Crítica | A Mula - Clint Eastwood em grande estilo
Clint Eastwood é um dos grandes atores de sua geração. Em seu currículo há trabalhos fascinantes, tanto no campo da direção quanto no da interpretação. Filmes como Os Imperdoáveis e As Pontes de Madison, produções diferentes em que Clint dirigiu e atuou magnificamente, dando maior profundidade para a história e criando um elo perfeito com o telespectador, são filmes que o diretor mostrou todo o seu talento no jeito de criar uma bela história que tenha elementos cativantes em fisgar o público. A Mula é dessas tramas que podem parecer simples em um primeiro momento, mas que são muito mais do que o apresentado. Não é apenas um relato sobre o tráfico, há algo a mais nele, até porque quem está na direção e está o protagonizando é o mestre Clint Eastwood.
Na trama, Earl Stone é um idoso que tem entre suas paixões os lírios, tal flor é uma de suas belezas em uma vida envolta a dramas não resolvidos com sua filha e sua ex-esposa. No meio dessa questão familiar aparece a oportunidade de trabalhar como mula para o tráfico, fato que o idoso aceita a rigor. Earl encontrou um jeito de conseguir dinheiro com facilidade, mas isso é apenas um fator a mais para que se sinta hábil para algo a mais.
É uma produção que tem como tema central a investigação, por parte dos policiais acerca de tentar encontrar os responsáveis pelo tráfico, e por parte de Earl, em suas idas e vindas, em levar o tráfico até seu destino final. Há uma divisão em relação a narrativa, em primeiro momento ao abordar o drama pessoal do idoso e depois em desenvolver toda a história colocando os policiais em ação e mostrando os métodos dos traficantes em conseguir seus objetivos. Do segundo para o terceiro ato há uma descompensação em relação a narrativa, justamente porque Clint está interessado em criar a trama de Earl e se aprofundar em outras questões para só depois voltar para o seu relacionamento familiar, algo que havia tido bastante destaque de início, mas que depois foi meio que deixado de lado.

O tráfico de drogas é algo que ganha cada vez mais destaque nas produções americanas desde que Breaking Bad estourou com essa temática. Não que o tráfico não tivesse sido abordado antes em outras produções, mas atualmente há muito mais interesse em focar em situações humanas e que mostrem a truculência dos traficantes e suas artimanhas. No caso de A Mula o foco é mostrar um senhor de idade avançada sendo o leva e traz dos carregamentos e não o cara que faz tudo, como ocorre em Breaking Bad, em que Walter White era o produtor de drogas. A motivação para Earl entrar nessa poderia ter sido melhor trabalhada, ele caiu nessa situação meio que sem querer, mas mesmo assim Clint Eastwood poderia ter perdido mais alguns minutos encorpando a circunstância.
Apesar do roteiro simples, Clint entrega um filme que deixa sua mensagem. Primeiro, obviamente, é que o crime não compensa, algo que está bastante óbvio, até pela investigação dos policiais e pelo seu final. Segundo é a questão da família e do drama do personagem principal, algo que Clint já trabalhou em alguns de seus filmes, mas que aqui está muito mais presente e aprofundado. O drama de Earl envolve muito mais que a falta de afeto, mas também a solidão e o jeito que tratou sua família no passado.
Todo o filme lembra bastante um episódio da série da Netflix Narcos, mais especificamente a versão mexicana que mostrava o tráfico de drogas no país que faz fronteira com os EUA. Mas há uma diferença que é justamente no tom em que Clint Eastwood escolhe para contar a história. Prefere fazer algo mais sensível, trabalhado e mais leve que fazer algo extremamente violento e didático, algo que Narcos: México fez de forma acertada. Claro que todo o roteiro foi trabalhado pensando no personagem de Earl Stone e nada disso teria ficado, possivelmente, bom sem a atuação marcante de Clint Eastwood.

É uma interpretação que parece ser a despedida de Clint do cinema. Não apenas por interpretar um idoso com problemas familiares, mas justamente pelo drama empregado, os diálogos, tudo parece ser direcionado para uma despedida. Muitas das interpretações de Clint Eastwood no cinema ficaram na memória do telespectador, mas esta, em especial, irá marcar bastante. Diferente do papel que fez em Gran Torino, em que vivia um homem amargo, aqui faz um homem que se não é feliz pelo menos tem um senso de humor e que luta para voltar aos dias atuais e tentar se redimir de seus atos.
O elenco de suporte de A Mula é algo que impressiona. São estrelas do quilate de Bradley Cooper, Laurence Fishburne e Michael Peña que fazem o papel de personagens que estão do outro lado da lei, no caso, os investigadores. Infelizmente não há muito destaque acerca destes personagens, apenas no terceiro ato começam a ganhar alguma relevância, mas mesmo assim é são papéis pequenos em relação ao que realmente poderia ter sido feito. Possivelmente por Clint Eastwood não querer algo que fosse mais investigativo e corrido e que fosse mais centrado em Earl que o diretor acabou por tirar o peso da parte policial. Mas mesmo assim, sem aparecer muito, tanto Michael Peña quanto Bradley Cooper estão ótimos em seus papéis.
Não é o melhor filme em que Clint Eastwood atuou, mas está sim entre os papéis mais interessantes de sua carreira. Tira a aura de homem truculento e sério e deixa um ar mais humano e realista para um homem que viveu de tudo no cinema, desde homens durões a personagens sem expressão alguma de felicidade. É uma produção muito bem dirigida, na realidade é uma de suas melhores direções em tempos, muito melhor, que por exemplo, o fraco 15h17 - Trem Para Paris. Não se sabe se é uma despedida de Clint Eastwood dos cinemas, mas se for é uma despedida que fecha com chave de ouro o seu ciclo.
A Mula (The Mule, EUA – 2018)
Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Nick Schenk, Sam Dolnick (Inspirado no artigo do New York Times)
Elenco: Bradley Cooper, Clint Eastwood, Manny Montana, Michael Peña, Taissa Farmiga, Andy Garcia, Laurence Fishburne, Alison Eastwood, Jill Flint
Gênero: Crime, Drama, Thriller
Duração: 116 min
https://www.youtube.com/watch?v=MvD6O31R32g
Crítica | Escape Room - Escape deste filme
Brinquedos ou atrações turísticas já foram muito utilizados por Hollywood para criar histórias acerca destes ambientes. Um grande exemplo de sucesso a ser mencionado é o brinquedo Piratas do Caribe, localizado no parque Magic Kingdom, no Walt Disney World Resort em Orlando, Flórida e que deu nome a franquia de sucesso estrelada por Johnny Depp. Algo semelhante, possivelmente, pode acontecer com o longa Escape Room (Adam Robitel), em que a idéia original vem justamente dos locais com esse nome em que a pessoa tem acesso a uma sala temática e que precisa sair para poder vencer o jogo, cada sala com um objetivo distinto.
Com essa temática envolvendo tantos ambientes é possível se ter uma noção do que vem pela frente. Na trama, os personagens são chamados para participar de um jogo através de um cubo enigmático. Chegando ao local cada participante se vê participando de desafios macabros e cruéis e precisam juntos, tentar sair dos diferentes ambientes com vida.
Na realidade, Escape Room se prende bastante em fórmulas do gênero de terror e que já deram certo anteriormente em outras produções. A primeira lembrança que vem a cabeça quando se assiste ao filme é que ele é muito parecido com a franquia de tortura Jogos Mortais, em que pessoas também eram atraídas para algum lugar e precisavam passar por diversas armadilhas para tentar sobreviver. Só que Jogos Mortais havia uma motivação pela qual o vilão matava todo mundo, algo que não é encontrado em Escape Room.
Toda estrutura narrativa, na verdade, lembra demais Jogos Mortais, com a diferença que em Escape Room há um jeito de tentar seguir os personagens desde a escolha para participarem do jogo. A partir do momento que se encontram na primeira sala, tudo, absolutamente tudo fica completamente igual. Desde o jeito de fugir das salas até o momento de descobrir que cada um dos participantes tem algo de imoral ou secreto e que não foi repartido com os outros do grupo, isso torna tudo o que é apresentado em algo tão óbvio que chega a ser cansativo de assistir.
Outra possível referência do diretor foi o filme O Cubo (Vincenzo Natali) em que também um grupo de pessoas se encontra preso em um misterioso cubo com múltiplas salas e precisam sair do lugar com vida. Essa referência do longa de Vincenzo Natali se encontra no tal cubo que os participantes recebem logo de início em Escape Room.

