Lista | Os 10 Filmes mais violentos já feitos
Coringa reacendeu uma das discussões mais polêmicas sobre a arte: a validade da violência. É ético retratar personagens perturbados ou mostrar a decadência de alguém até o seu limite para impor um perigo aos outros? No fim, isso não interessa em nada, pois filmes violentos existem desde que Cinema é Cinema e isso continuará por décadas a fio.
Mesmo com Coringa sendo o verdadeiro motivador da pauta, já lhe aviso, caro leitor, que aqui o filme não figurará entre as obras escolhidas, pois ele nem de perto se equipara ao grau de violência já demonstrado diversas vezes antes em filmes tão sérios quanto.
Então, sabendo disso, prepare-se para entrar em recomendações cinematográficas um tanto bizarras, mas que realmente existem. Os filmes listados não tem ordem de mais ou menos violento. Todos chocam da mesma forma.

Ichi - O Assassino (2001)
Como um bom amigo disse, qualquer filme de Takashii Mike é merecedor de estar nessa lista, mas acho que Ichi: O Assassino é uma das obras mais acessíveis do cineasta. Ichi é ultraviolento. É repleto de cenas de tortura que dariam inveja a qualquer sádico dos Jogos Mortais. Não se trata de um filme de bom gosto, mas é reconhecido pela qualidade da cinematografia. Muito sangue, muita mutilação e muita tortura.
Laranja Mecânica (1971)
O clássico de Stanley Kubrick é uma das obras mais catárticas de distopias governamentais já criadas na História do Cinema. Adaptando o livro impactante de Anthony Burgess, Kubrick não teve nenhum resguardo em mostrar as atrocidades cometidas pelo caótico clube de drugues liderados por Alex DeLarge.
O rapaz comete estupros, torturas e assassinatos a bel prazer. Porém, quando é capturado, o Estado comete atos completamente defenestrados em sua psique o tornando uma vítima ideal contra qualquer tipo de abuso - que ele sofre na mesma moeda.
Irreversível (2002)
O filme mais polêmico da carreira de Gaspar Noé é um verdadeiro soco no estômago ao nos lembrar que basta somente um dia muito ruim para transformar as nossas vidas no avesso. O longa inicia mostrando o final de sua história sem muitas reservas. Em questão de dez minutos, vemos um cara esmagar o crânio de um desconhecido em uma boate gay em extremo close up. Depois, testemunhamos uma cena de onze minutos simulando um estupro completo em apenas um plano, conferindo a completa agonia da personagem de Monica Belucci.

Mártires (2008)
Mártires provavelmente seja o filme mais aterrorizante que eu tenha visto em minha vida. Como a história é um verdadeiro brilho, muito interessante mesmo, não pretendo contar absolutamente nada. Raramente cinema é feito da forma que Pascal Laugier pensou para esse terror. A agonia, desespero e confusão tornam esse filme uma experiência completamente única. Pode ser considerado de mau gosto, obviamente, mas é simplesmente magnético.
Violência Gratuita (1997)
O polêmico filme de Michael Haneke que ele mesmo escreveu e dirigiu duas vezes, é exatamente o que o título propõe. A experiência pode ser vazia, mas existem provocações metalinguísticas que são simplesmente geniais. A trama é super simples: um casal e seu filho são atacados por horas em sua própria casa por dois psicopatas adolescentes. É isso. E o final, bom, você já deve imaginar.
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O Albergue (2005)
O diretor Eli Roth é bastante conhecido pelos seus filmes torture porn, entretanto, nenhum deles chega perto da polêmica que O Albergue conquistou em 2005. O barulho acerca do filme foi tanto que, eu, com 11 anos de idade, acabei curioso para conferir. Obviamente que isso não aconteceu e acabei vendo pouco tempo depois, com 13 anos. O longa tem uma história bem apavorante pelo fato de poder acontecer com qualquer um.
Jovens são atraídos para uma cidade da Europa Oriental e se hospedam em um albergue que, para o azar deles, é um reduto de psicopatas ricos que usam os hóspedes como vítimas perfeitas para as atrocidades cometidas. O filme é bem triste e totalmente desesperançoso, então esteja preparado para o que encontrar aqui.
Oldboy (2003)
Um dos filmes mais elogiados da filmografia de Chan-wook Park, inspirado em um mangá já bastante polêmico, traz uma trama bastante complexa de punição, ódio e reviravoltas totalmente bizarras em seu terceiro ato. É uma obra praticamente perfeita. E se prepare para a cena do corredor com a marreta. Até hoje não conseguiram superar um plano sequência tão violento quanto.

Begotten (1990)
Este, sem a menor sombra de dúvida, talvez seja o filme mais bizarro de toda a lista. Begotten é uma obra de mau gosto e bem ofensiva para qualquer cristão. O filme abre com uma cena estranhíssima mostrando uma entidade que, em tese, é Deus. Ele se automutila intensamente para dar origem à vida. A mãe natureza sai do corpo dele e depois se fecunda com sêmen de Deus para começar a vida na Terra. E isso é uma das coisas light do filme. Assista por sua conta e risco porque quase nada faz sentido nesse daqui.
Salò, ou os 120 dias de Sodoma (1975)
Às vezes o arthouse vai muito além da arte para se tornar uma loucura completa do realizador. Salò é o perfeito exemplo disso nas mãos do cineasta italiano Pier Paolo Pasolini. A história já começa bizarramente pela sua proposta: quatro estudantes italianos, em plena 2ª Guerra Mundial, reúnem diversos adolescentes para praticarem torturas psicológicas e físicas em uma escalada de “grotesquice” gigantesca. Só existe calma em Salò durante seus créditos finais e iniciais.

Holocausto Canibal (1980)
Mais uma obra de um italiano bem complicado da cabeça: Ruggero Deodato. Esse filme possui duas versões e eu recomendo para que vejam a mais light. A sem censura possui planos simplesmente sádicos de animais sendo assassinados somente pelo choque visual no espectador sem nenhuma relevância real para a história. Na época, havia um rumor que até mesmo os atores haviam sido assassinados na obra. Mas isso simplesmente é absurdo demais e nunca aconteceu. Entretanto, apesar de ser muito polêmico e desnecessário, Holocausto Canibal é reconhecido como o primeiro filme de ficção em terror filmado no formato found footage - detalhe que o filme inteiro não é feito somente com essa técnica.
Crítica | Campo do Medo - Um suspense confuso
É inegável que as obras de Stephen King atraem um grande público de admiradores. Seu sucesso está no jeito que aborda a história e no terror bem construído que prende a atenção do leitor ao longo da história. Com os filmes acontece algo diferente, pois na maioria das vezes, são fracos e decepcionantes, e muitos são esquecíveis por não saber levar para as telas o que é apresentado nas páginas escritas pelo autor. Pois a Netflix resolveu levar Campo do Medo (Vincenzo Natali), um conto escrito por King e seu filho Joe Hill, para a plataforma de streaming.
