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Crítica | Homem-Aranha: De Volta ao Lar (Com Spoilers)

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Não é preciso pensar duas vezes. Se o Batman ergueu a casa da DC, o Homem-Aranha é igualmente responsável em sustentar a Marvel por anos. Apesar da Casa das Ideias ter um rol invejoso de heróis populares, as maiores histórias que mudaram toda uma indústria concentram-se nas decisões audaciosas que as diferentes editorias escolheram para contar a eterna história de felicidades e desgraças da vida de Peter Parker.

Vencedor de praticamente todas as decisões polêmicas da Marvel, uma delas certamente é a tragicômica venda dos direitos cinematográficos do personagem para a Sony nos anos 1990. Com a Marvel muito próxima de chegar à falência por conta das péssimas vendas dos quadrinhos por conta de fases horrorosas que assombraram seus personagens.

Para salvar a empresa, a Marvel vendeu o Homem-Aranha para o Sony e os X-Men e Quarteto Fantástico para a Fox (Demolidor também tinha sido vendido, mas como a Fox desistiu do personagem, os direitos voltaram para a agora Marvel-Disney). Uma das poucas cláusulas reveladas ao público era a necessidade de filmes sobre essas marcas saírem no mínimo uma vez a cada quatro anos. Se não acontecesse nenhuma obra nesse tempo, os direitos eram revertidos para a Marvel.

Obviamente, isso seria um doce sonho para a editora que, ainda mais agora comprada pela Disney, está longe de falir. Porém essa realidade deverá continuar por um bom tempo, mas saídas nebulosas foram encontradas para resolver o maior problema do MCU por tempos: como enfiar o Homem-Aranha dentro do universo compartilhado da Marvel?

A resposta é complexa demais, cheia de burocracias com dois estúdios se estapeando para receber mais vinténs que o outro sobre essa propriedade intelectual. Em 2016, finalmente os magnatas acertaram suas contas para “fazer a vontade dos fãs”: Homem-Aranha finalmente voltaria ao lar. Primeiro com uma rápida degustação em sua participação marcante no mediano Capitão América: Guerra Civil. Agora, depois de uma sucinta espera de um ano, finalmente temos Homem-Aranha em toda a sua glória. Ou algo que chegue perto disso.

De Volta ao Lar?

Antes que você pergunte (e também obviamente já sabe), a narrativa escrita por seis pessoas nada tem a ver com o famoso e elogiado arco de Straczinski nos quadrinhos do Teioso. De Volta ao Lar é um filme que tenta ser aqueles clássicos coming of age dos anos 1980 como O Clube dos Cinco, de John Hughes.

Na verdade, De Volta ao Lar pouco tem a ver com o próprio mythos do Homem-Aranha dos quadrinhos. Antes que você esmurre o computador ou xingue minhas passadas gerações, deixe-me apresentar fatos que, goste ou não, são firmados pelo roteiro do filme (escrito por inacreditáveis seis pessoas – tá difícil pensar em uma história pro Teioso, hein?).

Antes de começar, já deixo claro que as coisas mudaram bastante desde 2002 quando o Homem-Aranha surgia nas telonas pela primeira vez. As mudanças e o cinismo de De Volta ao Lar acompanham o feeling inteiro de uma nova geração que é o público-alvo da obra. Logo, há espelhamentos desse novo “clichêzão” do Ensino Médio americano.

Dessa vez, Peter Parker não é o nerd tosco ignorado ou odiado por 90% dos habitantes do colégio. Ele é um rapaz levemente descolado que consegue sair por cima de quase todas as traquinagens bully que Flash Thompson organiza para atacar ele (o casting de Tony Revolori para viver o valentão é bastante flácido). Possui amigos, não precisa se preocupar com emprego, não se culpa pela morte do tio Bem (por enquanto), participa de diversas atividades na escola.

