Crítica | Feriado Sangrento - É mais um filme sangrento de Eli Roth
Quando Grindhouse, projeto de 2007 dirigido por Robert Rodriguez e Quentin Tarantino, que inclui os filmes Planeta Terror e À Prova de Morte, chegou aos cinemas, uma série de fakes trailers foi lançada como parte da estratégia de divulgação, proporcionando uma experiência inovadora. Entre os cinco trailers dirigidos por cineastas diferentes estavam Machete e Thanksgiving.
Alguns desses trailers fictícios foram adaptados para as telas, como foi o caso de Machete (2010), O Vingador (2011), e agora é a vez de Thanksgiving - que traduzido significa Ação de Graças - que recebeu o título nacional de Feriado Sangrento. O projeto foi liderado por Eli Roth, um diretor conhecido por sua filmografia de terror, que inclui longas que receberam uma recepção morna por parte da crítica.
Feriado Sangrento se destaca como um slasher brutal e envolvente, que certamente está entre os grandes filmes já dirigidos por Roth. O longa presta uma série de homenagens aos clássicos do slasher, como O Massacre da Serra Elétrica, Pânico e Halloween, enquanto também incorpora referências a outras obras conceituadas do gênero terror.
A trama se inicia com uma sequência cruel e caótica na madrugada de Ação de Graças, quando a Black Friday está prestes a começar. Centenas de consumidores revoltam-se após um grupo de jovens furar a fila e entrar na loja, desencadeando uma reação em cadeia que leva a população a invadir o estabelecimento. A violência generalizada se instaura entre consumidores enlouquecidos em busca de produtos em promoção, como Airfryers e outros itens.
A cena inicial é bastante impressionante, mesmo para aqueles que já estão familiarizados com as obras de Roth, diretor conhecido por causar horror no público com o sádico O Albergue II (2007) e o apavorante Canibais (2013). O cineasta realiza um trabalho eficaz neste slasher, podendo chocar uma parcela do público devido ao excesso de sangue jorrado na tela.
O filme apesar de parecer inicialmente uma paródia, na realidade, opera como uma crítica ao consumismo, alinhado ao que Zack Snyder explorou em Madrugada dos Mortos. A ideia de Roth é ótima, e por meio de uma cena rápida e extremamente sangrenta, ele transmite a mensagem de que estamos cada vez mais focados em nós mesmos do que nas outras pessoas, tornando-nos consumidores viciados em compras desnecessárias.
O roteiro, escrito por Eli Roth em parceria com Jeff Rendell, é inventivo nas mortes, mas também cai nos velhos clichês do gênero. No entanto, isso não representa um problema real para a trama; pelo contrário, esses clichês funcionam muito bem. Há uma reviravolta decente no final e um vilão com uma dose de motivação, visto que a matança ocorre devido ao massacre provocado pelo excesso de ganância do dono da loja e o assassino irá atrás de uma vingança pessoal.
Mesmo os jovens, que geralmente são retratados como sendo personagens idiotizados nessas histórias, desempenham papéis decentes. Claro que tomam decisões bobas e muitas vezes agem de maneira mesquinha e egoísta, chegando a causar raiva no espectador. Roth faz com que esses personagens funcionem quase como uma sátira aos protagonistas do gênero. Entretanto, a final girl deixa bastante a desejar, sendo uma figura apagada na trama.
Thanksgiving (título original) possui classificação indicativa de 18 anos. o filme é extremamente sangrento, exibindo crânios esmagados, cabeças decepadas e vísceras expostas de maneira crua. Em sintonia com muitos slashers, a obra apresenta um assassino com visual marcante, destacando-se pelo uso de uma máscara inspirada em John Carver, reconhecido como o criador do Dia de Ação de Graças.
Podemos dizer que Eli Roth demorou um bocado para adaptar seu curta-metragem Thanksgiving em filme, mas a espera valeu a pena. Certamente, Feriado Sangrento está entre os grandes filmes sobre obras de feriados, como Natal Sangrento e Dia dos Namorados Macabros. Em resumo, a produção conquista seu lugar entre os bons slashers produzidos nos últimos tempos e devemos torcer para que uma sequência chegue o quanto antes e não demore uma eternidade para ser produzida.
Feriado Sangrento (Thanksgiving, EUA – 2023)
Direção: Eli Roth
Roteiro: Eli Roth, Jeff Rendell
Elenco: Patrick Dempsey, Nell Verlaque, Rick Hoffman, Ty Olsson, Gina Gershon, Gabriel Davenport, Karen Cliche, Jenna Warren, Tomaso Sanelli, Jalen Thomas Brooks
Gênero: Terror, Mistério, Suspense
Duração: 106 min
Crítica | Hellraiser - Renascido do inferno (2022) - É uma competente adaptação da obra de Clive Barker
Com nove filmes ao longo de sua longeva franquia, Hellraiser permanece na memória dos fãs do gênero como uma obra de horror marcante, explorando temas como perversão, sexualidade e com intensas cenas de violência. Entretanto, dentre os muitos longas da franquia, poucos são reconhecidos pela sua qualidade, sendo Hellraiser: Renascido do Inferno (1987) considerado um dos melhores. As sequências não conseguiram replicar o sucesso da produção da década de 1980. Daí a importância de um reboot, que resultou em um novo e excepcional capítulo, mantendo o título Hellraiser: Renascido do Inferno.
