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Crítica | Star Wars: Visions – 1ª Temporada – Uma nova perspectiva para a saga

Após uma evidente saturação de Star Wars nos cinemas, entre uma nova trilogia e filmes derivados, a saga criada por George Lucas parece estar encontrando novas vozes e caminhos no mundo das séries. Depois do sucesso de The Mandalorian e as animações em 3D de Dave Filoni, uma das apostas mais ousadas da LucasFilm para a valiosa franquia acaba de chegar no streaming do Disney+: Star Wars: Visions, uma antologia de anime produzida por diversos estúdios japoneses.

Para analisar a obra completa mais a fundo, eu e o Matheus Fragata dividiremos a tarefa de escrever textos sobre todos os episódios da temporada.

Confira abaixo!

O Duelo

Para iniciar a antologia, nada mais apropriado do que uma boa dose de Akira Kurosawa, por mais óbvio que possa parecer. O Duelo coloca um pequeno e modesto vilarejo sob a mira de renascentes do Império, que logo invadem o local com Stormtroopers a fim de explorar os pobres habitantes. Felizmente, um valente guerreiro treinado pela Força está escondido entre a população, partindo de frente com uma sinistra Lady Sith.

O grande destaque da estreia é mesmo o traço visual. Sob a direção de Takanobu Mizuno, o curtíssimo episódio é excepcional em misturar os elementos de ficção científica da saga espacial com a arquitetura e textura rústica/feudal de longas japoneses, especialmente Ran e Os Sete Samurais, de Kurosawa. A estética preto e branco e até mesmo os ruídos de “película” garantem uma grande imersão na história; que é simples, mas perfeitamente funcional.

O embate que se segue entre o misterioso guerreiro da Força e a forasteira do Lado Sombrio é o grande destaque. Não só pela interação estimulante entre os dois (especialmente quando vemos a cor de ambos os sabres de luz), mas também pela inventividade nos golpes, lutas e o mecanismo peculiar da vilã para atacar o vilarejo. Um excelente episódio de estreia. – LN

Balada de Tatooine

Mudando radicalmente de tom e estética, Balada de Tatooine é uma aventura bem mais simples e ingênua. Aqui, acompanhamos algo que raramente vemos em destaque na saga Star Wars: uma banda, e não falo meramente do grupo de alienígenas da cantina, mas literalmente de um grupo musical com aspirações fortes ao rock n’roll. Tudo fica mais interessante quando um dos integrantes se vê na mira de ninguém menos do que  o caçador de recompensas Boba Fett, que pretende levá-lo como prêmio para o gângster Jabba, o Hutt.

É uma história igualmente simples e que se mantém ligada mais ao universo e a interação entre seus personagens. Infelizmente, nenhum dos integrantes da banda central é muito interessante, e é mesmo a figura icônica de Boba Fett (assim como sua incrível espaçonave) quem garante o maior destaque no episódio, além de protagonizar uma ótima sequência de ação que envolve uma perseguição pelo espaço. 

Dada a temática do episódio, Balada de Tatooine também é a oportunidade ideal de abordar a musicalidade que muitos animes adoram explorar em diferentes obras. O grande clímax do episódio troca os blasters e sabres de luz por um grande show musical na arena de Tatooine, onde o poder da música precisará convencer Jabba sobre suas decisões de executar ou não um dos membros da banda. Um pouco mão pesada e brega demais para o meu gosto, mas não deixa de ser um episódio divertido e com um bom ritmo. – LN

Os Gêmeos

Que viagem. De todos os episódios dessa primeira fase da antologia, o conflito de dualidade de Hiroyuki Imaishi talvez seja o experimento mais radical dos limites da linguagem de anime com a mitologia Star Wars. Na trama, acompanhamos um par de gêmeos criados pelo Lado Sombrio da Força para dominar a galáxia: Am e Karre. No episódio em que os encontramos, porém, é justamente quando um grandioso duelo acontece entre os dois.