O nerd recluso ficou para trás e a vida como Peter Parker não é mais tão ruim assim. Apesar de jogar fora toda a simbologia poderosa de libertação que é o ato de Peter tornar-se Homem-Aranha e, portanto, embriagar-se com o poder e boas ações, os roteiristas de De Volta ao Lar conseguem se salvar do desastre com boas desculpas psicológicas.

Isso é acertadamente afirmado pelo início bem-humorado e nada convencional com o minidocumentário direto que Peter Parker faz sobre sua viagem à Berlim para ser o trunfo máximo de Tony Stark na batalha do aeroporto. O efeito de lutar ao lado dos Vingadores “oficiais” deixa o personagem completamente alucinado e motiva sua jornada para se tornar um verdadeiro vingador.

O problema é o choque de realidade provocado em seu homecoming. No retorno à rotina banal, o uniforme high tech dado por Stark também vira um vício. Não pela liberdade, mas sim pelo sonho em ser efetivado como um verdadeiro Vingador. Muda-se a natureza do dilema de Peter Parker para algo bem menos complexo, mas condizente com o espírito teen do filme, afinal é um Aranha com apenas 15 anos de idade.

É nesse mérito que o roteiro de De Volta ao Lar se sobressai: o desenvolvimento pleno do protagonista (mesmo que seja bem básico). O MCU possui a irritante constante de simplesmente esquecer o desenvolvimento do protagonista no meio do caminho para injetar doses cavalares de setpieces de ação esquecíveis – isso tem mudado com a Fase 3, glória aos céus.

Dentre todos esses filmes, Homem-Aranha pode se orgulhar de ter o melhor desenvolvimento de personagem desde Homem de Ferro em 2008 – não incluo Guardiões da Galáxia por se tratar de uma jornada de grupo, distinta de uma jornada do herói clássica. Ao longo das duas horas, vemos conflitos muito pertinentes ao universo do Teioso.

Os roteiristas e Jon Watts conseguem conferir a atmosfera de vida dupla necessária para qualquer obra que ouse adaptar o herói mais famoso da Marvel. Peter precisa salvar o bairro de perigos comuns e investigar a trupe do Abutre enquanto concilia seus estudos, vida social e torneios de interescolares.

Em crescente, a vida de vigilante atropela decisões importantes, momentos de virada para Peter Parker, mas totalmente irrelevantes para o Homem-Aranha. Em uma fase conturbada de adolescência, na definição do próprio Ego do personagem, o encaixe da busca pela identidade do protagonista é mais que acertado e confere peso nas decisões que favorecem o vigilante que Peter sempre toma.

Logo, a empatia com o imaturo personagem é garantida rapidamente, afinal Peter Parker é adorável. É um pirralho excitado com tudo, histérico, cínico e humorista nato, tirando sempre a melhor metade da laranja de todas as situações. Nesse sentido, sim, o filme é muito fiel ao espírito mais famoso do personagem tão bem retratado por animações dos anos 1990 e de 2012.

Vida Escolar

Por causa dessa proposta que guiará toda a fase Holland de Peter Parker, o espectador é convidado a observar muitas, mas muitas cenas da vida escolar do personagem. A grande vantagem é esse núcleo inclui o obscuro personagem das HQs Ned Leeds (completamente reformulado, obviamente). Pelo timing fantástico de Jacob Batalon, o humor que transborda nessas sequências contagia. São piadas que funcionam com algumas potencializadas pela montagem inspirada – como a que acompanha Ned infernizando Peter em um dia de escola após descobrir que ele é o Homem-Aranha.

A amizade inocente dos dois guia o filme inteiro, porém, apesar de ser um excelente alívio cômico, Ned não é nada mais que isso. Quando o jogo tenta ser maior, o pior lado do MCU se faz presente em De Volta ao Lar: a falta de urgência, relevância. O perigo parece nunca afetar pessoalmente Peter Parker e a reviravolta principal da obra não é lá de grande gravidade para a integridade familiar do herói justamente pela humanização do vilão, mas seguiremos sobre isso mais adiante.

