Crítica | Jogos Mortais 4 - A morte deveria ter parado Jigsaw
Curioso observar a trajetória da franquia Jogos Mortais observando as fundamentais diferenças entre o primeiro filme e suas sequências. Enquanto que suas sequências esbanjaram da violência explícita e gore, o longa-metragem inaugural da série, sob direção de James Wan, optava por ocultar muito dos elementos mais gráficos, deixando bem claro o que estava acontecendo, mas sem chocar o espectador com desnecessárias cenas demasiadamente expositivas. Bom exemplo disso é a própria resolução final do Dr. Gordon. Dessa forma, o que Wan construiu flertava mais com o terror psicológico, criando angústia pelas situações e não pelas fortes imagens em si.
Darren Lynn Bousman, que assumiu a franquia logo no segundo filme, no entanto, seguiu por outro caminho. Desde sua estreia com Jogos Mortais 2, a violência se tornou muito mais explícita, exigindo de nós estômagos muito mais fortes para aguentar toda a projeção. Os criativos "jogos" criados por Jigsaw, com uma ou duas vítimas, ambas com razões claras para estarem ali (na mente do assassino, claro), são substituídos pelo espetáculo gore, que visa matar o maior número possível de personagens das mais variadas formas. Chegamos, então, ao que, até então, seria o auge da deturpação da visão de James Wan - que mesmo assim não era ausente de certos defeitos - quando, em Jogos Mortais 4, a franquia continua existindo mesmo sem o problemático gênio do crime por trás de toda a história. Mas, se Sexta-Feira 13 sobreviveu sem Jason, então, teoricamente o mesmo valeria para a série em questão, não é mesmo?
Não por acaso, pois, a obra tem início justamente com o corpo de Jigsaw, ou John Kramer (Tobin Bell), em quadro. De imediato somos lembrados dos acontecimentos do longa anterior, enquanto o cadáver passa pela sua necrópsia, em uma sequência que dura e mostra muito mais do que deveria, revelando, desde já, a pretensão de Bousman em criar o desconforto através do gore. O que ninguém esperava (exceto nós, espectadores, claro) é que dentro do estômago de Kramer haveria uma fita cassete, dando início a mais um extenso jogo orquestrado por Jigsaw. Não muito tempo depois, os policiais Mark Hoffman (Costas Mandylor) e Daniel Rigg (Lyriq Bent) são sequestrados, ambos forçados a participarem de uma corrida contra o tempo, enquanto um simplesmente deve esperar que o outro o salve, antes de ser eletrocutado. Em paralelo, os agentes do FBI, Peter Strahm (Scott Patterson) e Jill Tuck (Betsy Russell), tentam descobrir o paradeiro dos dois policiais desaparecidos.
Ao terminar a projeção de Jogos Mortais 4, chega a ser engraçado constatar a irrelevância de toda a subtrama envolvendo os já citados agentes. A presença desse lado thriller policial claramente só está presente para que a obra siga a fórmula estabelecida pelo primeiro filme, oferecendo ainda mais informações sobre o passado de John Kramer e o que o motivara a embarcar nessa sádica jornada. O grande problema desses retcons é que eles enfraquecem nossa percepção da franquia como um todo - soam como detalhes pensados a posteriori, não tendo sido planejados desde o longa inaugural. Tudo isso acaba deixando apenas ridículo o surgimento de, a cada filme, uma nova motivação para o assassino, fazendo tudo soar como uma criança contando uma história na base do "e aí isso aconteceu".
Ao menos, nesses extensos e frequentes flashbacks, Tobin Bell aparece na sua melhor forma, dando luz a um criminoso multifacetado, quase nos fazendo esquecer de todos os problemas levantados anteriormente. De marido preocupado ele se transforma em um verdadeiro monstro, frio e calculista, o que apenas comprova que sua (parcial) ausência na série será sentida. Mesmo com esse ponto positivo, porém, não temos como ignorar a nítida fragmentação narrativa criada por esses constantes vai-e-vem , impedindo que tanto a subtrama policial, quanto a luta pela sobrevivência dos policiais sejam desenvolvidas no ritmo adequado, de maneira fluida.
Não ajuda, também, o fato da criativa, porém exagerada, montagem de Kevin Greutert e Brett Sullivan demonstrar mais preocupação em chamar a atenção para si, do que para, efetivamente, esconder essas transições de foco narrativo. Mais de uma vez, ao longo da projeção, contemplamos cenas em locais distintos e até mesmo em tempos diferentes se misturando com outras, em ação contínua, recurso que funcionaria perfeitamente em um videoclipe, mas que, aqui, tira nossa atenção da trama, quebrando nossa imersão consideravelmente. A linguagem mais clássica cairia bem nesse filme, principalmente por esse lidar com tantos personagens em distantes ambientes uns dos outros.
Grande mistério tal escolha por parte da montagem, se considerarmos as visíveis diferenças de cor entre cada arco. No foco nos agentes do FBI predominam as tonalidades mais frias, azuladas, refletindo o caráter da investigação e todo o distanciamento emocional imprescindível para tal. Já nas sequências envolvendo Daniel Rigg, um dos policiais que faz parte do "jogo", as cores assumem tons quentes, os quais dialogam com o objetivo de Jigsaw em incitar a raiva no policial em relação aos criminosos que encontra ao longo do filme - de um lado, portanto, temos o que a lei deve ser e do outro a falha e humana representação dessa em nossa sociedade. Naturalmente que os tons avermelhados remetem, também, à forte violência gráfica presente no filme Por fim, o verde, em pontuais momentos, assume o palco central, de forma ainda mais óbvia, refletindo a vilania, a deturpação da mente do assassino principal.
Pensando nisso, chega a ser curioso como aquele que deveria demonstrar mais emoção, Rigg, é o que menos o faz, fruto da nada expressiva atuação de Lyriq Bent. Similarmente, temos o trabalho de Costas Mandylor, como Hoffman, que torna o ponto de virada final extremamente previsível, tendo sido já praticamente anunciado nos minutos iniciais do filme. São fatores como esse que nos impedem de nos aproximar ou nos importar com qualquer personagem do longa, sentimento esse que parece ser compartilhado pelos próprios personagens, que, diante de algumas mortes, não revelam uma pitada de preocupação. Possivelmente essa ausência de expressão por parte dos atores é o que tenha motivado o diretor a empregar, extensivamente, seus planos curtos entrecortados, que misturam a realidade com imaginação dos indivíduos em tela, revelando mais de suas mentes que o roteiro ou atuações. O problema desse recurso é o exagero na quantidade de vezes que é utilizado, chegando ao ponto de criar incômodos visuais, quando não risadas por parte do espectador.
Podemos extrair, portanto, uma palavra que melhor define Jogos Mortais 4 e, por conseguinte, tudo o que a franquia se tornou após seu primeiro filme: exagero. Da direção à montagem, praticamente todos os elementos do longa-metragem esbanjam de recursos narrativos falhos, escondendo quase que por completo os poucos acertos da obra. Jigsaw se foi e, aparentemente, a alma dessa série de filmes foi junto, nos distanciando fundamentalmente de seu filme inaugural, que ainda tentava esconder o gore, sendo pautado na simplicidade e não no violento espetáculo.
Jogos Mortais 4 (Saw IV, EUA/ Canadá - 2007)
Direção: Darren Lynn Bousman
Roteiro: Patrick Melton, Marcus Dunstan
Elenco: Tobin Bell, Costas Mandylor, Scott Patterson, Betsy Russell, Lyriq Bent, Athena Karkanis, Louis Ferreira, Simon Reynolds, Donnie Wahlberg
Gênero: Terror, suspense
Duração: 93 min
https://www.youtube.com/watch?v=eGo97VVyAaI
Crítica | Jogos Mortais: Jigsaw - O Retorno Nada Sangrento de Jigsaw
Um dos aspectos mais envolventes e aterradores do primeiro Jogos Mortais é como os “jogos” criados por John Kramer soam reais, podendo ser elaborados por alguém sádico o suficiente, com o tempo e know how necessários. Embora conte com alto teor de violência, a obra não esbanja do gore, deixando muito à cargo de nossa imaginação – vide a armadilha de urso reversa e a própria cena de Gordon cortando a própria perna. Através desse seu segundo longa-metragem, James Wan lançou seu nome no mercado e não muito tempo depois acabaria ficando conhecido por reviver o gênero terror através das franquias Sobrenatural e Invocação do Mal.