A idéia de criar algo novo e ficar preso na estrutura narrativa de um formato que já é sucesso torna a história, em primeiro momento, em algo nada original e completamente superficial. Não apresenta nada de novo, o filme inteiro é a mesma coisa a todo instante. Há outro lado nisso, por o público já conhecer essa estrutura acaba fazendo com que tenha maior assimilação pelos telespectadores no que vai acontecer, e em alguns momentos fazendo com que coisas diferentes ocorram para que nem tudo fique tão óbvio, mesmo que esteja na cara que tudo o que está acontecendo é muito parecido com algo já visto anteriormente em outra produção do gênero.
Não há uma profundidade na trama, o que o faz soar bastante falso e óbvio nas ações que surgem pelo caminho e também em sua violência psicológica. Tudo é feito para que o público tenha a maior assimilação possível com o que está vai sendo transmitido, o que de certa forma é um acerto, já que a ideia é conseguir uma bilheteria polpuda e uma trama de fácil degustação ajuda com que isso ocorra. Não são criadas subtramas que fariam com que a atenção da história principal se perdesse pelo caminho, tá aí um dos principais motivos em não apresentarem o vilão logo de cara e de ficarem apenas em cima do que os personagens estão fazendo.
Uma artimanha utilizada pelos roteiristas Bragi F. Schut (Caça às Bruxas) e Maria Melnik em relação aos personagens é o de atribuir flashbacks que faziam entender melhor quem eram aquelas pessoas no passado, já que todos haviam aparecido quase que do nada e nada sobre o passado de suas vidas havia sido apresentado. Esses flashbacks ajudam a dar um direcionamento em relação aos segredos que cada um carrega e para tentar dar a tal profundidade maior na história.
Os diálogos também são bem simples, fazendo com que o público entenda rapidamente a trama e os acontecimentos que vão se desenrolando nas salas. Em alguns momentos a didática da fala destes personagens lembra bastante ao que é mostrado em novelas, em que o personagem fala o que vai fazer e é necessária uma ação deste mesmo para dar um embasamento no que foi dito.

O final é algo que poderia ser mais bem trabalhado. Tentam em um primeiro momento apresentar um vilão e depois o apresentam, mas não entregam quem é esta pessoa por trás de todo o esquema. É muito mistério para não apresentar nada de relevante. Vale apenas para mostrar o sistema complexo por trás da criação das salas e das armadilhas, algo que também já havia sido mostrado em Jogos Mortais, mas com maior aprofundamento.
Apesar de ter alguns dos personagens mortos durante o trajeto para sair das salas, não são mortes impactantes, sangrentas ou cruéis, por sinal, sangue é algo que dificilmente se vê no longa. Quando parece que algo muito violento vai acontecer o diretor dá uma tirada no pé da ação. Isso explica porque as salas com armadilhas, apesar de impressionar, não prendem a atenção. Não há suspense nem terror, algo que engana um pouco, pois o telespectador ao assisti-lo procura justamente estes elementos.
Com uma premissa bastante simples e de fácil entendimento, Escape Room é uma produção que faz a mesma coisa que muitos longas de terror fazem, mas de uma forma mais suave e com uma ação mais ágil que o comum, e ainda acrescenta pequenas doses de sangue e muito desespero. Serve para um público ávido por filmes do gênero e que ficaram órfãos da franquia Jogos Mortais.
Escape Room (Escape Room, EUA – 2019)
Direção: Adam Robitel
Roteiro: Bragi F. Schut, Maria Melnik
Elenco: Taylor Russell, Logan Miller, Jay Ellis, Tyler Labine, Deborah Ann Woll, Nik Dodani, Yorick van Wageningen
Gênero: Ação, Aventura, Thriller
Duração: 94 min
https://www.youtube.com/watch?v=6dSKUoV0SNI
Fato x Ficção | O que realmente é verdadeiro em Green Book - O Guia
Green Book vem gerando muitas discussões pela internet acerca do que é real ou não no filme. Por ser uma produção adaptada da vida de dois personagens reais é comum que algumas mudanças sejam feitas. Há pequenas mudanças realizadas com o que de fato ocorreu, mas são coisas que não mudam em nada a trama. Abaixo iremos fazer uma análise do que realmente ocorreu ou não e se é mostrado acertadamente no filme.

Don Shirley e a carreira na música clássica
Algo que é mostrado no filme e que realmente ocorreu na realidade é em relação ao produtor e empresário, Sol Hurok, que disse a Shirley, no período que tinha pouco mais de vinte anos, que ele não seguisse carreira na música clássica. Segundo Hurok o público americano não aceitaria tão bem um pianista "colorido" tocando no palco. Sol argumentou para Shirley que seria melhor para ele seguir carreira no jazz e na música pop.
Shirley se apresentou por diversas cidades como solista utilizando sinfonias, mas com o tempo acabou levando o que Hurok disse em conta. Acabou por misturar jazz com música clássica e outras variedades de pop, assim criando seu próprio estilo musical. Obviamente que por causa dessa decisão, Shirley acabou tocando, na maioria das vezes em boates, algo que não gostava de fazer por acreditar que o público desses locais não apreciavam sua música. Também não gostava da maneira que os cantores de jazz se comportavam no palco, ou colocando o copo de uísque em cima do piano ou fumando enquanto tocavam.

Tony Lip e o racismo antes de viajar com Don Shirley
Sim, o Tony Lip (Viggo Mortensen) do longa foi realmente por esse caminho. De início foi apresentado como um homem racista, mas depois foram apresentando a mudança do personagem. Algumas cenas mostram como Lip era antes da viagem acontecer. O momento em relação a carteira deixada no carro por Tony Lip, em que volta para pegar com medo que Shirley a roubasse. Há ainda cenas em que Tony utiliza de insultos raciais em alguns momentos, e claro, há também a cena logo no início em que joga copos de dois trabalhadores negros que haviam bebido algo neles no lixo. Há também o momento em que Lip fala que comida Shirley deve comer, fazendo suposições raciais a respeito. Segundo o filho de Tony, Nick Vallelonga todo esse racismo foi embora depois que a viagem começou.

Don Shirley viveu sob o Carnegie Hall?
Isso também é verdade. Em Green Book, Don Shirley viveu por mais de 50 anos em um dos locais preparados para artistas em cima do Carnegie Hall. O músico sonhava em tocar no palco do Carnegie, tocando suas melodias ali criadas. Shirley chegou a tocar no Carnegie Hall com o trio que o acompanhava uma vez por ano.