E surpreendentemente o resultado é positivo. Campo do Medo não é um longa chato, com um final tão desastroso, e também não tem um desenvolvimento tão atrapalhado quanto filmes recentes inspirados nos livros do mestre do terror, como casos recentes de Carrie - A Estranha (2013) e Cemitério Maldito (2019). O principal obstáculo de Campo do Medo, em criar uma narrativa que atraia ao público, está em relação ao ambiente em que a trama se passa. É complicado fazer uma história em que toda a ação ocorra dentro de um campo, pois é isso que acontece com a produção. Os irmãos Becky (Laysla De Oliveira) e Cal (Avery Whitted) ao passar por uma estrada acabam parando ocasionalmente em frente a um vasto campo, e ao ouvir gritos de um garoto decidem entrar no local para ajudá-lo.
Obviamente que nem tudo é o que parece de início. A proposta é a de criar um suspense com as pessoas perdidas dentro do imenso campo, e aos poucos inserindo novos personagens e depois dar viradas de roteiro que ajudem a construir e explicar (ou tentar explicar) os acontecimentos sinistros do lugar. A verdade é que a trama é bastante confusa na virada do primeiro ato para o segundo, com uma sugestão de que há uma espécie de feitiço do tempo, em que a protagonista reaparece como se tivesse acabado de chegar ao campo. Mas essa confusão não é algo que atrapalha o andamento da história, pois a ideia é a de justamente criar algo sem respostas, que precise ser interpretado pelo público.
O roteiro utiliza elementos já vistos em produções sobre viagens no tempo, como Efeito Borboleta (2004) ou Feitiço do Tempo (1993), em que situações ocorrem sucessivamente e sem parar, precisando que algo diferente seja feito para quebrar esse elo temporal. O problema do roteiro é que por ser um filme curto acabam por colocar elementos insuficientes que explicassem certas questões, e muita coisa acaba em aberto, sem uma discussão aprofundada. A própria rocha negra e a igreja são elementos interessantes, mas que ficam no achismo do que significam. Fora que os próprios personagens tem um peso mínimo para a trama, alguns sem relevância alguma, como são Cal e Tobin. O uso do vilão é algo que ajuda a dar maior dinâmica e suspense para o filme, e que é bem utilizado no terceiro ato.
O suspense é algo que de início é bem apresentado, com os personagens se perdendo no vasto campo e depois sendo perseguidos. Porém, a partir do segundo ato o longa meio que se repete, ficando na mesmice e apresentando várias questões sem explicações. O suspense começa a ficar de lado, pois o telespectador quer saber o que é tudo aquilo e começa a pensar mais nas respostas para os mistérios que realmente nos acontecimentos que estão na tela. Outro fator que atrapalha bastante o terror proposto é a péssima fotografia. O ambiente fica tão escuro em algumas ocasiões que nem é possível entender direito a ação da cena.
A mensagem, de que nossos medos particulares precisam de revisão e somente depois de passar por uma provação chegamos a conclusão de que erramos, é algo elogiável em uma trama que se atrapalha em desenvolver respostas relevantes. É uma metáfora que foi criada ao longo de toda a produção, pois desde o início havia indícios de certos acontecimentos que marcaram a vida dos personagens. E a rocha negra simbolizando o centro do inferno também é algo interessante, mas que por não ter sido melhor trabalhado pode causar dúvidas no público.
Se a história se passa em um campo, nada mais natural que tenha uma atmosfera, por si só, um lugar apavorante, e isso realmente ocorre. O ambiente é claustrofóbico e isso ajuda a criar um terror psicológico, pois tudo pode acontecer no meio de todo aquele mato, e muitos podem ser os perigos pelo caminho. Este território vasto é muito parecido com o de outras duas produções que foram inspiradas nas obras de Stephen King, casos Colheita Maldita (1984) que tem como parte da narrativa o uso do milharal, que dá bastante medo, e 1408 (2007) que se passa em um quarto em que tudo de mais bizarro e anormal acontece. Portanto, não foi a primeira vez que Stephen King criou uma atmosfera desse estilo, e nem o primeiro filme a trabalhar uma narrativa com esse direcionamento.
Campo do Medo tem a difícil tarefa de manter o nível da Netflix em produções adaptadas de Stephen King, casos de Jogo Perigoso (2017) e 1922 (2017). O longa de Vincenzo Natali (Westworld) não é um ruim. O diretor consegue trabalhar muitos elementos de forma competente em relação a narrativa, porém o excesso de viradas de roteiro e as tentativas de enganar o público são um grande tiro no pé. O final é algo que deveria ter sido melhor trabalhado, deixou tudo para ser apresentado nos últimos minutos e acabou deixando muita coisa sem explicação. Dentre as produções originais da Netflix é um filme interessante e se sobressai frente a tanta bobagem encontrada no catálogo da plataforma de streaming.
Campo do Medo (In the Tall Grass, 2019)
Direção: Vincenzo Natali
Roteiro: Vincenzo Natali, Joe Hill e Stephen King (Livro)
Elenco: Laysla De Oliveira, Avery Whitted, Patrick Wilson, Will Buie Jr., Harrison Gilbertson, Tiffany Helm, Rachel Wilson
Gênero: Drama, Horror, Thriller
Duração: 100 min.
https://www.youtube.com/watch?v=XA-od7-JSfg
Crítica | Sombra Lunar - Uma oportunidade perdida
Um fato que torna os filmes de ficção científica tão atraentes para o público são as histórias que enxergam o futuro ao criar ou um ambiente imaginário de como será a Terra alguns anos a frente, ou apresentando armas ou tecnologias que serão usadas em um futuro não tão distante. É nesse segundo cenário que se encaixa Sombra Lunar, produção da Netflix que tem uma ideia interessante, mas que é desenvolvido de modo errado e sem foco no que realmente importa.
O roteiro escrito pela dupla Gregory Weidman e Geoffrey Tock tem boas intenções, mas é cheio de buracos e sem um foco nas questões realmente relevantes. A ideia de contar a jornada de um homem que se torna paranoico, ao tentar encontrar uma assassina que aparece de dez em dez anos, se mostra interessante de início com o policial interpretado por Boyd Holbrook estando no encalço da mulher desconhecida. O problema está justamente nessa questão dessa possível vilã aparecer de dez em dez anos, algo que faz a trama se tornar extremamente repetitiva e ficar presa na saga do policial, durante toda a sua vida, ficar a perseguindo.