O que Wan realizou na primeira entrada da franquia sobre Jigsaw (e seus seguidores), no entanto, não foi seguido à risca pelas suas sequências. Já a partir de Jogos Mortais 2 o gore foi se tornando predominante sobre a trama e praticamente todo o angustiante e notável suspense do filme original foi substituído por um torture porn mais preocupado em encher baldes de sangue do que, efetivamente, nos contar bos histórias. Drenada até a escassez, a franquia sofreu uma anticlimática e lenta morte ao longo dos anos, sendo encerrada no seu sétimo capítulo, já sem um pingo de credibilidade. O que começou como uma criativa empreitada no gênero, tornou-se um mero entretenimento, de nicho, esquecível.
Grande surpresa, portanto, testemunha o renascimento da série sete anos após o seu enterro – assim como o infame Jigsaw, Jogos Mortais parece se recusar a morrer (e permanecer morto). Sete anos, contudo, não foram o suficiente para que esqueçamos do triste fim da franquia e temor é um mero eufemismo para expressar nosso sentimento em relação a esse revival. Para nossa surpresa, porém, Jogos Mortais: Jigsaw demonstra que aprendeu com o declínio da franquia e tenta, ao máximo, se aproximar da obra original. O que, infelizmente, não quer dizer que esse seja um longa desprovido de falhas.
A trama nos situa dez anos após a morte de John Kramer (Tobin Bell), o assassino Jigsaw original. Grande surpresa, portanto, para os detetives Halloran (Callum Keith Rennie) e Hunt (Clé Bennett), quando esses se deparam com cadáveres que indicam terem sido mortos por alguém utilizando métodos similares ao já falecido serial killer. Com novas vítimas aparecendo esporadicamente, a investigação para descobrir quem está por trás desses assassinatos segue a todo vapor. Em paralelo, acompanhamos quatro indivíduos forçados a participarem dos sádicos jogos, que, a cada etapa, pedem determinado sacrifício – tudo enquanto seus crimes do passado são trazidos à tona.
Principalmente como as duas primeiras entradas da franquia, Jigsaw mantém, através de montagem paralela, o foco nas vítimas e nos policiais encarregados da caçada pelo criminoso. A tentativa, bastante clara, é a de aumentar o suspense através das transições de sequência, criando elipses que permitem o desenvolvimento mais fluido da trama. No entanto, enquanto o arco envolvendo as vítimas do assassino segue de maneira a provocar tensão e angústia, o focado nos detetives mais soa como uma grande perda de tempo – principalmente por jamais sentirmos como se eles estivessem prestes a solucionar o caso. A escolha de dividir a narrativa em duas, portanto, mais soa como uma medida obrigatória, que, de fato, almejada pelos roteiristas, Pete Goldfinger e Josh Stolberg.
Perde-se muito do envolvimento com a história, portanto, nesses constantes vai-e-vem, como se um dos lados estivesse presente apenas para possibilitar a existência do maior plot twist da obra, que, apesar de não ser tecnicamente inédito, ainda ganha pontos pela maneira como é construído, possibilitando diálogos com o passado, presente e futuro da franquia. Vale, também, observar como a presença de inúmeros indivíduos no lado dos policiais prejudica a construção desses personagens, mantendo todos no raso, sem grande expressão por todo o filme. Dessa maneira, somos mantidos quase à parte de tudo o que ocorre, visto que não conseguimos, de fato, nos aproximar de qualquer um deles.
O mesmo ocorre no foco do outro lado. Evidentemente, inúmeras das vítimas presentes em cena têm a única função narrativa de servirem como buchas de canhão, chegando ao ponto de uma delas jamais ter o rosto revelado, tamanha é a sua irrelevância para a trama (a urgência já estava mais que estabelecida antes de sua morte). A maior simplicidade dos “jogos” em relação aos antecessores (nada de lâminas gigantescas fazendo movimentos pendulares), portanto, acaba se perdendo, visto que os focos no espetáculo e na tensão descerebrada continuam, apagando por completo o intrigante terror psicológico demonstrado na obra inaugural. Tudo é reduzido para a mais simples luta por sobrevivência, com inúmeros personagens desnecessários, que impossibilitam maior desenvolvimento dos mais importantes. Não bastasse isso, praticamente toda a tensão é quebrada pelo fato de sabermos, desde o início, quem irá sobreviver, ou, ao menos, chegar até a última etapa do “jogo”.
Curiosamente, essa escolha do roteiro não dialoga plenamente com as intenções de Michael e Peter Spierig, que assinam a direção. Os irmãos notadamente esquivam do gore que tomara conta de maior parte da franquia e deixam a violência mais gráfica se desenrolar, predominantemente, fora da tela. Claro que algumas “nojeiras” ainda se fazem presentes, mas nada perto do banho de sangue com o qual estamos acostumados. Visualmente a dupla busca aproximar-nos dos dois primeiros longas da franquia, com ambientes mais simples e planos não muito expositivos, mas, tudo se perde pela falta de alinhamento de tais objetivos com aqueles dos roteiristas.
Dessa forma, por mais que a intenção dos diretores de reviver a franquia, com um retorno às origens, seja louvável, não há como ignorarmos a falta de elementos que fariam dessa obra algo verdadeiramente engajante. Com personagens rasos, que falham em captar nossa empatia e um foco no lado policial que parece estar presente apenas para construir o maior plot twist da obra, Jogos Mortais: Jigsaw falha em recapturar a alma do filme original de James Wan, entretendo da forma mais simples possível, sem fazer com que nos lembremos de muita coisa da obra após o término da projeção.
Jogos Mortais: Jigsaw (Jigsaw, EUA, Canadá – 2017)
Direção: Michael Spierig, Peter Spierig
Roteiro: Josh Stolberg, Pete Goldfinger
Elenco: Callum Keith Rennie, Laura Vandervoort, Paul Braunstein, Tobin Bell, Brittany Allen, Clé Bennett, Hannah Anderson, James Gomez, Josiah Black
Gênero: Terror, Thriller
Duração: 91 min
https://www.youtube.com/watch?v=pPm4pdZkEU0
Lista | As 10 Melhores HQs do Superman
O mais importante super-herói dos quadrinhos conta com uma extensa história de publicações, mas nem todos os roteiristas e artistas conseguiram captar a verdadeira essência do Superman, que simboliza tudo o que há de melhor no ser humano. Essa lista busca elencar as histórias que melhor transmitiram esse tom de esperança para suas páginas. Temos aqui abordagens diferenciadas e únicas, de autores que vão desde Alan Moore até Mark Millar, todos oferecendo seus pontos de vista únicos sobre o maior herói de todos os tempos.
10. Paz na Terra
Nessa graphic novel de Paul Dini e Alex Ross, Superman deixa de lado as batalhas contra super-vilões e vai enfrentar os problemas de nosso mundo, enxergando e combatendo a profunda desigualdade social, injustiças e misérias. Esses esforços humanitários do personagem, contudo, acabam encontrando resistência em determinados locais. Paz na Terra é, possivelmente, a história que melhor reflete o símbolo representado por esse herói, nela, Superman é, de fato, a personificação da esperança, inspirando todos à sua volta. Todo esse realismo da trama ainda dialoga perfeitamente com a arte de Ross, que dá vida a Clark de maneira praticamente inédita.
9. As Quatro Estações
Pouco após entregarem o emblemático O Longo Dia das Bruxas, Tim Sale e Jeph Loeb retomam a parceria a fim de realizar As Quatro Estações, minissérie, fechada em si própria, que utiliza uma estrutura similar à já citada história do Batman, trocando os feriados por estações do ano. Com segmentos narrados por diferentes personagens do universo do Superman, a obra busca mostrar o impacto do herói na vida das outras pessoas, deixando bem claro o que ele representa para o mundo e para as cidades nas quais atua (Metropolis e Smallville).
8. Alienígena Americano
Sob a visão muito incisiva de Max Landis, o Superman ganha um retrato único. Roteirista de Poder Sem Limites, Landis traz esse aspecto adolescente e jovial para o Homem de Aço, abordando diferentes fases de sua vida em cada edição, tudo com uma perspectiva e estilo de diálogos que jogam uma nova luz nas inseguranças e relações do herói. O fato de termos um artista diferente em cada edição (que variam de Nick Dragotta a Jonathan Case), também reforça essa diferença entre cada fase, com ilustrações espetaculares para uma história digna.
