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Herbert Santos

Crítica | A Garota e a Aranha - Mudanças e altas emoções

Aquele sentimento de algo que nunca está terminado é ao mesmo tempo o ponto de partida e chegada de A Garota e a Aranha. O segundo filme dos diretores Ramon e Silvan Zürche, presente na 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, é uma fábula sobre a inquietude dos jovens no começo de suas vidas adultas.

De início, as informações chegam como mobília em casa nova: aos poucos, ainda tentando descobrir como parecer natural no ambiente. Lisa está de mudança para um novo apartamento. Para ajudar nessa transição está sua mãe Astrid, que vive preocupada em julgar as atitudes da filha, e sua amiga indecifrável Mara. Elas encontram no apartamento um conjunto de vizinhos interessantes, como Karen, que cuida de umas crianças; Kerstin e Nora, uma romântica e a outra uma antissocial; e Markus, um cara que parece ser gentil. Além deles, há a solitária Senhora Arnold e os quebra-galhos do prédio, Jun e Jurek.

É importante citar todos, pois esse filme requer que você faça um mapa mental, assim como Mara no computador, para ilustrar o espaço que Lisa entrará. Os irmãos Zürche concentram suas energias em manter a movimentação constante, gerando uma ação involuntária de apreciação de momentos desconexos com a trama. Veja, todo o simbolismo da mudança e reparos na casa ocorre em praticamente toda cena. Quando um personagem vai ao café, ou dá uma volta pela cidade, acaba dando um fôlego para compreendermos melhor com quem estamos.

Henriette Confurius interpreta Mara, jovem quieta que sempre acaba falando o que não deve. A personagem tem herpes labial extremamente visível, o que deixa um certo desconforto com todos que interage. Confurius usa justamente esse estranhamento para levantar a justificativa do ego inflado de Mara. É com ela que acontecem as viradas mais interessantes na história. Será que ela planta discórdia por não poder interagir intimamente com todos? A frustração de não poder curtir esses últimos momentos de falta de responsabilidade devido a esse pequeno problema.

Sua relação com Lisa, interpretada muito bem por Liliane Amuat, é um dos quebra-cabeças que o filme resolve junto com você. Amuat faz um jogo de relação com Confurius que conforme o apartamento muda, ele se transforma em outra coisa.

Os outros personagens têm seus momentos de auxilio no andamento da história, mas situações como um triangulo amoroso simplesmente quebram a trama que interessa. Nos ajuda a compreender um lado desconhecido, da antissocial Nora.

Talvez chover no molhado fosse arriscado, mas para um filme com ininterruptas modificações de ambientes e personagens transitando no mesmo local, seria interessante ver em algum momento isso aplicado à câmera. É através de um jogo de planos que acompanhamos quem fala e quem escuta, deixando pouco à imaginação de quem poderia estar por ali em determinada cena.

A Garota e a Aranha é um filme sobre amadurecimento e amizades, separações e desculpas, que lhe oferece o café, mas fica devendo as bolachas.

A Garota e a Aranha (Das Mädchen Und Die Spinne, Suíça - 2021)

Direção: Ramon Zürcher e Silvan Zürcher
Roteiro: Ramon Zürcher e Silvan Zürcher
Elenco: Henriette Confurius, Liliane Amuat, Ursina Lardi, Flurin Giger, André M. Hennicke, Ivan Georgiev
Gênero: Drama, Romance
Duração: 99 min

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by Herbert Santos

Crítica | Sanguessugas: Uma Comédia Marxista sobre Vampiros - Sem graça e sem ritmo

Antigamente as peças de teatro eram divididas em comédias e tragédias. Não necessariamente uma comédia era o que consideramos hoje como alavanca para riso, mas meramente uma definição para o que não fosse drama. Em Sanguessugas: Uma Comédia Marxista, presente na 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o termo comédia é justamente isso.

Dividido em capítulos breves, o filme mostra uma pequena ilha com personagens que estão sob a impressão de que as descrições de Marx sobre um capitalista, são parecidas com as de um vampiro.

A trama segue nesse viés de maneira direta no começo e depois tenta criar uma ambiguidade, que simplesmente faz o filme capotar nas duas rodas. Algo que seria útil para sustentar toda essa abordagem - pasmem - era a própria comédia! Ou terror. De qualquer maneira, a ideia vai se diluindo aos poucos.

