pra baixo e reversor de expectativas de um blockbuster desse tamanho.
Nick Stahl faz um Connor diferente da versão de Edward Furlong, sendo um sujeito mais derrotista e melancólico, quase como um viciado em drogas em processo de recuperação. É interessante ver sua interação com Claire Danes, que mesmo não sendo uma personagem particularmente fascinante (uma de suas primeiras linhas de diálogos é "eu odeio máquinas"), ver sua postura mais organizada e certinha colocada de frente com a postura de Stahl rende bons momentos, ainda mais quando adicionamos a narrativa de que os dois serão casados no futuro. Por fim, Kristanna Loken faz história como a única Exterminadora do cinema, e faz um bom trabalho ao manter toda a frieza que Robert Patrick entregou no segundo filme, adicionando também bons toques de ironia e sensualidade; com a andróide usando de sua aparência deslumbrante para manipular e enganar alguns personagens no meio do caminho.
Ação Fria
No quesito de ação, o pouco conhecido Jonathan Mostow mostra-se um competente sucessor para Cameron. Há um notável misto de efeitos práticos e um CGI decente para 2003, especialmente na perseguição de carros que acaba com Schwarzenegger pendurado em um guindaste. Sua mise en scène e noção de espacialidade é coerente e traz boas tomadas, com destaque para o uso das habilidades da T-X e a frieza em seu combate. O problema, curiosamente, acaba no "sentimento" de todas essas cenas de ação. A trilha sonora e os efeitos sonoros deixam a desejar, visto que raramente sentimos arrepios ou nos impressionamos com as acrobacias, o que demonstra a importância de uma boa paisagem sonora. Tudo acaba soando "frio" e sem vida, tanto pelo trabalho de som quanto pela direção de Mostow, que aposta em momentos de humor que jamais funcionam, pois tudo ao seu redor é mais duro.
Mas reforço. O uso de efeitos práticos é particularmente admirável no setor em que vemos o despertar das primeiras máquinas da Skynet, onde modelos mais primordiais para uso militar saem disparando pelo laboratório, e até são capazes de causar algum amedrontamento; tanto pelo design quanto pela execução, que novamente conta com o brilhante Stan Winston. A briga entre o T-800 e a T-X também é interessante, com essa frieza de Mostow se traduzindo bem no combate entre dois ciborgues, e a imagem de ver Schwarezenegger sendo arrebentado por uma moça praticamente miúda definitivamente é memorável.
Mesmo que não ofereça grandes novidades, A Rebelião das Máquinas é capaz de divertir e entreter. Não arrisca conceitos macarrônicos e espalhafatosos como as novas inteirações da franquia, entregando uma experiência eficiente e que é capaz de matar saudade do T-800 de Schwarzenegger, além de trazer uma boa execução visual e um final ousado.
O Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas (Terminator 3: Rise of the Machines, EUA - 2003)
Direção: Jonathan Mostow
Roteiro: John Brancato e Michael Ferris, baseado no argumento de Tedi Sarafian e nos personagens de James Cameron e Gale Ann Hard
Elenco: Arnold Schwarezenegger, Nick Stahl, Claire Danes, Kristanna Loken, David Andrews, Mark Famiglietti, Earl Boen
Gênero: Ação, Ficção Científica
Duração: 109 min
https://www.youtube.com/watch?v=zdYYI_2Tudg
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Crítica | Os Incríveis - A obra-prima de ação da Pixar
Com o anúncio há algum tempo de que a Pixar está desenvolvendo com Brad Bird uma continuação para o sucesso Os Incríveis, resolvi revisitar o filme pela primeira vez em um bom tempo. E, contagiado pela absurda dose de energia e emoção desta sensacional animação, minha única alternativa para contê-la – além de repetir o filme algumas vezes e não calar a boca sobre entre colegas – foi escrever esta breve crítica.
A trama é ambientada em um mundo onde os super-heróis, após inúmeras questões legais com a população, foram proibidos e escondidos pelo governo. Nesse cenário, o aposentado Robert Parr (voz original de Craig T. Nelson) sustenta uma família de três crianças com a esposa Helen (Holly Hunter), e é constantemente assombrado pela nostalgia dos tempos de glória. Quando um misterioso empregador requisita seus serviços, ele resolve voltar à ação.