Adaptado do livro The Hellbound Heart, de Clive Barker, a produção conta a história de Riley (Odessa A'zion) uma jovem que, para nutrir o seu vício, rouba uma pequena caixa quadrada que se assemelha a um quebra-cabeças. Aquele cubo misterioso é conhecido em sua forma original como a Configuração do Lamento, e é utilizada como um portal para o inferno, mas claro que a protagonista não tem ideia da a infelicidade que acarreta ao tomar posse desse pequeno e aparentemente belo artefato.
Dirigido por David Bruckner (A Casa Sombria), o cineasta transforma o filme em uma espécie de homenagem ao original lançado nos anos 1980, incorporando elementos de dor e sofrimento à narrativa. A trama é repleta de cenas intensas, onde a carne é esfolada e retalhada por mecanismos de tortura, proporcionando momentos de puro terror. O ato final é bastante sangrento e cruel, lembrando obras como Jogos Mortais e do body horror apresentado no recente Crimes do Futuro, de David Cronenberg.
Não existe Hellraiser sem a figura de Pinhead, aquela entidade com vários alfinetes no rosto que causa arrepios e medo apenas com a sua aparição. Os cenobitas também desempenham um papel crucial, surgindo com um aspecto bizarro, grotesco e aterrorizante. A intenção é genuinamente provocar um sentimento de angústia no público. Confrontar um cenobita não é algo que alguém desejaria fazer.
Na trama, os cenobitas não servem apenas como elemento de terror, mas também funcionam como catalisadores do pânico no imaginário do público ao apresentar como seriam - caso existissem - entidades demoníacas que buscam causar prazer através da dor, mesmo que esse prazer incessante seja eterno. Os demônios parecem ter saído diretamente de uma obra do Marquês de Sade, com figurinos e armas de natureza mística ao estilo sadomasoquista.
O roteiro, no qual Clive Barker não teve participação, vai por um caminho óbvio ao trazer personagens idiotas e que tomam decisões igualmente estúpidas. A narrativa se torna repetitiva em diversos momentos, com a personagem Riley buscando incansavelmente maneiras de trazer seu irmão Trevor (Drew Starkey) de volta do outro mundo, no qual foi levado pelos cenobitas, mundo esse que possivelmente pode ser o inferno ou não. As inúmeras transformações do Cubo de LeMarchand, além de servir como portal para um mundo de prazer sádico, é também utilizada como elemento de terror, indicando que algo extremamente cruel está prestes a acontecer caso assuma outra forma.
Hellraiser: Renascido do Inferno é certeiro em sua brutalidade, proporcionando doses assustadoras de tensão e pavor. Representa um reinício competente para uma franquia que havia perdido seu foco e caminhava para algo semelhante ao que ocorreu com outras séries que se perderam ao longo do tempo, como é o caso de O Massacre da Serra Elétrica. David Bruckner acerta ao incorporar elementos da obra de Clive Barker, preservando sua essência e mantendo vivo o legado da franquia.
Hellraiser: Renascido do Inferno (Hellraiser, EUA – 2022)
Direção: David Bruckner
Roteiro: Ben Collins, Luke Piotrowski, Baseado na obra de Clive Barker
Elenco: Odessa A'zion, Jamie Clayton, Adam Faison, Drew Starkey, Brandon Flynn, Goran Visnjic
Gênero: Terror, Mistério, Suspense
Duração: 121 min
Crítica | Napoleão - É um épico vazio com a marca de Ridley Scott
A vida de Napoleão Bonaparte já foi objeto de inúmeras adaptações para a TV e o cinema. Sempre intrigou o público, e diretores como Stanley Kubrick tentaram abordar o tema em seus projetos. Entretanto, quem realmente se aventurou a levar a vida do líder francês para as telonas foi Ridley Scott, com o seu eficiente Napoleão.
No entanto, é válido afirmar que retratar a vida do líder militar francês no formato de um longa-metragem não é uma tarefa fácil. Bonaparte emergiu durante a Revolução Francesa, liderando uma intensa repressão durante as Guerras Revolucionárias Francesas, que clamavam pelo retorno da Monarquia à França. Esse é o principal desafio encontrado pela produção: contar uma história imensa de batalhas e política em poucas horas.
Contar a história completa de Napoleão em um filme de duas horas e meia é um feito árduo. Seria mais adequado trabalhar com uma duração superior a três horas ou concentrar-se em um período específico da vida de Bonaparte, como foi feito em A Queda! As Últimas Horas de Hitler (2004), que se concentra nos momentos finais antes da derrota de Hitler. No entanto, Ridley Scott optou por uma abordagem diferente, tentando abranger quase toda a vida militar de Napoleão e suas principais batalhas em um curto intervalo de tempo.
Um Bonaparte frio e sem carisma
A questão do tempo torna-se evidente em diversos momentos, como na passagem de Bonaparte pelo Egito, um período de grande destaque na história que, no filme, é apresentado em menos de dez minutos. O mesmo ocorre com a Batalha de Waterloo e sua ida à Ilha de Santa Helena, momentos marcantes em sua vida, mas que aqui parecem situações de curta duração. Isso, sem mencionar os cortes que evidenciam alterações na edição do longa, campanhas que claramente foram reduzidas a pequenos detalhes. Por ser uma co-produção entre a Sony e o serviço de streaming Apple TV+, é bem provável que tenha uma versão mais longa e que fique disponível no streaming.