Começamos com uma turma de jovens que leem o Capital em círculo nos belos gramados da ilha. Depois conhecemos Anton, interpretado por Aleksandre Koberidze, que era um operário desiludido com a vida após ser cortado de uma ponta como ator em Outubro, de Sergei Eisenstein. Ele é recepcionado por Octavia, uma ricaça da região, que vive da tarde para a noite e evita a luz do sol.

O núcleo de Octavia, interpretada por Lilith Stangenberg, tem alguns convidados e um serviçal Jakob, interpretado por Alexander Herbst, que lembra muito Renfield, o fiel escudeiro de Drácula. A relação até ganha um fôlego, por ele ter dúvidas sobre a classe rica ser vampiresca e sua paixão pela patroa.

Sem nenhum esforço, o filme evolui para uma própria sátira. Anton os leva a querer fazer filmes, Octavia começa a refletir sobre o vampirismo e, no melhor capítulo do filme, Jakob tem uma jornada de autoconhecimento. A direção de Julian Radlmaier se prova eficaz, mas até certo ponto uma boa cena ou belo plano sustenta um roteiro com mais ideais do que expressões.

Provavelmente feito para os entusiastas de socialismo versus capitalismo, este Sanguessugas não diverte e nem entretém.

Sanguessugas: Uma Comédia Marxista sobre Vampiros (Blutsauger, Alemanha - 2021)

Direção: Julian Radlmaier
Roteiro: Julian Radlmaier
Elenco: Alexander Koberidze, Lilith Stangenberg, Alex Herbst, Corinna Harfouch, Andreas Döhler
Gênero: Comédia
Duração: 125 min

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by Herbert Santos

Crítica | O Compromisso de Hasan - Efeito bola de neve

O efeito bola de neve é quando um simples grão vai acumulando tudo ao seu redor ladeira abaixo. Em O Compromisso de Hasan, presente na 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o personagem embarca em uma trajetória típica desse efeito.

Hasan é um fazendeiro com diversas plantações que um dia acaba pegando uma equipe demarcando seu terreno de tomates. Há uma nova linha elétrica que passará bem ali, requerendo seu local para a construção da torre. Ao mesmo tempo, ele e sua esposa estão prestes a entrar em uma peregrinação religiosa, onde não podem carregar mágoa de nada nem ninguém.

Umut Karadag faz de Hasan um homem de semblante simples. Aquela pessoa que não sabe esconder o que quer. Basta duas cenas com ele para compreendermos sua linha de pensamento e desejos. Karadag e o diretor Semih Kaplanoglu ainda trabalham muito bem a amplitude que o personagem tem. Sua história passada e toda as decisões que acabam refletindo nas pessoas que mais gosta.

Já o papel da esposa Emine, interpretada por Filiz Bozok, vira uma espécie de última esperança de Hasan para uma vida digna. Ele é um fazendeiro tentando fazer seus meios, mas também não esquece de suas raízes graças aos bons diálogos que tem com ela.

Kaplanoglu equilibra bem todas as sequências que tem ao longo da narrativa. Tudo flui de maneira orgânica para o caos. Seria fácil desandar uma trama como essa para a comédia, e até mesmo um dramalhão, mas o diretor sabe aonde deve ir, o que te mostrar e como te mostrar. Há uma sequência de negociação que é de rachar o bico, ao mesmo tempo que o final pode te levar às lagrimas.

Esteticamente é um filme que aproveita bem as locações, explorando o lado rural da Turquia. Há uma importância na árvore no topo de uma montanha, e como a terra à sua volta é infértil, que serve até de simbolismo para uma determinada ramificação da história. Uma escolha notável é pelas cores vivas, chegando a lembrar dos velhos filmes em Technicolor.

O Compromisso de Hasan é de pedir que você reconsidere o próprio limite, na esperança da bola de neve não virar uma avalanche sufocante.

