Crítica | Madame Teia é um dos piores filmes do ano

Crítica | Madame Teia é um dos piores filmes do ano

Ainda é cedo para afirmar que o gênero de super-heróis está saturado, como alguns críticos especializados e parte do público sugerem. No entanto, é evidente que estão surgindo sinais claros de fraqueza. Isso não se limita apenas às recentes bilheterias de produções da Marvel e da DC, como As Marvels (2023) e Aquaman 2: O Reino Perdido (2023), mas principalmente devido ao excesso de lançamentos por ano e à qualidade inferior dessas obras.

Se o gênero de super-heróis ainda não está na corda bamba, logo pode vir a acontecer. Madame Teia, dirigido pela desconhecida S.J. Clarkson, é mais um desses filmes baratos, com roteiro fajuto e execução péssima que são produzidos unicamente para obter lucro fácil. No caso de Madame Teia, se deve ao fato de a Sony deter os direitos do Homem-Aranha e de qualquer outra variante conectada ao personagem.

Apesar dos filmes do SonyVerso - ou Sony's Spider-Man Universe (SSMU), como também é conhecido - não terem conexão com o MCU, obras como Venom e agora Madame Teia simplesmente são ruins e só servem para que os personagens ligados a Peter Parker fiquem marcados pela mediocridade dessas produções.

Madame Teia: um dos piores do ano

Nas HQs, Cassandra Webb é uma vidente que atua como uma guia espiritual para o Homem-Aranha. Ela é uma figura bastante interessante, apresentando uma doença neurológica que lhe concede poderes de clarividência e força psíquica. Ou seja, tinha tudo para a Sony ter feito uma grande adaptação, mas não foi bem isso que aconteceu.

Na trama de Madame Teia, Cassandra Webb perdeu sua mãe ao nascer em meio à Amazônia Peruana, em uma tribo com seres bizarros que escalam árvores. Quando adulta, desenvolve poderes de clarividência e precisa guiar três jovens adolescentes - Julia Cornwall (Sydney Sweeney), Anya Corazon (Isabela Merced) e Mattie Franklin (Celeste O'Connor) - que se tornarão variantes femininas do Homem-Aranha em um futuro próximo.

O roteiro, que conta com a participação de S.J. Clarkson, diretora também do filme e que possui uma vasta experiência em séries, é ruim, não inova em nada no gênero, e não apresenta uma história original, sendo completamente genérico em suas ações. O vazio narrativo que o longa traz se deve ao roteiro não ir além do esperado, com uma origem pífia da protagonista e apenas mostrando Cassandra e as três garotas adolescentes fugindo sem um destino definido de um antagonista que elas não sabem quem

Roteiro fraco, direção frouxa

Quanto à direção de Clarkson, ela se mostra medíocre em vários aspectos, ao não conseguir imprimir um ritmo decente à história e ao desperdiçar personagens que tinham potencial para serem interessantes. Isso sem mencionar que transformou um longa de super-heroínas em uma grande aberração cinematográfica. Há cenas completamente patéticas, como quando Dakota tenta escalar uma parede ou quando as três amigas estão em uma lanchonete e decidem, do nada, ficar dançando em uma mesa ao som de Toxic, de Britney Spears.

Não há cenas de lutas no filme e as de ação, as poucas que existem, são pessimamente executadas. Um elemento que funciona, inicialmente, são as visões de Cassandra Webb, no estilo da série As Visões da Raven (2003), sempre à frente de seu inimigo e prevendo o que irá acontecer no futuro, permitindo-lhe defender-se ou fugir do vilão. Na primeira vez que essas visões surgem, até que é divertido, mas depois de duas vezes começa a se tornar repetitivo e chato, com a narrativa presa a um looping eterno.

O elenco está pessimamente caracterizado, com as personagens secundárias sendo praticamente inúteis para a trama, o que é uma pena, e com uma protagonista sem carisma algum. Por sinal, a atuação de Dakota Johnson é artificial, sem emoção, beirando ao constrangedor em alguns momentos. Isso sem mencionar o vilão Ezekiel Sims (Tahar Rahim), que é péssimo, trajando um uniforme ridículo, lembrando bastante o Homem-Libélula de Super-Herói: O Filme (2008).