Aqui, o ponto é Ned. O personagem rapidamente vira de uma nota só, mesmo divertindo. Nunca as ações egoístas/altruístas de Peter decepcionam o personagem. Ele simplesmente aceita o que der e vier. Isso, novamente, não confere peso às ações de Peter. Porém, esse papel é cumprido por Tony Stark como visto nos trailers. Entretanto, seria mais interessante injetar camadas um tanto mais complexa em Ned já que é um cara cheio de potencial. Por enquanto, a amizade de Ash e Pikachu no 1º episódio de Pokémon consegue ter mais relevância do que a de Ned e Peter Parker em um filme milionário.

Se Ned ao menos desperta empatia, o resto do elenco escolar é uma tragédia pela completa irrelevância. Seja com Liz Allen, o primeiro foco amoroso consideravelmente mal trabalhado pelos roteiristas, ou com a esquisitíssima Michelle Jones, uma pseudo Claire Standish de O Clube dos Cinco. Com um discurso e performances irritantes, a personagem de Zendaya podia ser trucidada pelo Abutre que eu não daria a mínima. O mesmo acontece Laura Harrier e sua química tenebrosa com Tom Holland – a jovem sempre mantém uma expressão tanto faz em todas as cenas de tensão romântica com o ator.

O problema é que Liz Allen também não pode ser afetada pelo Abutre. Mas dessa vez a desculpa é melhor: ela é a filha do vilão.

A Reviravolta de Um Milhão de Dólares

Não demorou quase nada para enfim encontrarmos outro bom vilão no MCU após Guardiões Vol. 2. O Adrian Toomes de Michael Keaton é excelente. Muito mais pelo desempenho fantástico do ator do que pelo tratamento do roteiro. A vantagem é que o texto, ao menos, oferece motivação consistente para o vilão, o situando em uma função que faz jus ao nome da ave carniceira, além de mostrar melhor como a Batalha de Nova Iorque de Os Vingadores afetou profundamente a vida dos cidadãos comuns.

A Marvel finalmente aprendeu a utilizar, pela segunda vez, a introdução do filme para fincar com firmeza uma base narrativa para o vilão – algo que eu já tinha reclamado bastante com o medíocre Doutor Estranho. Mesmo que não seja desenvolvido por um tempo enorme, a presença de Michael Keaton a cada nova cena hipnotiza. Aprendemos a temer o vilão, mas seus atos de verdadeira maldade são perdoados com piadas furrecas a la MCU.

O que importa é o motivo do vilão virar traficante de armas modificadas com artefatos Krill: a sobrevivência de sua família. Por isso, quando Peter descobre que seu primeiro amor é justamente a filha do homem que ele tenta colocar na cadeia, há sim um impacto eficiente.

Nisso, Jon Watts busca a eficiência de Sam Raimi na primeira trilogia e recria a fatídica cena de Ação de Graças do clássico. Aqui, Toomes leva Parker e Liz até o baile homecoming. Durante todo o trajeto, pela completa transparência do pânico de Peter, o vilão saca rapidamente que o menino é o mesmo Homem-Aranha que vem atrapalhando seus negócios. Logo, há uma ótima jogada de decupagem e iluminação quando Toomes oferece um monólogo poderoso. No nível pífio de simbologia visual que esses filmes Marvel conseguem construir, a luz vermelha do semáforo, encobrindo sutilmente o rosto do Abutre, é ótima para pontuar a raiva lancinante que o personagem sente, mas que a mantém contida para não assustar sua filha.

O mais interessante é jogo mafioso que Toomes oferece. Ele dá a chance de Peter escolher o que quer: a morte certa ou oferecer uma noite agradável para Liz. Obviamente que o herói abandona a moça no fatídico baile, a decepcionando pela terceira vez (finalmente, Harrier consegue pontuar bem sua emoção frustrada), partindo para o confronto final contra o antagonista.