Qualquer um com um mínimo conhecimento de quadrinhos pode reconhecer a influência esmagadora de Watchmen, lendária graphic novel de Alan Moore que seria adaptada para o cinema 5 anos após o filme da Pixar. E não deixa de ser irônico como Brad Bird conseguiu fazer melhor uso do material do que o próprio Zack Snyder em seu longa de 2009, já que seu foco de estudo reside em sua humanidade – ainda que seus personagens sejam seres fantásticos e enfrentem situações absurdas. Seja uma mãe que se faz como escudo em uma desesperada tentativa de salvar seus filhos de uma explosão, uma jovem abraçando os poderes que sempre recusou para proteger seu irmão caçula de uma rajada de balas ou um vilão buscando um mero reconhecimento após uma incrível rejeição na infância.
Não que Os Incríveis abra a mão do espetáculo, elemento que Bird domina magistralmente ao longo da projeção; algo que também exploraria bem no live action com o eficiente Missão: Impossível – Protocolo Fantasma. Ao som da espetacular trilha sonora de Michael Giacchino, a cena em que o caçula Flecha protagoniza uma eletrizante perseguição em alta-velocidade permanece uma das mais antológicas cenas de ação dos últimos anos, enquanto a batalha final contra o “Omnidroide” em um centro urbano é um ótimo exemplo de como se organizar uma sequência do tipo (palmas para o montador Stephen Schaffer) e distribuir diferentes funções para explorar as habilidades dos personagens. É tudo o que um filme do Quarteto Fantástico deveria ter sido.
Sem falar também que o filme é muito divertido. As piadas com os clichês do gênero (monólogos do vilão, o problema das capas) são perfeitamente bem inseridas (É, Marvel Studios, você mesmo) e garantem um tom agradável para todas as idades. Ah, e Edna Moda (dublada pelo próprio Bird), como não ao menos mencionar a hilária estilista.
Os Incríveis é meu filme preferido da Pixar, e sem dúvidas um dos melhores filmes de super-heróis já feitos. Revisitando-o mais de uma década após seu lançamento, vejo que ainda há muito o que se aprender dentro do gênero, e como este – salvas algumas belas exceções – tem se tornado cada vez mais complicado. Só espero que Brad Bird faça jus à seu trabalho genial na vindoura sequência. Leia mais sobre Pixar
Os Incríveis (The Incredibles, EUA - 2004)
Direção: Brad Bird
Roteiro: Brad Bird
Elenco: Craig T. Nelson, Holly Hunter, Samuel L. Jackson, Jason Lee, Spencer Fox, Sarah Vowell, Elizabeth Peña, Brad Bird
Gênero: Ação, Aventura
Duração: 115 min
Crítica | Talvez uma História de Amor - O clichê bem feito
Em um dos momentos mais reveladores do filme nacional Talvez uma História de Amor, o protagonista de Mateus Solano se vê assistindo a Sintonia de Amor em uma fita VHS. Estrelado por Tom Hanks e Meg Ryan, o filme de Nora Ephron representa um tipo de filme que praticamente não existe mais: a comédia romântica, subgênero extremamente popular nos anos 90 e 2000, e do qual Sintonia é um dos mais adorados. Faz sentido que o diretor Rodrigo Bernardo insira essa cena em seu próprio filme, já representando o tipo de cinema mais simplista e água com açúcar que tenta resgatar, com resultados eficientes, ainda que nada inovadores.
A trama nos apresenta a Virgílio (Solano), um designer solteiro e bem sucedido que vive com segurança e controle praticamente obsessivos; do tipo que rejeita uma promoção do trabalho se isso significa ter que refazer sua declaração de imposto de renda já pré-pronta para os próximos cinco anos. Ao chegar em casa certo dia, ele encontra uma mensagem em sua secretária eletrônica de uma tal Clara, informando-lhe do término do namoro dos dois. O problema é que Virgílio não faz a menor ideia de quem seja Clara, e parte em uma jornada para tentar entender o que aconteceu.
Fórmula exemplar
É uma premissa típica de comédia romântica, e que o roteirista Ben Frahm e Bernardo adaptam com habilidade da obra de Martin Page, e que aos poucos vai soando como uma perspectiva oposta à de Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças. No que diz respeito a fórmula, estrutura e entrega, o trabalho da dupla é absolutamente formidável: os arcos e obstáculos do protagonista são bem desenvolvidos e apresentados, com Frahm e Bernardo mostrando que entendem da sutil arte do foreshadowing, sendo capaz de apresentar e dar pistas de alguns rumos culminantes da história de forma orgânica; seja pela referência a painéis digitais de uma linha de perfume, a presença de cartazes de circo no apartamento de Virgílio ou pelo cachorro que só se comporta ao ouvir a canção "New York, New York", de Frank Sinatra.