Um longa adaptado de uma HQ não precisa necessariamente ser igual às histórias em quadrinhos, nem seguir uma certa cronologia de acontecimentos, mas é primordial que mantenha uma qualidade narrativa e preserve a essência dos personagens. Infelizmente, isso não acontece de forma alguma com Madame Teia. Foi, lamentavelmente, um potencial desperdiçado que compromete o futuro de uma possível franquia das super-heroínas nos cinemas .

Madame Teia (Madame Web, EUA – 2024)

Direção: S.J. Clarkson
Roteiro: Matt Sazama, Burk Sharpless, Claire Parker, S.J. Clarkson
Elenco: Dakota Johnson, Sydney Sweeney, Isabela Merced, Celeste O'Connor, Tahar Rahim, Mike Epps, Emma Roberts, Adam Scott, Kerry Bishé
Gênero: Ação, Aventura, Ficção Científica
Duração: 116 min

https://www.youtube.com/watch?v=yGouqVQ-wUw&ab_channel=SonyPicturesBrasil


Crítica | Zona de Interesse é um dos filmes mais chocantes do ano

O que é preciso para chamar a atenção do público ao abordar um tema extremamente pesado e já mostrado e debatido em diversas produções audiovisuais? O tema em questão, no caso, refere-se à Segunda Guerra Mundial, e é evidente que ainda há muito a ser mostrado sobre ele. Zona de Interesse, dirigido por Jonathan Glazer (Sob a Pele), consegue, de forma simples e brutal, apresentar esse cenário de morte e crueldade que ocorreu nos anos 1940 por um outro ângulo. 

Em vez de mostrar execuções, destruição e pilhas de corpos, como puderam ser vistos no impactante A Lista de Schindler (1993) ou no desumano O Pianista (2002), The Zone of Interest (nome original) segue por outro caminho e apresenta a crueldade que foi o holocausto sem mostrar um pingo de sangue ou alguém sendo assassinado – não do modo como vimos nas produções acima listadas. E mesmo assim, sem ser explícito, é bastante chocante.

Uma família vive em uma casa linda, o sonho de qualquer família, com um grande jardim em que as flores florescem belamente e um ambiente em que a família pode se reunir para ler um livro ou até mesmo para as crianças brincarem à luz do dia. Há um porém nisso tudo: o domicílio fica ao lado, com o muro grudado, ao campo de concentração de Auschwitz.

Cerca de um milhão de pessoas morreram nos campos de concentração de Auschwitz e as várias barbaridades cometidas no campo de extermínio já foram mostradas em diversas produções, mas poucas alcançaram o impacto visceral de Zona de Interesse

O roteiro da dupla Martin Amis e Jonathan Glazer desvenda o cotidiano de um oficial nazista em sua residência com a família. A relação com o regime nazista se manifesta em conversas "comuns" sobre o destino dos prisioneiros, o que por si só é um soco no estômago. O oficial fala sobre atrocidades com a mesma naturalidade com que provaria um prato de sopa.

Por não mostrar explicitamente o que acontece no campo de concentração, o filme assume uma abordagem original. A matança desenfreada que ocorre ali é sugerida por elementos sensoriais, como sons de tiros ao longo do dia, chamas irrompendo pela noite e gritos incessantes. Essa estratégia é particularmente assustadora, pois incita a imaginação do espectador e o confronta com o horror de forma profunda e impactante. Ao invés de mostrar a violência de forma direta, o filme trabalha com a experiência sensorial do público, criando um efeito ainda mais perturbador.

Hedwig Höss (Sandra Hüller), esposa do oficial Rudolf Höss (Christian Friedel), demonstra conivência com tudo o que acontece ao lado de seu lar. Uma passagem no filme chama a atenção: Hedwig fica revoltada ao saber que o marido será transferido para outro local, mesmo ele se destacando em sua sádica missão. Essa cena serve como um poderoso símbolo da conivência de grande parte da população alemã com os horrores que se desenrolavam nos campos de concentração, impondo sofrimento a judeus, poloneses e outras etnias.

Em uma primeira análise, a história pode parecer vazia em sua essência, sem aprofundar em debates ou ir além do prometido. No entanto, essa não era a intenção do roteiro. A ideia era questionar a imparcialidade da população frente aos assassinatos na Alemanha nazista, e o longa cumpre esse objetivo de maneira acertada.