Bons roteiros são aqueles que colocam questões novas e empurram a história para a frente. Isso não acontece nem no primeiro, nem no segundo ato do filme. Algumas situações são colocadas ao longo da trama para não deixar toda a explicação para o final, mas esse artifício não funciona, pois o roteiro não joga a história para a frente. É como se o filme não andasse, mesmo com ocorrências novas aparecendo.
Esse excesso de mistério em nos contar quem é a vilã e sua real motivação é uma coisa que é pessimamente trabalhada. A ideia era a de deixar todo o mistério para o final, e isso acaba matando de vez o filme, pois durante todo o caminho percorrido pelo policial Locke, pouco havia sido dito sobre quem ela era e o porque de estar fazendo tudo isso. Ao chegar nos últimos minutos e descobrir o seu motivo há um misto de surpresa e de frustração ao mesmo tempo. Tal fato ocorre por o final entregue simplesmente desfazer tudo o que havia sido apresentado até então no longa.
Outro erro está em relação de o diretor Jim Mickle (Somos o que Somos) focar exclusivamente no personagem de Boyd Holbrook ao contar sua história. São quase duas horas de filme praticamente falando sozinho, ou procurando coisas que não se sabe o que são. O problema está em seu personagem, Locke, um homem que persegue algo e que vive um breve trauma da perda da esposa viver sob essa paranoia e não ter mais nada em sua vida sendo apresentado, até mesmo sua filha foi abandonada.
E justamente por focar no protagonista em demasia é que os personagens secundários ficam completamente jogados de lado. A começar pela própria mulher, que a princípio é a vilã, ela aparece e surge do nada e sua personagem nunca entra por completo na trama. O mesmo ocorre com o cientista que aparece em ocasiões pontuais, mas também não é desenvolvido e mesmo tendo grande importância para o longa, aparece e desaparece sem explicar nada. Mas nada supera o abandono do personagem de Michael C. Hall, que até o primeiro ato tinha sua importância por ter uma relação de parentesco com o policial, mas que depois some, mesmo sendo um personagem secundário deveria ter mais momentos importantes na produção.
A direção de Jim Mickle é bem intencionada em criar armas tecnológicas futuristas, portais que levam pessoas do presente para o passado, mas tudo isso acaba ficando sem função alguma, até porque o diretor não se preocupou em desenvolver essas questões, e nem nos dar respostas que ajudassem a dar maior direcionamento para a trama. O primeiro ato do longa é uma prova disso, começa com muita tensão e mistério, e depois no segundo ato todo o suspense criado some.
Sombra Lunar tinha tudo para ser uma ótima ficção científica, mas por ter uma direção fraca e um roteiro bastante superficial, acaba se tornando uma grande decepção, pois material havia para criar uma grande jornada com seu protagonista isolado. Não é um filme ruim em sua totalidade, mas faltou substância para o tornar uma grande produção do gênero.
Sombra Lunar (In the Shadow of the Moon, 2019)
Direção: Jim Mickle
Roteiro: Gregory Weidman, Geoffrey Tock
Elenco: Boyd Holbrook, Cleopatra Coleman, Bokeem Woodbine, Michael C. Hall e Rudi Dharmalingam
Gênero: Crime, Mistério, Ficção Científica
Duração: 100 min.
https://www.youtube.com/watch?v=OBBxLdKpThk
Crítica | Quem Você Pensa que Sou - Um bom drama francês
Claire Millaud (Juliette Binoche) é uma mulher que foi abandonada pelo marido, ela logo se encontra com outro homem, no qual pensa em se relacionar, mas nisso acaba conhecendo, por telefone em uma conversa curta, o jovem Alex (François Civil), o colega de quarto de sua paixão momentânea e que logo se transforma em um amor à primeira vista.
O principal barato de Quem Você Pensa que Sou (Safy Nebbou) é o jeito com que a história dialoga com a realidade. É inteligente o jeito com que o diretor coloca uma mulher de 50 anos se relacionando, pela internet, com uma rapaz mais novo que ela. Essa é uma questão inegavelmente relevante para a personagem, que saiu de um relacionamento conturbado e procura um novo amor, e encontra em Alex o homem ideal. Claire acredita que caso assuma essa relação, ela não seja bem vista pelas pessoas, por ela ser uma mulher mais velha que o rapaz. Essa questão é debatida em vários momentos da trama, em que Claire fica se penitenciando em querer encontrar Alex, mas ao mesmo tempo procrastinando por acreditar que aquele nunca fosse o momento certo.
Esse é outro tema bastante interessante e que poderia ter um tratamento mais profundo em relação ao que é contado. Claire claramente perde uma grande oportunidade em sua vida, pois encontra alguém com quem se sente bem conversando, mas que deixa de lado por ficar imaginando o que as pessoas fossem falar dela, e assim deixa de viver um grande amizade, ou até mesmo um grande amor que poderia se tornar algo a mais lá para a frente. Porém, isso acontece não apenas pelo medo de Claire, mas soma-se o medo da idade com a questão principal e a mais relevante do longa.
Claire Millaud cria no facebook um perfil falso, com o nome de Clara, visualiza o perfil de Alex e começa a ver quais as suas principais qualidades, e quais os seus hobbies e gostos que mais o atraem, sendo assim coloca tudo que mais interessa em Alex em seu perfil falso, e tão logo começa a papear com o rapaz pela rede social, acabam por conversar por telefone, e assim o contato está feito. Em tempos que a internet é usada para fazer contatos, ou até mesmo para as pessoas se relacionarem digitalmente, é uma discussão válida ao que o longa se propõem, pois Clara não é exatamente a pessoa que Alex acredita que ela seja, porém Clara é apenas alguém que Claire gostaria que existisse, ou possivelmente que ela gostaria de ser.
Essa questão de Claire se sentir atraída e não ir em busca de se encontrar com Alex, é algo que tem a ver bastante com a solidão nessa idade da vida, pois ela é uma mulher sozinha, vive de relacionamentos superficiais e foi abandonada pelo marido, portanto há um medo natural em se relacionar novamente com outra pessoa, por isso Claire usa como desculpa a questão da idade para não se encontrar pessoalmente com Alex. E fica também a questão no ar, se Claire se relacionou com ele porque estava apaixonada ou porque simplesmente queria alguém para conversar e não se sentir sozinha.