De muitas formas, Os Gêmeos consegue conversar com Star Wars tanto pela superfície quanto pela temática. É uma história sensacional que consegue abordar diferentes cantos da mitologia da Força, até mesmo se saindo bem em aprimorar uma ideia defeituosa do problemático A Ascensão Skywalker (no caso, a díade entre Rey e Kylo Ren), e também brincar com a temática de gêmeos vista naquela entre Luke Skywalker e Leia Organa e até pintar uma bela representação visual com o pôr do sol binário de Tatooine.

E falando em visual… Não só Imaishi consegue resgatar alguns dos desenhos conceituais mais primordiais de Ralph McQuarrie para o primeiro filme de George Lucas (vide o espetacular design da máscara de Am, remanescente de Darth Vader), mas também reinventar momentos cinematográficos da saga em uma linguagem vibrante e com desenhos de encher os olhos: seja de chicotes de luz, cristais kyber sendo usados para cortar cruzadores espaciais e até mesmo uma memorável homenagem ao golpe de hyperdrive introduzido por Rian Johnson em Os Últimos Jedi. Um verdadeiro deleite visual.

De todos os episódios da antologia, este é o que mais me provocou vontade em continuar seguindo seus personagens. – LN

A Noiva Aldeã

Após três episódios de ritmo quase frenético e intensos, A Noiva Aldeã pisa no freio para um episódio bem mais contemplativo e de ambições estranhamente poéticas. Na trama, acompanhamos dois Jedi que se escondem em um planeta ameaçado por remanescentes dos Separatistas (os principais antagonistas da trilogia prelúdio da saga). O grande conflito é se a Jedi aprendiz vai se revelar a fim de salvar a filha de o aldeão, que está sendo usada como caução para o líder dos separatistas.

Infelizmente, demora até que o episódio de Hitoshi Haga alcance todo o seu potencial. Os personagens têm um bom design e, pessoalmente, adoro a ideia de explorar os droides de batalha sobressalentes da trilogia prelúdio como vilões, mas o roteiro focado na noiva aldeã do título não vai muito além de estereótipos de fábulas de princesas e samurais. E é uma questão de gosto, mas nunca fui fã da técnica de animação que mantém uma imagem “congelada” e apenas movimenta elementos de apoio.

O episódio consegue fazer a visita em seus minutos finais, quando a Jedi protagonista enfim toma uma decisão impactante, resultando em uma bela e bem orquestrada sequencia de ação. Ainda assim, um dos pontos baixos da antologia até então. – LN

O Nono Jedi

Diretamente da mente de Kenji Kamiyama, responsável pelo elogiado anime Ghost in the Shell: Stand Alone Complex, O Nono Jedi é atualmente o episódio mais elogiado da temporada.

Trazendo uma história simples na qual um misterioso homem convoca Jedis ao redor das galáxias para serem presenteados com sabres de luz, o episódio funciona muitíssimo bem e poderia facilmente render um filme completo. Muito coeso e bem cadenciado, o episódio de pouco mais de vinte minutos consegue prender o espectador. 

Contando com uma boa reviravolta, inclusive expandindo o lore sobre como os sabres de luz podem funcionar, o episódio termina repleto de ação e com diversas pontas soltas para serem exploradas nas próximas temporadas. Ainda conta com os clichês clássicos de Star Wars, mas não chegam a incomodar – há elementos parecidíssimos com Rogue One aqui. – MF

T0-B1

Inspirado muito por Astro Boy, incluindo no design do personagem-título do episódio, T0-B1 é um dos episódios mais fracos e bobinhos da temporada, embora tenha sua parcela de profundidade com algumas reviravoltas óbvias. 

O diferencial do episódio é trazer a história desse droide que é fissurado em se tornar um Jedi. Apresentando conceitos novos como mostrar um ser artificial sensitivo à Força em uma narrativa um tanto apressada, o episódio não deve conquistar espectadores um pouquinho mais velhos, afinal se trata de uma das histórias mais infantis da temporada.

