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Crítica | Operação Overlord – J.J. Abrams coloca zumbis na Segunda Guerra Mundial

 

Poucos nomes são tão poderosos na Hollywood contemporânea quanto o de J.J. Abrams, que colocou sua marca na TV ao dirigir o piloto de Lost e atualmente é o homem que revitalizou Jornada nas Estrelas e Star Wars nos cinemas. Além de suas empreitadas como diretor, sua produtora Bad Robot tornou-se uma fábrica de ideias interessantes e projetos fascinantes, com destaque para a antologia Cloverfield, que recentemente sofreu um golpe duro com o péssimo The Cloverfield Paradox.

Porém, a Bad Robot ainda não havia colocado seu selo em uma produção original, que não viesse com o acompanhamento de franquias da Paramount Pictures (Star Trek) ou Disney (O Despertar da Força), e que também não fossem um projeto passional de Abrams movido a nostalgia, como foi o caso de Super 8. Anteriormente concebido como um filme do universo Cloverfield, Operação Overlord traz esse marco para a Bad Robot, sendo uma produção original de gênero e que segue os moldes do estúdio. E ainda que longe de ser brilhante, não deixa de ser um entretenimento eficiente.

A trama é situada em plena Segunda Guerra Mundial, com os Aliados aproximando-se de uma invasão na Europa de Hitler, apresentando-nos a um grupo de soldados. Encarregados de explodir uma torre que permita a chegada das tropas pela praia da Normandia, o pelotão é abatido e cai em uma vila francesa ocupada pelos nazistas, onde encontram uma forma de executor a missão. Mas tudo se complica quando o grupo descobre que os nazistas estão realizando experimentos grotescos na vila, onde tentam atingir a imortalidade ao ressuscitar seus mortos.

Ficção Pulp

É uma combinação muito conhecida pelos fãs de games e filmes trash: zumbis com nazistas (ou nazombies, como gosto de apelidar), uma premissa que por si só já nos remete a algo B. Operação Overlord tem ciência do tipo de filme que está fazendo, mas felizmente não descamba completamente para um festival de paródia trash, como produções da SYFY ou os Sharknados da vida; se leva a sério na medida certa, mas abraça os elementos B com sabedoria para fazer uma mistura de gêneros eficiente, tal como um filme de guerra sci-fi com o toque pseudo-Spielbergiano de Abrams.

Temos a clássica dinâmica de um filme de equipe, mesmo que não sendo o mais brilhante dos roteiros ou o mais empolgante. Porém, Billy Ray e Mark L. Smith conseguem trazer o mínimo de arcos possível, sendo um bom trabalho ao desenvolver a jornada de seus personagens – especialmente o protagonista, que passa de um pacifista para uma figura que vai sujando as mãos com a incidência de horrores – e suas relações, bastando um diálogo descontraído sobre um soldado comentando sua intenção de escrever um livro sobre os eventos. É mais do que muitos filmes de gênero têm por aí, e somos capazes de nos investir nesses personagens. 

E muito disso se deve ao eficiente elenco, liderado pelo carismático Jovan Adepo. Surgindo como uma mistura entre Will Smith e John Boyega, Adepo consegue fornecer apego e charme a Boyce, sendo um personagem extremamente fácil de se apegar, com o ator sempre mantendo a bússola moral do personagem em norte. Filho do grande Kurt Russell, Wyatt Russell mostra que tem o mesmo carisma e pose de badass do pai, e faz um bom trabalho com um cabo mais silencioso, mostrando que já é hora de Wyatt ter seu próprio filme para protagonizar. Como nazistas são sempre papéis que rendem bons trabalhos de atuação, Pilou Asbæk também surge memorável, trazendo as boas características de um bom vilão, sempre maléfico e cartunesco, sendo a figura mais confortável para uma obra B.

Condução Eficiente

Na direção, Julius Avery mostra-se um talento a ser desenvolvido. As cenas de tensão e atmosfera garantem boa construção, graças a sua boa noção de mise en scene e quando cortar para um close, ao mesmo tempo em que sua câmera surpreende pela ambição. É uma faca de dois gumes, já que em duas cenas específicas, Avery aposta no famoso plano sequência para retratar uma ação, em ambas mantendo Boyce em primeiro plano. O problema é que o óbvio CGI de tela verde atrapalha o resultado, destruindo uma ideia boa em sua concepção, especialmente o criativo plano onde o protagonista está rodopiando no ar após saltar de um avião. 

Em seu desejo de ser um pouco mais sério, também fica decepcionante quando finalmente temos os prometidos zumbis, que não aparecem tanto quanto gostaríamos, tampouco impressionam em seu retrato visual – onde temos um bom trabalho de maquiagem sendo ofuscado por um uso de CGI notável, mas pelos motivos errados. Se há algo capaz de provocar algum impacto, é a trilha sonora de Jed Kurzel, que traz os acordes abstratos de Alien: Covenant (literalmente) para algumas das sequências mais tensas, ainda que seja um uso um tanto exagerado.

No fim, Operação Overlord é exatamente aquilo que alguém poderia esperar de um filme “sério” de Segunda Guerra Mundial com zumbis, onde Julius Avery anda pela beirada do que pode ser considerado um filme B. Traz bons momentos de direção mesmo com um roteiro básico, sendo o bastante para servir como entretenimento passageiro.

Operação Overlord (Overlord, EUA – 2018)

Direção: Julius Avery
Roteiro: Billy Ray e Mark L. Smith
Elenco: Jovan Adepo, Wyatt Russell, Bookeem Woodbine, Pilou Asbæk, John Magaro, Mathilde Olivier, Jacob Anderson, Dominic Applewhite, Iain De Caestecker
Gênero: Ação, Ficção Científica
Duração: 109 min

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Publicado por Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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