O significado do Green Book
O filme Green Book teve seu nome tirado do livro The Negro Motorist Green Book, ou como ficou conhecido popularmente como The Green Book, que nada mais era que um guia para os motoristas afro-americanos sobre os locais, em outras cidades, que ofereciam serviços para negros, como restaurantes e hotéis. Os detentores do green book também encontravam informações em relação as cidades que proibiam os negros de sair durante a noite. No filme, há uma cena em que Tony Lip e Don Shirley visitam uma dessas cidades.
O criador do guia foi um homem chamado Victor H. Green e foram colocados à venda nos postos de gasolina, onde chegavam a vender mais de 10 mil cópias por ano. A primeira publicação do green book aconteceu em 1936 e continuou a ser publicado nos próximos 30 anos seguintes. Isso é algo que foi mostrado com clareza no longa, onde os dois protagonistas usam um livro verde para viajar para o Sul dos EUA.
Tony Lip, Don Shirley e o piano Steinway
A viagem entre Don Shirley e Tony Lip durou cerca de um ano e meio, mas no longa é apresentado como se a viagem tivesse durado apenas dois meses. Essa foi uma decisão do roteiro e da direção para que pudesse ter mais ação e acontecimentos em cidades diferentes.
O piano Steinway também teve um destaque no longa e o fato relacionado ao instrumento musical e mostrado no filme aconteceu mesmo. Segundo Lip, ele abriu o piano e encontrou ossos de galinha no piano e começou a discutir que não faria o show se não tivesse um Steinway no local, algo complicado já que um piano igual não se encontrava com facilidade na região. Mas depois de muita insistência Lip conseguiu o que queria.
A turnê de Don Shirley
Outro fato apresentado no longa e que aconteceu mesmo foi em relação a Don Shirley ter tocado em locais apenas para brancos, mais especificamente em teatros. A turnê em direção ao Sul foi contratada pela Columbia Artists, a empresa de Shirley. A segurança era um grande problema, pois enquanto Don Shirley tocava havia a possibilidade dele ser agredido enquanto trabalhava, algo que aconteceu com outro artista e é mencionado no longa. Em 1956, o músico Nat King Cole foi agredido no palco enquanto tocava para um público composto apenas por pessoas brancas.
Fato x Ficção? | O que é verdadeiro em A Favorita?
Yorgos Lanthimos criou um filme de época que surpreendeu a todos pela qualidade apresentada. Primeiro pela bela fotografia e ótima direção de Yorgos, segundo pelas atuações fantásticas de Emma Stone, Olivia Colman, Rachel Weisz que seguram o filme com facilidade. Assim como todas produções que falam sobre períodos históricos acontece das pessoas se perguntarem se aquilo que foi mostrado é realmente verdade. Aqui iremos falar dos principais pontos apresentados no longa.
Rainha Anne Doente
Sim, isso é algo que realmente aconteceu. A Rainha Anne lutou contra a gota, doença que gerava uma grande dor nela, e a fez engordar por causa de seu sedentarismo como estilo de vida. Ela foi levada pelo corredor do palácio ou com uma cadeira ou com cadeira de rodas, algo mostrado no filme. Tal problema era algo bastante desgastante para a Rainha, já que ela tinha muitos assuntos relevantes a discutir. Mas não apenas de gota Anne sofria, tinha também um problema nos olhos que faziam lacrimejar excessivamente.
Quando a gravidez da Rainha isso é algo que também aconteceu. Anne ficou grávida por 17 vezes, sendo que em 12 delas acabou tendo ou em aborto ou tendo filhos natimortos. Dos cinco filhos que conseguiu dar a luz com vida, quatro acabaram morrendo antes do segundo ano de vida. O único filho que sobrou, o Príncipe William, conhecido como Duque de Gloucester, acabou morrendo aos 11 anos de idade, no ano de 1700.
Lady Sarah e a influência sob a Rainha Anne
Sarah Churchill e Anne se conheceram ainda quando crianças, Sarah tinha 13 anos e Anne 8. O primeiro encontro entre as duas ocorreu na corte de Carlos II, tio de Anne. O pai de Sarah e o pai de Anne, James II, eram amigos. Sarah se tornou amiga íntima de Anne por volta de 1675 e a amizade das duas se estreitou ainda mais quando Anne se tornou Rainha, em 1702, e assim Sarah se tornou o braço direito de Anne.
Dessa forma é fácil imaginar que com a amizade entre as duas que Sarah tivesse uma influência sob Anne, algo mostrado no filme e que realmente aconteceu. Sarah Churchill cuidava das finanças e do círculo social de Anne, além de ser conhecida por todos pela honestidade que tinha com a Rainha. Sarah era procurada por todos para conceder conselhos. Anne era considerada uma mulher tímida e tinha dificuldades com conversas improvisadas, algo que não acontecia com Sarah, que era considerada mais inteligente que a Rainha.
No filme A Favorita é mostrado dois acontecimentos que abrangeram o reinado de Anne, a criação de um sistema parlamentar bipartidário, o envolvimento da Inglaterra na Guerra da Sucessão Espanhola e um último fato que não foi notificado no longa, mas teve destaque no reinado de Anne, que foi em relação a unificação da Inglaterra com a Escócia e assim se tornando um reinado com o nome de Grã Bretanha.
O início da treta entre Sarah e Anne
Anne defendia com unhas e dentes os conservadores, que eram apoiadores da Igreja Anglicana. Sarah se tornou defensora do grupo rival, os liberais Whigs, isso por causa do seu apoio da Inglaterra na Guerra da Sucessão Espanhola, algo mostrado no filme. O marido de Lady Sarah era um capitão do exército e havia participado de várias vitórias no campo de batalha.
Eis que Lady Sarah, até então a favorita da Rainha, não foi em alguns momentos ao tribunal, algo que enfureceu Anne. Esse ato aliado ao com o aparecimento e adoração de Anne por Abigail Hill, a criada trazida por Sarah que começou a ganhar espaço no palácio. Anne começou a gostar mais da abordagem de Abigail, mais serena em relação ao comportamento mais explosivo de Sarah.
Relacionamento sexual entre Anne Sarah e Anne e Abigail
Esse é um fato de difícil comprovação. Havia rumores de que Lady Sarah e a Rainha Anne se relacionavam sexualmente, e que havia algo também entre Anne e Abigail. O longa utiliza desse amor entre as três para desenvolver a briga entre Sarah e Abigail, mas o filme não cita o marito da Rainha Anne, o príncipe George da Dinamarca, foi com ele que Anne engravidou por 17 vezes. Há relatos de biógrafos que dizem ser a Rainha uma mulher de grande moral e que era bastante dedicada a George.
Sarah era casada com John Churchill, com quem teve sete filhos. Lady Sarah teria feito circular pelo reinado um poema bastante picante que teria sido escrito por Arthur Mainwaring. Tal poema seria uma comprovação de que havia um relacionamento lésbico entre a Rainha e Abigail Hill. Alguns historiadores relatam que Sarah teria feito isso por ter ciúmes de Anne, já que Abigail estava começando a se tornar a nova favorita da Rainha.
Tal poema serviria para acusar a Rainha e assim fazer com que Anne cortasse relações com Abigail ou, em um segundo momento, perdesse a coroa, o que poderia fazer com que Sarah pudesse vir a se tornar Rainha. Atualmente, muitos acabam por dizer que Anne tinha um relacionamento sexual com Sarah e Abigail.