Joaquin Phoenix dá vida a um Napoleão vazio, com o roteiro necessitando constantemente reforçar que aquele homem de estatura média era poderoso e ambicioso. O problema reside no fato de que Ridley Scott idealizou um personagem que não transmite a imagem de um homem cheio de poder. É difícil para o público aceitar a ideia de que aquele era o Napoleão que influenciou significativamente a Europa e almejava dominar todo o território por onde passava. Apesar de Joaquin Phoenix apresentar uma ótima atuação, não é, de longe, sua melhor performance, e isso não é culpa do ator, mas sim da direção frágil de Scott.
Quando jovem, Ridley Scott demonstrava muito mais ambição e criatividade do que na fase atual de sua carreira. Sua trajetória no audiovisual é marcada por altos e baixos, apresentando obras fantásticas como Gladiador (2000) e O Último Duelo (2021), mas também produzindo obras medíocres como Êxodo: Deuses e Reis (2014) e Casa Gucci (2021). Embora seja compreensível que o diretor desejasse criar um filme à altura do imperador francês, acabou se perdendo em sua própria ambição, incapaz de transmitir a ideia de que Bonaparte era um homem com uma loucura pessoal e uma busca incansável pelo poder.
Entre o amor e o poder
O roteiro, assinado por David Scarpa (Todo o Dinheiro do Mundo), opta por contar a história de Napoleão não a partir do ponto de vista do líder francês nos campos de batalha ou de sua rotina política, mas sim com foco no relacionamento de Bonaparte com Josephine Bonaparte (Vanessa Kirby). A ideia parece ser construir uma trama com teor dramático, onde Napoleão luta para manter acesa a paixão por Josephine, mesmo diante das traições da imperatriz. O casamento chega ao fim principalmente porque ela não lhe concede um herdeiro. A decisão de centralizar a narrativa no relacionamento entre os dois revela-se um equívoco, com Ridley Scott aparentemente sem saber qual caminho seguir, entre destacar o relacionamento ou as batalhas.
Cada vez que o filme parece abordar as batalhas do imperador francês ou mergulhar nas complexidades políticas do período, o retorno ao romance entre Napoleão e Josephine interrompe o ritmo, desconectando o espectador das sequências de ação e do contexto histórico. Essa alternância constante entre dois focos principais não apenas quebra a coesão narrativa, mas também pode diluir o impacto tanto das relações interpessoais quanto dos eventos históricos, deixando a audiência dividida entre as tramas. Essa falta de clareza na direção da narrativa prejudica a experiência do espectador, tornando a conexão emocional e a compreensão histórica mais desafiadoras.
Ao contrário de outros épicos dirigidos por Ridley Scott, como Gladiador, neste caso, o diretor opta por não destacar as grandes façanhas do imperador. Embora algumas batalhas e conflitos sejam apresentados, há uma distância entre a visão do diretor para o personagem e o que realmente é explorado na tela. Parece que Scott se interessa mais por questões secundárias do que pela profundidade do retrato do homem Napoleão, resultando em uma abordagem que subestima as conquistas épicas que poderiam ter sido mais enfaticamente representadas.
Napoleão de Ridley Scott funciona mais como uma caricatura do poder do que uma representação convincente e envolvente do líder francês. O filme se perde ao tentar ser mais um livro de história visualizado do que uma obra cinematográfica cativante. Com uma atmosfera sem graça e uma fotografia quase apática, a produção se torna um retrato desnecessário de Napoleão, que carece do impacto e da vitalidade necessários para destacar a complexidade do personagem. Em comparação com o épico de Abel Gance (1927), que é amplamente reconhecido como uma cinebiografia de qualidade sobre Napoleão, algo que não irá ocorrer com o Napoleão de Ridley Scott.
Napoleão (Napoleon, EUA – 2023)
Direção: Ridley Scott
Roteiro: David Scarpa
Elenco: Joaquin Phoenix, Vanessa Kirby, Tahar Rahim, Rupert Everett, Mark Bonnar, Paul Rhys, Ben Miles, Riana Duce, Ludivine Sagnier
Gênero: Ação, Aventura, Drama
Duração: 158 min
Crítica | Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes - Um prelúdio que revigora a franquia
Pode-se afirmar que a franquia cinematográfica de Jogos Vorazes é uma das mais populares do planeta, contando com uma grande e relevante base de fãs. Após a adaptação para os cinemas dos quatro livros da autora Suzanne Collins em longas-metragens, sendo o último livro dividido em dois filmes, era natural que um novo capítulo surgisse, e foi exatamente isso que aconteceu.
Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes, dirigido por Francis Lawrence, é uma adaptação da obra de mesmo nome e que funciona como um prelúdio. O longa não explora o início dos Jogos Vorazes, mas sim a história de Coriolanus Snow (Tom Blyth) ainda jovem, e que no futuro irá se tornar o cruel Presidente Snow que busca, de todas as formas, eliminar Katniss Everdeen.
Entretanto, a trama deste novo capítulo vai muito além de simplesmente apresentar Snow sob uma nova ótica. O filme contextualiza a questão política do período e acompanha a transformação de Coriolanus ao longo da narrativa. Inicialmente, ele é retratado como um jovem idealista, mas com o passar da história, sua personalidade evolui para alguém ambicioso, com grandes objetivos.
Um eficiente início
Nesse novo capítulo de Jogos Vorazes, além de desenvolver o personagem de Coriolanus Snow, também apresenta Lucy Gray (Rachel Zegler), a mulher que desafia o sistema imposto pela Capital e pela qual Snow se apaixona perdidamente. A trama aborda questões políticas e sociais, características marcantes da franquia, assim como os jogos em que é necessário lutar pela sobrevivência.