Obras sobre a Segunda Guerra Mundial existem aos montes, e a maioria impressiona pela qualidade narrativa e pela trama chocante. Zona de Interesse é parecido com O Filho de Saul (2015) ao deixar implícito o horror da Alemanha Nazista no período retratado. O diferencial do longa dirigido por Glazer reside na abordagem original do tema, sob um ponto de vista singular e de forma crua e realista. Sem dúvida, um dos grandes filmes do ano.


Crítica | A Sociedade da Neve impacta pela realidade retratada

Em 127 horas, longa de Danny Boyle, um homem cai em um desfiladeiro e precisa arrancar seu próprio braço que havia ficado preso a uma rocha e assim conseguir escapar com vida de lá. Os filmes de sobrevivência, no geral, são assim, apresentam de forma crua e fria os fatos, causando comoção em quem assiste.

O mesmo podemos dizer de A Sociedade da Neve (J.A. Bayona), produção espanhola disponível na Netflix e que foi indicada ao Oscar de Filme Internacional. O longa trata da história real do acidente do voo 571 da Força Aérea Uruguaia, ocorrido em 1972, no qual 16 passageiros sobreviveram por 72 dias presos em um trecho remoto dos Andes, em meio a uma forte nevasca, enquanto outros 29 morreram.

Não é a primeira produção audiovisual a tratar do assunto. Vivos (1993), dirigido por Frank Marshall, já havia retratado o sofrimento dos jovens nos Andes. A questão de terem que recorrer ao consumo da carne dos amigos falecidos já havia sido apresentada e chocou da mesma maneira.

Nesta nova e excelente versão, dois elementos do gênero das produções de sobrevivência são muito bem apresentados. O primeiro é a questão emocional. Todos estão ali, entregues à própria sorte, sem água, comida, comunicação - estão praticamente abandonados.

A maneira como Bayona trabalhou o roteiro, no qual ele próprio teve participação na construção, causa uma comoção bastante grande em parte do público, especialmente nas cenas em que parentes ou amigos dos sobreviventes morrem. Ele soube capturar o principal elemento que faz o espectador se sentir naquela situação, que é a emoção.

Outro aspecto a ser mencionado, e que é bastante evidente na narrativa, é como o diretor busca chocar a audiência. Não se trata de um choque barato, como podemos ver em produções de terror, como Jogos Mortais (2004) ou O Albergue (2005). O que Bayona deseja transmitir é, sim, um choque de realidade. Primeiro, ao mostrar como os jovens precisam sobreviver em uma situação extrema, sem proteção ou alimentos; depois, ao retratar os estudantes testemunhando a morte de seus amigos por diversas circunstâncias e, em seguida, tendo que recorrer ao canibalismo para se alimentarem dos corpos, a fim de permanecerem vivos.

Certamente, a ideia do cineasta foi narrar um fato que ocorreu com o máximo de realismo possível, inserindo na história doses dramáticas que vão além da situação em que se encontram, destacando a vida pessoal de alguns dos jovens. Por haver muitos personagens no elenco, não há uma atenção devida a um protagonista específico, e essa tentativa de mostrar vários personagens acaba gerando confusão em entender exatamente quem é o protagonista.

A Sociedade da Neve é um excelente filme de sobrevivência que atende às expectativas do gênero, mas com a diferença de contar com um roteiro brilhante e uma direção eficiente que soube extrair o máximo do elenco nas cenas mais dramáticas. Seu principal mérito é que será lembrado por muito tempo; não sendo uma obra esquecível como a maioria do gênero.

A Sociedade da Neve (La sociedad de la nieve, ESPANHA – 2023)

Direção: J.A. Bayona
Roteiro: J.A. Bayona, Bernat Vilaplana, Jaime Marques, Nicolás Casariego, baseado no livro de Pablo Vierci
Elenco: Enzo Vogrincic, Agustín Pardella, Matías Recalt, Esteban Bigliardi, Rafael Federman
Gênero: Aventura, Biografia, Drama
Duração: 144 min

https://www.youtube.com/watch?v=9cjSePIf1l0


Crítica | Pobres Criaturas - um conto sobre libertinagem sexual

Yorgos Lanthimos (O Lagosta) não aparece no leque de grandes cineastas da história do cinema, muito menos entre os principais da atualidade. No entanto, é preciso reconhecer que o diretor sabe como chamar a atenção do público com produções bastante polêmicas. Sua nova fase hollywoodiana parece ser mais "leve", com um trabalho eficiente com com A Favorita (2018) e com o ótimo Pobres Criaturas.