O Compromisso de Hasan (Bağlilik Hasan, Turquia - 2021)

Direção: Semih Kaplanoglu
Roteiro: Semih Kaplanoglu
Elenco: Umut Karadağ, Filiz Bozok, Gökhan Azlağ, Ayşe Günyüz Demirci, Mahir Günşiray
Gênero: Drama
Duração: 147 min

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by Herbert Santos

Crítica | Deserto Particular - A árdua luta por reparações

“Todos temos uma segunda chance de fracassar na vida” diz o personagem de Robson em determinada cena de Deserto Particular. Presente na 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o filme é nosso representante oficial na disputa pelo Oscar de Filme Internacional da próxima temporada, e com essa fala entramos na jornada dessa segunda chance apreensivos pelo que está por vir.

O novo filme de Aly Muritiba é ambientado em Sobradinho, onde Daniel vai de encontro com seu amor da internet, Sara. Ele, policial sob investigação após um vídeo de abuso de autoridade, encara a estrada de Curitiba até a cidadezinha da Bahia, sem um sobrenome ou endereço. Só o que tem é uma foto de perfil da mulher dos seus sonhos.

Percorremos o deserto de Danilo primeiro. Antonio Saboia faz um sujeito cabeça quente que cumpre com seus deveres, queira ele ou não. Suas cenas com o pai - um militar aposentado - e a interação com a irmã mais nova, deixa evidente que Danilo é um personagem com sentimentos reservados. Há uma cena em que ele tem a família para se abrir, livrar a mente, mas prefere esperar para no fim de dia mandar um áudio para a loira misteriosa. Saboia sabe muito bem entregar cada cena sem parecer forçado a sua busca, indo até extremos de pendurar fotos de Sara nos comércios locais.

O outro deserto é de Robson, interpretado por Pedro Fasanaro, que praticamente faz paralelos com aquele de Danilo. Ele tem seu trabalho braçal, sua ambição de conhecer o mundo e ainda que cuidar da sua avó. Vem de Fasanaro grande parte do coração da trama, onde podemos compreender melhor a geografia de Deserto Particular. Tem seus altos e baixos, calor intenso e frio congelante, somados ao delírio no horizonte.

Muritiba, que vem me encantando com sua direção desde Ferrugem, faz aqui um filme-personagem sem medo de improvisar. Sempre deixa a câmera com duas ou três opções de ângulos, preferindo a ação ininterrupta em planos longos. Aqui é possível ver uma direção segura, madura, onde toda decisão é feita para levar o olho do público para o que interessa. As informações que ele vai nos provendo, através do jogo de imagens e até escolhas sonoras, ajuda na construção da atmosfera do filme.

Está aí uma coisa que Sobradinho ofereceu muito bem para a trama. Atmosfera de cidade pequena, onde todo mundo conhece todo mundo, e ainda assim Danilo consegue ser mais familiar que a enigmática Sara. A forma com que Luis Armando Arteaga mistura uma iluminação natural com o fantástico, principalmente em cenas noturnas, dão a sensação do delírio do deserto. O fotografo colombiano fez uma escolha com Muritiba em deixar o filme com uma estética padrão, como uma fotografia ou cartão postal.

Seja em uma festa, no trabalho, na estrada ou até no quarto, a sensação de estar isolado do mundo faz parte da atmosfera do filme. E assim, Deserto Particular quer que você comece, só para então ser desconstruído.

Deserto Particular (Brasil - 2021)

Direção: Aly Muritiba
Roteiro: Aly Muritiba e Henrique dos Santos
Elenco: Antonio Saboia, Pedro Fasanaro, Luthero Almeida, Laila Garin, Thomas Aquino, Sandro Guerra, Otavio Linhares, Zezita Matos
Gênero: Drama
Duração: 125 min

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by Herbert Santos

Crítica | Lua Azul - Descobrimento interrompido

Existe um período da vida onde as nossas escolhas definem para onde iremos, e quem seremos. Em Lua Azul, presente na 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, vemos o que acontece quando essas escolhas não são tomadas, e sim impostas.

O filme nos apresenta a Irina, uma sonhadora que vive com a irmã na pousada da família, trabalhando na manutenção. Seu desejo é sair dali e construir a própria vida em Bucareste, mas as tradições e os familiares não conseguem entendê-la. É praticamente aquele antigo sistema onde os avós deixam para os filhos, e deles para os netos. Só que somado ao fato que todos ali sofrem de narcisismo, o risco não fica somente na compreensão.