O fato de que os demais personagens evidentemente sabem quem é Clara também oferece uma jornada interessante, onde o espectador e o protagonista vão aprendendo novas informações, e o fato de que o primeiro lugar onde Virgílio vai ao receber a mensagem é sua psicóloga já nos deixa claro que o personagem sofre de algum problema; no caso, um tipo particular de amnésia, que o fez se esquecer de Clara e todo o relacionamento que aparentemente mantinham. Quase que numa estrutura detetivesca, Virgílio "entrevista" diversas amigas que podem saber quem é Clara, com cada depoimento o levando a uma pessoa diferente, o que confere um leve ar de surrealismo ao fato do protagonista jamais ser direto ao assunto, preferindo ocultar dos demais o fato de que se esqueceu da moça. De certa forma, até remete à jornada de John Cusack em Alta Fidelidade, visto que Virgílio teve um relacionamento com algumas das mulheres e já desejou ter com parte delas, fornecendo uma análise (rasa) sobre sua própria personalidade.
Em seu primeiro trabalho protagonista, Mateus Solano entrega bem um papel que facilmente poderia descambar para o caricato. O comportamento obsessivo e sintomático de Virgílio jamais surge irritante ou aborrecente, com Solano sempre oferecendo um retrato simpático e que busca ser educado; vide a entrega certeira da frase "eu espero ter sido um bom cliente", a uma atendente por telefone da companhia elétrica. Em alguns momentos, o ator parece um pouco "maduro" demais para o papel, visto que o perfil de todos os demais personagens parece um pouco mais jovem, mas Solano compensa com uma atuação carismática - mas que infelizmente tem os momentos do mal supremo em atuações nacionais: a entrega extremamente formal de linhas de diálogo, que acaba com o coloquialismo que deveria ditar uma conversa informal.
Destaque também para as boas performances de Thaila Ayla, Bianca Comparato, Jacqueline Sato e Paulo Vilhena, além de uma divertida participação de Cynthia Nixon, de Sex and the City.
Direção segura e sem invencionices
Como diretor, Bernardo faz um jogo seguro e sem invencionices. Faz um bom trabalho nos planos que detalham o ambiente organizado e impecável do protagonista, com sutis inspirações de Wes Anderson ao enquadrar a simetria de sua mesa de trabalho e os múltiplos post its ali espalhados. A forma como grava uma São Paulo cinzenta e vasta também causa uma impressão marcante, com Virgílio sendo um ser solitário vagando pelas ruas e estações de metrô lotadas de estranhos. Bernardo só banaliza as imagens de drone, sempre no mesmo enquadramento para demarcar uma passagem de tempo, mas é bem feliz em capturar belas imagens da cidade de Nova York, em um deslumbramento que equivale ao do protagonista.
E se não se arrisca a inventar a roda, Bernardo traz alguns momentos inspirados, como quando Virgílio usa um capacete de construção para iluminar seu apartamento - e passa a perseguir a misteriosa silhueta de Clara com o raio de luz do capacete. É um momento belo e que deve ser motivo de orgulho para o diretor de fotografia Hélcio Alemão Nagamine, e que ganha mais peso quando o protagonista literalmente analisa uma de suas chapas de raio X, como se procurasse a mulher nas imagens de seu cérebro, mas que acaba um tanto banalizada pelo uso de uma canção incidental romântica; que praticamente grita para termos uma identificação emocional forçada - algo que as imagens sozinhas seriam capaz de atingir.
Talvez uma História de Amor jamais engana o protagonista sobre suas intenções. É uma comédia romântica açucarada e old school, cheia de todos os clichês e convenções do gênero, mas feitos de maneira eficiente e divertida, mesmo que não traga nada necessariamente novo. Não deixa de ser uma boa alternativa para matar as saudades de tempos mais simples.
Talvez uma História de Amor (Brasil, 2018)
Direção: Rodrigo Bernardo
Roteiro: Rodrigo Bernardo e Ben Frahm, baseado na obra de Martin Page
Elenco: Mateus Solano, Thaila Ayla, Bianca Comparato, Totia Meireles, Paulo Vilhena, Nathalia Dill, Jacqueline Sato, Dani Calabresa, Marco Luque, Cynthia Nixon
Gênero: Comédia Romântica
Duração: 101 min
https://www.youtube.com/watch?v=E16sNQvQhRs
Lista | As 10 melhores cenas da franquia Jurassic Park
Ao longo de seus 25 anos de existência, a franquia Jurassic Park foi capaz de provocar algumas das memórias mais queridas na mente dos cinéfilos. Seja pela ação, o terror ou o puro maravilhamento em contemplar dinossauros, é inegável que mesmo que exemplares mais fracos da franquia tragam sua justa parcela de momentos memoráveis.