Com uma trama poderosa e com mensagens relevantes, o longa foi indicado em onze categorias ao Oscar 2024, incluindo algumas das mais importantes, como Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Atriz (Emma Stone). Poor Things (nome original) é um filme bizarro em sua essência, sendo sim a obra mais excêntrica do diretor, que anteriormente dirigiu o igualmente bizarro Dentes Caninos (2009).

A trama acompanha a rotina de Bella Baxter (Emma Stone) em sua jornada de autoconhecimento, após ser revivida de maneira tosca pelo Dr. Godwin Baxter (Willem Dafoe) em uma cirurgia bizarra. Nessa nova vida, ela aprende a andar, a falar e a explorar o prazer pelo sexo em Pobres Criaturas.

Sexo, Sexo e mais Sexo

O roteiro de Tony McNamara (Cruella), baseado no livro de Alasdair Gray, é um dos mais belos trabalhos experimentados nesta temporada. Não apenas pela mensagem forte e pela beleza ímpar da direção de arte, mas principalmente pela construção narrativa, que é fantástica. Bella é retratada como uma mulher ingênua, o que faz sentido pelo fato de ela ter "nascido" há pouco tempo, apresentando a protagonista descobrindo os prazeres da vida e, principalmente, o interesse sexual.

A questão sexual tem um grande impacto na narrativa, sendo um fator impulsor para desenvolver a personagem e aprofundar a história. É através das sensações sexuais que Bella conhece Duncan Wedderburn (Mark Ruffalo), que a leva a viajar pelo mundo. A partir disso, por decisão pessoal, Bella tem vários amantes em Paris, sem mencionar sua parada no Egito, onde descobre a miséria e o sofrimento humano pelos quais as pessoas passam naquele local, o que a choca profundamente.

Essa cena em particular, em que Bella vislumbra crianças mortas, funciona como uma chave para que a protagonista, que vive de modo hedonista, desperte de seu transe originado pelo prazer sexual. É como se ela tivesse acordado e aprendido uma enorme lição. 

Na verdade, o que Yorgos quer mostrar é que o mundo está repleto de caos e devastação. Viver seus dias de modo hedonista e escondida, como Bella vivia, onde o Dr. Godwin não a deixava sair de casa e depois vivendo de maneira fútil com Duncan, é apenas uma máscara que faz com que a protagonista viva em um mundo de fantasia, sem desfrutar da realidade externa.

Pode-se dizer, no mínimo, que Poor Things tem o potencial de escandalizar aqueles que não estão acostumados com as obras de Yorgos Lanthimos e filmes com cenas repletas de sexo. As várias - e realmente são várias - situações em que Bella tem relações sexuais funcionam como uma expressão de sua libertação sexual, mas também carregam uma mensagem feminista, destacando que a mulher pode escolher seus parceiros sem a necessidade de submissão a um homem.

Emma Stone, o Oscar é seu

Bella é praticamente uma criança em um corpo de mulher, segredo este que só será desvendado durante a história. Em sua jornada de descoberta, ela se lança ao mundo, onde tudo é novo para ela: o paladar de novos alimentos, a dança, as conversas formais. Essas questões são apresentadas aos poucos, com Lanthimos fazendo algo semelhante ao que já havia feito em Dentes Caninos, que é nos fazer conhecer o mundo através das nossas experiências.

E para interpretar uma Bella que aprende 15 palavras por dia e anda de forma desajeitada, nada melhor e mais óbvio do que a escolha de Emma Stone para o papel. A atriz, que já havia trabalhado com o diretor em "A Favorita", entrega o tom sarcástico e engraçado que a narrativa necessita. Sua performance traz uma realidade à personagem, transformando-a ao longo do filme de uma garota ingênua para uma mulher objetiva e de pensamentos próprios, e faz isso sem que sua atuação seja superficial ou forçada.