O Futuro de Abigail e de Lady Sarah
Como mostrado no filme, Lady Sarah realmente deixou a Inglaterra, Mas Sarah retornou para o país no mesmo dia que a Rainha Anne morreu, no dia 1 de agosto de 1714. Os conservadores que haviam ficado forte quando a Guerra da Secessão Espanhola caiu em desgraça com o público britânico, fato que corroborou para a expulsão de Sarah e do marido da Inglaterra, fez com que os conservadores começassem a perder fôlego, então os Whigs de Sarah e o marido se tornaram parte dominante no parlamento inglês. O sucessor de Anne foi George de Hanover, e Sarah, antes de sua morte, se tornou novamente a favorita de uma rainha, agora de Caroline, esposa do rei George II.
Abigail realmente ficou no lugar de Sarah, após essa ser expulsa da Inglaterra. Só que a Rainha Anne acabou ficando mais sorrateira com Abigail, justamente por já ter caido em armadilhas com a própria Sarah e também por não querer ser dominada ou influenciada. Anne também não estava muito afim de fazer com que Abigail subisse de status social, justamente por medo que Abigail fosse embora e a deixasse sozinha. Logo após a morte da Rainha Anne, Abigail Masham e seu marido acabaram sendo expulsos da casa que tinham no palácio. Samuel comprou uma casa próxima a Windsor, enquanto Abigail se retirou para mais longe. Abigail morreu no ano de 1734.
Sarah Churchill e o parentesco com Winston Churchill
O nome já e isso é verdade. Lady Sarah tinha um parentesco com Winston Churchill. Isso se deve a linhagem de Sarah ter se ficado por tanto tempo na política da Inglaterra. Algo que poucos sabem é que Sarah também tem parentesco com Lady Diana Spencer, a Princesa Diana, mas isso pela filha de Sarah, Anne Churchill que teve um filho chamado John, o pai de Diana. Anne recebeu o nome Spencer de casada, por isso seu filho se chama John Spencer.
Mortal Kombat 11 | Primeiras Impressões do Game
Ocorreu em São Paulo, na quinta-feira (31), um evento de divulgação do novo Mortal Kombat 11. O local escolhido para a divulgação foi perfeito, pois casou direitinho a ideia do que é apresentado em Mortal Kombat. O lugar foi a Casa das Caldeiras, praticamente em frente ao estádio do Palmeiras, na zona oeste de São Paulo.
A organização do evento colocou a disposição da imprensa e de diversos influencers digitais cerca de 100 monitores com o jogo instalado para que todos pudessem ter a experiência de testar o game. Houve ações muito interessantes, como show, cosplayers e campeonatos de Mortal Kombat.
A data oficial de lançamento do game no Brasil será no dia 23 de abril e demos uma conferida antecipada e vamos contar para vocês as nossas primeiras impressões do jogo.

Análise
Obviamente que os fãs costumam comparar quando uma versão nova de uma game é lançada, ainda mais se tratando de uma franquia de tanto sucesso como é caso de Mortal Kombat. E caso os fãs façam isso irão se decepcionar um pouco, pois Mortal Kombat 11 não entrega a qualidade que, por exemplo, Mortal Kombat X conseguiu entregar.
Apenas a modalidade de luta estava disponibilizada para se jogar no evento, podendo lutar ou contra o computador ou contra uma pessoa que escolhesse ser o player 2.
A primeira impressão ao jogá-lo foi em relação a jogabilidade. Como em todo Mortal Kombat a porrada flui facilmente entre os personagens, com alguns golpes fáceis de serem dados e outros com um pouco mais de prática para que possam sair. Em alguns momentos há a impressão que os personagens estão mais duros de serem manejados, algo que incomodou um pouco, pois a agilidade na hora da luta é algo que ajuda a deixar o game mais interessante.
É possível notar uma diferença que já havia sido colocada em prática em MK XL que já havia abandonado, nos fatalities, os golpes que em câmera lenta destruíam os ossos do oponente. Em Mortal Kombat 11 há golpes, durante a partida, que dão o efeito dos ossos quebrando, mas até então só isso. Os fatalities estão bastante sanguinolentos e violentos como os fãs da franquia estão acostumados a presenciar. Sonya, por exemplo, dá um fatality em que joga o adversário para o alto, enche de tiros até que o oponente passe por uma hélice de helicóptero que está no ar. Há um outro fatality que Skarlet arranca a espinha do oponente. Mais cruel que isso é impossível.
Algo que deixou bastante perplexo foi em relação aos gráficos apresentados, de qualidade inferior aos anteriores, são gráficos bastante simples, sem mudar muito o que havia sido apresentado em MK XL. Claro que isso não tem relação com o aspecto físico dos personagens e sim com o gráfico em si mesmo. Parece que tentaram fazer algo mais moderno, tentando dar mais toque de realismo para o que era apresentado. Se essa foi a ideia o tiro saiu pela culatra, porque toque de realismo não há com os gráficos apresentados até então.
Os ambientes mostrados também foram bem seletos, apenas 3 puderam ser escolhidos. São cenários de luta interessantes, mas nada que impressione o gamer. Tais arenas de luta tentam reproduzir ambientes sombrios e que lembram um local de horror. Há a possibilidade de usar alguns objetos do cenário para bater em seu adversário, mas o que foi apresentado nessa primeira versão do game foi algo bastante limitado, e alguns objetos que podiam ser pegos não causavam o estrago necessário que um fã da franquia está acostumado.

Personagens
A versão liberada para jogar no evento foi uma edição bastante limitada, com apenas sete jogadores disponíveis para escolher. Dentre eles estavam alguns dos personagens clássicos e uma estreia que é a de Geras, um homem com força sobre humana e que lembra bastante Jax. Além dele jogamos com Sonya, Skarlet, Scorpion, Sub-Zero, Raiden e Baraka.
Dentre os lutadores que escolhemos para jogar os que mais impressionaram e se sobressaíram em relação aos concorrentes foram Skarlet, Baraka e Scorpion. Baraka realmente está ignorante e brutal, cada soco seu arranca uma grande quantidade de vida do adversário. Skarlet não tem a força física de Baraka, mas nem por isso é menos letal. Suas magias invocando ao que parece sangue, consegue causar grandes danos nos oponentes, além da personagem contar com uma espécie de foice bastante potente. Mas o melhor mesmo é Scorpion, que com seus ganchos arremessados e sumindo para aparecer nas costas do adversário se mostrou um personagem realmente apelão. Se o jogador souber manuseá-lo não terá oponente que o vença.
A decepção ficou por conta de Raiden, que se limitava a jogar raios e fazer as mesmas coisas que os outros MKs. Sonya é uma boa lutadora, mas é necessário saber jogar com ela, digamos que não foi nada fácil jogar com ela de início. Geras, o novo combatente se mostrou um pouco lerdo e com poderes irrelevantes.
Todos esses lutadores escolhidos tem os seus prós e contras, mas se o gamer souber jogar bem poderá tirar tudo que o personagem tem de mais interessante. Vale ressaltar que o jogador poderá escolher três variações dos personagens escolhidos com estilo de lutas diferentes.
Conclusão
Mesmo com gráficos estranhos o game traz todos os elementos que o jogador procura encontrar em um jogo da franquia. Não há muito o que se impressionar nessa versão jogada, já que ela não está completa. Disponibilizaram alguns personagens apenas para testar, mas deu para ter uma noção que ele será bem parecido com Mortal Kombat XL, tanto na jogabilidade, quanto em relação aos personagens e aos fatalities.
Fiquem ligados, pois assim que Mortal Kombat 11 for lançado iremos escrever uma análise completa para vocês.
Confira o trailer oficial do game:
https://www.youtube.com/watch?v=UoTams2yc0s
Crítica | Polar - Um John Wick com mais humor e sexo
A Netflix tem a fama, entre muitos de seus telespectadores, de realizar adaptações fracas e que não mantem a alma da produção original. Essas críticas recorrentes aconteceram com Death Note, em que o longa é tão ruim que beira ao ridículo. Pois em Polar a empresa se redime de erros passados, e se não concebeu um filme que é espetacular, pelo menos conseguiu realizar uma boa adaptação da hq criada por Víctor Santos, Polar: Came From the Cold.
Polar não irá agradar a todos que o assistirem e essa nem é a pretensão do diretor Jonas Åkerlund (Os Cavaleiros do Apocalipse). A ideia de Jonas é a de conceber uma produção adulta que não se prenda nos clichês nem em uma estrutura narrativa óbvia de vingança em que o protagonista irá se inserir. Tal vingança é bem desenvolvida e não é o que o prende em sua busca, uma decisão interessante de roteiro que foge do que estamos acostumados a ver. Sua vingança é algo mais simbólico, tem a ver com sua luta contra o passado e contra os crimes cruéis que cometeu, é como se fosse uma redenção do personagem, um último confronto antes da aposentadoria.
Na trama, Duncan Vizla, ou como é conhecido no meio do crime, Kaiser Negro (Mads Mikkelsen), é um homem prestes a se aposentar, mas antes tem uma última missão a realizar.Tal trabalho não é o que ele imaginava que seria e o que se vê após o chamado é um rastro de morte em que o Kaiser Negro leva toda sua fúria e sabedoria contra os vilões.
O diretor trabalha a história de forma sombria. Sua estrutura narrativa e de roteiro são de um filme comum de ação, em que os personagens são apresentados no primeiro ato e assim vai se desenvolvendo toda a trama nos atos seguintes. A ideia do diretor não é criar algo novo ou original e sim trazer elementos que agradem ao público fã do gênero quanto as situações que são apresentadas no longa.