Essa questão da escolha é ótima para ilustrar a imoralidade de Toomes até mesmo diante com sua família. A busca pelo lucro é tamanha que usa a própria filha como mercadoria para subornar o herói. Essa é também, estranhamente, outra vez que o vilão ganha em um filme de super-herói. A falsa escolha oferecida a Peter o torna sempre refém do Abutre. Ou se torna conivente com o crime, ou triunfa e arruína completamente a vida da menina que ele ama – é óbvio que a morte não é uma opção real para os roteiristas.

Aliás, tamanho medo dessa consequência que é justamente por isso que o clímax é completamente flácido tanto narrativamente quanto na direção. O novato Jon Watts já tinha mostrado imaginação frágil para as setpieces de ação e com o clímax não é diferente. Errando feio na dosagem de planos e montagem, Watts cria uma das sequências mais incompreensíveis que o gênero já viu – também não ajuda em nada o fato do avião camuflado virar uma pseudo Bifrost arco-íris no meio da treta.

O que incomoda é a ausência que fizeram os filmes Raimi serem tão grandes: perigo e uso do cenário durante a batalha. O Aranha sempre foi um herói de tirar vantagens dos elementos mais improváveis e, aqui, isso praticamente inexiste. Igualmente, pelo fato de nem o avião ter pilotos, não há nada em jogo ali. O heroísmo de Parker consiste apenas em derrubar o veículo em uma praia deserta e salvar Toomes dos escombros. Mais sem graça, impossível – só relembre de todos os clímaces de cada um dos filmes Raimi e lamente.

A Eficiência das Boas Ideias

Felizmente, De Volta ao Lar pode se vangloriar por trazer muitas novidades para uma franquia cinematográfica que estava bastante carente de ideias inéditas. No caso, temos a assistente pessoal de Parker: Karen. A simpática I.A. de seu uniforme é o segundo alívio cômico (é bizarro escrever isso já que o filme praticamente não tem fatores dramáticos de peso) da narrativa.

Enquanto Ned representa o humor do cotidiano trivial, Karen é o oposto. Apresenta as quase infinitas possibilidades do traje do Aranha, além de figurar o melhor diálogo de toda a obra no qual Parker faz questões existenciais enquanto tenta matar o tempo dentro de um armazém tecnológico. Aqui, Jon Watts tem uma jogada sutil muito inteligente: manter Parker vestido como Homem-Aranha mesmo sem ter a necessidade disso.

Fica claro que, mesmo abrandando o teor dramático da esfera pessoal do personagem, Peter deseja apenas ser o Homem-Aranha flertando com um transtorno de identidade. Essa jogada é valiosíssima e lamento pelos roteiristas nunca seguirem nisso com firmeza. O evento máximo que força Peter a aceitar sua identidade é quando Stark retira o uniforme que fez para o menino. A conclusão desse “ser ou não ser” que guia Peter acontece no único momento que o personagem passa por perigo real.

Após ficar preso no entulho causado pela destruição do covil do Abutre, Peter teme morrer esmagado. A situação toda espelha a clássica HQ E Se esse for o Meu Destino. Entre pedidos de socorro e muito choro, Jon Watts (novamente em insight brilhante) coloca outro plano carregado por simbologia.

Sem forças, Peter olha para o chão onde sua máscara do traje caseiro parcialmente afundada em uma poça d’água. Quando repara que o reflexo d seu rosto preenche a metade oculta da máscara, a catarse ocorre com eficiência. Peter Parker é o Homem-Aranha. Os dois são um.