Então, confira abaixo nossa seleção dos 10 melhores momentos na franquia:
https://www.youtube.com/watch?v=FtCslvCjZEY&t
10. "Precisamos de mais dentes"
Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros
Colin Trevorrow não é um diretor muito inspirado, tampouco criativo visualmente. Mas é preciso dar o braço a torcer a esta ótima sequência no clímax do fraco Jurassic World. Depois de um filme inteiro com sua presença apenas sugerida, eis que o T-Rex aparece em toda sua glória, e o suspense e antecipação construído por Trevorrow para revelá-lo, especialmente com o flare vermelho, é definitivamente empolgante.
9. Expedição Submarina
Jurassic World: Reino Ameaçado
O segundo Jurassic World é um péssimo filme, mas há um elemento naquela bagunça que luta e se esforça para entregar algo digno: o diretor J.A. Bayona, que acaba enrolado em ideias ruins e um roteiro pedestre. Porém, longe de qualquer convenção narrativa ou invencionices de Trevorrow, a primeira cena de O Reino Ameaçado dá espaço para que Bayona brilha. Usando bem a escuridão para construir uma atmosfera assustadora, acompanhamos uma equipe submarina vasculhando os vestígios do Jurassic World para encontrar fósseis do Indominus Rex, e tendo que lidar com o despertar do gigantesco Mosassauro. Quase me fez achar que estaria diante de um filme bom.
https://www.youtube.com/watch?v=jT8TUowrkLU
8. Problemas de Avião
Jurassic Park III
No primeiro filme da saga sem a direção de Steven Spielberg, era a hora de Joe Johnston mostrar se conseguia segurar a bucha de um grande mestre em Jurassic Park III. E na primeira grande set piece, conhecemos o novo antagonista dinossauro: o temível espinossauro, que protagoniza uma sequência eletrizante quando provoca a queda do avião de Alan Grant e sua equipe, prosseguindo para literalmente "jogar futebol" com a aeronave despedaçada. Uma cena que agrada pela trilha sonora vibrante e a notabilidade dos efeitos práticos.
https://www.youtube.com/watch?v=Q-LFUnE8zzE
7. Espinossauro no Rio
Jurassic Park III
O Espinossauro definitivamente é uma criatura subestimada, e deu muito trabalho para os personagens do terceiro filme. Em uma verdadeira caçada, o lagarto gigante os persegue até mesmo em um rio, surpreendendo o pequeno barco da equipe. O que temos aqui é mais uma ótima condução de Johnston, que utiliza bem o visual sombrio e chuvoso da paisagem, além da brincadeira com o som irritante do celular que pode salvá-los sendo jogado de canto a outro graças às batidas do dinossauro na embarcação. E ainda termina com a bela imagem de fogo na água.
https://www.youtube.com/watch?v=cVIS31ghLNQ
6. Perigo em San Diego
O Mundo Perdido: Jurassic Park
Dinossauros na cidade grande! Esse com certeza era um dos sonhos molhados de Steven Spielberg, que fez questão de encaixar tal conceito em O Mundo Perdido, quando teve a ciência de que este seria seu último filme na franquia. O que se segue aqui é um verdadeiro Godzilla americano, com o Tiranossauro Rex causando caos e destruição pelas ruas de San Diego, deixando a ação mais intensa quando começa perseguir Ian Malcolm e sua namorada, que carregam um filhote de T-Rex no banco de trás de um conversível. Clássico.
https://www.youtube.com/watch?v=KFJmxST-xRI
5. A Gaiola
Jurassic Park III
Demoraram três filmes, mas finalmente a franquia brincaria com dinossauros voadores. Quando a equipe de Alan se perde no interior de corredores suspensos em uma neblina cega, Johnston nos revela que os personagens estão presos em uma gigantesca gaiola de pterodontes, e uma das mais intensas sequências do filme tem início. Grande mérito à espetacular fotografia de Shelly Johnson.