A direção de Alina Grigore navega por essa trama com uma delicadeza em não ramificar demais. Ela consegue focar na garota, até quando as circunstâncias refletem em outras pessoas. Não que o filme queira passar um ponto de vista, mas Grigore consegue deixar a tonalidade entre a família bem preta e branca.

Ioana Chitu, que interpreta Irina, faz uma versão de personagem que já nos é familiar. Aquela pessoa que deseja abrir as asas para voar. Chitu se difere usando uma coisa mais corporal na construção da personagem, que acreditamos ser uma adolescente até dizer em alto e bom tom ter 22 anos. É mais uma vertical da atriz e diretora para conseguir expressar o como Irina ainda está em fase de descobrimento.

Quem merece um destaque do elenco é Mircea Postelnicu, que interpreta o primo Liviu. Ele faz um antagonista primário – uma vez que a família toda é um empecilho para o avanço da garota -, criando aqui uma certa relação de amor e ódio. Postelnicu leva a sério a imagem de um adolescente frustrado em um homem nos seus 30 anos, servindo de espelho para Irina ter medo do que pode se tornar. Ele não sabe escrever ou ler, só obedecer a família e fazer o serviço bruto necessários na pousada. Há também esse medo físico, pois ele é um dos prejudicados pela tradição familiar e desconta a frustração em qualquer um que queira questioná-la.

Focado em achar alternativas para o amadurecimento da personagem principal, Grigore acaba trazendo um artista casado para a cidade. Ele representa o despertar sexual de Irina, que também se atrai pelo fato dele morar em Bucareste. Aqui que a trama dá uns solavancos, querendo passar pela fase de puberdade da jovem adulta, mas que se torna uma frustração para toda a trama familiar.

Lua Azul tem um visual claustrofóbico e um ritmo interessante, mas falta de catarse para uma trajetória de descobrimento realmente memorável.

Lua Azul (Crai Nou, Romênia - 2021)

Direção: Alina Grigore
Roteiro: Alina Grigore
Elenco: Ioana Chitu, Mircea Postelnicu, Mircea Silaghi, Vlad Ivanov, Emil Mandanac
Gênero: Drama
Duração: 90 min

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by Herbert Santos

Crítica | Bob Cuspe: Nós Não Gostamos de Gente - Punk em stop motion!

Das tirinhas para as telonas, e em stop motion ainda por cima! Bob Cuspe: Nós Não Gostamos de Gente, presente na 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, é exatamente o que se espera de uma adaptação do personagem: PUNK!

Primeiro ,acho válido lembrarmos de Chiclete com Banana, o quadrinho mais irreverente dos anos 80. Foi lá que Argeli colocou muitas das suas ideias abstratas e caricatas, incluindo o anárquico Bob Cuspe, falando umas boas verdades nas páginas, com seu moicano e jaqueta de couro.

Aqui, em sua terceira colaboração em stop motion com o diretor César Cabral, Angeli está em uma espécie de odisseia de redescobrimento dos seus personagens. Falando sobre sua trajetória e decidindo rumos que os personagens pode tomar, entramos em seus quadrinhos e vemos como os mesmos estão reagindo a isso. O mundo está seco de ideias novas e sendo dominado pelo pop.

Remetendo a obras como Mundo Proibido e Adaptação, a experiência aqui é de imersão na conexão entre autor e obra. Angeli sente as repercussões trazidas pelos personagens, enquanto eles estão lá tentando sobreviver à mão pesada do artista em criar mais e mais problemas. A própria invasão pop no mundo é representada por Eltons Johns mutantes e carnívoras, rendendo boas situações com a resistência punk de Bob Cuspe.

Milhem Cortaz é uma acertadíssima para o personagem título, dando até a impressão que essa é a voz que escutamos de Bob em nossas mentes desde a primeira leitura. Cortaz trabalha com uma versão oito ou oitenta do personagem, sempre focando em parecer indiferente para os irmãos Kowalski e toda a ladainha que Angeli está prestes a acabar com seu mundo. Mas quando chega a hora da cusparada, a tonalidade de um jovem adulto fumante à trinta anos vem espontaneamente e casa perfeitamente.