O roteiro, assinado por Michael Lesslie e Michael Arndt, revigora a franquia, proporcionando uma narrativa robusta que supera a conclusão anterior, que foi fraca e sem brilho. Era de se esperar que o prelúdio respondesse a algumas perguntas que ficaram em aberto, como a identidade dos idealizadores dos primeiros jogos e proporcionasse uma melhor contextualização das motivações por trás desses jogos brutais.
A ação não é o foco central do filme, uma vez que era necessário apresentar o personagem do jovem Snow, de sua família, incluindo sua irmã Tigris (Hunter Schafer), e que não tem destaque significativo na trama. Além disso, havia a necessidade de explorar a complexa teia política e social da época, o que foi habilmente estruturado e aprofundado pelo roteiro. A presença de elementos de ação no longa é algo secundário, e quando a ação aparece ela serve mais como um catalisador para o desenvolvimento de Snow e uma oportunidade para aprofundar a personagem de Lucy Gray. Diversos eventos ao longo da narrativa contribuem para dar consistência ao enredo, diferentemente da conclusão vazia e sem sentido apresentada em Jogos Vorazes: A Esperança - O Final.
Os diálogos inteligentes entre os personagens, especialmente aqueles envolvendo Volumnia Gaul (Viola Davis) e Coriolanus, são um diferencial, concedendo maior vigor a cenas que, em outras circunstâncias, seriam mornas. O ritmo lento da narrativa não compromete o desenvolvimento da história, funcionando no último ato como um suporte eficaz para o relacionamento entre Snow e Lucy Gray..
Se Katniss Everdeen foi o destaque nas produções anteriores, com uma personagem forte e cheia de camadas, aqui encontramos a jovem Lucy Gray, que foi inserida nos jogos como uma manobra política por parte do Prefeito do Distrito em que ela reside. Em geral, é uma ótima protagonista, com uma personalidade marcante e momentos significativos para a trama. No entanto, há ocasiões em que a personagem pode parecer um tanto enfadonha, especialmente nos momentos dramáticos que mais demandam sua participação.
A continuidade da franquia Jogos Vorazes nos cinemas permanece incerta, mas seria uma decisão acertada, especialmente após a introdução deste bom novo capítulo. Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes não apenas oferece uma nova perspectiva, mas também serve como uma porta de entrada para novas narrativas envolvendo a luta entre os distritos rebeldes e Coriolanus Snow. Sem dúvida, destaca-se como um dos melhores filmes da franquia.
Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes (The Hunger Games: The Ballad of Songbirds & Snakes, EUA – 2023)
Direção: Francis Lawrence
Roteiro: Michael Lesslie, Michael Arndt. Inspirado na obra de Suzanne Collins
Elenco: Rachel Zegler, Tom Blyth, Viola Davis, Hunter Schafer, Fionnula Flanagan
Gênero: Ação, Aventura, Drama
Duração: 157 min
https://www.youtube.com/watch?v=Zw3QtH64Fxc
Crítica | Afire traz uma bela reflexão sobre a natureza humana
Leon e Felix são dois amigos que viajam para um lugar afastado da cidade em busca de tranquilidade. Felix está determinado a criar seu portfólio, enquanto Leon pretende finalizar seu segundo livro. No entanto, ao chegarem na residência, encontram Nadja, que já está vivendo no local, e são obrigados a dividir a casa com essa inquilina desconhecida. É por meio desse encontro que se desenvolve a trama de "Afire", longa dirigido por Christian Petzold.
As situações seguintes que ocorrem após o primeiro encontro de Leon com Nadja, incluindo, após longos dois dias de estarem vivendo na mesma casa, revelam as questões que Petzold deseja explorar e apresentar ao público. Leon é um homem imerso em seu próprio mundo, aparentemente indiferente ao que ocorre ao seu redor e desinteressado nas pessoas à sua volta. Ele parece concentrar-se apenas em si mesmo e na trama ficcional de seu livro.
Como pano de fundo para a possível paixão platônica que Leon nutre por Nadja, há um incêndio de grandes proporções que consome a floresta onde se encontram. No entanto, o fogo se dirige para outra direção, sem representar risco para os residentes. O filme é o último capítulo da trilogia dos elementos de Petzold, composta por Em Trânsito (representando a terra) e Undine (representando a água), e, claro, Afire, representando o fogo.
O clima quente e seco, assim como o incêndio em si, simbolizam a paixão, um sentimento bastante presente na trama. Da mesma forma, o vento parece avançar como se estivesse prestes a desencadear uma tragédia a qualquer momento. Petzold, que não apenas dirigiu, mas também escreveu o roteiro da obra, explora temas como amizade, amor, arte e sexualidade, elementos fundamentais que permeiam a narrativa e que são cruciais para revelar os perfis individuais dos personagens.
O jovem escritor Leon é retratado como alguém que busca viver em seu próprio universo, imerso nas páginas de seu novo livro. Contudo, enfrenta um bloqueio criativo que o impede de conceber uma narrativa envolvente, como ilustrado pela leitura que faz de seu trabalho ao editor. Leon é caracterizado como alguém que não aproveita plenamente as experiências da vida, recusando convites para a praia e para compartilhar um vinho, optando por se isolar em vez de participar do convívio social.