7. Brainiac
Assinada por Geoff Johns e Gary Frank, Brainiac traz de volta o icônico vilão de Superman, além de outros elementos pré-Crise, realizando importantes alterações na mitologia do herói. Após destruir um dos drones do antagonista e analisá-lo na Fortaleza da Solidão, ao lado de Supergirl, Clark descobre que nunca, de fato, enfrentara o verdadeiro Brainiac. Cabe, portanto, ao herói, derrotar o vilão, antes que esse armazene uma parcela da Terra em garrafa e destrua o restante, como fez com a cidade de Kandar, há tantos anos.
6. Olho por Olho
Publicada como resposta à popular revista Authority, de Warren Ellis e Bryan Hitch, Olho por Olho nos mostra Superman indo contra um grupo de anti-heróis que visam proteger a Terra à qualquer custo, chegando a matar seus inimigos, algo que vai totalmente de encontro aos ideais de Clark Kent. Famosa pela forma como reitera a ideologia do personagem, a revista brinca, através de seu título original, What’s so funny about truth, justice and the american way?, com a famosa frase de Superman, Truth, Justice and the American Way (verdade, justiça e o "jeito americano"), além de referenciar diretamente a música de Nick Lowe, (What's So Funny 'Bout) Peace, Love and Understanding?
5. Identidade Secreta
Uma das mais criativas minisséries com o personagem, Identidade Secreta nos apresenta um mundo no qual super-heróis existem apenas como personagens de quadrinhos. Nesse universo, conhecemos Clark Kent, um garoto que descobre ter os poderes de Superman e decide se tornar, ele próprio, um herói, mantendo, porém, segredo de sua própria existência. Assinada por Kurt Busiek e Stuart Immonen, a história é inspirada nas aparições iniciais do Superboy durante a Crise nas Infinitas Terras e lida com o que realmente significa encarnar a persona de Superman.
4. Entre a Foice e o Martelo
Publicado sob o selo Elseworlds, Entre a Foice e o Martelo, desde seu lançamento em 2003, se tornou uma das mais famosas histórias do personagem. Roteirizada por Mark Millar, também conhecido por Kick-Ass, Kingsman e Guerra Civil, a minissérie nos mostra o que teria acontecido se a nave de Kal-El tivesse caído na União Soviética ao invés dos Estados Unidos. Na obra, Superman significa para a União Soviética o que Doutor Manhattan, de Watchmen, representa para os EUA, defendendo os ideais da URSS à mando de Stalin. Trata-se de uma fascinante obra sobre a Guerra Fria, que situa os heróis sob um ponto de vista engajado politicamente.
3. O Legado das Estrelas
Originalmente concebida como a origem não-canônica de Superman, essa minissérie de Mark Waid e Leinil Francis Yu acabou se tornando a origem oficial do super-herói entre os anos de 2003 e 2006, em outras palavras, até Crise Infinita e o posterior lançamento de Origem Secreta, em 2009. Aqui acompanhamos Clark desde seus dias em Smallville, onde ele se torna amigo de Lex Luthor, similar à famosa série de televisão. A obra ainda inspirou dezenas de outras produções com o herói, inclusive O Homem de Aço, no que diz respeito ao S de seu uniforme significar esperança em Krypton.
2. Superman por Alan Moore
Alan Moore também deixou duas grandes contribuições para a mitologia do Superman. A primeira, O Que Aconteceu ao Homem de Aço?, publicada em 1986, foi elaborada como conclusão imaginária para as histórias do personagem da Era de Prata. Com inúmeros ataques ao Superman, morte de pessoas queridas ao herói e a revelação de sua identidade secreta, Moore assinou o desfecho ideal para essa fase do maior herói do mundo.
Já em Para o Homem Que Tem Tudo, encontramos Superman dominado pela Clemência Negra, uma planta que induz alucinações, fazendo com que o personagem imagine como seria sua vida Krypton, caso o planeta não houvesse sido destruído. Enquanto isso, Batman, Robin (Jason Todd) e a Mulher-Maravilha buscam livrar Clark de seu transe, tendo de lutar contra Mongul, que orquestrou todo esse problema.
1. Grandes Astros - Superman
Com roteiro de Grant Morrison e arte de Frank Quitely, Grandes Astros - Superman traz tudo aquilo que o Superman representa. O interesse de Morrison era criar uma história universal, não presa à continuidade da DC Comics, possibilitando que todos conheçam o verdadeiro e mais importante super-herói dos quadrinhos. Trata-se de uma obra que todos devem ler, independente se gostam ou não do personagem - o trabalho de Quitely e Morrison sabe muito bem explorar o poder do herói e como isso não afeta sua visão de mundo, fazendo dele o símbolo que todos devem seguir.
Leia mais sobre DC Comics
Lista | As 10 Melhores HQs do Flash
Um dos heróis mais populares da DC Comics, o Flash não teve problemas para se manter, durante esses longos anos, no imaginário popular, principalmente em razão de suas constantes aparições na televisão - seja em séries solo ou em animações ao lado de outros heróis. Com a estreia de Liga da Justiça, no qual o personagem é vivido por Ezra Miller, seu nome mais uma vez se renovou dentro da cultura pop - não que fosse efetivamente necessário, em razão da bem-sucedida série da CW.
Como se trata de um herói com bastante material fora da nona-arte, muitos ainda não conhecem suas histórias originais, tendo testemunhado apenas suas aventuras no audiovisual. Essa lista, portanto, funciona não apenas para elencar o que há de melhor nessa longa história do velocista escarlate, como para servir de guia de leitura para aqueles que anseiam por conhecer mais de Wally West, Barry Allen e outros icônicos personagens que encarnaram ou são ligados ao Flash.
10. The Flash por Grant Morrison e Mark Millar
Se os nomes Grant Morrison e Mark Millar não foram o suficiente para convencer que essa história precisa ser lida, então sua criativa trama o faça. Nessa coletânea, com mais de dez edições, Wally West precisa combater um uniforme senciente, com o poder de absorver a força vital de qualquer um que o vista, além de ir contra o Mestre dos Espelhos e ter de vencer uma corrida pelo espaço tempo que definirá o destino do planeta! Ao menos ele pode contar com a ajuda de Jesse Quick, Jay Garrick e Max Mercury.
9. As Infames Mortes da Galeria de Vilões
Após Geoff Johns reviver o personagem em sua minissérie Renascimento e depois de concluir a saga A Noite Mais Densa, Barry Allen já ganha um primeiro arco de destaque em sua revista solo. Parte do evento O Dia Mais Claro, essa história mostra Allen retornando à Central City, onde deve resolver o mistério do assassinato de um dos membros da Galeria de Vilões, além de impedir que novas vítimas sejam feitas por esse assassino desconhecido. Tudo isso enquanto, claro, coloca sua vida de volta nos eixos.
8. Nascido para Correr
O Ano Um do Flash, Nascido para Correr, é o primeiro arco de Mark Waid frente ao herói e reconta a origem de Wally West como Kid Flash. A obra nos conta dessa jornada do menino, até precisar se tornar o Flash, após a morte de Barry. Com foco tanto na comédia, quanto no drama, a revista aborda a relação entre West, Allen e Íris. Não bastasse isso, Waid ainda traz um interessante olhar sobre a Força de Aceleração, expandindo a mitologia do herói consideravelmente.
7. Flash de Dois Mundos
Uma das histórias mais importantes não só para o Flash, como para o universo DC em geral, Flash de Dois Mundos introduz a Terra-2 e dá início ao multiverso da editora. Sim, em revistas anteriores o conceito de dimensões paralelas já havia sido abordado, mas, oficialmente, podemos considerar este como o marco inicial dessa fundamental característica da DC. Na trama, Barry subitamente acaba se transportando para outro universo ao vibrar suas moléculas. Lá ele encontra Jay Garrick, o Flash da Era de Ouro, que, no universo de Allen, não passava de um personagem de quadrinhos!
O sucesso da história ainda motivou que a DC revivesse inúmeros de seus heróis da Era de Ouro. Recentemente, a HQ foi adaptada para a televisão na segunda temporada da série The Flash - o capítulo conta com o mesmo título da obra original.