O jeito com que a narrativa é contada é um acerto, apresentando a personagem e sua vida, e depois inserindo os seus dramas particulares de uma forma que enriquece a trama. Os dois plot twists, ambos perto do final, são bem trabalhados e conseguem alcançar o objetivo de surpreender o público, pois é bastante inesperado o jeito que ocorrem, principalmente o primeiro plot, que realmente é de deixar de boca aberta, tamanha é a surpresa. Essas duas viradas de roteiro servem para dar uma direcionada para o final, pois há um momento que a história não tem mais para onde ir, e a relação dela com Alex esfria bastante, então esse primeiro plot serve bastante para dar uma pré-finalizada no filme.
Juliette Binoche (Deixe a Luz do Sol Entrar) é o grande atrativo do longa, e sem ela, possivelmente, não seria a mesma coisa. A atriz veio a calhar em uma trama que debate a solidão nessa faixa de idade dos 50 anos. Com grandes papéis no currículo não é de se impressionar que esteja em alta, trabalhando em inúmeras produções sempre com muito afinco e determinação. Juliette Binoche traz alma para a personagem de Claire, e faz com que a atenção do público não se perca com a protagonista isolada em cena.
Quem Você Pensa que Sou funciona como um drama que debate várias situações que uma pessoa vive em uma fase da vida. De maneira sensível e séria debate questões relevantes. e o diretor Safy Nebbou mantem o foco na trama sem inventar questões que possam atrapalhar o andamento do longa. Em alguns momentos há um problema sério de ritmo no jeito que a trama é levada adiante, mas isso é algo que não deixa o filme ruim, apenas cansativo em alguns momentos. É certamente um bom drama francês sobre relações e suas dificuldades em criar laços afetivos, e que na internet não é necessário se criar uma relação duradoura para toda a vida.
Quem Você Pensa que Sou (Celle que vous croyez, 2019)
Direção: Safy Nebbou
Roteiro: Safy Nebbou, Julie Peyr, Camille Laurens (Livro)
Elenco: Juliette Binoche, Nicole Garcia, François Civil, Marie-Ange Casta, Guillaume Gouix, Charles Berling
Gênero: Drama, Romance
Duração: 100 min.
https://www.youtube.com/watch?v=wGmANfjk5mQ
Crítica | Marianne: 1ª Temporada – Série francesa surpreende com bons sustos
As produções de terror da Netflix, geralmente, são de gosto bastante duvidosos, mais especificamente para quem tem um gosto peculiar e não se importa muito com a qualidade das tramas. Alguns filmes e séries conseguem alavancar uma grande audiência que mais fala mal do filme que falam bem, casos do live-action de Death Note e Vende-se Esta Casa. Por isso que Marianne surpreendeu muitos dos telespectadores da plataforma de streaming, justamente por trazer uma trama que se não é original, pelo menos cria uma narrativa de terror que assusta e entretêm.
Marianne é uma série francesa que conta a história de Emma (Victoire Du Bois), uma escritora que reencontra sua amiga de infância, e após uma fatalidade envolvendo essa colega acaba por retornar a sua cidade natal. Eis que a partir daí surgem os acontecimentos fora de série envolvendo o espírito maligno de Marianne. A premissa pode parecer batida, e realmente é. O roteiro sobre a jovem mulher que se reencontra com o passado e resolve questões que ficaram em aberto é algo bastante comum, e já foi visto em muitas produções. Emma é uma mulher que deixou para trás não apenas a família e os amigos, mas também seus traumas, principalmente envolvendo pesadelos e vislumbres de sombras que não sabia o que era, algo bastante difícil de ser encarado por uma garota da sua idade.
O roteiro de Marianne intriga em contar a história da jovem escritora, e depois prende o público em mostrar que existe um mistério a rondando, e que há um possível segredo em sua vida a ser revelado. Toda essa trama é muito bem construída pela dupla Samuel Bodin e Quoc Dang Tran, que conseguiram o objetivo principal para uma série de terror, que é a de surpreender com bons momentos chaves sendo apresentados e com viradas de roteiro que ajudam a dar maior dinâmica para história. O roteiro bem escrito ajuda a empurrar os acontecimentos e as situações para a frente, algo parecido acontece em outras duas produções de horror que se destacaram ultimamente, casos de A Maldição da Residência Hill e American Horror Story.
Samuel Bodin também foi o responsável por dirigir todos os oito episódios sozinho, algo que não é muito comum de ser visto em uma série, já que geralmente há uma mescla de diretores para contar a história. O diretor trilha os caminhos fazendo com que a trama seja direcionada de modo simples e nada artificial, não há uma forçação em contar a história, nem em demonstrar que o demônio é cruel. Tais elementos são apresentados aos poucos, em cada episódio um direcionamento mais aprofundado é construído, e assim dando mais riqueza para a trama que vai surgindo. Os planos, em sua maioria abertos, são utilizados quando a escritora e seus amigos estão em ambientes externos, dando maior margem para interpretar que o mundo é muito grande para que Emma fique presa nessa cidadezinha, e que também ela tem um mundo inteiro pela frente e não precisa ficar presa ao passado.
Outro acerto por parte da série é em relação a atmosfera de horror bem trabalhada. Desde o início há sinais de que há algum tipo de monstro ou demônio como o vilão principal, e com o passar do tempo esses sinais vão ficando mais fortes e presentes na trama, até que os sustos se tornam mais fortes e agressivos. A produção assusta em muitos momentos e isso se deve a boas jogadas de câmera que enganam onde que o susto irá aparecer. Não é algo óbvio, e os jump scares não atrapalham e não são forçados, é algo tão bem montado que até dá medo em algumas cenas.
Se o objetivo era assustar ele foi alcançado com êxito. Muito desse ambiente de horror foi criado em cima de referências de outras produções de terror clássicas, principalmente filmes envolvendo possessão e demônios. Um dos principais é O Exorcista, mesmo não tendo um exorcismo final, pode-se dizer que a luta do padre Xavier contra o mal está ali, e essa luta está evidenciada quando ele confronta Marianne possuindo a escritora, e depois quando entra no buraco e tenta queimar o papel que seria o acordo entre Marianne e o demônio. Algumas cenas assustadoras também são muito semelhantes a do longa de William Friedkin. O Bebê de Rosemary também é referenciado na série da Netflix, pois Emma ao se descobrir grávida, acaba por descobrir que aquele filho não tem um pai humano, algo muito semelhante do ocorrido no clássico de Roman Polanski.
Um grande erro da série se dá ao fato dela focar apenas e unicamente em Emma como protagonista. Há outros personagens secundários, alguns bastante interessantes, mas que não tiveram a oportunidade de serem desenvolvidos. Casos mais notórios são de Camille (Lucie Boujenar) e Xavier (Patrick d'Assumçao), o padre poderia ter sido melhor inserido na trama, mas é ofuscado pela protagonista, e Camille que começa tendo bastante destaque acaba por ser deixada de lado, e perdendo sua função na história. Por o elenco de apoio não ter uma função clara, todo o mistério cai em cima da personagem principal, e em alguns momentos isso se torna bastante cansativo, tanto que o grupo de amigos, quando aparece, deixa a trama mais interessante e viva.