https://www.youtube.com/watch?v=dnRxQ3dcaQk
4. Velociraptors na Cozinha
Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros
Antes de os velociraptors serem tratados como cãezinhos adestrados em Jurassic World, eles foram alguns dos mais sádicos antagonistas do primeiro filme. Em uma das cenas mais antológicas, Spielberg nos mantém na beira da poltrona ao retratar de forma silenciosa e intensa a caçada de um grupo de raptors atrás das crianças protagonistas (ironicamente escondidas em uma cozinha, claro). Uma das muitas aulas de suspense que Spielberg oferece no filme, e a maior delas virá em alguns instantes.
https://www.youtube.com/watch?v=LpxwR_9EhlY
3. Cliffhanger
O Mundo Perdido: Jurassic Park
Alfred Hitchcock ficaria orgulhoso! Novamente brincando com as emoções do espectador, a melhor cena de O Mundo Perdido é a literal representação de um cliffhanger nas telas. Quando a base dos protagonistas é atacada por não um, mas dois Tiranossauros, a instalação fica pendurada em um penhasco, e a pobre personagem de Julianne Moore acaba tendo apenas uma vidraça que lentamente vai se rachando à medida em que ela tenta se mover. Tenso!
https://www.youtube.com/watch?v=PJlmYh27MHg
2. "Bem-Vindos ao Jurassic Park"
Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros
A primeira vez é inesquecível. No tipo de momento de pura beleza que poucos cineastas conseguem capturar como Spielberg, temos a nossa apresentação formal ao parque dos dinossauros pela primeira vez. A reação dos personagens de Sam Neill e Laura Dern refletem a do público, literalmente de queixo no chão ao ver um dinossauro caminhando e vivendo diante de seus olhos, em uma amostra de efeitos visuais que ainda resistem ao tempo. Uma cena belíssima e capaz de encher os olhos de lágrimas, graças à magistral trilha sonora de John Williams.
https://www.youtube.com/watch?v=HzZkNdn5hpA&t
1. Tiranossauro Rex
Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros
O que falar sobre esta cena que já não tenha sido estudado, analisado e ovacionado? Em um dos mais sofisticados e eficientes exercícios de suspense que o cinema americano já viu, Steven Spielberg volta a seus tempos de Tubarão para introduzir o dinossauro mais popular de toda a franquia, e o faz com estilo. Com a ausência da música de John Williams, um trabalho de sonoplastia sobrenatural e os animatronics de Stan Winston dando seu melhor, testemunhamos o primeiro ataque do T-Rex como se estivéssemos diante de um filme de terror. Uma verdadeira aula, e que pode muito bem se encaixar na lista de melhores cenas que Spielberg já dirigiu na vida.
Qual a sua cena preferida da franquia?
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Quem é o Rei? | O Final de Hereditário Explicado
SPOILERS!
Quando o espectador encontra-se no ato final de Hereditário, é um inferno literal. Todo o drama profundo sobre o luto fora abandonado, familiares foram incinerados vivos e estranhos completamente nus começam a aparecer sorrindo para a câmera. É normal sentir-se um pouco confuso, ainda mais por ser neste ponto em que o diretor e roteirista Ari Aster começa a revelar exatamente sobre o que é esta história, a qual ela descreve da seguinte maneira:
Queria fazer um filme sobre cervos sendo sacrificados, mas sob o ponto de vista dos cervos que não sabem do que se trata.
E é basicamente isso. A família de Annie (Toni Collette), Charlie (Milly Shapiro), Peter (Alex Wolff) e Steve (Gabriel Byrne) não tem noção de que, desde antes da vovó Leigh falecer e todo o terror começar, estavam sendo usados como peões em um culto satânico. Descobrimos quando Annie revira as coisas de sua mãe, e acaba por encontrar livros de bruxaria e um álbum de fotos que trazem evidências de seu envolvimento em uma espécie de seita, que traz um único objetivo: trazer à terra o demônio conhecido como Rei Paimon, entidade que libertaria o caos no mundo e forneceria riquezas inimagináveis a seus libertadores. Leigh é vista como a principal invocadora (e Rainha), e teria começado a usar sua própria família como oferenda.
Visto que Paimon necessita de um corpo masculino para hospedar-se, Leigh e a seita imediatamente viraram a atenção para Peter. Claro, isso depois que o irmão de Annie comete suicídio, algo que a personagem de Collette nos revela durante uma sessão de terapia em grupo, clamando que o suicídio se deu por conta da mãe, e que o irmão "não aguentava sua própria mãe tentando colocar pessoas dentro dele", na primeira pista que temos sobre os rituais de Leigh e Paimon. Dessa forma, o próximo na linhagem seria Peter, mas as desavenças entre Annie e sua mãe a afastaram durante sua infância, e o aproximamento da avó só se deu mesmo com o nascimento de Charlie.