6. Blitz
O quinto arco da fase de Geoff Johns frente ao herói, Blitz nos conta a história de como Zolomon Hunter, amigo de Wally West, se tornou o vilão Zoom. Após sofrer um acidente na esteira cósmica, na tentativa de voltar no tempo e impedir que ele perca o movimento nas pernas, Hunter ganha seus poderes de velocista, se tornando ainda mais rápido que o Flash. Para impedi-lo, West precisa absorver parte das habilidades de outros velocistas, para que, assim, tenha alguma chance contra o antagonista. Com arte de Scott Kolins, o arco certamente é um dos pontos altos da era Geoff Johns.
5. O Retorno de Barry Allen
Voltamos para a fase de Mark Waid e, nesse ponto, anos se passaram desde a morte de Barry. Porém, como nenhuma morte é definitiva nos quadrinhos, ele subitamente retorna, surpreendendo especialmente Wally West, que permanece um tanto cético em relação à volta do velocista. Conforme o tempo passa, contudo, eles percebem que Allen apresenta uma personalidade muito mais agressiva, chegando a quase matar alguém simplesmente porque chamaram West de Flash. Waid acerta em cheio nessa história sobre traumas passados, trazendo um inédito olhar sobre Barry, que, pouco a pouco, configura-se como uma verdadeira ameaça.
4. Velocidade Terminal
Nesse ponto dessa lista, vocês provavelmente já perceberam que, se pretendem ler uma boa história do herói, basta buscar alguma escrita por Mark Waid ou Geoff Johns, certo? Velocidade Terminal é mais um dramático arco de Waid, novamente com Wally West como protagonista. Após atingir a velocidade da luz, Flash descobre que a Força de Aceleração, enquanto aumenta seus poderes, vem o puxando para outro universo. Enquanto lida com isso, ele precisa arranjar alguma forma de impedir que as visões sobre sua própria morte se tornem realidade, precisando, também, assegurar que sua amada não sofrerá o mesmo destino. Trata-se de uma obra sobre auto-descobrimento e sacrifício, o ponto alto da fase de Mark Waid.
3. Renascimento
Não confundir com a nova fase, de mesmo nome, dos quadrinhos da DC! Assim como fizera com o Lanterna Verde, Geoff Johns reinventa o personagem, trazendo-o de volta para o universo da editora nessa memorável história, Renascimento. Tida como uma das melhores histórias do personagem, essa minissérie de seis edições expande a mitologia de Flash, trazendo Barry de volta como o principal velocista, enquanto inúmeros outros indivíduos do passado do herói também são contemplados. Não por acaso Johns permaneceu frente às publicações do herói por anos e anos! Caso nunca tenha lido sequer um arco do velocista, essa é a perfeita porta de entrada.
2. Ponto de Ignição
O evento que mudou tudo no universo DC (de novo), Ponto de Ignição rendeu algumas das melhores histórias da editora, com direito a Thomas Wayne como Batman e Superman criado como rato de laboratório. Inegável, porém, constatar que o Flash é o protagonista desse grande crossover, visto que ele é o único capaz de discernir o que faz parte da linha do tempo "normal" e a alterada. Servindo como estopim do soft-reboot que veríamos nos Novos 52, a saga representa o ápice da fase de Johns, trazendo uma gigantesca sensação de urgência, enquanto o herói tenta fazer que tudo volte ao normal. Não por acaso a história foi adaptada tanto para animação, quanto na série da CW, além de servir como principal fonte do vindouro filme solo do herói.
1. As Fases de Mark Waid e Geoff Johns
Eleger a melhor história de um personagem de quadrinhos nunca é uma tarefa fácil, mas, convenhamos, se você chegou até aqui e gostaria de conhecer o herói a fundo, então faça a si mesmo o favor de ler tudo o que Waid e Johns escreveram sobre o velocista escarlate. Nessas duas fases encontramos as histórias de origens (recontadas) de inúmeros personagens e arcos memoráveis, muitos dos quais inspiraram episódios da recente série da CW, além das animações do DC Animated Universe. Se você não se tornar fã do Flash depois de ler tudo isso, então é melhor partir para outro personagem!
Lista | As Melhores HQs do Batman
A fama do Homem-Morcego não surgiu por mero acaso. Nesses longos anos desde sua primeira aparição, o Batman ganhou histórias que podem ser consideradas verdadeiras preciosidades, ampliando a mitologia do personagem da DC Comics de maneiras inéditas, que, aos poucos, definiram sua própria essência. Passando pelas mãos dos mais variados autores, o super-herói conta com um leque invejável de arcos, one-shots e minisséries – a intenção dessa lista não é apenas a de elencar as melhores, como mostrar visões diferenciadas do personagem, revelando a profundidade que pode ser alcançada com esse herói, quando fugimos do óbvio.
10. A Corte das Corujas
Polêmicas à parte, a fase Novos 52 da DC Comics nos entregou um dos melhores arcos do Morcego, expandindo a mitologia do herói com um novo grupo de antagonistas. Manobra ousada, essa de Scott Snyder e Greg Capullo de iniciar tal fase sem utilizar um dos muitos famosos vilões de Batman, mas que, definitivamente, vingou, nos entregando uma história fascinante que explora as origens de Gotham.
Não há como não perceber o desconforto que tal história provoca em nós, enquanto vamos descobrindo mais e mais sobre esse grupo que controla a cidade, tudo enquanto o caráter de detetive do protagonista é trabalhado, fugindo, pois, da velha mesmice que assola os quadrinhos de herói, muitos focados unicamente na ação descerebrada.
Logo nesse arco inicial Snyder e Capullo deixaram sua marca na história do Batman e continuariam a nos surpreender com o restante de sua excelente fase nos Novos 52.
9. Terra Um
Ano Um pode ser considerado como a história de origem definitiva do Batman, mas Terra Um, surpreendentemente, não fica muito atrás. No comando dessa ousada graphic novel temos Geoff Johns e Gary Frank, que devem, nessas cento e quarenta e duas páginas, contar o que, essencialmente, todos já sabemos, mas de forma, claro, que assegure a relevância da revista, que não faz parte da continuidade das publicações da DC Comics.
Logo nas primeiras páginas testemunhamos o realismo do texto de Johns, com um jovem Batman errando seu gancho e pulo enquanto persegue um bandido pelos telhados de Gotham – ele está longe de ser o implacável herói com o qual estamos acostumados – é alguém vestido de morcego, que erra e erra até, efetivamente, conseguir o que quer. Não vemos nele a típica aura de grandiosidade dos super-heróis e sim uma pessoa lutando para combater o crime na cidade.
Tal aspecto é aprofundado pela certeira arte de Gary Frank, que empresta toda a humanidade possível ao Morcego ao mostrar seus olhos, que transmitem todas as emoções do indivíduo por trás da máscara.
Não bastasse isso, os flashbacks que retratam Bruce ainda menino reimaginam a imagem de Alfred, o colocando não apenas como guardião e parceiro no combate ao crime, mas como mentor – tanto da filosofia que formaria o Batman, quanto em artes marciais, proposta, essa, que seria utilizada na série Gotham, anos mais tarde.
Dessa forma, o que ganhamos é mais uma essencial história de origem, que não é excludente em relação às outras, mas amplia o próprio conceito do Homem-Morcego, sob ponto de vista mais real e humano.
8. Guerra ao Crime
Qualquer um que passe o olhar brevemente por uma página de Guerra ao Crime muito provavelmente vai ter seu interesse captado. Esse one-shot foge totalmente do padrão clássico dos quadrinhos por três motivos essenciais: o primeiro é a arte hiper-realista de Alex Ross. O segundo é a diagramação sem quadros limitados, com muitas ações sendo estendidas por duas páginas, criando ações contínuas e dinâmicas, sem a necessidade de inúmeros painéis criando a sucessão narrativa. Já o terceiro é a ausência de balões – todos os diálogos são apresentados através do texto direto sobre a imagem, funcionando como pensamento do protagonista.
Tais características claramente garantem à graphic novel seu ar cinematográfico, com os pensamentos de Batman atuando como o clássico voice-over do Cinema Noir. Cada página é uma verdadeira obra de arte, podendo facilmente ser enquadradas e colocadas em paredes e o seu realismo perfeitamente dialoga com o tom intimista do texto de Paul Dini, que, por sua vez, explora as dúvidas e receios do Homem-Morcego.
Certamente uma história essencial para qualquer um que anseie por conhecer mais desse herói – um one-shot que mergulha não somente na mente do Morcego, como apresenta um retrato pé no chão de Gotham City.