Além da já mencionada vingança o roteiro trata de outros assuntos que dão maior suporte para a história e seus desdobramentos, como a redenção em que o Kaiser Negro irá lutar para conseguir. Sua aposentadoria não serve apenas para ser um gatilho para tudo o que irá acontecer, serve também para mostrar, mesmo que de forma breve, o passado do personagem. O roteiro falha bastante em não se aprofundar nessa e em outras questões por não serem atraentes para o filme, já que mostrar mais sobre o protagonista iria fazer com que a trama saísse do caminho trilhado.
Desde o início nos é mostrado qual seria a abordagem que o diretor iria seguir para o filme, com um tom adulto e violento já dava para imaginar que seria focado em um público mais adulto. O humor apresentado logo naquele início, com tiros e uma mulher sensual se exibindo na piscina, serviu apenas para tirar a carga violenta que a cena mostrou e para apresentar os cinco personagens que mais para a frente seriam os vilões do longa. O humor é feito de um jeito espontâneo e sarcástico, enquanto que as cenas sensuais envolvendo a atriz Ruby O. Fee são apenas para dar algo a mais sobre a personagem. Esse lado sexual do longa é algo que poderia ter sido repensado e até mesmo retirado na hora da montagem final, justamente por não acrescentarem em nada a história.
Polar é um filme de ação que vai na linha de John Wick e Atômica, pelo menos nas lutas coreografadas e no tom sério do protagonista que mata sem piedade seus adversários, claro que não tem a intensidade nem a agilidade da ação proposta por John Wick, mas que a referência de Polar é o personagem de Keanu Reeves, isso não há dúvidas. As cenas de ação do filme são bem elaboradas, mas que acabam tão logo começam, são tão rápidas que fica aquele gostinho de quero mais. Possivelmente o diretor fez isso para mostrar que o personagem de Mads Mikkelsen é um cara ignorante e que acaba com seus adversários sem enrolação.
A violência é feita de forma caricata, tem a brutalidade apresentada em Kill Bill, mas com doses de humor ao estilo Dois Caras Legais. Tal violência é a essência desses personagens que vivem da matança como meio de vida, é algo encrustado em suas vidas. O próprio protagonista tem um passado de mortes que o levam a tal redenção, enquanto os vilões fazem apenas o que o manda-chuva os pede para fazer. A cena de tortura em que o Kaiser Negro sofre é de doer na pele de tão bem feita, tal sofrimento infringido ao personagem chega a ser comparável com o que o que ocorre em Hellraizer, em que as pessoas são torturadas pela eternidade pelos cenobitas. Óbvio que o Kaiser Negro não é torturado de forma tão pesada assim, mas que há uma certa dose de impacto pela cena público, isso é fato.

Mads Mikkelsen (Star Wars: Rogue One) está fantástico com seu personagem, o Kaiser Negro, um homem que apenas quer viver sua futura aposentadoria, mas há percalços até chegar ao dia que ficará livre da vida de crime. As situações em que é colocado a partir do momento que aceita a nova tarefa estão ali para dar maior substância ao personagem, já que não é mostrado nada de mais relevante sobre seu passado. Mads Mikkelsen é um ator que não deixar cair em nenhum momento o lado sério do protagonista. Mikkelsen poderia facilmente participar de mais filmes de ação, ao estilo Liam Neeson que se descobriu nesse gênero com Busca Implacável. Mikkelsen é tão bom quanto Liam e não seria nenhum exagero dizer que ele poderia fazer outros filmes de ação.
Uma nota triste de Polar é em relação aos vilões. São apresentados logo de cara como uma espécie de Esquadrão Classe A, engraçadões, cantando September do grupo Earth, Wind & Fire e eficaz em suas missões. Mas daí em diante desanda até que o grupo fica completamente esquecido pela trama para só aparecer depois, ao caçar o Kaiser Negro. Apesar de caricato, esse grupo do mal funciona muito bem e é o diferencial quando aparece. É possível afirmar que as melhores partes são quando estão em cena, tanto que quando são vencidos pelo Kaiser Negro, o filme perde totalmente o rumo. Já Vanessa Hudgens (High School Musical) está irreconhecível como a vizinha do Kaiser, mas tem uma certa importância para o filme, mesmo que ela praticamente não apareça em cenas de maior destaque.
Quem curte filmes de ação diferentes irá gostar do resultado final de Polar. Não é um longa fantástico, mas entrega o que o público quer e com bons personagens e boas cenas de ação e de lutas. O seu maior problema foi realmente não ter se aprofundado mais na trama do protagonista, principalmente falando mais sobre o sua vida, mas isso não atrapalha em nada o entendimento da história. É um bom passatempo para assistir, relaxar e deixar o tempo passar.
Polar (idem – Alemanha, EUA, 2019)
Direção: Jonas Åkerlund
Roteiro: Jayson Rothwell, Víctor Santos (criador da hq Polar: Came From the Cold)
Elenco: Mads Mikkelsen, Vanessa Hudgens, Katheryn Winnick, Fei Ren, Ruby O. Fee, Matt Lucas, Robert Maillet, Anthony Grant, Josh Cruddas, Lovina Yavari
Gênero: Ação, Crime
Duração: 118 min.
https://www.youtube.com/watch?v=oMHwRal-AR8
Crítica | A Sereia: Lago dos Mortos - Um filme sem encanto e sem roteiro
O telespectador que nunca ouviu falar do diretor Svyatoslav Podgaevskiy pode se considerar uma pessoa de sorte. O diretor russo tem em seu currículo produções de terror que ultrapassam o limite da ruindade. É dele o famigerado filme A Noiva em que a qualidade da história já era baixa. Em A Sereia: Lago dos Mortos o diretor retoma ao seu estilo de fazer de terror de baixo orçamento com roteiros ruins.
A receita quanto a estrutura do roteiro é a mesma de A Noiva, uma protagonista que tenta descobrir os mistérios acerca da maldição, um ser grotesco que fica escondido durante toda a trama para só aparecer no final e um terror fraco e pessimamente explorado. Svyatoslav Podgaevskiy não aprendeu nada com os erros do passado e praticamente os repete em A Sereia. Tal fórmula chega a funcionar de início mostrando a sereia em ação, mas aí cai na mesmice de sempre com um festival de clichês sendo colocado em prática.
Esses clichês levam o longa a se tornar óbvio, com um roteiro que se prende apenas no enigma sobre quem seria a sereia e qual o motivo da maldição existir. Toda a estrutura da história leva a apresentar os personagens e a os mostrar indo atrás da tal sereia, que ataca apenas os homens que ela seduz ou as mulheres que ficam em seu caminho. Nem mesmo o plot twist final foi bem construído, foi feito com uma pressa e sem ambição que definem a confusão que é o filme.