Uma das principais influências na cultura pop é a obra Frankenstein. Entre suas numerosas releituras, destaca-se o trabalho de Lanthimos, que, ao invés de uma simples nova versão, oferece uma protagonista e uma narrativa que funcionam como uma sincera homenagem à obra de Mary Shelley

Os personagens secundários estão igualmente maravilhosos, com um tempo de tela bem definido e cada um possui seu próprio arco dramático, que surge e desaparece da trama no momento certo. O que mais chama a atenção, no entanto, é o humor bem empregado na história. É difícil não se divertir com as várias situações bizarras que envolvem Bella e o libertino Duncan Wedderburn.

Pobres Criaturas é esteticamente lindo, com paisagens fantásticas deslumbrantes que amplificam ainda mais a força da trama. A odisseia de descoberta de Bella pelo mundo é como se fosse um deslumbrante sonho do qual a protagonista está acordando. Sem dúvida, é um dos grandes filmes da temporada.

Pobres Criaturas (Poor Things, EUA – 2023)

Direção: Yorgos Lanthimos
Roteiro: Tony McNamara, Alasdair Gray
Elenco: Emma Stone, Willem Dafoe, Ramy Youssef, Jack Barton, Mark Ruffalo, Kathryn Hunter, Jerrod Carmichael, Vicki Pepperdine
Gênero: Comédia, Drama, Romance
Duração: 141 min

https://www.youtube.com/watch?v=RlbR5N6veqw


Crítica | Anatomia de uma Queda é um drama envolvente e eficiente

Crítica | Anatomia de uma Queda é um drama envolvente e eficiente

A morte de um familiar por si só já é um trauma enorme, imagine as proporções que isso toma se essa morte foi decorrente de circunstâncias suspeitas. É comum em produções cinematográficas abordarem tal tema sob uma perspectiva investigativa, geralmente com algum plot twist surpreendente no final.

Em Anatomia de uma Queda, longa dirigido por Justine Triet (Sybil), acompanhamos Sandra Voyter (Sandra Hüller), uma mulher que leva uma rotina comum com seu marido, um escritor frustrado, e com seu filho deficiente visual. Isso muda quando Sandra é acusada de ter matado o seu marido, jogando-o do segundo andar da residência.

A narrativa se concentra principalmente nessa questão central: se foi Sandra ou não quem matou o seu marido Samuel Maleski (Samuel Theis). Esse fato a coloca em um longo julgamento, e ela precisa conviver com o drama de ser acusada e ainda ter o seu filho envolvido na história. Anatomia de uma Queda é brilhante na maneira como estrutura toda a situação e na forma como transforma um assassinato em uma questão de cunho pessoal para a protagonista.

O grande acerto do roteiro da dupla Justine Triet e Arthur Harari está relacionado ao dilema moral, pois é Sandra Voyter quem precisa passar por várias situações durante o julgamento - apresentado de modo monótono e com ótimos diálogos - tendo que enfrentar a alegação de que foi ela quem matou Samuel. Provas são apresentadas nesse julgamento que podem provar sua inocência ou não, dando maior dinamismo e aprofundando a trama.

É atribuído ao filho de Sandra um papel-chave relevante para a narrativa, pois de forma inteligente e por circunstâncias que irão surgir, causa comoção no público. Primeiro, pelo fato de ter encontrado seu pai morto, e depois por ter que testemunhar contra sua própria mãe. Há ainda um elemento importante para transformar o julgamento em um ato mais cruel para a protagonista, com o promotor (Antoine Reinartz) agindo como um perfeito carrasco.

É quase certo que parte do público pode se sentir cansada com o ritmo maçante imposto pela diretora, mas em nenhum momento isso se reflete no andamento da trama. Mesmo sendo, sim, um longa "parado", não se mostra entediante ou chato. Pelo contrário, a ação e a força dos diálogos são o suficiente para criar uma transição rápida na história, apresentando a briga entre Sandra e seu marido, o seu filho e o seu cachorro - que rouba a cena no filme - para depois executar com eficiência a investigação e o seu julgamento moral e jurídico.