7. Morte em Família
Quem matou Jason Todd não foi o Coringa e sim os fãs. Em 1988, o editor da DC Comics, Dennis O’Neil, deixou nas mãos dos leitores o destino do segundo Robin – qualquer um poderia ligar para um de dois números de telefone, um deles para votos à favor da morte do personagem e o outro contra. Qualquer um já sabe o resultado da votação e a execução ficou nas mãos de Jim Starlin e Jim Amparo.
Morte em Família, tornou-se, desde então, um dos arcos mais importantes da história do Morcego, com a clássica imagem de Batman com Todd nos braços sendo uma das mais icônicas das revistas do herói, fruto da simplicidade do traço de Amparo, perfeitamente ciente do peso dramático do roteiro de Starlin, que dispensa o excesso de informação da arte, incitando o imaginário do leitor.
A inesperada escolha do roteirista (Starlin é mais conhecido por suas sagas cósmicas na Marvel e, claro, pela criação de Thanos) certamente foi a correta, ao passo que o autor soube empregar a violência na medida certa, entregando cenas chocantes, não por serem gráficas demais, mas pelo que representam. Temos aqui uma das mais tristes vitórias do Coringa e um dos maiores traumas de Wayne.
6. Batman Preto e Branco
Chega quase a ser uma injustiça colocar Batman Preto e Branco nessa lista. A minissérie em quatro edições é, na realidade, uma coletânea de contos sobre o Homem-Morcego, contando com histórias de autores como Bruce Timm, Neil Gaiman, Archie Goodwin, Katsuhiro Otomo, Klaus Janson e muitos outros. São histórias curtas, dinâmicas, que lidam com diferentes aspectos do personagem, cada um com arte diferenciada, autoral e, claro, em preto-e-branco.
O projeto, idealizado por Mark Chiarello, foi inspirado na revista Creepy – Contos Clássicos de Terror e garante a liberdade criativa de cada autor, obedecendo apenas a característica central da arte, que dá o título da obra. O resultado são histórias diferenciadas, muitas das quais seguem por caminhos completamente inesperados – vide a divertida contribuição de Neil Gaiman, que coloca Batman e o Coringa como atores desempenhando papéis de herói e vilão.
Sem dúvidas uma minissérie imperdível, que nos permite testemunhar a visão de inúmeros ícones da indústria dos quadrinhos sobre um dos mais famosos super-heróis. Nas palavras do próprio Mark Chiarello, o que é realmente frustrante é imaginar como essa série poderia ter sido se alguns dos mestres do passado ainda estivessem vivos.
5. Asilo Arkham – Uma Séria Casa em um Sério Mundo
Servindo como uma versão dark de Alice no País das Maravilhas, Asilo Arkham coloca Batman como equivalente à protagonista do romance de Lewis Carroll, seguindo o Coringa (que funciona como o coelho), a esse estranho mundo, seja ele uma terra fantástica ou o Arkham. Com painéis escuros e arte, de Dave McKean, que beira o surrealismo, a obra é um verdadeiro mergulho na insanidade, colocando o leitor dentro da mente do Morcego, enquanto essa é absorvido pela loucura ao seu redor.
Repleto de simbolismos, o roteiro de Grant Morrison, que, posteriormente, teria sua própria fase frente ao herói, desconstrói tanto alguns dos icônicos vilões das revistas do personagem, quanto o próprio protagonista em si, tudo enquanto descobrimos mais sobre a origem dessa emblemática instituição e seu fundador, Amadeus Arkham. Com profundo foco no psicológico dos personagens, a graphic novel gera fascínio e desconforto ao leitor, praticamente obrigando que retornemos a ela repetidas vezes.
Tida como peça essencial para construção da mitologia do Morcego, a obra ainda inspirou diversas outras produções, como os games Arkham Asylum e o primeiro The Evil Within, esse segundo chegando a herdar os traços de surrealismo dos quadrinhos originais. Dessa forma, de imediato, Morrison e McKean plantaram suas bandeiras na história das publicações do Batman.
4. O Longo Dia das Bruxas
Praticamente sequência de Ano Um, de Frank Miller, O Longo Dia das Bruxas mostra o vigilante mascarado em busca do assassino conhecido como Feriado, que mata suas vítimas em datas comemorativas à cada mês. Ao lado de Jim Gordon e Harvey Dent, Batman deve descobrir quem é esse criminoso antes que ele mate mais alguém.
Com roteiro de Jeph Loeb e arte de Tim Sale, a graphic novel representa muito bem a transição do herói entre combater criminosos comuns e verdadeiros super-vilões, além, é claro, de nos entregar a imperdível releitura da origem do Duas-Caras. É preciso notar como a utilização de icônicos antagonistas do personagem contrasta a luta contra o crime mais pé-no-chão e mais fantasiosa, repleta de tramas complicadas, seres que sofreram mutações e mais, algo que é muito bem explicitado pelo traço de Sale.
Essencial para qualquer fã do Morcego, O Longo Dia das Bruxas notadamente inspirou trechos de O Cavaleiro das Trevas, de Christopher Nolan, especialmente na maneira como diferencia as ações da máfia com as do Coringa. Se isso já não é o suficiente para incentivar a leitura da obra, a atmosfera noir presente nas páginas talvez dê conta do recado, transformando essa em uma verdadeira história de investigação à moda antiga.
3. A Piada Mortal
Chegamos no Top 3, formado por obras que, na realidade, poderiam ser dispostas em qualquer ordem. Não tomo para mim a pretensão de considerar uma melhor que a outra, principalmente porque cada uma delas funciona como um verdadeiro pilar da mitologia do Morcego. Dito isso, se Ano Um entregou a origem definitiva de Batman, então A Piada Mortal representa o mesmo para o seu nêmesis, o Coringa.
Alan Moore, junto de Brian Bolland, criam um verdadeiro estudo de personagens, trabalhando os impactos de experiências traumáticas na psiquê humana. O Coringa é firmado como a perfeita antítese de Batman – enquanto um se torna um herói após o trauma, outro assume o manto de vilão. Essa contraposição ainda é perfeitamente pluralizada através do trágico atentado contra Barbara Gordon, que é condenada a uma cadeira de rodas – nem ela, nem seu pai, Jim, torturado pouco após tal evento, assumem as posturas equivalentes às do Morcego e do Palhaço, mostrando a profundidade do texto em relação à sua temática central.
Não bastasse toda a discussão levantada até então, Moore nos entrega um dos mais emblemáticos desfechos de histórias em quadrinhos, que até hoje gera interpretações diversas acerca do destino dos dois personagens. Ousado e inesquecível, A Piada Mortal é uma peça indispensável de qualquer coleção de um fã de quadrinhos, definitivamente atuando como um dos pilares das histórias modernas do Batman.
2. Ano Um
Chegamos, enfim, à já mencionada origem definitiva do Morcego, que redefiniu sua história de tal forma a inspirar dezenas de outras obras produzidas desde então. Ano Um lida não apenas com os primórdios de Batman, como com suas próprias motivações, o que transformou Bruce Wayne no Homem-Morcego. Apostando no claro intimismo, especialmente nos trechos que retratam o “despertar” de Wayne, Frank Miller nos faz enxergar e acreditar no protagonista, o vendo como peça essencial para a sobrevivência de Gotham como sociedade.
Não menos importante, temos, também, a origem de James Gordon, recém chegado na cidade, após anos fora. Dessa forma, passamos a ver não apenas o Morcego como resposta à criminalidade, como o próprio Jim, que deve lidar com o sistema por dentro, combatendo a corrupção na polícia. Dessa forma é construída a relação entre esses dois personagens, que veem um no outro pessoas em quem podem confiar, fazendo com que o leitor entenda, portanto, toda a confiança que depositam um no outro nos anos de histórias do herói.
Não precisa pensar muito, portanto, para ver que Ano Um não é meramente uma história de origem, como a ideal para esse icônico personagem da DC Comics, além de funcionar como perfeita porta de entrada para novos leitores. A já muitas vezes retratada história de Bruce Wayne ganha sua versão definitiva, que jamais poderá ser substituída.