Um conto que mistura o anime já citado com Pinóquio. O conceito é original, mas é uma pena que esteja fadado a uma história ligeira com personagens ingênuos demais. – MF

O Ancião

Um dos episódios melhores animados, com traços clássicos de animes mais, digamos, delicados, O Ancião é uma boa história centrada na relação de um mestre Jedi com seu padawan partindo a um planeta longínquo da Orla Exterior após sentirem uma forte perturbação na Força.

Apesar de não ser propriamente uma história de detetive, há uma aura muito presente de suspenses protagonizados por duplas de policiais o que me levou a desejar muito uma história de investigação Jedi com os personagens caçando um serial killer Sith. 

Não é o caso, apesar das pinceladas no tema. O foco fica na ação samurai clássica, assim como vista em grandes obras de Kurosawa e Kobayashi. Há muita história para ser explorada aqui, mas infelizmente muitas coisas ficam na sugestão.

Também trata-se de um ótimo piloto para uma série focada na relação dos personagens que cativam bastante. – MF

Lop & Ocho

Lop & Ocho provavelmente talvez seja o episódio mais anime da temporada inteira. Com a representação nipônica mais forte, a história cativa pelos destinos separados que as irmãs Lop e Ocho trilham em seus caminhos individuais. Uma tentada pela Luz e outra pela Sombra.

Assuntos como família reverberam bastante, incluindo a força da amizade tão presente em animes shonen como Naruto. A animação é realmente espetacular e conta com um filtro granulado bastante estilizado conferindo uma atmosfera única. 

Embora a cisão entre as personagens aconteça muito rapidamente e seja uma repetição de diversas histórias de “resgatar fulano do Lado Nego” que já vimos tantas vezes na franquia, trata-se de uma boa história que, regada com os elementos nipônicos, cativa bastante. O problema, que é algo que permeia praticamente toda a temporada, é o final aberto. 

Fica a sensação que as produtoras estavam tentando fazer pitches para a Disney encomendar novas séries oriundas desses episódios. – MF

AKAKIRI

Fechando a temporada, AKAKIRI é um episódio um tanto desafiador pela estética do traço, bem mais simplista lembrando as técnicas utilizadas em Devilman Crybaby. A história fica muito na sugestão e não possui muita substância ao acompanharmos um cavaleiro Jedi indo ao encontro de uma princesa na busca de restituir a ordem monárquica em um planeta após um golpe de estado. 

Repetindo basicamente o mesmo arco de Anakin e Padmé na trilogia prequel, não há nada de realmente novo nessa história além da estética. Extremamente curto para uma história relativamente densa, AKAKIRI pelo menos traz iterações diferentes de C-3PO e R2-D2 nas figuras dos guias que acompanham os protagonistas. 

É funcional, mas certamente um dos mais fracos, além de contar com o final aberto mais sem sentido da temporada inteira. – MF

Star Wars: Visions – 1ª Temporada (EUA/Japão, 2021)

Showrunner: Kanako Shirasaki
Direção: Eunyoung Choi, Abel Gongora, Hitoshi Haga, Yuki Igarashi, Hiroyuki Imaishi, Kenji Kamiyama, Taku Kimura, Takanobu Mizuno, Masahiko Ôtsuka
Elenco (EUA): Andrew Kishino, Jaden Waidman, Alison Brie, Kyle Chandler, Temuera Morrison, Jamie Chung, Karen Fukuhara, Neil Patrick Harris, Henry Golding, Joseph Gordon Levitt, Kimiko Glenn, David Harbour, Simu Liu, Masi Oka, James Hong, Brian Tee, George Takei
Gênero: Aventura, Ficção Científica
Streaming: Disney+
Episódios: 10
Duração: 15-20 min

 

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Publicado por Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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