Muitos diretores gostam de trabalhar com atores e atrizes que gostam ou tem alguma afinidade. Martin Scorsese fez inúmeros filmes com Leonardo Di Caprio, assim como Pedro Almodóvar adora colocar Penélope Cruz como protagonista de suas produções. Svyatoslav Podgaevskiy faz o mesmo ao usar novamente a atriz Viktoriya Agalakova em um filme seu, algo que já havia feito ao trabalhar com ela em A Noiva. Viktoriya interpreta Marina, a protagonista, e diferente de seu papel anterior, a atriz que mostrava ter um certo talento está mais solta em cena, não comete os mesmos erros de atuação que lembravam a de uma atriz iniciante. A direção ajudou também a tirar algo a mais da atriz. Viktoriya só precisa pegar uma personagem mais interessante e atraente para colocar seu trabalho em prática, algo que não acontece com Marina.
Difícil apontar um personagem decente que fique na lembrança. Tirando Marina, todo o resto é bastante esquecível, praticamente alguns minutos após terminar de assistir ao longa é bastante provável que se esqueça de todos os outros personagens que apareceram no filme. Não é culpa do elenco em si, que foi mal escolhido e mal aproveitado. Há também uma culpa em toda a estrutura criada para esses papéis, o elenco secundário está lá para dar uma ajuda para a protagonista, mas todos são tão mal desenvolvidos e sem carisma que nem vale a pena prestar a atenção neles, fora que eles não conseguem sustentar a personagem principal em nada.
Por ser uma produção de terror é de se esperar que o terror seja atraente e bem inserido, mas tudo não passa de pura decepção. A já mencionada obviedade do roteiro atrapalha muito no desenvolvimento do suspense, que em alguns momentos lembra o de filmes como Paixao Obsessiva e A Morte te dá Parabéns. O terror se segura bastante nas aparições da sereia e apenas isso, nada de mais ousado criado, algo que deixa os fãs de terror bastante tristes, já que a ideia do longa tinha tudo para dar, pelo menos, alguns sustos.

A vilã é extremamente mal utilizada e mal concebida. Por ser uma sereia há de se trabalhar o lado grotesco e sobrenatural por trás da personagem e da maldição, mas o diretor se confunde nessa elaboração, até mesmo se confunde na criação do aspecto desta vilã. Sua forma não lembra em nada ao de uma sereia e está mais parecido com um demônio, algo que torna o nome do longa totalmente incoerente com o que é apresentado.
Se é para apresentar uma sereia que pelo menos a criassem na forma que está no imaginário do público ou alguma coisa mais original. Algo que a série Siren consegue fazer com louvor ao trabalhar uma sereia de forma mais humana. Em A Sereia a vilã poderia ter muito mais força e presença em cena do que realmente teve. Um perfeito desperdício de uma personagem subaproveitada.
Svyatoslav Podgaevskiy tem muito a crescer como diretor, tem boas ideias, mas as executada de maneira tosca e sem ambição. Não parece querer correr riscos apresentando elementos novos ou tramas que façam o telespectador entrar na história. Diferente do que ocorreu em A Noiva, o diretor teve melhoras significativas quanto a direção. Suas jogadas de câmera estão mais ousadas, assim como seus enquadramentos estão mais interessantes, mas ainda é pouco para fazer com que o filme se torne uma obra-prima ou pelo menos chegue perto disso.
A Sereia: Lago dos Mortos (Rusalka: Ozero myortvykh – Rússia, 2018)
Direção: Svyatoslav Podgaevskiy
Roteiro: Natalya Dubovaya, Ivan Kapitonov, Svyatoslav Podgaevskiy
Elenco: Viktoriya Agalakova, Efim Petrunin, Sofia Shidlovskaya, Nikita Elenev, Sesil Plezhe, Igor Khripunov
Gênero: Fantasia, Horror, Romance
Duração: 90 min.
https://www.youtube.com/watch?v=hVN38PhDwnA&list=PLUfaiKZalRtm_dY6pbbVVa5EY-7yd35r6
Crítica | Suspíria: A Dança do Medo - Desconstruindo o Clássico
Suspiria (1977) é um verdadeiro clássico do terror. Com sua história original sobre bruxas nos entrega uma pequena obra-prima do cinema que futuramente iria influenciar diversas produções do gênero, como Cisne Negro (Darren Aronofsky) e Demônio de Neon (Nicolas Winding Refn). Quando o remake americano começou a ser filmado muitos olharam com desconfiança para essa nova versão. A releitura dirigida por Luca Guadagnino (Me Chame Pelo Seu Nome) tem o seu público, mas não chega nem aos pés do original. A ideia do diretor foi a de fazer uma nova interpretação para a trama e assim acabou mudando muita coisa que havia dado certo no longa de 1977.
A começar pela escolha em relação ao tema da história. Desde o início, Guadagnino não esconde de ninguém que o longa fala sobre bruxas. Faz isso justamente para mostrar a um público que não conhece o original o tema principal e para prender a atenção do telespectador do início ao fim, pois ao saber o tema já fica mais fácil para o público saber quais forças malignas que as garotas estão enfrentando. Só que essa é uma escolha muito simples por parte do roteiro, para não dizer uma escolha preguiçosa. Ao citar as bruxas desde o começo o diretor tira totalmente o ar de surpresa e mistério que poderia vir a surgir.
O suspense é um dos elementos belamente trabalhados no original e que essa releitura acabou matando. O roteiro toma tantas decisões equivocadas quanto aos rumos da protagonista que chega a dar sono em alguns momentos. O diretor tenta fazer mistério com algo que ele já havia mostrado desde o início, que são as bruxas. O final é um exemplo dessa tentativa em surpreender o telespectador, em que aparece um culto bizarro de horror. Esta é a única cena ousada em relação a tudo o que havia se apresentado até então. É muita pobreza criar um filme e se prender em seu final, foi isso que Luca Guadagnino acabou fazendo ao criar uma abordagem apenas para chegar no fim e mostrar os shows de bizarrices envolvendo os personagens.
A narrativa foi criada simulando a estrutura de uma peça de teatro ou um número de dança, feito em seis atos para ajudar a contar a história. Cada um desses capítulos serve para ajudar a contar o que irá acontecer em breve e para impulsionar melhor os personagens. A trama começa no ano de 1977, obviamente fazendo uma homenagem ao original e querendo mostrar que há uma relação de um com o outro. Logo somos apresentados a personagem de Chloë Grace Moretz falando com um psiquiatra sobre bruxas e daí em diante é chatice atrás de chatice, nada que realmente empolgue o telespectador a se manter preso em todo o mistério que cerca a escola de dança.
O tom sobrenatural é uma ausência sentida no longa. Se as bruxas são esse elemento e se são apresentadas já desde o início é de se estranhar que sejam tão jogadas de lado quanto foram, justamente para dar o ar de mistério já mencionado nesta crítica. As bruxas são as vilãs, e por isso é de esperar que ajam com muito mais maldade e ambição do que o mostrado no filme. Essa falta de mexer mais com esse mundo sobrenatural faz com que Suspiria fique mais próximo de Harry Potter, tal fato se dá pelo terror ser deixado de lado e ficar mais próximo de dialogar com o gênero da fantasia. Markos, a tal líder suprema é mencionada muitas vezes, mas guardam isso para o final apenas para ter algo espetacular para fechar o último ato.
Algumas questões mostradas no longa não fazem sentido de estarem ali. Em alguns momentos parece que o diretor coloca essas situações para dar um ar mais cult para a produção. Uma dessas cenas é em relação ao Grupo Baader-Meinhof, falam da organização guerrilheira apenas para dar uma situada no período em que a trama se passa, mas algumas outras vezes durante a trama voltam a falar no grupo terrorista alemão. É de se entender que isso possivelmente teria alguma relação com o filme ou com os personagens, mas isso não acontece, foi algo colocado ali apenas por ser colocado.
Luca Guadagnino tenta fazer um terror que vai mais pelo lado do horror, colocando as personagens em situações bizarras e grotescas. O diretor também tenta chocar em alguns momentos, tentando colocar algum elemento sobrenatural e bizarro que faça com que o público fique de boca aberta com aquilo que vê em cena. Isso explica as cenas horrendas que vão ao extremo da dor e da tortura. Guadagnino também utiliza de cortes rápidos para criar um suspense e insere também cenas desconexas no sonho da protagonista, para tentar criar um terror maior. Algo parecido foi feito com maestria por Roman Polanski em O Bebê de Rosemary, em que a protagonista, interpretada por Mia Farrow, enxerga em seus sonhos vislumbres macabros de um culto demoníaco, algo que Guadagnino tentou fazer em Suspiria, mas sem êxito prático.