1. O Cavaleiro das Trevas
Tempos após deixar o manto do Batman de lado, Bruce Wayne, já aos cinquenta e cinco anos de idade, decide colocar a máscara novamente, incentivado pela onda de crimes que tomara conta da cidade. Com tal premissa, Frank Miller dá início à obra que se tornaria uma das melhores histórias do herói da DC Comics. Em essência, O Cavaleiro das Trevas é um visceral estudo sobre a jornada do Morcego, passando pela luta ao crime mais “normal”, passando pelos super-vilões, culminando na luta contra o Estado em si, novidade da revista, que coloca Superman como o representante do governo americano.
Trata-se do amadurecimento de Wayne como herói, enquanto seus olhos são abertos para a verdadeira causa do problema que há tanto combate em Gotham – sua melancolia inicial, fruto da irrelevância de suas ações ao longo dos anos, serve como fator motivador de seu retorno, mas, também, explicita o que, nós, leitores, já testemunhávamos: o aumento da escala da criminalidade como resposta à presença dos super-heróis. Miller discute, pois, o impacto da figura do herói na sociedade, em tons sombrios, inspirando futuras obras como a trilogia de Nolan e Batman vs Superman.
Não por acaso o icônico embate entre Superman e Batman funciona como clímax da obra, resumindo toda a diferença ideológica entre os dois indivíduos da maneira mais explosiva possível - é o conflito entre o american way of life e o avassalador realismo que quebrara o sonho americano, problematizando a própria essência do governo que deveria entregar a vida perfeita.
Que melhor herói que o Batman para tecer tais críticas à sociedade? Com isso, O Cavaleiro das Trevas pode e deve ser enxergado não só como essencial para leitores de quadrinhos, mas indispensável para qualquer pessoa, ao passo que demonstra ser uma obra atemporal e profundamente relevante.
Leia mais sobre DC
Crítica | Tempestade: Planeta em Fúria – Uma Catástrofe de Filme
Hollywood adora filmes sobre destruição em massa, seja pelas mãos de robôs gigantes, monstros, aliens ou fenômenos “naturais” (e tubarões voadores, claro). De Twister a Transformers já vimos a Terra, ou os Estados Unidos, serem destruídos das mais variadas formas, o que não impede, claro, que realizadores inventem novos cataclismos para colocar nas telonas. Já à vontade quando se trata de filmes-desastre – nos dois sentidos -, Dean Devlin, responsável pelos roteiros de Godzilla(1998), Independence Day: O Ressurgimento, dentre outras atrocidades, decide embarcar em sua primeira jornada como diretor de longa-metragem feito para os cinemas. O resultado é Tempestade: Planeta em Fúria.
Após uma série de catástrofes naturais abalar o planeta, o governo dos EUA, em conjunto com outros países, criou um sistema de defesa por satélites, capaz de impedir mais fenômenos desse tipo, sejam furacões, abalos sísmicos ou outros. Às vésperas de entregar o comando desse mecanismo para outras nações, anomalias começam a aparecer, uma delas sendo uma pequena vila no deserto do Afeganistão inteiramente congelada, incluindo seus habitantes. Com isso em mente, Jake Lawson (Gerard Butler), um dos criadores do programa, que fora expulso por insubordinação há alguns anos, é enviado para o espaço para descobrir o que deu errado. Chegando lá, ele descobre que alterações foram feitas no programa e que, após uma contagem regressiva, um fenômeno denominado Geostorm acontecerá, provocando desastres simultâneos por todo o planeta.
Filmes-catástrofe, na maior parte dos casos, não são feitos para serem levados a sério. Os realizadores já sabem que o espectador que pagar o ingresso do cinema para assistir um desses somente o faz para ver o máximo de destruição descerebrada possível em tela. Nesse sentido, Tempestade: Planeta em Fúria é pura enganação, ao passo que praticamente todas as suas sequências de desastre já foram mostradas nos trailers, restando à quase totalidade da projeção incessantes sequências sobre os personagens olhando para telas de computadores, dizendo obviedades, além de chamadas entre a Terra e a estação espacial onde Lawson passa certo tempo do filme.
Não bastasse isso, o roteiro de Dean Devlin e Paul Guyot tenta nos fazer acreditar que Gerard Butler, com todo o seu carisma negativo, é um cientista, além de tentar nos fazer detestar ao máximo seu personagem, a tal ponto que torcemos para os desastres do Geostorm. O grande problema disso tudo é que Devlin efetivamente leva tudo à sério demais, mas de maneira falha, seja pelo plot twist mais que previsível, ou pela esquizofrênica inserção de subtramas, que acabam sendo esquecidas por todo o filme, somente para serem resgatadas ao fim, sem alterar a narrativa em absolutamente nada.
Toda essa artificialidade é estendida para praticamente todos os planos que vemos sendo colocados em execução (inclusive o do próprio vilão, mais que previsível). Até mesmo os conceitos introduzidos pela obra não se salvam, vide a relevância de um raio laser no sistema para evitarcatástrofes naturais, que parece mais uma referência a 007 – Um Novo Dia Para Morrer, do que uma função plausível para tal dispositivo. A cereja no topo do bolo, claro, são os (d)efeitos especiais, que mais nos fazem indagar por que raios se preocuparam com extensas refilmagens e atrasos no lançamento se era para entregar uma produção que beira a de filmes B.
Tamanha é a tragédia de Tempestade: Planeta em Fúria, que sequer posso dizer que algumas boas risadas foram proporcionadas ao longo do filme. Aliás, minto, os risos provocados durante a projeção foram de nervoso, pela incredulidade diante de tudo o que foi exibido e pelo simples fato desse longa-longa-metragem parecer que jamais irá acabar. Nesse sentido, temos uma boa fonte de tensão durante essa experiência cinematográfica, que nos faz querer que fenômenos naturais, de fato, interrompam esse desastre de filme.
Tempestade: Planeta em Fúria (Geostorm, EUA – 2017)
Direção: Dean Devlin
Roteiro: Dean Devlin, Paul Guyot
Elenco: Gerard Butler, Andy Garcia, Ed Harris, Abbie Cornish, Jim Sturgess, Katheryn Winnick, Mare Winningham, Sterling Jerins, Adeparo Oduye
Gênero: Ação, ficção científica, thriller
Duração: 109 min
https://www.youtube.com/watch?v=lNAC9wVUaqY
Crítica | A Babá - Um Acerto da Netflix
O grande problema enfrentado por filmes com alto teor de violência, especialmente aqueles que utilizam o gore como recurso visual/narrativo é a classificação indicativa, que muito limita as possibilidades da obra se sair bem nas bilheterias, isso sem falar na pressão exercida pelos estúdios em manter seus longa-metragens na faixa do PG-13. O surgimento e popularização dos canais de streaming, com suas produções originais, felizmente, ofereceu mais possibilidades para realizadores que buscam produzir tais tipos de filmes e A Babá, distribuído pela Netflix, certamente se enquadra nesse cenário, nos entregando uma espécie de versão super violenta, repleta de humor negro, do clássico Esqueceram de Mim.
A obra nos apresenta Cole (Judah Lewis), um garoto de doze anos que sofre bullying na escola, tanto por ser consideravelmente mais medroso que as outras crianças, quanto por ainda ter uma babá, Bee (Samara Weaving), cuidando dele quando seus pais saem de casa. Certa noite, o menino decide permanecer acordado para ver o que a babá faz enquanto ele dorme. O que ele não esperava é que ela seria a líder de um culto satânico e que sacrificaria um virgem em sua casa. Ao perceber que Cole ainda está acordado, Bee e sua gangue fazem da noite do garoto um verdadeiro inferno.
O roteiro de Brian Duffield, desde os minutos iniciais, estabelece um tom nitidamente irônico na narrativa, fazendo uso de clichês e estereótipos para criar uma atmosfera de sátira, que tão bem combina com o humor negro que testemunhamos conforme o longa progride. Ao contrário da grande maioria das vítimas em filmes de terror, o protagonista está longe de ser estúpido ou de tomar ações consideradas imprudentes – desde cedo ele surpreende com suas artimanhas, o que faz com que, mais e mais, torçamos por ele. Nesse sentido a obra se assemelha ao já mencionado Esqueceram de Mim, visto que os criminosos certamente passam por tantas dificuldades quanto o próprio menino, que costuma contar com cartas na manga na maioria das vezes.