Entre os personagens que também compõe o filme está a esposa do quadrinista, Carol, que completa as lacunas na história quando Angeli está de saco cheio para gravar depoimentos em seu estúdio. Também tem uma participação muito pontual da Laerte, que serve também para preencher algumas informações.

Cabral consegue navegar por esse complexo roteiro de acontecimentos e dar uma ótima estética para os personagens de Angeli, sem mostrar sinal de fadiga ou enrolação. São 90 minutos repletos ação, em uma trama que precisa chegar em algum lugar. Um dos acertos também foi na montagem, em optar por uma construção narrativa que remeta aos road movies tradicionais.

Poderiam ter ido mais longe, com maior participação da Rê Barbosa, ou até uma parcela maior dedicada aos irmãos Kowalski – ambos com a voz de Paulo Miklos. Mas um elemento que faltou para dar aquele laço final foi uma trilha punk, daquelas que ambientariam legal o filme. O que temos é uma promessa, com Titãs à todo volume, mas que não vai pra frente.

Bob Cuspe: Nós Não Gostamos de Gente é um filme adulto, caso você só tenha reparado na parte do stop motion, que talvez bata de frente com a geração pop de hoje. Mas é difícil alguém sair da sessão sem ao menos ter se divertido.

Bob Cuspe: Nós Não Gostamos de Gente (Brasil - 2021)

Direção: Cesar Cabral
Roteiro: Cesar Cabral
Elenco: Milhem Cortaz, Paulo Miklos, André Abujamra, Grace Gianoukas
Gênero: Comédia, Aventura
Duração: 91 min

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by Herbert Santos

Crítica | Um Herói - Um exemplar de humanismo

Humanismo se tornou raro hoje em dia e ao esbarrar por ele, é algo digno de reconhecimento. Um Herói, novo filme de Asghar Farhadi, presente na 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, é uma aula sobre a mentalidade do século 21.

É complicado pedir para uma pessoa entrar no cinema e levar lição de moral, mas Farhadi consegue fazer de uma maneira didática e sem falhas. Dessa vez, por conta do assunto sensível, optou por não entregar participações na construção da história. Os espectadores precisam digerir o ocorrido, suas consequências, e caso optem por criar uma outra vertente para a solução dos problemas de Rahim, deve usar a si próprio.

Rahim, brilhantemente interpretado por Amir Jadidi, é um homem preso devido a uma dívida. Nos seus 2 dias de folga, acaba lidando com uma bolsa que não lhe pertence, mas contém dinheiro o suficiente para lhe tirar do apuro. Ao seu lado está sua irmã, seu cunhado, o filho gago e sua namorada, que achou a bolsa. Entretanto, a moralidade de Rahim fica em xeque e este decide buscar a verdadeira dona.

Não se preocupe, o importante não é saber essa parte da história, mas sim a consequência construída como uma torre a partir da decisão de Rahim.

Jadidi decide ir pelo caminho mais difícil na hora de interpretar uma personagem desses, utilizando sua linguagem corporal como real opinião. São diversos os momentos que verbalmente chegamos a sentir vergonha alheia, mas quem expressa humildade não tem destreza em equilibrar o que falam com o que faz. Farhadi usa muito bem de momentos chave onde sabemos o que o personagem está sentindo, mas ele recusa em admitir.

Também fica com uma grande parcela do resultado positivo o elenco de apoio. Quando falei acima sobre usar-se como exemplo para maiores reflexões da história, é justamente pela família, costumes locais e histórico. Aqui Rahim tem de tudo um pouco, para lhe ajudar e atrapalhar. O filho gago é um problema para a sociedade até se tornar um símbolo da integridade de um pai em cuidar de uma criança com dificuldades na fala.

A irmã e o cunhado são bem coadjuvantes e há um espaço saudável entre eles, algo que não deixa gritante as cenas de apoio. Não precisa sair falando "família" à la Vin Diesel. O público sabe.

Já Sahar Goldust, que faz o papel da namorada secreta Farkhondeh, tem duas cenas importantes para compreender melhor a história. É ela quem caminha sobre os acertos e falhas do que significa ser um humano, com sentimentos e pré-julgamentos. A compreensão do sistema crítico do momento atual.

Um Herói é o tipo de filme que lhe dá um sermão, pede que compreenda os fatos. Mesmo assim, não duvide que ainda terá quem diga: mas ele precisava devolver?