O roteiro oferece momentos excepcionais, como a poética cena em que Nadja declama o nostálgico e romântico poema The Asra do escritor Heinrich Heine. O mesmo pode ser afirmado sobre a trilha sonora, destacando-se especialmente a belíssima In My Mind da banda austríaca Wallners, que encerra o filme com chave de ouro.
É claro que parte do público pode acusar o longa de ser parado, sem ação e com ritmo maçante, e isso de fato é verdade em algumas cenas. No entanto, essa ausência de ação não se torna entediante, e a história passa em um piscar de olhos, pois as interações entre os personagens cativam e prendem o espectador em seus dramas particulares dos. Afire certamente é um dos grandes filmes do ano e merece as críticas positivas que tem recebido.
Afire (idem, ALE – 2023)
Direção: Christian Petzold
Roteiro: Christian Petzold
Elenco: Thomas Schubert, Paula Beer, Enno Trebs, Langston Uibel, Matthias Brandt
Gênero: Comédia, Drama, Romance
Duração: 102 min
Crítica | Five Nights at Freddy's - Foi feito para agradar aos fãs do jogo
Já é uma tradição em Hollywood de lançar obras audiovisuais adaptadas de jogos de videogame. Five Nights at Freddy's, inspirado no game de mesmo nome, se revela como uma grande decepção, pois tinha potencial para ir além e apresentar uma estrutura narrativa que escapasse do óbvio, No entanto, a diretora Emma Tammi parece estar perdida, sem saber que direção tomar com a história e com os personagens.
Mike, interpretado por Josh Hutcherson, é um jovem que enfrenta sérias dificuldades em manter um emprego a longo prazo. Ele precisa continuar trabalhando para manter a custódia de sua irmã Abby (Piper Rubio). É por essa razão que ele assume o cargo de segurança na Freddy Fazbear's Pizzeria, um lugar há muito esquecido pelo tempo, onde ele se depara com figuras assustadoras e bizarras.
O filme está repleto de mistérios, alguns se mostram menos interessantes, enquanto outros são mais relevantes, como o enigma das crianças que desapareceram ao longo dos anos, cujo paradeiro permanece desconhecido. O roteiro introduz a personagem da policial Vanessa (Elizabeth Lail), que desempenha um papel fundamental no desenvolvimento da trama do protagonista, levando-o a interagir com uma pessoa curiosa e repleta de histórias sobre o local abandonado onde Mike trabalha.
O roteiro, escrito pela diretora Emma Tammi com colaboração com Seth Cuddeback e o criador da franquia de jogos, Scott Cawthon, falha em aproveitar adequadamente o potencial das figuras bizarras. No jogo, essas figuras são o foco central da narrativa, mas no filme, elas são praticamente deixadas de lado, aparecendo esporadicamente para proporcionar momentos cômicos. Ao dar ênfase à jornada pessoal de Mike e à trama das crianças desaparecidas, o filme acaba se transformando em mais uma produção de terror destinada a ser lançada para a época do Halloween.
O filme tenta, embora com alguns equívocos, permanecer fiel à história do jogo em certa medida. No entanto, a narrativa, por si só, já é confusa e, ao adiar a resolução do mistério para o último ato, revela a indecisão da diretora sobre qual aspecto enfatizar: o dos sonhos do protagonista com as crianças sequestradas ou o seu drama particular em precisar manter a guarda da irmã. Isso acaba resultando em uma falta de desenvolvimento adequado em ambos os aspectos, deixando a narrativa fragmentada e causando no público incertezas.
Como sabemos, os bonecos animatrônicos são o elemento central da trama e, naturalmente, despertam o interesse e a curiosidade do público. Todavia, essas figuras toscas acabam sendo negligenciadas como personagens secundários e desprovidos de profundidade. O pior é que a história carece de elementos de terror. Sempre que surge uma oportunidade de criar sequências aterrorizantes ou repletas de suspense, a diretora as interrompe, frustrando os fãs do gênero. Ainda assim, a presença desses seres bizarros é a fórmula de sucesso do longa, o que ajuda a explicar a surpreendente bilheteria da produção em seu primeiro fim de semana.
Em desenvolvimento desde 2015, Five Nights at Freddy's é um filme de terror projetado com foco nos fãs do game, contando com uma audiência amplificada por meio das redes sociais, principalmente o TikTok. Mas mesmo com esses esforços, o longa não deixa de ser uma grande decepção.
Five Nights at Freddy's (Five Nights at Freddy's - O Pesadelo Sem Fim, EUA – 2023)
Direção: Emma Tammi
Roteiro: Seth Cuddeback, Emma Tammi, Scott Cawthon
Elenco: Josh Hutcherson, Piper Rubio, Elizabeth Lail, Matthew Lillard, Mary Stuart Masterson
Gênero: Terror, Mistério, Suspense
Duração: 109 min
https://www.youtube.com/watch?v=h2lVX71L_3A
Crítica | O Exorcista: O Devoto - É apenas um filme ruim sobre exorcismo
Há filmes na história do cinema em que é inimaginável pensar que possam receber remakes ou continuações, e principalmente, que sejam tão bons quanto os originais. O Exorcista, lançado em 1973 e dirigido com maestria por William Friedkin, é um desses casos. É óbvio que os estúdios querem lucrar com continuações de filmes que foram sucesso de público e crítica, assim como era óbvio que O Exorcista iria acabar ganhando novas releituras, mas a questão mesmo está em relação à qualidade dessas obras, que são geralmente são bastante questionáveis e muitas vezes desnecessárias, o mesmo ocorre com O Exorcista: O Devoto (David Gordon Green).