O excesso de violência gráfica funciona dentro da proposta aqui estabelecida, sendo exibida sempre de maneira humorada, com notáveis exageros ao longo da trama. O diretor, McG, faz de cada uma delas um verdadeiro show à parte, não escondendo as dilacerações que vemos durante a projeção, todas muito bem elaboradas pela equipe de direção de arte, que sabe encontrar o meio-termo entre realismo e artificialidade, produzindo a comédia pela quebra de expectativa e não por acharmos algo mal feito ao ponto de proporcionar boas risadas. Evidente que a oposição entre a personalidade de Bee antes e depois da revelação de seu verdadeiro eu é responsável pelo tom surreal que acompanha grande parte da obra e que, claro, torna tudo mais divertido.
A atmosfera mais descontraída também é mantida através dos textos que pipocam em determinados momentos na tela – sentimos, porém, que o filme poderia ter esbanjado mais de tal recurso, visto que, em dados momentos, sentimos como se o editor tivesse esquecido de inserir tais cartelas. Outro aspecto que soa fora do lugar é a estrutura burocrática do roteiro em colocar o protagonista enfrentando um antagonista após o outro em ordem sucessiva, criando uma narrativa quase capitular, que faz tudo parecer como se fossem fases de videogames e seus respectivos chefes. Curiosamente, esse recurso poderia ter sido incluído na narrativa se o diretor assim desejasse, já que as inúmeras referências à cultura pop permitiriam que o longa se assumisse como uma espécie de game de terror.
Apesar de tais deslizes, A Babá representa um grande acerto na carreira de McG e Brian Duffield, além de uma bela escolha da Netflix em distribuir tal filme. Certamente teríamos uma obra completamente diferente caso ela fosse feita para ser exibida nos cinemas, felizmente os canais de streaming abrem mais possibilidades para lançamentos como esse, que não receiam exagerar na violência e no gore, entregando-nos uma bela demonstração de como o terror pode se misturar com a comédia, produzindo um divertido e engajante longa-metragem pautado no humor negro e, claro, no sangue.
A Babá (The Babysitter, EUA – 2017)
Direção: McG
Roteiro: Brian Duffield
Elenco: Andrew Bachelor, Bella Thorne, Hana Mae Lee, Judah Lewis, Robbie Amell, Samara Weaving, Chris Wylde, Doug Haley, Ken Marino, Emily Alyn
Gênero: Terror
Duração: 90 min
Crítica | A Morte te dá parabéns - Quando a Premissa é Melhor que o Filme
Como seria um filme de terror, aos moldes de Feitiço do Tempo, com a vítima revivendo sempre o dia de sua morte? Certamente essa curiosidade passou pela cabeça de Scott Lobdell (mais conhecido pelos seus roteiros da série animada noventista de X-Men), roteirista de A Morte Te Dá Parabéns, que segue exatamente tal premissa. Ao invés de Bill Murray temos Jessica Rothe, que vive Tree, a tipicamente estereotipada adolescente universitária americana, que, no dia de seu aniversário, é assassinada por alguém vestindo uma máscara de bebê, somente para ela acordar, novamente, no início dessa mesma data.
De imediato engajante, especialmente para quem já assistiu a clássica comédia com Murray, a trama nos entrega uma mistura de terror e comédia e o texto de Lobdell sabe não se levar a sério em determinados momentos, embora isso não ocorra durante todo o filme, já que a seriedade toma conta da narrativa por mais tempo que deveria. Rothe, no papel principal, entende plenamente sua personagem e vive da maneira mais caricata possível a jovem estudante, com algumas reações exageradas, que combinam com o tom estabelecido pelo texto, cumprindo, pois, seu papel e entretendo o espectador.
O grande problema é que o roteirista não confia na criatividade de seu próprio texto e sai por algumas saídas um tanto quanto duvidosas ao longo da projeção, como o limite de vidas estabelecido para a protagonista. Embora não seja um número certo, somente uma estimativa, esse recurso limita as possibilidades da obra, que segue na linearidade, sem dar direito à personagem realizar altos devaneios (como aprender a tocar piano, ou roubar a marmota da cidade), que poderiam divertir o espectador. Ao invés disso, é priorizado, em geral, o ar de terror, que poderia ser mais desconstruído a fim de nos entregar algo verdadeiramente diferente do que costumamos assistir por aí.
Essa hesitação em sair do básico é demonstrada claramente pela direção de Christopher Landon, talvez não a escolha ideal para esse trabalho, já que sua filmografia é composta quase que exclusivamente por filmes de terror. Ele faz uso dos típicos cheap scares em uma base constante, procurando manter a atmosfera de tensão do início ao fim, quando poderia explorar mais essa mistura de humor e horror. Vemos nisso a falta de ousadia, receio de não se levar a sério, aspecto que contribuiria para nossa imersão e que possibilitaria mais metalinguagem na obra. Embora existam certas similaridades com a franquia Pânico, elas são pontuais e superficiais, quando poderiam ser muito mais.
Fortemente limitada, portanto, a trama acaba não tendo muito por onde ir e se apoia exclusivamente no porquê da protagonista estar presa justamente nesse dia. Não demora muito, portanto, para que a narrativa se torne repetitiva (o que não deixa de ser irônico), não trazendo muito de novo ao espectador. Mesmo o desenvolvimento da personagem central é artificial e parece dar mais importância ao seu romance com colega de faculdade do que efetivamente sua evolução como pessoa.
No fim, A Morte Te Dá Parabéns é um daqueles filmes que nos fazem enxergar todas as suas oportunidades perdidas. Trata-se de uma obra sustentada unicamente pela sua premissa, mas que falha miseravelmente em explorá-la por completo, não se distanciando muito de outros filmes do gênero por aí. Faltou ousadia tanto no roteiro quanto na direção, para essa se tornar uma verdadeiramente memorável obra que mistura o terror e a comédia.
A Morte Te Dá Parabéns (Happy Death Day, EUA – 2017)
Direção: Christopher Landon
Roteiro: Christopher Landon, Scott Lobdell
Elenco: Jessica Rothe, Billy Slaughter, Charles Aitken, Israel Broussard, Jason Bayle, Rachel Matthews, James Miller, Ruby Modine
Gênero: Suspense, Ficção
Duração: 96 min
https://www.youtube.com/watch?v=XVF84CJGVuY
Crítica | Horror em Amityville (2005)
A simples ideia de fazer um remake de Horror em Amityville soa como algo, no mínimo, inútil, já que todos os outros filmes lançados no cinema seguiram a exata mesma premissa, soando como repetição atrás de repetição, com breves momentos de originalidade, que, por si só, configuram-se como verdadeiras tragédias, pela péssima execução. Evidente que isso não impediu o estúdio de nos trazer mais uma versão da casa mal-assombrada e, surpreendentemente, esse remake consegue ser levemente melhor que o original, ainda que por muito pouco.
A velha história todos conhecem: a família Lutz muda-se para uma casa em Amityville, onde, um ano antes, uma família inteira fora brutalmente assassinada, com o assassino alegando ter escutado vozes que o fizeram cometer tais atos. Não demora muito para que o marido, atual morador da casa, George (Ryan Reynolds), comece a ser assolado pelas mesmas vozes, mudando drasticamente sua personalidade, enquanto que o restante da família passa a ter estranhas visões de uma menina que deveria estar morta.
Quando eu disse que essa versão de 2005 de Horror em Amityville é levemente melhor que a original, eu quis dizer levemente mesmo, já que o roteiro é uma verdadeira bagunça. Personagens são esquecidos ao longo da trama, para serem resgatados quando convém ao texto, a transformação de George é totalmente errática – em um momento ele está normal, no outro é o retrato da psicopatia, sem qualquer gradação, como visto em O Iluminado, de Stanley Kubrick, cuja premissa é bastante similar – isso tudo sem falar na completa artificialidade desses personagens.
Ao escrever um roteiro, independente do gênero, é importante ter em mente que os personagens precisam passar a impressão de que efetivamente existem, deve ser demonstrada preocupação com o que vem antes e depois do recorte de suas vidas vista no longa-metragem. Isso não ocorre nessa obra, que simplesmente joga essas pessoas em tela, resumindo suas vidas unicamente à estadia na casa – temos a sensação de que eles não trabalham, vão para a escola ou qualquer outra coisa, tornando, portanto, impossível que realmente acreditemos em cada um deles. A própria cidade em volta da infame casa soa como uma grande fantasia, já que ela somente aparece brevemente, de forma pontual e, claro, quando é conveniente à trama.