Pode-se dizer que Marianne é um dos projetos mais interessantes da Netflix, que costuma ter produções sendo feitas em vários países distintos. A série francesa é um oasis no meio de tanta coisa que a Netflix vem produzindo, e a qualidade da trama, mesclada com a ótima direção de Samuel Bodin, mostra qual o caminho que a plataforma de streaming deve se ater para criar os seus trabalhos. Marianne é um bom terror, e surpreende pela qualidade narrativa, há de torcer para que uma futura segunda temporada mantenha a pegada da primeira temporada, e que assim se torne uma franquia de sucesso.
Marianne (idem, França – 2019)
Criado por: Samuel Bodin
Direção: Samuel Bodin
Roteiro: Samuel Bodin, Quoc Dang Tran
Elenco: Victoire Du Bois, Lucie Boujenah, Tiphaine Daviot, Ralph Amoussou, Bellamine Abdelmalek, Mehdi Meskar, Alban Lenoir, Mireille Herbstmeyer
Emissora: Netflix
Episódios: 8
Gênero: Horror
Duração: 45 min. aprox.
https://www.youtube.com/watch?v=0Gx8ZZZAiFo
American Horror Story: 1984 | Confira todas as referências do primeiro episódio
American Horror Story: 1984 teve em seu primeiro episódio uma onda de referências que os fãs dos slashers se deliciaram em procurar durante os seus 47 minutos. Ryan Murphy fez uma homenagem ao gênero, e a influência dos clássicos ficou evidente neste primeiro capítulo.
A nona temporada recebeu o nome de 1984, e quando o tema foi revelado e que seria uma homenagem aos clássicos slashers, com um assassino a solta matando todos os jovens que encontrava pelo caminho, muitos ficaram contentes com o tanto de conteúdo que poderia ser feito.
Dentre as muitas influências de Ryan Murphy na série estão clássicos como Sexta-Feira 13 e Pânico. A trama gira em torno de um grupo de jovens que vão trabalhar como supervisores em um acampamento, e lá encontram o segredo obscuro por trás do alojamento.
O vilão é o Sr. Tinindo (Mr. Jingles) e que é influenciado por Jason Voorhees e até mesmo pelo assassino de Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado. Algumas das referências encontradas saltam aos olhos, outras já estão um pouco mais escondidas. A seguir teremos spoilers de American Horror Story: 1984.
Spoilers

Sexta-Feria 13 (1980)
A trama de American Horror Story: 1984, em seu primeiro episódio, gira em torno do acampamento no qual os jovens serão supervisores, e o acampamento em si já lembra bastante o Camp Crystal Lake, de Sexta-Feira 13. Outra semelhança com o longa de 1980 fica com o personagem do posto de gasolina. Roy que aparece no posto e os alerta de que iriam todos morrer é muito parecido com Crazy Ralph, que fez algo similar, os alertando que iriam morrer e para não irem ao acampamento.
Massacre da Serra Elétrica (1974)
Xavier deu a ideia de ir ao acampamento para os amigos, e eles toparam. No trajeto ao Acampamento Redwood, eles abastecem em um posto de gasolina em que está Roy, que é o proprietário do posto. Roy é bastante parecido com o personagem que aparece no posto no início de O Massacre da Serra Elétrica. Ainda na estrada, Xavier atropela um caminhante, que é muito semelhante ao jovem que é recebe uma carona no clássico de 1974.

Pânico (1996)
Uma cena que fica na cabeça é em relação a fuga de Brooke, ao ser perseguida pelo Mr. Jingles ela é desacreditada pelos amigos por não encontrarem o corpo do caminhante. Na cena próxima aos minutos finais, Brooke está no alojamento, ouve o orelhão tocar, e sai para atender. Ao pegar o telefone ouve as chaves do Mr. Jingles brincando com ela. Essa referência está ligada ao filme Pânico, que tinha um assassino que brincava com as vítimas por telefone antes de as matar. Uma curiosidade fica com relação a própria Emma Roberts, que interpreta Brooke, ela é a vilã de Pânico 4.

Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado (1997)
Xavier ao sair do posto de gasolina, atropela o vagante que andava sem rumo. Essa cena lembra e muito o acontecimento envolvendo o acidente de Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado, em que um homem é atropelado e após ser abandonado volta para matar o grupo de amigos. Em AHS levaram o rapaz atropelado para o acampamento e mantiveram em segredo o acidente, assim como o clássico. Outra referência se dá com a vestimenta do Mr. Jingles, que usa uma capa de chuva preta, igual a do assassino da produção de 1997.

Carrie, a Estranha (1976)
A dona do acampamento Redwood, Margareth Booth, é uma mulher devota e muito religiosa, isso ficou claro em suas falas e nas regras impostas aos jovens. A religião e a fé estão muito presentes em sua vida após os acontecimentos do passado, seu comportamento é igual ao da mãe de Carrie, que por sinal se chama Margareth também. Outra referência ao clássico de Stephen King fica em relação a personagem Brooke, que ao fugir de Mr. Jingles fica toda encoberta de lama, igual Carrie ficou suja com o sangue derramado nela.

Halloween (1978)
Eis que temos a referência mais gritante do primeiro episódio. A Dra. Hopple ao chegar ao hospício encontra todos internos soltos do lado de fora. A fuga de Mr. Jingles em si é muito parecida com a de Michael Myers em Halloween. A Dra. Hopple em si é a versão do Dr. Sam Looomis, e que possivelmente irá atrás do vilão nos próximos episódios. Até mesmo a morte de Roy, praticada por Mr. Jingles, lembra Halloween, com o assassino Michael Myers fazendo a mesma coisa sempre que fugia do sanatório, matando alguém e roubando suas chaves para pegar o carro.
Confrontando o mal | O final de Marianne explicado
A série Marianne (Samuel Bodin), da Netflix, é um dos poucos exemplos de como uma produção simples, com um roteiro ajeitado e sustos bem elaborados, consegue prender a atenção do telespectador e ao mesmo tempo fazer com que o público sinta diferentes sentimentos, desde medo até a tensão pelo suspense e terror bem inserido em cenas chaves. Neste texto vamos comentar o final e fazer uma análise de pontos chaves da trama.

Spoilers
Emma e o início da possessão
O longa é bem didático em explicar essa questão, de como Emma é possuída pelo espírito maligno de Marianne. Quando criança, Emma colocou o rosto próximo a um buraco que havia no chão, e lá ouviu vozes a chamando, foi como uma libertação para Marianne, que precisava de um corpo para tentar possuir.