Em 1977, foi lançado O Exorcista II: O Herege, uma sequência ridícula e que não fazia justiça ao original, enquanto O Exorcista III (1990) foi uma produção decente dentro da proposta estabelecida. Em O Exorcista: O Devoto, ocorre uma tentativa falha de ressuscitar o clássico e recontar a história para as novas gerações, visto que há a possibilidade de ser o primeiro capítulo de uma futura trilogia.
O principal dilema deste novo episódio reside na reflexão sobre a necessidade de dar continuidade à história do filme original, em vez de explorar uma trama completamente nova, evitando revisitar os eventos que afetaram a jovem Regan (Linda Blair).
Comparações Inevitáveis
David Gordon Green ganhou notoriedade com o elogiado Halloween (2018), que realmente resgatou a qualidade da franquia após sequências decepcionantes. Porém, ele cometeu o mesmo erro ao criar continuações igualmente fracas quanto as que sucederam o longa de 1978. Em O Exorcista: O Devoto, embora haja um esforço do cineasta em evocar a atmosfera dos filmes clássicos, ele acaba tropeçando nos clichês do gênero e na completa incapacidade de recriar o clima de horror e medo que tornou O Exorcista tão marcante.
Assim como ocorre na maioria das produções sobre exorcismo, duas garotas são possuídas não por demônios, mas pelo próprio diabo, capeta ou qualquer outro nome associado à entidade maligna que já foi usado ao longo dos anos. Angela (Lidya Jewett) e Katherine (Olivia O’Neill) desaparecem por alguns dias na floresta e, ao retornarem, começam a manifestar um comportamento estranho, o que leva à descoberta posterior de que estão possuídas, requerendo, obviamente, a realização de um exorcismo nelas. Há também na história o personagem de Victor Fielding (Leslie Odom Jr.), um viúvo que perdeu a esposa em um terremoto no Haiti.
É inevitável fazer comparações entre esta versão de David Gordon e a de Friedkin, uma vez que O Exorcista sempre teve uma presença significativa na cultura pop. Pode-se afirmar que várias obras sobre o tema foram filmados utilizando como referência o filme, como O Exorcismo de Emily Rose (2005) e outras produções que incorporaram elementos do clássico da década de 1970.
Os vários Problemas de “O Devoto”
David Gordon Green não entregou seu melhor trabalho em The Exorcist: Believer (nome original), mas há de se concordar que o roteiro não ajuda muito - roteiro este escrito por Gordon Green em parceria com Peter Sattler. A ideia de desenvolver uma nova trama envolvendo uma família originária do Haiti não convence, sem mencionar as mudanças em relação à obra original, deixando de lado elementos que funcionaram, como a obscenidade do diabo quando possui Regan ou até mesmo a icônica cena do vômito. Esses elementos estão ausentes nesta nova versão, resultando em um filme vazio e esquecível, se apresentando assim essencialmente como uma produção de terror de baixa qualidade.
Logo no primeiro ato, já é possível identificar alguns dos clichês clássicos do gênero do terror, como o da mulher grávida, algo que já foi explorado, por exemplo, em O Bebê de Rosemary (1968). Há muitos outros clichês, como o das crianças possuídas, as várias caretas que elas fazem, o das luzes que piscam. O roteiro é ruim também por se mostrar indeciso sobre qual direção seguir e qual mensagem quer transmitir, ocasionando em um conteúdo completamente frágil.
Mesmo com os retornos de Ellen Burstyn, no papel de Chris MacNeil, e de Linda Blair, em uma aparição relâmpago, os efeitos são quase nulos. Em vez de proporcionar um encerramento satisfatório para o arco das personagens, essa inclusão as trouxe de volta sem o devido protagonismo que mereciam. Não há uma conexão palpável entre a personagem de Ellen e o público, uma vez que passou muito tempo desde sua última aparição. Seu retorno apagado apenas reforça essa percepção.
O Exorcista permanece como um clássico atemporal no mundo do cinema, ainda tendo bastante influência e impacto no meio. Infelizmente, O Exorcista: O Devoto não consegue cativar nem capturar a tensão e o medo causado pelo longa original, mesmo com seu potencial para algo maior. A narrativa se perde em não estruturar direito os personagens, nem em criar uma história decente, deixando uma sensação de desapontamento. É um lembrete de que nem todas as histórias precisam de sequências ou revisitações, e que o legado de um clássico como "O Exorcista" permanece intocado, ainda sendo lembrado como referência para futuras gerações.
O Exorcista: O Devoto (The Exorcist: Believer, EUA – 2023)
Direção: David Gordon Green
Roteiro: Peter Sattler, David Gordon Green
Elenco: Lidya Jewett, Olivia O’Neill, Leslie Odom, Linda Blair, Ellen Burstyn, Jennifer Miranda, Ann Dowd
Gênero: Terror
Duração: 111 min
https://www.youtube.com/watch?v=96RCGOaNuCM
Crítica | Cemitério Maldito: A Origem - É um enorme desperdício de tempo
Cemitério Maldito tinha o potencial de ser uma das franquias mais assustadoras e interessantes dentro do gênero do terror. No entanto, há mais erros do que acertos entre obras da franquia que foram lançadas. Cemitério Maldito (2019) foi um remake que tentou ressuscitar a história, mas acabou sendo uma grande decepção, o mesmo se aplica a Cemitério Maldito: A Origem.