Tudo isso impede que nos entreguemos à narrativa, que já é falha por não despertar qualquer tensão – primeiro por não nos importarmos de fato com os indivíduos retratados em tela, segundo porque a direção de Andrew Douglas demonstra estar mais preocupada em proporcionar cheap scares do que uma verdadeira atmosfera de terror, seja com cortes bruscos ou sons elevados. Não ajuda, claro, que certos fatores, como o passado da casa, são apenas jogado no meio do texto, soando mais como material extra do que efetiva parte da história. Aliás, a explicação da entidade por trás dessa assombração não faz a menor diferença para a trama geral, podendo ter sido ocultada a fim de, minimamente, incentivar a imaginação do espectador. Aparecendo de maneira similar, temos a garotinha fantasma, cuja presença ocupa boa parte da projeção, apenas para, no fim, ser completamente irrelevante, fugindo do foco, que deveria ser a crescente loucura de George.
O que realmente torna esse remake singelamente melhor que seu antecessor é a presença de Ryan Reynolds. Ainda que seja um ator bastante limitado, ele sabe muito bem transitar entre o seu lado “bonzinho” e o “malvado”, com seu olhar definindo muito bem se ele está no comando ou a entidade malévola – em razão disso, as perceptíveis lentes, que deixam seu olho avermelhado, poderiam ter sido dispensadas. Claro que Reynolds não pode fazer milagre e ainda temos o problema do “vai e vem” de sua metamorfose, que a torna extremamente falha em termos de narrativa.
Dito isso, essa releitura de Horror em Amityville é mais um fraquíssimo filme dentro de uma franquia que não nos entregou sequer uma obra decente. Nem mesmo o limitado, porém carismático, Ryan Reynolds consegue salvar essa história de assombração, que consiste em uma incessante repetição de elementos já visivelmente “batidos”. Já passou da hora dessa série se aposentar, mas não parece que isso irá acontecer tão cedo.
Horror em Amityville é um remake à altura do original e vai além. O que a versão de 1979 não conseguiu fazer que era a de criar um ambiente hostil, que desse medo e proporcionasse tensão em quem assistisse, aqui ele conseguiu tudo isso. Criou certo suspense da família chegando e dos acontecimentos ocorrendo com o tempo, tudo sem forçar a barra ou sem parecer tosco e o melhor: sem ter pressa em querer impressionar. Foi criando a trama pouco a pouco até que o caos chega ao seu ápice com a loucura do personagem central.
Além do bom trabalho feito em criar um suspense, foi importante o incremento dentro da casa do mal materializado em uma garotinha. Diferente do que ocorreu em outros filmes que objetos ou até a casa eram os agentes causadores, aqui o mal aparece fisicamente no corpo da tal garota que faz toda a história girar.
A tal garotinha aparece para a filha mais nova e conversa com ela. No início acham que ela conversa com uma amiga imaginária, mas depois se percebe que é um espírito que representa todo o mal da casa. O filme não dá muitas pistas de quem seria ela, não sabemos se ela é o diabo ou um demônio. Dão a entender que seja o espírito da menina morta na casa antes deles irem morar lá, no caso da família DeFeo. O filme podia ter trabalhado melhor isso, quem seria essa garota e o que ela quer na casa. Outro ponto é fato dela ser bem tosquinha, não apenas a aparência, mas no seu jeito de aparecer e agir. Dão uma forçada para que ela assuste o telespectador.
Antes de trabalhar como protagonista em Horror em Amityville, Ryan Reynolds tinha trabalhado em muitas comédias românticas. O mais perto de uma produção de terror que trabalhou foi no fraco Blade: Trinity. Aqui há uma tentativa de mudar o estilo e mostrar para os diretores que podia sim atuar em um produção do gênero. Ele está bem caracterizado como George Lutz. Fizeram ele ser possuído, mesmo com o personagem principal não ter chegado a sofrer uma possessão.
Horror em Amityville (The Amityville Horror, EUA – 2005)
Direção: Andrew Douglas
Roteiro: Scott Kosar
Elenco: Ryan Reynolds, Annabel Armour, Brendan Donaldson, Chloë Grace Moretz, Jesse James
Gênero: Drama, Mistério, Terror
Duração: 90 min
https://www.youtube.com/watch?v=HEujNGCGM-0
Crítica | Amityville 4: A Fuga do Mal
Como a franquia Amityville conseguiu alcançar tamanha fama, com bons números nas bilheterias é um verdadeiro mistério, já que nenhum de seus filmes pode ser efetivamente considerado como minimamente bom. Depois de três verdadeiras tragédias cinematográficas, eis que a série ganha seu quarto longa-metragem, dessa vez lançado diretamente para a televisão, repetindo mais uma vez a velha fórmula da casa mal-assombrada, com sutis diferenças que não mudam tanta coisa de fato. Dito isso, como já esperado, Amityville 4: A Fuga do Mal mantém a franquia na mesmice, tendo apenas como diferença seu início, que justifica como outra família foi influenciada pelas forças malignas presentes na casa.
O longa tem início com a tentativa de exorcizar o local. Um grupo de padres faz seu ritual, enquanto a casa tenta pará-los, jogando móveis, fechando portas, tudo dentro do esperado quando se trata de filmes sobre espíritos e afins. O processo, aparentemente, é bem-sucedido e tudo dentro da casa é vendido em uma espécie de venda de garagem. O que ninguém sabia é que a entidade sobrenatural, na verdade, alojara-se em uma sinistra lâmpada da casa, que é vendida para uma senhora, que, por sua vez, a envia para sua irmã na Califórnia. Já no outro lado do país, a casa dessa pessoa mais idosa, Alice (Jane Wyatt), que acabara de receber sua filha e netos para morarem com ela, começa a apresentar estranhos fenômenos.
Não precisa sequer estar muito atento ao filme, portanto, para perceber que toda a introdução está presente no roteiro do diretor/ roteirista Sandor Stern apenas para explicar como outras pessoas foram assoladas pela entidade maligna da franquia, já que seria difícil vender a ideia de mais uma família indo morar na infame casa assombrada. Vejam, não há mal nenhum em fazer filmes sobre espíritos, mas estamos falando de uma série já com quatro longas, com a exata mesma premissa, o que não apenas revela um cansaço da franquia, como completa falta de originalidade, visto que tudo é simples cópia, com sutis diferenças do que veio antes.
Mesmo essas bem-vindas alterações na trama não chegam a funcionar como deveriam, já que a montagem de Skip Schoolnik demonstra grande dificuldade em trabalhar com os núcleos paralelos da obra. Burocraticamente, ele primeiro conclui uma sequência com um personagem para depois pular para outro, não lidando com os dois lado-a-lado, aspecto que cria uma notável e cansativa fragmentação narrativa, que, no fim, dilata a duração total do filme, gravemente impactando nossa imersão.
Por sinal, essa imersão já é praticamente inexistente em razão das péssimas atuações da maior parte do elenco, fazendo esse parecer um filme amador, questão, essa, que é agravada pela direção de Stern, que não consegue imprimir em sua obra a necessária atmosfera de tensão, jamais sendo capaz de fazer a lâmpada possuída ser percebida como algo verdadeiramente assustador, mesmo com seu formato um tanto quanto excêntrico. Existe um claro apoio na trilha incidental e em sons elevados aqui e lá, mas, sem o acompanhamento de uma decupagem adequada, esses pontos perdem muito de seu sentido de ser. Justamente por tais questões, essa acaba configurando-se como um terror que, jamais, provoca qualquer medo no espectador, sendo mais uma atividade sonífera do que qualquer outra coisa.
Amityville 4: A Fuga do Mal, portanto, continua fazendo o que essa franquia faz de melhor: nos entediar. Com premissa praticamente idêntica aos seus antecessores, esse quarto longa-metragem da série deixa bem claro que a tal assombração que assolou a casa (agora casas) deveria ter se aposentado há muito tempo. Ao invés disso, o que ganhamos é uma grande repetição, que apenas nos faz perceber que, se assistirmos um dos filmes da franquia, já teremos assistido todos eles.
Amityville 4: A Fuga do Mal (Amityville: The Evil Escapes, EUA – 1989)
Direção: Sandor Stern
Roteiro: Sandor Stern, John G. Jones
Elenco: Paty Duke, Alex Rebar, Aron Eisenberg, Brandy Gold, Fredric Lehne, Gloria Cromwell
Gênero: suspense, terror
Duração: 94 minutos.