A jovem Emma então cresceu, e quando adolescente, após alguns acontecimentos estranhos serem presenciados, brinca com seus amigos de chamar o espírito para que esse se manifeste. Esse jogo de Emma e seus amigos é como se servisse para despertar algo que estava ali escondido, apenas esperando a chance para começar a agir.
Emma ainda jovem, ao conversar com o Padre Xavier, descobre que Marianne está com ela, não dentro de Emma, mas junto com ela, e assim o padre a orienta a sair da cidade para que possa se proteger e proteger aos seus amigos e familiares das forças do mal. Então Emma vai embora da cidade, após destruir a igreja, e com isso os acontecimentos param de aparecer em sua vida. Emma só passa a sofrer de pesadelos, até que encontra sua amiga de infância na noite de autógrafos, e após essa se matar acaba retornando á cidade natal.
O demônio que possuiu o corpo de Marianne
Em um dos episódios da série, quando o inspetor Ronan ainda tinha uma importância para a trama e buscava explicações dos acontecimentos estranhos por trás de Emma e das mortes de sua mãe, eis que encontra um livro com o dono do antiquário e especialista no assunto. O livro fazia relatos antigos de quem era Marianne e também falava do demônio que a havia possuído no passado. Então é citado o demônio de nome Beleth e suas inúmeras legiões, e com o passar da história descobrimos o real motivo para que Marianne se torne má.

Quem é Marianne?
Marianne foi uma mulher que viveu em 1617. Seu desejo era o de ter um filho, e para isso faz um pacto com o diabo para que conseguisse seu desejo de ser mãe. Aquela cena, uma espécie de lembrança, em que voltamos até o século XVII e assistimos a um religioso tentando queimar o contrato que Marianne fez com o demônio. Eis que ele começa a imaginar coisas irreais assustadoras, e desiste de queimar o papel, que obviamente queimado pela metade mantém o encanto da alma da Marianne sob custódia do demônio.
Marianne pedia, incessantemente, para que Emma voltasse a escrever. Esse pedido se devia ao fato de que ajudaria a alma maligna de Marianne de se manter entre os vivos através da lembrança, pois quanto mais as pessoas soubessem dela, mais forte se tornava. Seu objetivo foi o de sempre pegar o corpo de Emma, e essa obstinação voltou a crescer quando Emma retornou a cidade natal, fazendo com que o espírito de Marianne voltasse a ter força.
Há uma cena, nos episódios finais, em que o Padre Xavier acusa Emma de ser a Marianne. Ele diz isso por achar que Emma estivesse possuída e que o ato de escrever fosse irreversível. É fato que Marianne já havia controlado, quase na totalidade, o corpo e a alma de Emma, mas graças ao colar o encanto se quebra, e Emma conseguiu se livrar, com a ajuda do padre, de Marianne.
Marianne Aparece no Final
Ao descobrirmos que Marianne tem uma relação de muitos anos com Emma, há uma busca por parte de Emma de a vencer. É aí que aparece o Padre Xavier tentando queimar o acordo que Marianne fez com o demônio, e assim a derrota de vez. Enquanto isso Emma estava sendo levada, por Marianne, pelos campos rumo a cidade. Não há uma menção na série do que teria nesta cidade, mas há de se ter noção pelo o que foi mencionado sobre o demônio Beleth e suas legiões, de que a cidade estaria repleta de demônios.
Aquela mulher, portanto, que segura a mão de Emma no último episódio é a Marianne de 1617. Aquele é seu aspecto caso estivesse viva, mas sabemos que aquela é apenas sua imaginação, e que aquela é a Marianne possuída pelo demônio. O colar, que foi pego pelo inspetor Ronan no antiquário de produtos religiosos e antigos, ajuda a quebrar o encanto no qual Emma estava presa, e possivelmente a ajuda a quebrar o elo que existia entre Marianne e Emma.

O que Aconteceu com Camille?
Camille é a assistente da personagem Emma, mais especificamente da escritora Emma. Camille é apresentada como uma mulher calma, aparentemente sensível e calada. Durante toda a trama teve uma importância, para depois do embate na residência de Emma ser levada ao hospital, e possivelmente ficar em estado de coma. Novamente, durante a trama presenciamos o que aconteceu com Camille. A jovem havia sido possuída por Marianne, que tentou matar o pai de Emma ainda no hospital, mas por sorte, na hora certa é desafiada e retirada de seu corpo.
No episódio final, no diálogo dentro do carro, em que Emma pergunta para Camille se Marianne havia a levado para a cidade, Camille faz um olhar de horrorizada e assustada, possivelmente por não acreditar que aquilo tivesse sido real, e ainda mais por saber que não havia sido a única a ter visto a tal cidade (possivelmente com vários demônios no local). O silêncio de Camille não era apenas de medo ou de um trauma sofrido, mas também de não saber como lidar com tudo aquilo que havia presenciado.
De Quem é o Filho de Emma?
Emma está grávida do mesmo demônio que se apossou do corpo de Marianne. Quando Emma está no quarto se relacionando com seu amigo de infância Séby, um desejo seu que se manifestou após o encontrar ao retornar para a cidade, ele então a pede para que não conte a ninguém que aquilo tinha acontecido.
Na realidade, aquele não era seu amigo Séby, e sim o demônio que se manifestou na forma de outra pessoa, apenas para se relacionar com ela, e ao estilo O Bebê de Rosemary a engravidar, por isso é natural dizer que Emma está grávida do demônio.
Crítica | Anna: O Perigo Tem Nome - Nikita versão moderna
Luc Besson é um apaixonado por personagens femininas com força de expressão e decisão que não se vê muito nos filmes de ação. Suas protagonistas são atraentes e sensuais, mas não é algo que dita as histórias de seus longas, é apenas um atrativo a mais para dar aquela impressão de femme fatale de que por trás daquele jeito meigo e delicado há uma mulher explosiva e digna de matar todos que estão em seu caminho.
Em Nikita – Criada Para Matar (1990) o diretor criou o seu clássico, e que provavelmente ditou os rumos de suas futuras tramas. Deu tanto certo que Luc Besson ficou marcado pela produção que trazia uma mulher sem saída para cometer os crimes, com Nikita sendo designada a praticar assassinatos por ordens de uma agência secreta. Em Anna – O Perigo Tem Nome, o caminho percorrido por Anna é muito parecido com o de Nikita, com até mesmo o fim da personagem seguindo quase que a mesma trajetória da personagem do filme de 1990.