Carregado de tensão durante o julgamento e durante o primeiro ato, que ocorrem as brigas entre Sandra e Samuel, contando com um teor de suspense digno das produções do gênero, deixando a desejar com o seu final aberto. Querendo ou não, esse desfecho deixa um gostinho de frustração no espectador. Por essas e outras, Anatomia de uma Queda foi indicado em 5 categorias do Oscar, incluindo as principais: Melhor Filme, Melhor Diretor e Roteiro Original.

Os dramas de tribunal capturam a atenção do espectador pela maneira como são elaborados e pelo suspense que geram em relação às situações debatidas. Anatomia de uma Queda não será o primeiro nem o último a abordar esse tema de maneira tão impactante. Diferentemente de Kramer vs. Kramer (1979), que também explora o debate sobre o que é verdade dentro de uma narrativa. A produção francesa se destaca pelo seu aprofundamento na situação, deixando uma enorme dúvida e curiosidade no público.

Anatomia de Uma Queda (Anatomie d'une chute, FRA – 2023)

Direção: Justine Triet
Roteiro: Justine Triet, Arthur Harari
Elenco: Sandra Hüller, Swann Arlaud, Milo Machado, Samuel Theis, Antoine Reinartz
Gênero: Policial, Drama, Suspense
Duração: 151 min

https://www.youtube.com/watch?v=36nFZ7nNqug


Em evento com Cafu, Konami lança a nova temporada de eFootball

Em um evento realizado em São Paulo, em 1º de fevereiro, a Konami lançou a quarta temporada do jogo eFootball (The Carnival Vibe) em grande estilo. Considerando que estamos em época de carnaval, nada mais apropriado do que o lançamento ter como tema o espírito carnavalesco dos  atletas brasileiros.

https://twitter.com/we_konami/status/1752934810543394976

No evento, foram destacadas algumas novidades. Com a presença do craque e pentacampeão mundial Cafu, o lançamento trouxe consigo conteúdos exclusivos de jogadores como Neymar, Marquinhos, Raphael Veiga e o próprio Cafu, prometendo elevar a experiência dos jogadores.

Além da celebração do talento futebolístico brasileiro, a Konami apresentou outras adições interessantes para os entusiastas do clássico game. Foram destacadas a possibilidade de adquirir moedas bônus e a contratação de jogadores por meio de empresários, proporcionando uma experiência de jogo mais dinâmica. Nos pacotes Premium disponíveis na loja oficial, é possível adquirir ícones do futebol brasileiro, como Denílson e Romário.

A surpresa maior ficou por conta do anúncio da possibilidade de ter Zico como técnico no game, adicionando uma dimensão mais aprofundada à experiência e, o melhor de tudo, permitindo usar a experiência do ex-jogador da Seleção em partidas emocionantes.

Cafu em evento da Konami

Cafu é o craque do jogo

Quanto ao evento em si, Cafu foi, sem dúvida, o nome principal deste lançamento promovido pela Konami. Além de compartilhar sua jornada marcante na Seleção Brasileira, o pentacampeão mundial participou ativamente de uma conversa em que falou sobre suas vivências no futebol e permitindo com que os convidados se interessassem mais pelo eFootball.

Cafu falou sobre sua passagem pela Roma e como aquele time com Francesco Totti e cia mudou a história. O jogador, que também brilhou com a camisa do Milan, comentou sobre a satisfação de conquistar um título com a Roma: "Ganhar um título na Roma é a coisa mais difícil do mundo, e nós tivemos a oportunidade de conquistar o título de campeão italiano."

O craque falou sobre como foi jogar ao lado de jogadores como Raí, Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo, mas não deixou de comentar o atual momento pelo qual passa a Seleção Brasileira, criticando a individualidade do elenco atual em vez de jogar em equipe: "Sozinho, ninguém vai resolver. É o que aconteceu nas seleções atuais, com essas copas que nós tivemos. Tínhamos um jogador com uma qualidade técnica que queria resolver tudo sozinho, e a gente sabe que no futebol, que é um esporte coletivo, isso não adianta."

E claro, houve a oportunidade de bater uma bola em um campo de futebol especialmente montado, onde o próprio Cafu deu uma aula de como bater na bola com eficiência. O evento foi um sucesso, pois proporcionou uma experiência interativa aos participantes, que puderam vivenciar o universo do eFootball de maneira única.