Outro fato que Jon Watts consegue lidar com eficiência e a relação de Peter com seu bairro quando trabalha como vigilante mascarado. Já nessa primeira sequência, o espectador compreende que o herói mais cria problemas do que os resolve. Mas as trapalhadas básicas evoluem para outras mais perigosas (apesar de nunca haver risco real, além da cena do Obelisco). Em maioria, Peter está sempre correndo atrás de resolver seus próprios erros.

Os roteiristas levam a máxima “você é o pior inimigo de si mesmo” bastante a sério, ainda que amenizada pelo humor perene. É um discurso válido que serve perfeitamente como jornada de amadurecimento do personagem como herói e também na esfera pessoal. Em vez de Peter destruir relações interpessoais com ações equivocadas, cria perigos que colocam a vida de diversos cidadãos em risco. Genial.

Enquanto mostra ideias bacanas como Peter ter que correr para atravessar um campo de golfe por conta da inexistência de objetos para fixar suas teias, outras novidades pesam negativamente. Uma das principais é a nova May. A personagem praticamente não tem peso algum nas cenas em que aparece, além de nunca oferecer insights valiosos para Peter em suas decisões éticas e morais praticamente ignorando a função primária da existência da tia May. Em suma, parece que a quarentona é tão imatura quanto seu sobrinho.

Outro ponto completamente fora da curva que afronta qualquer lógica é inserção de uma sequência inteira de merchandising da Audi na qual o Homem-Aranha, mesmo com fluído de teia, simplesmente dirige um carro até o destino onde está o vilão.

Sorte ou Azar de Principiante?

O diretor Jon Watts não é lá um nome muito quente da indústria. É outra figurinha do cenário indie jogado em uma produção importantíssima de milhões de dólares. Com uma voz tão inexpressiva, é de ficar surpreso que De Volta ao Lar não se trata um manifesto assinado somente pela vontade de seus produtores.

Como bem disse acima, Watts consegue criar simbologias visuais pertinentes, apesar de trazer as piores sequências de ação que a franquia viu desde O Espetacular Homem-Aranha. Seja pela falta de inspiração ou do manejo ineficiente da montagem, a ação aqui dificilmente empolga pelo fato de recorrer aos efeitos picotados nada realistas e confusos que parecem amaldiçoar essas produções contemporâneas.

Apesar de flertar tanto com os filminhos coming of age dos anos 1980, Watts, infelizmente, não oferece coração para esse Homem-Aranha. Falta certa alma, um feeling que talvez só surja com a experiência de uma longa carreira como Sam Raimi já possuía em 2002. O que Watts tem de positivo é seu olhar sobre as pequenas coisas, em criar um mundo orgânico para as cenas do colégio, focando em diversos estudantes, mostrando Peter tentando conciliar as duas vidas contrastantes, as diferentes tribos e as relações daquele microcosmo com as ações dos diferentes heróis e vilões que interferem em suas vidas.

Já para o núcleo antagonista, parece que há uma preguiça completa. Desde a apresentação estupidamente broxante do Abutre com seu traje pela 1ª vez até tudo o que envolve os péssimos Shockers, capangas de Toomes. Logo, há diversos altos e baixos no desempenho de Watts em seu primeiro grande filme.  s primeiras perseguições do Aranha ao Abutre, todas as cenas envolvendo May e outras gags lacradoras que envolvem a personagem de Zendaya.

Mas há elogios para Watts na condução de Tom Holland e Robert Downey Jr. Mesmo com pouco tempo em tela, Downey Jr. domina as cenas pelo desempenho carismático e ótimo trabalho em conjunto com Tom Holland que merece um parágrafo inteiro para si só.

Uma das coisas que mais priorizo na atuação de um Homem-Aranha, são as poses marca-registrada do super-herói. Felizmente, Holland consegue incorporar a iconografia importantíssima do Teioso com perfeição. É uma linguagem corporal eficiente e que também contrasta com os gestos mais contidos do ator quando encarna o encabulado Peter Parker quando em público. Agora, se o personagem está em casa ou com Ned, as coisas mudam completamente. Holland cria uma faceta totalmente histérica e excitada para o Aranha imaturo.