O jeito com que a narrativa é criada é feita para dar um ar de originalidade e de novidade para quem assiste, algo difícil de conseguir em um meio em que os filmes de ação e de espionagem seguem uma estrutura de roteiro muito parecida. A ideia é a de fazer com que o telespectador entenda toda a situação que é apresentada no longa e Anna consegue isso, pois o filme tem uma história de fácil assimilação.
Há alguns problemas no jeito com que toda a trama é montada, com idas e vindas da história que mais atrapalham que ajudam a contar os acontecimentos. O roteiro, que também foi escrito por Luc Besson, segue a jovem Anna Poliatova que é levada a Paris a fim de se tornar modelo, mas ela não é bem a garota inocente que todos acreditavam ser, e a mulher se transforma uma assassina cruel com o passar do tempo. A história caminha bem, até as idas e vindas começarem a atrapalhar o andamento do longa. Luc Besson não segue um caminho linear para a protagonista. Apresenta uma falsa origem de Anna e depois volta no tempo para contar algo a mais sobre sua vida. Isso acontece várias vezes e atrapalha bastante o jeito pelo qual o filme vai apresentando os fatos, o deixando confuso, cansativo e repetitivo.
Um elogio ao roteiro é em relação ao jeito detalhado que a narrativa acaba sendo mostrada. Por ter várias idas e vindas o longa direciona o telespectador para um final, mas na realidade, os dois plot twist finais são bem orquestrados ao ponto de enganar a todos como um truque de mágica bem feito. Algo que também é muito bem construído, e deixa a trama mais charmosa, fica em relação ao jogo de poderes que remete a Guerra Fria, com a agente Anna jogando para os dois lados, tanto dos americanos quanto dos russos.
As cenas de ação são o ponto forte de Anna – O Perigo Tem Nome, apesar de ser em uma freqüência menor do que o esperado, com apenas uma sequência de pancadaria interessante, tais cenas seguram o público até certo ponto. A falta de intensidade na ação é algo que acaba tornando frustrante algumas situações que poderiam ser mais interessantes do que realmente foram. A luta inicial, em um restaurante, é muito bem coreografada, mas é muito pouco para um filme que foi vendido como sendo de ação ao estilo Atômica (David Leitch).
A direção de Besson é genérica em alguns aspectos, principalmente nas cenas de ação, tendo apenas o já mencionado momento lúcido do restaurante, de resto é bastante simples o jeito com que constrói as cenas. Porém, as decisões tomadas para levar a protagonista adiante com sua missão e sua motivação são interessantes e ajudam a ditar o ritmo da trama. Não é um filme lento como Nikita e Lucy foram. Há uma melhora no jeito com que o diretor dita o ritmo do longa.
Para protagonizar Anna, o diretor escolheu a modelo Sasha Luss, na qual já havia trabalhado com Luc Besson em Valerian e a Cidade dos Mil Planetas. A escolha é acertada pelo fato da atriz russa ter o estilo certo para interpretar sua femme fatale. Sasha Luss é uma mulher sensual, mas tem em seu semblante algo enigmático e misterioso, que é transportado para a personagem e que ajuda a dar vida a Anna. Sua interpretação não é tudo isso, mas não é algo que atrapalhe a produção e também não é algo que fique tão visível em um primeiro momento.
Anna – O Perigo tem Nome cumpre sua missão como entretenimento. Não há como esperar algo a mais de um longa no qual o próprio diretor já utilizou o formato em outras produções anteriores, e até mesmo se surpreender se torna algo cansativo e mais complicado. Luc Besson é um ótimo diretor, e sua visão para o cinema é algo que ajuda bastante ao contar a história de Anna, e seus fracassos recentes como diretor o fizeram reviver histórias que geralmente dão certo no cinema, pois e difícil não curtir um longa em que uma mulher linda sai batendo em todos os marmanjos que encontra pelo caminho.
Anna - O Perigo tem Nome (Anna, 2019)
Direção: Luc Besson
Roteiro: Luc Besson
Elenco: Sasha Luss, Helen Mirren, Luke Evans, Cillian Murphy, Lera Abova, Alexander Petrov
Gênero: Ação, Thriller
Duração: 120 min.
https://www.youtube.com/watch?v=OAW_Y4tp_sM
Crítica | Bacurau - Kleber Mendonça se destacando entre os cineastas nacionais
Desde a retomada do cinema nacional, com Carlota Joaquina (1995), dirigido por Carla Camurati, muitos diretores nacionais se consagraram no cenário nacional e internacional, dentre eles Walter Salles (Central do Brasil), Fernando Meirelles (Cidade de Deus), Bruno Barreto (O Que é Isso Companheiro?), e agora podemos dizer Kleber Mendonça Filho, diretor de Bacurau e que já havia feito um trabalho competente em Aquarius e em o Som ao Redor.
Kleber Mendonça gosta de usar temas do cotidiano e que afetam as pessoas como fator principal para a trama de seus longas. Em Bacurau (que também tem direção de Juliano Dornelles) o diretor mantém seu estilo, mas vai além ao criar uma distopia poucas vezes presenciada no cinema nacional. O diretor cria uma trama que surpreende por trazer uma discussão atual no cenário político e por dar margem a várias interpretações, tudo isso sem sair do roteiro, e mantendo o foco na narrativa.
A trama gira em torno de um vilarejo remoto chamado Bacurau, o cotidiano dos personagens é mostrado de início, até que há uma reviravolta surpreendente no roteiro, em que estrangeiros aparecem se organizando para isolar a já isolada cidade do mapa, e assim fazer uma caça esportiva, mas com os habitantes da pequena vila. Uma ideia que beira a ficção, mas que tem algo de real no que é apresentado. Fica evidente que Kleber Mendonça e Juliano Dornelles quiseram debater o tema a respeito do estrangeirismo, de que tudo que vem de fora não é tão bom assim, e de que essa invasão, em certo ponto, causa danos a população regional, que é abafada por essa onda estrangeira, e perde suas origens.
Outro fato que é mostrado na película fica em relação a população se armar parar enfrentar um mal maior, e que é uma discussão presente no país. A população se une aos traficantes (que são apresentados realmente como pessoas sem escrúpulos) para ajudar a matar os estrangeiros. Essa é uma questão mais simbólica apresentada no filme, de que o brasileiro só se tem essa noção de união nacional quando alguma coisa está ou ameaçando a sua soberania ou quando se sente ameaçado por um outro grupo.
O vilarejo de Bacurau é apresentado, desde o início, como um lugar de terra de ninguém. Uma região de difícil acesso, com vários buracos pela estrada, acidentes na rodovia, homens armados fechando vias, falta água para a população, remédios e o principal: falta um poder público que faça algo de benéfico para os cidadãos. O Prefeito populista é um elemento bastante simbólico em um Brasil em que a força política só pensa em beneficiar a si e esquece do povo, um fato bastante forte na trama é quando o Prefeito entra na cidade com um caminhão caçamba e em vez de entulho há livros dentro dele, e os joga no chão como se fossem lixo.