O elenco de Suspiria é algo que chama bastante a atenção por trazer grandes nomes do cinema como Chloë Grace Moretz, Tilda Swinton e Dakota Johnson. Todas estão relativamente bem em suas personagens, com destaque para Tilda Swinton que arrasa no papel de uma bruxa que com o passar do tempo acaba sendo escanteada. O mesmo acontece com a personagem de Dakota Johnson que interpreta Susie, a garota que vai dançar na escola de arte. Sua interpretação é sem vida, parece que ainda não esqueceu seu papel em 50 Tons de Cinza. Tá certo que essa interpretação provavelmente tenha sido porque Guadagnino queria surpreender com o final, mas mesmo assim não precisava forçar a barra.
Quem rouba a cena no longa é a atriz Mia Goth (A Cura). Aparentemente sua personagem não tinha destaque nenhum, mas começa a ganhar força e em um momento e acaba até mesmo deixando de lado a protagonista interpretada por Dakota Johnson. Mia Goth está excelente ao fazer uma garota enigmática e que começa a ficar paranoica com o que vai ocorrendo na escola de dança. O arco de sua personagem é muito mais interessante e causa mais suspense e terror que a da protagonista. Não seria nenhum erro dizer que ela deveria ter sido a personagem principal.
No longa original a fotografia, belamente trabalhada por Dario Argento, é um marco que ajudou a contar os sentimentos da protagonista, com as cores mudando para apresentar sentimentos como medo. Já neste Suspiria, a fotografia é mais um auxílio para criar um ambiente sombrio e bizarro e nada além disso. Faltou ousadia por parte do diretor em criar um ambiente com luzes mais vibrantes que pudessem trazer algo a mais. Há situações que a fotografia lembra a do filme de 1977, mas são poucos os momentos.
Não é de hoje que Hollywood faz remakes de produções clássicas de outros países. Alguns remakes se saem bem outros nem tanto. Suspiria é daqueles filmes que se for para criar algo de diferente que pelo menos se mantenha o ar de suspense e de terror do original, algo que até certo ponto foi tentado nesta nova versão, mas que foi pessimamente executado. É triste ver um longa tão impactante sendo desconstruindo por um diretor que tem uma visão interessante do que quer apresentar, mas que falhou miseravelmente em sua execução.
Suspiria (Idem – EUA, 2019)
Direção: Luca Guadagnino
Roteiro: David Kajganich
Elenco: Dakota Johnson, Chloë Grace Moretz, Lutz Ebersdorf, Mia Goth, Tilda Swinton
Gênero: Fantasia, Horror, Mistério
Duração: 152 min.
https://www.youtube.com/watch?v=BY6QKRl56Ok
Lista | Melhores filmes com bruxas
São muitos os filmes que trabalham a trama central colocando bruxas como protagonistas ou como personagens secundárias para evoluir a história. Sendo em filmes de terror ou animações elas sempre estão presentes ali, com alguma ambição ou planejando fazer algum ato malicioso afim de conseguir o querem. As Bruxas são muito populares por serem poderosas e enigmáticas. Na lista estão as mais icônicas bruxas do cinema.

10. Abracadabra (1993)
Três das bruxas mais lembradas pelo público e mais astuciosas são as irmãs Sanderson, Winifred (Bette Midler), Sarah (Sarah Jessica Parker) e Mary (Kathy Najimy), que regressam para a Terra para continuar seu reinado de terror. Óbvio que a ideia com o filme é mais de se fazer humor que propriamente terror em relação ao caos que as três irão provocar. É uma produção clássica dos anos 90, sem duvida inesquecível e que assustou muitas criancinhas.

9. As Bruxas de Salém (1996)
A clássica história de perseguição às bruxas de Salem virou um filme em que as bruxas não existem de fato, elas são mulheres comuns que são pegas realizando feitiços e acusadas de fazer bruxaria. Abigail Williams (Winona Ryder) é uma dessas mulheres acusadas e ela é o centro de toda a trama que irá se desenrolar ao redor de sua personagem. Uma história fascinante e intrigante que mostra como na época as acusações por bruxaria eram feitas pelo motivo mais banal existente.
8. A Bela Adormecida (1959)
Um dos grandes clássicos da Disney traz uma das bruxas mais malvadas do cinema. Malévola é um ícone pop e reconhecida como uma vilã de grande personalidade. Seus poderes e ambições são enormes e sem limites. A fama da personagem é tão grande que ganhou um filme solo interpretada por Angelina Jolie e que reconta o clássico da Bela Adormecida, mas sob a perspectiva da bruxa.
7. Convenção das Bruxas (1990)
Tá aí um filme que assustou muitas crianças no período que estreou, justamente por contar uma história em que as crianças eram o foco da trama. Luke é um garoto que presencia uma convenção de bruxas e descobre o plano astuto delas justamente contra as crianças. O show de bizarrice e terror que se segue é bastante realista e causam muitos impactos. A construção das personagens como bruxas é algo muito bem feito e de assustar.
6. A Bruxa (2015)
A Bruxa foi considerado por muitos um dos filmes mais fascinantes de terror já feito nos últimos anos. Claro que a produção não é tudo isso e a ideia não é assustar nem dar medo, apenas fazer uma alegoria sobre o diabo e a questão das bruxas é um fator secundário e que não se desenvolve no filme. O nome do longa, obviamente, tem a ver com situações que ocorrem com a garota durante a trama, situações essas que impressionam e são bastante interessantes.
5. A Bruxa de Blair (1999)
Não é uma obra-prima, mas vale pela ideia da existência de uma bruxa. Logo que foi lançado se tornou um sucesso de bilheteria, mas na mesma proporção que levou multidões ao cinema causou revolta, na época, em muitos que foram o assistir justamente por não aparecer a tal bruxa. Mas isso é um fator secundário na trama, pois a ideia é justamente a de criar um terror psicológico, algo que foi feito com bastante êxito.