Adaptado da obra de Stephen King, o primeiro filme foi lançado em 1989, que já naquela época não era tão excepcional assim. O mesmo pode ser dito desta nova versão, dirigida pela estreante Lindsey Anderson Beer, que demonstra boas intenções, mas falha em incorporar os principais elementos que um bom filme de terror deve ter, que são: tensão, suspense e uma trama intrigante.
A trama se passa no ano de 1969, 20 anos antes do primeiro longa, seguindo o jovem Jud Crandall (Jackson White), que descobre segredos antigos que estão no cerne de sua família e estão ligados à sua cidade natal de Ludlow, Maine. Após o retorno de Timmy (Jack Mulhern) do Vietnã com dispensa honrosa, vários acontecimentos sinistros envolvendo o jovem se desencadeiam pela região.
Vamos concordar que é uma premissa nada inovadora e que já acompanhamos em várias obras de terror, mas os roteiristas acharam que seria uma brilhante ideia trazê-la para as telas. Para piorar, a diretora Lindsey Anderson apresenta a narrativa com um ritmo lento e não adiciona uma atmosfera de horror ou medo na obra, isso para não mencionar a falta de simpatia dos personagens, que foram pessimamente construídos e desenvolvidos. Inclui-se aí o personagem de David Duchovny, que também é mal utilizado pela cineasta.
Por se tratar de um prequel, é natural que o público procure respostas, ou como o título em português diz, a origem de todos aqueles acontecimentos sombrios envolvendo o tal do cemitério. Mas o roteiro é completamente deficiente e ineficaz em nos trazer respostas sólidas e relevantes, pelo contrário, deixando mais dúvidas do que propriamente respondendo a essas perguntas.
O público que acompanha aos longas adaptados das obras de King já sabe o que aquele cemitério faz com as pessoas que são enterradas ali, mas mesmo assim quiseram recontar toda a história como se fosse uma grande novidade. Outra falha gritante do roteiro tem relação com a trama, que se passa em 1969, e não há a mínima conexão do que aconteceu no passado para transformar aquele lugar em um local “maldito”.
Não há motivo para terem produzido um novo capítulo da franquia. Cemitério Maldito: A Origem tem as mesmas deficiências narrativas de Chamas da Vingança (2022), que também foi inspirado em uma obra de Stephen King. A dúvida que fica é se esse longa fará com que Cemitério Maldito receba mais continuações ou se simplesmente enterrou as chances de futuras sequências ocorrerem.
Cemitério Maldito: A Origem (Pet Sematary: Bloodlines, EUA – 2023)
Direção: Lindsey Anderson Beer
Roteiro: Lindsey Anderson Beer, Jeff Buhler
Elenco: Jackson White, Natalie Alyn Lind, Forrest Goodluck, Isabella LaBlanc, Henry Thomas, David Duchovny, Samantha Mathis
Gênero: Fantasia, Terror
Duração: 87 min
Crítica | Assassinos da Lua das Flores - É mais um filmaço da carreira de Scorsese
Martin Scorsese é um dos grandes diretores da história do cinema. Não é exagero afirmar isso, uma vez que suas obras notáveis são sempre lembradas pelo público como produções de qualidade ou servem de referência para novos diretores construírem suas narrativas.
Clássicos atemporais como Touro Indomável (1980) e Os Bons Companheiros (1990) são alguns dos longas fantásticos concebidos por Scorsese, que recebeu seu primeiro Oscar com o ótimo Os Infiltrados (2006). Ainda há espaço e tempo para que o cineasta filme novas e belas obras cinematográficas, como é o caso de Assassinos da Lua das Flores.
A trama trata de uma conspiração realizada em 1920 para assassinar membros da tribo Osage, que haviam se tornado ricos da noite para o dia ao encontrar petróleo em suas vastas terras. Também conta como o FBI utilizou o caso para dar mais força para J. Edgar Hoover e para o órgão americano recém-formado.
Scorsese acerta novamente em Assassinos da Lua das Flores
A adaptação do livro de David Grann (no Brasil lançado com o título de Assassinos da Lua das Flores: Petróleo, morte e a origem do FBI)traz à tona um tema amplamente conhecido, o genocídio indígena que ocorreu nos EUA. No entanto, a obra aborda essa questão de forma intrigante, evidenciando mortes suspeitas de membros da tribo Osage, em um conluio arquitetado por William Hale "King" (Robert De Niro) e Ernest Burkhart (Leonardo DiCaprio).
O roteiro escrito por Martin Scorsese e co-escrito por Eric Roth e se sobressai, apresentando a história do ponto de vista dos criminosos, algo não muito usual nas produções do gênero, mas que Scorsese já havia feito em Os Bons Companheiros e volta a trabalhar em Killers of the Flower Moon.
O cineasta já explorou temas urbanos e criminais em diversas ocasiões de sua carreira, e a violência é uma linguagem que ele domina na arte de contar suas tramas. Em Killers of the Flower Moon, essa habilidade é novamente destacada, uma vez que a violência se mostra rotineira na vida diária dessas pessoas. O plano arquitetado por William Hale e Ernest Burkhart para eliminar os indígenas também funciona como uma crítica contundente ao tratamento dado aos nativos americanos ao longo da história.
Os personagens de De Niro e de DiCaprio são equilibrados. O de De Niro se destaca por ser o verdadeiro vilão da história, enquanto o de DiCaprio desempenha o papel um homem que serve aos interesses de seu tio King e tem uma afeição especial por Mollie Burkhart - interpretada pela ótima Lily Gladstone.