O mais fascinante é a pontuação da tristeza do herói, algo que sempre precisa acompanhar a profunda melancolia que Parker carrega em seu coração. Em momentos-chave, por decepcionar figuras paternas ou a si mesmo, Holland chora. E é um choro tão genuíno, tão frustrado, pueril e inocente que, literalmente, dá vontade de entrar na tela e consolar o nosso amigão da vizinhança, dizer que tudo está bem e para acreditar em si mesmo.

Justamente por isso, não é a toa que dizem que Holland traz a performance mais poderosa de Peter Parker/Homem-Aranha até agora. O que o pessoal falha em identificar é a razão dessa impressão marcar tanto. Não é preciso enfeitar as palavras aqui: o ator é o melhor apenas por conseguir trazer o retrato mais humano do personagem que já vimos. Por favor, que não desperdicem o talento desse jovem britânico em não retratar a hora mais triste da vida do Aracnídeo: a morte do tio Ben.

Underdog

Depois de um hiato de três anos que parecem bem mais do que isso, vemos o nosso estimado amigo retornar em um bom filme aos cinemas. De Volta ao Lar traz vigor e muitas novidades para uma história que muita gente já acreditava ter se esgotado na sétima arte, ainda que carregue características que insistem assombrar quase todos os longas do MCU.

Jogando com segurança e fixado pelo carisma contagiante de seu humor, é difícil se frustrar com entretenimento simples que esse filme oferece. Porém, é inegável que falta refinamento, brilhantismo que tornam bons filmes em obras inesquecíveis. Ter assistido recentemente a trilogia pioneira de Sam Raimi certamente contribuiu para impregnar minha mente com um questionamento que não deveria existir. Por que, gradativamente, os blockbusters vêm ficando cada vez mais simples e irrelevantes em longo termo?

Já é hora dos estúdios se tocarem que seus filmes não são obras fugazes como virais de internet que explodem por poucas semanas. Mesmo sendo parte de outra forma de ver mercado e conteúdo, esses filmes ainda buscam o estado de arte. E, sinceramente, o público merece um espetáculo bem mais completo do que apenas o visual.

Quem sabe a indústria cinematográfica novamente olhe para o retrovisor e veja sua história recente. Que enfim reconheça o fator que tornava aquelas maravilhas dos anos 2000 em algo bem mais do que apenas mero entretenimento. Que, assim como Peter Parker, regredindo em suas pretensões, possa amadurecer novamente entregando novos filmes que resistam tão bem ao tempo.

Agora, sobre De Volta ao Lar, somente o tempo dirá do que ele verdadeiramente se trata: mais um viral da Marvel Studios ou um filme realmente completo. Por enquanto, eu só afirmo que se trata de um bom divertimento.

Homem-Aranha: De Volta ao Lar (Spider-Man: Homecoming, EUA – 2017)

Direção: Jon Watts
Roteiro: Jonathan Goldstein, John Francis Daley, Jon Watts, Christopher Ford, Chris McKenna e Erik Sommers
Elenco: Tom Holland, Michael Keaton, Robert Downey Jr, Marisa Tomei, Jon Favreau, Laura Harrier, Zendaya, Jacob Batalon, Donald Glover, Angourie Rice, Tony Revolori, Martin Starr, Bokeem Woodbine, Logan Marshall-Green, Michael Chernus, Michael Mando, Hannibal Buress, Kenneth Choi
Gênero: Aventura
Duração: 133 min

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Publicado por Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema seguindo o sonho de me tornar Diretor de Fotografia. Sou apaixonado por filmes desde que nasci, além de ser fã inveterado do cinema silencioso e do grande mestre Hitchcock. Acredito no cinema contemporâneo, tenho fé em remakes e reboots, aposto em David Fincher e me divirto com as bobagens hollywoodianas.

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