O ponto forte da produção são as interpretações. Sônia Braga está fantástica como uma médica que funciona como uma salvadora da pátria, Udo Kier dá um show como o retrato do caipira americano fã de armas e impiedoso na hora de executar as ordens que recebe. A surpresa fica a cargo de Thomas Aquino, um ator de grande futuro, e que interpreta um homem envolvido em crimes e que tenta sobreviver ao massacre que vem pela frente. Outro destaque fica com Silvero Pereira, que interpreta o traficante e que tem uma parte importante na história, seu personagem é selvagem e cruel, mas também justo, e sua interpretação ajuda a dar força na recriação desse homem que está às margens da sociedade.
Bacurau é um filme cheio de simbologia. Os panos levantados pelos moradores no primeiro ato, em alusão a morte de uma senhora que deu a vida pela vila, e que também significa a paz, os caixões simbolizam a morte que está para visitar a região, mas que também é uma alusão ao que ocorre por todo o Brasil. E o principal e que chama bastante a atenção fica em relação ao Museu, um lugar que concentra a história das pessoas que viveram no município, e que também guarda as armas históricas, uma clara opinião de que os diretores são a favor de deixar as armas em um Museu. O longa pode não ser um retrato fiel do que é o Brasil, mas se assemelha bastante com os acontecimentos que o brasileiro vive todos os dias, por isso sua fama se expandiu tão rapidamente pelo boca a boca. Fato é que Bacurau consegue focar no assunto e não fugir dele sem se perder na trama criada, e isso é um fato raro no cinema nacional, que muitas vezes se perde durante a história contada, coisa que o filme de Kleber Mendonça Filho não faz.
Bacurau (Brasil, 2019)
Direção: Juliano Dornelles, Kleber Mendonça Filho
Roteiro: Juliano Dornelles, Kleber Mendonça Filho
Elenco: Udo Kier, Sônia Braga, Karine Teles, Barbara Colen, Chris Doubek, Alli Willow, Johny Mars, Julia Marie Peterson, Antonio Saboia, Thomas Aquino, Brian Townes
Gênero: Ação, Aventura, Mistério
Duração: 131 min.
https://www.youtube.com/watch?v=1DPdE1MBcQc&t=2s
Crítica | Yesterday - Uma carta de amor ao Beatles
Não importa em que lugar do mundo você esteja, é difícil conhecer alguém que nunca tenha ouvido falar dos Beatles, para não dizer que isso é bastante raro. Os quatro de Liverpool que se separaram em 10 de abril de 1970 deixou saudades em todos os seus fãs, e fez com que o rock se tornasse mais e mais popular, influenciando uma geração de novos grupos musicais que viriam com seu sucesso. É com foco na banda que o filme Yesterday (Danny Boyle) desenvolve sua trama de forma bastante original.
Yesterday é daquelas produções que te deixa feliz ao chegar ao término da produção, pois sua história cativante prende o telespectador de uma forma simples e sem forçação alguma. O longa de Danny Boyle é uma comédia romântica, e sua trama é universal, fala de amor, amizade, dedicação e Beatles, que é uma banda universal, conhecida pelo mundo todo, seria estranho conhecer alguém que não saiba quem foram eles, e essa justamente a inteligente ideia do filme.
A história conta a vida de Jack Malik (Himesh Patel), um homem que nutre a esperança de algum dia ser um cantor de sucesso, e que vai a festivais furados com sua melhor amiga Ellie Appleton (Lily James), eis que em um dia há um apagão mundial e todos deixam de esquecer os Beatles da noite para o dia. É uma ideia muito interessante essa que a dupla de roteiristas Jack Barth e Richard Curtis coloca como proposta para o longa, pois é um jeito de imaginar como seria o mundo sem essa que foi uma das maiores, se não a maior, banda que já existiu.
Partindo dessa premissa o roteiro busca um jeito de passar para a geração atual o que foi e o que é os Beatles, uma banda que alavancou multidões por onde passava, que fazia música sobre qualquer assunto que lhes dessem na telha, e que viviam a vida a mil. Há uma crítica inserida nos diálogos e nas situações vividas por Jack Malik, crítica o público atual que consome músicas com letras sem intensidade e que são apenas barulho, e que esse mesmo público não se importam com algo de qualidade e que seja novo. Faz uma crítica também ao cenário musical atual, com bandas sendo fabricadas pelo marketing e tendo empresários que criam estrelas, tal profissional é representada pela personagem de Debra Hammer (a ótima Kate McKinnon).
A concepção do romance entre Jack Malik e Ellie Appleton é muito bem estruturado, sendo montado o filme todo, tendo como pano de fundo o cenário musical. Jack e Ellie se conhecem desde infância, não por acaso ela é sua maior fã. É um romance que não forçam a barra em construí-lo, sendo montado aos poucos. O humor é algo realmente cativante em Yesterday, com o carisma de Himesh Patel e Lily James, que juntos ajudam a dar maior graça e fofura para um longa, que tem um pé no humor para desenvolver a sua história. As situações que surgem ao longo da trama ajudam as piadas a terem força, como os momentos em que Jack Malik descobre que coca-cola e outros produtos famosos de sua geração não existiam. Ed Sheeran também está ótimo interpretando a si mesmo, e ajuda nesse humor quando ele surge e descobre as músicas dos Beatles são os melhores momentos cômicos do longa.
Danny Boyle é um ótimo diretor e aqui cria uma de suas histórias mais cativantes e sérias, com toques de crítica e com uma história que irá mostrar para a nova e antiga geração que o mundo não seria o mesmo sem os Beatles, uma banda que revolucionou muita coisa no cenário musical e que deixou um legado. No último ato uma cena, em que Jack Malik encontra John Lennon vivo, é uma das cenas mais emocionantes e que funciona como homenagem e agradecimento ao cantor assassinado no ano de 1980. O longa funciona também como uma carta de amor aos quatro de Liverpool, que deixaram saudades, mas que nunca serão esquecidos.
Yesterday (idem – UK, 2019)
Direção: Danny Boyle
Roteiro: Jack Barth, Richard Curtis
Elenco: Himesh Patel, Lily James, Sophia Di Martino, Ellise Chappell, Meera Syal, Harry Michell, Vincent Franklin, Joel Fry, Kate McKinnon, Ed Sheeran
Gênero: Comédia, Fantasia, Musical
Duração: 116 min.
https://www.youtube.com/watch?v=qD6FDkUXSZQ