4. Branca de Neve e os Sete Anões (1937)
Outro clássico da Disney - na verdade a primeira animação que iria dar vida início aos seus inúmeros longas com princesas - traz uma bruxa que com certeza é uma das mais lembradas pelos fãs. É difícil falar em uma produção dessa época da Disney que não tivesse uma princesa e uma bruxa na história, era uma receita bastante simples e de sucesso eminente. A bruxa aqui tenta a todo o custo matar Branca de Neve e para isso fará de tudo para conseguir chegar a esse resultado. Um bruxa bastante icônica e malvada.
3. Harry Potter (Todos os Filmes)
A franquia Harry Potter é, literalmente, um covil de bruxas. Já que o foco da série é justamente sobre bruxos é bastante improvável que as bruxas não reinassem. Em todos os longas há grandes bruxas que apareceram com destaque, as principais foram: Hermione Granger, Belatrix Lestrange, Minerva McGonagall. Todas tiveram papel importante em alguma parte da saga.

2. Mágico de Oz (1939)
Uma das bruxas mais clássicas do cinema e também uma das mais enigmáticas. A Bruxa Malvada do Oeste é a principal vilã de O Mágico de Oz e tenta a todo o custo conseguir seus objetivos, perseguindo Dorothy e seus amigos. Pela época que o longa foi produzido não era de se esperar que o aspecto físico da bruxa fosse diferente do apresentado, mas mesmo assim ele impressiona.

1. Suspiria (1977)
Suspiria (o original) é um dos filmes de terror mais belos já produzidos com a temática das bruxas. O roteiro que apresenta as bruxas vivendo em uma escola de dança e vivendo roubando a riqueza de outras pessoas é repleto de significados e muito bem desenvolvido. A ideia não é criar medo ou de assustar, mas sim de contar uma história de terror em que as bruxas estão lá apenas parar criar o terror em quem entra em seus caminhos. Ganhou, recentemente, um remake dirigido por Luca Guadagnino.
Crítica | Cafarnaum - Infância Perdida
Cafarnaum certamente é um filme que irá deixar muitas pessoas angustiadas e chocadas com as situações impostas a Zain (Zain Al Rafeea), um garoto que vive uma rotina de pobreza e de total abandono por parte de seus pais, que não pensam no bem estar dele, apenas o colocam para trabalhar e não se importam se ele estuda ou não. A falta de uma perspectiva quanto ao futuro de Zain é bem clara caso essa situação se mantenha, e o menino parece entender bem o momento pelo qual vive, e daí que vem sua revolta que o faz se rebelar contra tudo e contra todos.
É difícil ficar indiferente ao que a diretora Nadine Labaki (E Agora, Aonde Vamos?) nos apresenta nas duas horas do longa. São tantas situações que Zain vivencia e presencia que só faz com que ele se torne mais decidido em querer abandonar essa vida de miséria e abandono. O tal ato criminoso provocado pelo garoto tem um motivo, mas provavelmente ele não o fez apenas por vingança, mas também por ser um meio fácil de sair dessa vida de solidão e pobreza.
A cena inicial já é bastante forte, crianças correndo com armas de brinquedo na mão em meio a prédios e ruas sujas e deterioradas, e isso para não dizer o apartamento que o menino mora e os locais pelos quais irá passar durante todo o filme, tudo é muito feio e abandonado em Cafarnaum, não a toa o nome do filme em português seja Caos, o garoto vive em um lugar extremamente caótico.
Nadine nos apresenta esse cenário para nos mostrar várias outras questões, não apenas a do abandonado que é uma questão bastante presente no longa, mas há muitas outras situações que se seguem durante toda a trama e cada uma com sua importância.

O cotidiano de pobreza e violência é algo bastante presente durante a vida de Zain e seus irmãos. A pobreza que faz com que os pais coloquem as crianças para trabalhar na rua e muitas vezes, tanto meninos quanto meninas, sofrem diversos tipos de assédio por parte de homens adultos. Nos apresenta também a conivência por parte dos pais que colocam as crianças para viver essa realidade sem se preocupar nas consequências. Há uma cena que fica claro que a violência é uma realidade presente na família, quando a mãe de Zain, junto com as crianças, vai ao presídio e conversa com primos presos se descobre que todos da família do tio estão ali detidos, uma geração toda na prisão. O que a diretora quer nos dizer é que essa infância pela qual Zain está passando acaba levando essas crianças da inocência ao crime ou a outros caminhos sombrios.
Outros dois temas debatidos por Nadine Labaki são o tráfico humano, principalmente o de crianças com o personagem do traficante bastante presente na trama e a questão dos ilegais e dos refugiados que entram no país vindos de várias partes da África e de outros países. Estes assuntos abordados ao longo do filme são muito claros e se entende porque o garoto fica tão revoltado com a vida que leva.
A diretora se preocupa tanto em colocar tantas situações do cotidiano que chega um momento que não consegue discutir a fundo várias outros assuntos, apenas dá uma pincelada para depois voltar a ele novamente sem se aprofundar no tema. isso fica nítido em relação ao casamento da irmã de Zain, que é obrigada a se casar ainda criança com um homem adulto. Uma situação chocante, mas que não é discutida a fundo.

A narrativa segue por dois caminhos ao contar a história. Primeiro segue o garoto pelas ruas, contando toda sua trajetória até o derradeiro dia que irá cometer o crime e em outros momentos cortam para nos dizer como está se desencadeando o julgamento no tribunal. Essas cenas de Zain sendo julgado servem para dar uma quebra no momento que a narrativa principal se torna monótona demais e ajuda a dar uma impulsionada em contar a trama do garoto a partir do ponto certo.
Zain Al Rafeea, o menino que interpreta Zain no filme, tem uma atuação fantástica. Seus olhos são cheios de vida, interpreta um garoto revoltado e triste e é um papel bastante difícil para uma criança. O longa é focado praticamente no protagonista e mesmo assim consegue segurar bem a atenção do público. Seu personagem ajuda bastante, é um garoto que não teve uma infância comum como as outras crianças. A vida que foi imposta a ele o faz ser uma pessoa bastante séria, tanto que antes do final não havia dado uma risada sequer.
Cafarnaum é uma ótima produção libanesa que retrata uma rotina de pobreza e de falta de perspectiva das crianças. Serve como denúncia e como um drama sensível que faz pensar sobre as situações vividas pelo protagonista e por outras crianças que fazem personagens secundários. Como retrato da realidade é bastante forte, intenso e triste ao ponto de colocar o telespectador naquela rotina e vivenciar todas as crueldades pelas quais Zain passa. Um filme difícil de se tirar da cabeça uma vez assistido.
Cafarnaum (Capharnaüm, Líbano, 2018)
Direção: Nadine Labaki
Roteiro: Nadine Labaki, Jihad Hojeily, Michelle Keserwany
Elenco: Zain Al Rafeea, Yordanos Shiferaw, Boluwatife Treasure Bankole, Kawsar Al Haddad, Fadi Yousef, Haita 'Cedra' Izzam, Alaa Chouchnieh, Nadine Labaki
Gênero: Drama
Duração: 121 min
https://www.youtube.com/watch?v=EiXc0ei7xE8