Crítica | Argylle - O Superespião tenta surpreender, mas se perde pelo caminho

Matthew Vaughn não é um dos melhores cineastas da atualidade, mas certamente é um dos mais requisitados pelos estúdios, principalmente quando o assunto são filmes de ação. Responsável por obras como Kick-Ass - Quebrando Tudo (2010) e X-Men: Primeira Classe (2011), decide continuar se aventurando pelo mundo da espionagem após a trilogia Kingsman com o filme Argylle - O Superespião.

A trama conta a história de Elly Conway, uma autora que escreve sobre espionagem, tendo como protagonista Argylle (Henry Cavill) em sua obra. Por acaso, ela se vê envolvida em uma história incrivelmente semelhante àquela que está registrando. No entanto, Elly percebe que ao escrever os acontecimentos descritos no livro, eles acabam se desenrolando em sua vida real.

Essa brincadeira entre o real e o imaginário é um grande acerto no roteiro de Jason Fuchs, porque de certa forma, é algo que foge do comum visto na maioria dos filmes de ação. Isso proporciona uma quebra na sequência tradicional de pancadaria e destruição, introduzindo uma abordagem ficcional que entretém o público, mesmo que essa fantasia seja um tanto boba e sem graça em grande parte do filme. 

A personagem Elly Conway não é apenas a protagonista do longa, mas também o nome da criadora da obra Argylle na vida real. Enquanto o roteiro acerta ao explorar a dicotomia entre o que é real e imaginário, ele falha em não criar reviravoltas significativas na história.

Matthew Vaughn irrita ao inserir na trama plot twists excessivos e sem graça. A ideia do cineasta era clara: a de entreter e divertir o público, o problema é que seu conteúdo se mostra fraco e cansativo. São tantas reviravoltas - a maioria fazendo sentido para a narrativa, infelizmente - que nas primeiras vezes até que dá para levar adiante, mas depois de um tempo, elas ocorrem com tanta frequência que se tornam repetitivas e desnecessárias.  

Matthew constrói uma narrativa até que convincente, porém, a qualidade se torna bastante duvidosa com o passar da história. Mesmo com um elenco de renome, alguns personagens são subaproveitados, com aparições rápidas e que poderiam sim ter maior aprofundamento, proporcionando um frescor adicional à trama, casos da cantora Dua Lipa, que até se sai bem quando surge em cena, e de Henry Cavill, que já havia interpretado um espião em O Agente da U.N.C.L.E. (2015), e que aqui interpreta um personagem divertido.

O humor até funciona em algumas cenas, mas na maioria das vezes é usado para quebrar a ação ou para dar uma graça desproporcional à cena, ficando evidente que a ideia do roteiro de Matthew a focar em um público mais jovem. como a cena de luta no trem e que relembra ao último 

Vazio em trazer uma mensagem decente, mas em contrapartida recheado de ação, como uma película desse gênero demanda. Matthew Vaughn já demonstrou ser ótimo em coreografar cenas de ação, como pode ser visto na franquia Kingsman, mais especificamente em Kingsman: Serviço Secreto (2014). A cena no trem é ótima, lembrando até mesmo o recente Missão: Impossível - Acerto De Contas - Parte 1, com a diferença que o longa com Tom Cruise trazia cenas menos forçadas. 

Filmes sobre espionagem existem aos montes, alguns se destacam, como 007: Sem Tempo para Morrer (2021), da franquia James Bond, enquanto outros são verdadeiros desastres, e é aí que Argylle - O Superespião se encaixa. Como entretenimento, ele funciona, mas os excessos de clichês, reviravoltas e piadinhas atrapalham bastante o acompanhamento da história, transformando uma obra que tinha potencial para ser ótima em quase que um fracasso completo.

Argylle - O Superespião (Argylle, EUA – 2024)

Direção: Matthew Vaughn
Roteiro: Jason Fuchs
Elenco: Henry Cavill, Bryce Dallas Howard, Dua Lipa, Ariana DeBose, Sofia Boutella, Sam Rockwell, Samuel L. Jackson, John Cena, Bryan Cranston
Gênero: Ação, Suspense
Duração: 139 min

https://www.youtube.com/watch?v=9XG-EVCzGJ8