Não é a primeira vez que Scorsese dirige um filme com Leonardo DiCaprio no elenco - e ao que parece não será o último -, tendo a parceria surtindo efeito com o já clássico Os Infiltrados e o ótimo O Lobo de Wall Street (2013), além de outras obras consagradas pela crítica. Possivelmente seu personagem em Assassinos da Lua das Flores é o mais sombrio de sua carreira, vivendo um homem sem escrúpulos e que comete crimes com frieza.
Scorsese foi questionado sobre o fato de fazer um filme lento, e houve muitas críticas devido à duração de 3 horas e 30 minutos da obra. Embora seja verdade que o longa tem uma trama que se desenrola de forma mais pausada, com muitos diálogos e pouca ação, não se torna em nenhum momento entediante. Surpreendentemente, as horas passam rapidamente, e o filme não parece tão longo quanto sua duração sugere. Scorsese continua a criar excelentes obras cinematográficas à sua maneira, sem se submeter a interferências de produtores, como ocorreu em Gangues de Nova York (2002).
Assassinos da Lua das Flores pode não ser a melhor obra da carreira de Scorsese, mas mantém o alto padrão estabelecido por outros filmes do cineasta, como O Aviador (2004) e O Irlandês (2019). Se há um diretor que não tem em sua carreira nenhuma produção ruim esse diretor é Scorsese, embora haja equívocos ao longo de sua trajetória, algo que certamente não ocorre neste belíssimo filme, que pode em breve se tornar um clássico cinematográfico.
https://www.youtube.com/watch?v=T22WRjooZn4
Crítica | Dezesseis Facadas – É outro acerto da Blumhouse
O subgênero do terror slasher é algo que nunca sai de moda. Embora possa ter tido um período de baixa entre meados dos anos 2000, recentemente está experimentando um novo boom. Isso se deve ao ressurgimento de franquias populares que voltaram aos cinemas e se tornaram sucessos, como Halloween (2018) e Pânico (2022), Isso sem mencionar as produções que tentam reinventar o modelo, como A Morte Te Dá Parabéns (2017), que é uma das referências de Dezesseis Luas, dirigido por Nahnatchka Khan.
A obra do Prime Video é um deleite para os fãs de filmes de terror. É uma divertida e aterrorizante viagem no tempo, na qual a jovem de 17 anos, Jamie Hughes, interpretada por Kiernan Shipka (Riverdale), precisa escapar do assassino Sweet Sixteen Killer, que retorna após um longo hiato de 35 anos. Jamie Hughes, ao tentar fugir do assassino, entra em uma cabine fotográfica em um parque de diversões e é levada para os anos 80, onde fará de tudo para tentar mudar o passado e assim alterar o futuro.
O público em si não procura apenas qualidade narrativa ou mortes bem elaboradas nesse tipo de produção, procura também por doses de tensão e sustos, algo que alguns longas de terror recentes não proporcionam. O roteiro de Dezesseis Facadas tenta algo novo, que é fazer a protagonista ser levada para outra época e assim viver uma realidade diferente da sua. Isso causa até um humor espontâneo em certos momentos devido à estranheza que Jamie vivencia, como o fato de ser politicamente correta e ter que presenciar falas que não estão de acordo com a sua moralidade.
Essa ideia de explorar o choque cultural é bastante interessante, já que os anos 80 eram praticamente outro mundo. Imaginar como uma pessoa dos tempos atuais se comportaria em uma época tão diferente da atualidade adiciona profundidade à história e a torna menos convencional no gênero de terror. O roteiro pode criar um espaço para o desenvolvimento da personagem e reflexões sobre questões éticas.
A Blumhouse conquistou uma reputação sólida entre os entusiastas de filmes de terror, destacando-se como uma produtora que entrega produções de qualidade com roteiros inteligentes. Em Totally Killer (nome original), o terror em si pode não ser aterrorizante, mas desempenha com eficácia a função de gerar uma tensão constante no público. O assassino Sweet Sixteen Killer segue a estrutura clássica de construção de vilões dos slashers, não indo muito além de matar suas vítimas de forma sanguinolenta.
A cineasta Nahnatchka Khan ficou conhecida por seu trabalho no ótimo Meu Eterno Talvez, da Netflix. Desta vez, Khan demonstra sua destreza ao explorar de maneira inteligente o conceito de viagem no tempo, buscando inspiração no clássico De Volta para o Futuro (1985) e, ao fazê-lo, acrescenta profundidade à narrativa à medida que a história se desenrola.
Dezesseis Facadas segue a fórmula clássica dos filmes de slasher, incorporando elementos como a figura da Final Girl e a estética típica do gênero de terror. Mesmo com sua trama não evitando os clichês comuns a obras desse tipo, ainda assim é divertido acompanhar as situações nas quais a protagonista se envolve, gerando o sentimento de agrado no público.
Dezesseis Facadas (Totally Killer, EUA – 2023)
Direção: Nahnatchka Khan
Roteiro: David Matalon, Sasha Perl-Raver, Jen D'Angelo
Elenco: Kiernan Shipka, Olivia Holt, Charlie Gillespie, Lochlyn Munro, Troy Leigh-Anne Johnson, Liana Liberato, Nathaniel Appiah, Randall Park
Gênero: Comédia, Terror
Duração: 106 min