O papel de Charlie
Através de diálogos, também percebemos a relação próxima da caçula com sua avó, com Annie até mesmo nos revelando que a avó insistia em amamentar a menina. Desde cedo, Leigh já trabalhava na invocação de Paimon, mas visto que Charlie é uma menina (ela até comenta sobre sua vó desejar que ela fosse um menino), a matriarca e o culto orquestram um complexo jogo que depende de diversas circunstâncias ocasionais para dar certo - podemos usar a licença poética da magia negra, neste caso. Com o "estrago" já tendo sido feito entre Leigh e Charlie, que já tinha visões do "espectro" de Paimon e também de sua falecida avó (além de mutilar cabeças de passarinhos como forma de oferenda), o culto precisava de uma forma de transmitir a entidade para Peter (descrito também como a correção de seu corpo); algo que ocorre com o sacrífico de Charlie.
Em um dos momentos mais chocantes do longa, Charlie é decapitada por um poste de luz enquanto mantém a cabeça para fora do carro de Peter, que tenta salvá-la após uma reação alérgica. É a concretização de um foreshadowing já nos entregue no início, quando Charlie decepa a cabeça do passarinho na escola (e até faz um desenho do animal com uma coroa, algo importante para nos recordarmos) e também podemos observar que o poste de luz traz o símbolo do culto de Leigh marcado ali. Sua morte não teria sido apenas fruto de um acidente de trânsito, mas sim a manipulação do culto para que sua morte de fato ocorresse - e ainda por cima, via decapitação, algo relevante no modus operandi dos praticantes.
Com a morte de Charlie, Annie agora encontra-se em um estado muito pior, o que garante a entrada de Joan (Ann Dowd) em sua vida. À primeiro instante, é apenas uma senhora solitária que também sofre com a perda de seus descendentes, e que a acode em umas das sessões de terapia em grupo. O que nos é revelado posteriormente, é que Joan faz parte do culto de Paimon, e era próxima de sua mãe. Joan entra em jogo para atrair Annie ao sobrenatural (em uma elaborada cena envolvendo um jogo do copo), e permitir a entrada de Paimon em Peter.
Todos saúdam o Rei
Quando Annie e sua família tentam conversar com Charlie através do jogo do copo (e também da leitura de uma língua estranha fornecida por Joan, que claramente não tem boas intenções), a casa - que já trazia inscrições sinistras na parede, provavelmente obra de Leigh quando passou a morar com Annie em seus dias derradeiros - logo começa a ser assombrada pelo espírito de Charlie/Paimon. A série de eventos estranhos garante pesadelos, visões perturbadoras de Peter na escola - que resultam também em agressões - e até mesmo a imolação do pobre Steven, que é carbonizado após uma tentativa fracassada de queimar o diário de Charlie e terminar a maldição. Mas o mais relevante ocorre quando Annie é possuída por Paimon, atraindo os seguidores de Leigh à casa (todos os sinistros peladões sorridentes, que também podem ser vistos na cena inicial do velório) e uma tentativa mais direta de enfim pegar Peter, que acaba sendo possuído após o espírito decapitar sua mãe.
Então, no final, temos a concretização do plano do culto. Peter agora é Paimon. Leigh é sua Rainha. Os súditos (incluindo os corpos decapitados de Annie e Leigh) prometem seguir seus ensinamentos e rejeitar a trindade, apontando também que Paimon é um dos oito reis do Inferno. É uma conclusão ousada, onde não há força alguma capaz de salvar a família e impedir o culto de Leigh, praticamente deixando a entidade pronta para sair e dominar a Terra; algo que me remete muito à conclusão de A Bruxa, e gosto de pensar que os dois filmes são primos distantes (talvez até compartilhando o mesmo universo cinematográfico, quem sabe?).
É um quebra-cabeças muito engenhoso. Ari Aster é inteligente na forma como escolhe sua perspectiva, e quando analisamos todas as peças juntas, é uma conclusão satisfatória. Claro, diversos elementos parecem absurdos quando tentamos atribuir alguma lógica (como a decapitação exata de Charlie naquele poste, ou a aparição do corpo de Leigh no sótão da casa), mas tratando-se de uma obra que traz magia em seu núcleo, acredito que essa suspensão de descrença seja válida.
Agora só podemos esperar pelo encontro entre o Casal Warren e o Rei Paimon, na batalha que decidirá o destino da Terra...
https://www.youtube.com/watch?v=V6wWKNij_1M&t