Um Herói (Ghahreman, Irã - 2021)

Direção: Asghar Farhadi
Roteiro: Asghar Farhadi
Elenco: Amir Jadidi, Mohsen Tanabandeh, Fereshteh Sadre Orafaiy, Sarina Farhadi
Gênero: Drama
Duração: 127 min

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by Herbert Santos

Crítica | As Bruxas do Oriente - A impressionante magia do vôlei

O ouro vem na base do sangue e suor. Para o time de vôlei feminino do Japão em 1964, esse lema era apenas o café da manhã. No documentário As Bruxas do Oriente, presente na 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, embarcamos em uma contextualização do porquê elas eram chamadas de Bruxas.

Perdido na tradução entre países, o termo tem a ver com a mágica das garotas em nunca deixar a bola cair. Foram 258 partidas sem perder, desde sua estreia como um time local, formado por uma turma de trabalhadoras da fábrica têxtil, até serem a primeira seleção oficial do Japão nas Olimpíadas. Tudo isso na estreia da categoria!

Analisando as histórias através dessa colagem de imagens de arquivo com uma boa trilha sonora, o diretor Julien Faraut consegue emular uma sensação da época. A estética do documentário vai além em alguns momentos, entrando em um estilo de montagem nipônica, e até referenciando animes. Faraut tem muito com o que trabalhar, deixando a narrativa fluida, sem precisar desviar o foco das jogadoras.

Das poucas que aceitaram participar, ou que ainda estão vivas, temos um belo encontro com sua rotina. Elas comentam como era o convívio e até relembram a origem de seus apelidos, pois cada uma tinha seu codinome para uma comunicação mais rápida. É possível perceber que a mentalidade das jogadoras, também muito bem treinada, não refere-se ao passado como algo saudosista que não volta mais, mas sim como um pedaço de história da qual se orgulha de ter feito parte. Só com essa diferença de acompanhamento, Faraut consegue costurar os diferentes anos e os temas que se desenrolam na história sem precisar apelar para o convencional.

Muitas coisas acontecerem no tempo das Bruxas, que acabam justificando sua existência. A primeira é a Segunda Guerra Mundial. Muitos dos pais dessas garotas foram para a luta e não voltaram mais, algumas sequer tinham mãe e assim acabavam encontrando o acolhimento no time. Até uma das senhoras lembra no documentário que o treinador era uma figura paterna para elas.

Justamente pelas consequências da guerra, o Japão passou por um abalo muito grande de cabeça erguida. E o interessante é ver como a mentalidade do time, que chegou a ser notícia na época, se tornou uma característica sempre atribuída aos japoneses: a persistência! Se cair, levanta. Quebrou, conserta. Perdeu, tenta novamente. Cansou, não demonstre. Todos esses pontos são exibidos em cenas dos treinos, com as jogadoras caindo no chão, levando bolada e gritando; mas sempre levantando e recuperando.

É legal conhecer um pouco de história que compõe o lado humano positivo. As Bruxas do Oriente é justamente o tipo de material para se ver um período de depressão, inspiração ou compaixão.

As Bruxas do Oriente (Les Sorciéres de L'Orient, França - 2021)

Direção: Julien Faraut
Roteiro: Julien Faraut
Gênero: Documentário
Duração: 100 min

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by Herbert Santos

Crítica | Um Forte Clarão - Simbolismos vazios

Não adianta colocar simbolismo onde não há interpretação. Em Um Forte Clarão, presente na 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, a história apática não consegue suprir sua ambição em ser algo artisticamente reflexivo.

A premissa básica é de três mulheres em um vilarejo monótono. A primeira é uma mulher que vende doces, grava seus pensamentos e vive com a mãe. A segunda está infeliz com seu casamento. A terceira é uma ricaça que só tem amizades devido ao interesse no seu dinheiro. O único cruzamento das histórias é que está se aproximando o dia da procissão de Nossa Senhora das Dores, a padroeira da comunidade.

Com todo o elenco composto por não atores, o intuito da diretora e roteirista Ainhoa Rodríguez foi de criar um ar natural para todas as cenas e diálogos cheios de simbolismos. Observando de uma maneira simples, é como um momento de provação para cada uma das mulheres antes do dia da santa. Rodríguez usa e abusa das misturas narrativas, com diversas cenas que voltam ou desaparecem de sua respectiva linha narrativa. E não é algo que cabe dentro do filme.

A mulher que ainda vive com a mãe é a que mais tem peso. Os vizinhos comentam sobre ela ao mesmo tempo que escutamos suas gravações, expressando uma versão de si que gostaria estar vivendo. A segunda sobre o casamento, rende só algumas partes cômicas e nada muito além. A mais estranha de todas é da rica e suas amigas, que estão sempre à flor da pele sexualmente.

Rodríguez é competente com os aspectos técnicos. Suas escolhas de plano, a montagem com cortes de quem escutamos para quem escuta, coisas sutis que dão um ar de filme grande. Mas no fim das contas Um Forte Clarão não passa disso, ficando para trás assim que os olhos se acostumam. 

Um Forte Clarão (Destello Bravió, Espanha - 2021)

Direção: Ainhoa Rodríguez
Roteiro: Ainhoa Rodríguez
Elenco: Guadalupe Gutiérrez, Carmen Valverde, Isabel Mendoza
Gênero: Drama
Duração: 96 min

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by Herbert Santos

Crítica | Madeira e Água - Perdida na tradução

Ter tempo livre é uma das tarefas mais árduas de um ser humano. Em Madeira e Água, filme de Jonas Bak, presente na 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, temos que entrar em um ritmo diferente para conseguir acompanhar a trama.

Anke, uma senhora viúva, se aposenta após anos trabalhando em uma igreja da sua cidade. Para dar um pontapé inicial na nova vida, resolve reunir a família e falar sobre o passado. Entretanto, seu filho Max não comparece, devido aos protestos ocorrendo em Hong Kong. Anke toma a atitude de ir até o outro continente para rever o filho.

Bak é um diretor talentoso, especialmente por conseguir expressar a calmaria de um idoso em sua aposentaria como ritmo do filme. Veja, não é apenas aquele tipo de longa onde temos belas imagens, uma trilha contemplativa e muito tempo livre. Quando é necessário acelerar, ele acelera; quando é necessário refletir, ele reflete. E usando o artificio de que Anke é uma estranha em um lugar diferente dos seus costumes, ele consegue fazer um tour por bairros, apresentando um pouco mais de Hong Kong. Há uma cena muito importante em um ônibus, entre a protagonista e um senhor que acabou de conhecer, onde Bak deixa claro que não importa o que fazemos, há um lugar comum onde todos estarão um certo dia.

Anke Bak, interpretando o que pode ser uma versão de si mesma, traz uma inquietude interessante para as telas. Sempre com o semblante calmo e a voz baixa, ela vai de um ponto a outro da história com muitas perguntas e absorvendo todas as respostas. Sua ótima interação com as figuras que vai conhecendo ao longo do caminho, como o porteiro do apartamento do filho, um leitor de tarô, um ativista social e um senhor gente fina, ajudam em dar profundidade no tema do tempo livre. Qual a última vez que paramos para conhecer pessoas e lhes perguntar sua história de vida? Quantos destes eram idosos? Na sociedade atual, com seus clicks e bits, isso se tornou raro.

Uma coisa que fica a desejar é uma direção, ou rumo, para conclusão. Conhecemos a personagem, até mesmo revisitamos locais da sua trajetória, mas depois da busca pelo filho em Hong Kong, Anke parece uma espécie de Scarlett Johansson em Encontros e Desencontros, perdida no meio de uma cultura diferente. E mesmo que aberta a conhecer, não parece ter tomado a decisão em desbravar ou voltar para casa. Então fica uma sensação de um filme que termina na metade do segundo ato.

Madeira e Água consegue, em sua pequena duração, lhe oferecer uma brecha para conhecer alguém, suas aflições e até novos lugares.

Madeira e Água (Wood and Water, Alemanha/França/Hong Kong - 2021)

Direção: Jonas Bak
Roteiro: Jonas Bak
Elenco: Anke Bak, Ricky Yeung, Alexandra Batten, Patrick Lo, Theresa Bak
Gênero: Drama
Duração: 79 min

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by Herbert Santos

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