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Oscar 2018: Um Especial Bastidores | Volume IV | Categorias Principais

Chegamos à última parte do Especial Bastidores sobre o Oscar 2018!

Depois de atravessarmos as categorias de atuação, toda a produção técnica e as categorias sonoras, é hora de analisarmos as categorias principais, que envolvem os trabalhos de roteiro, direção e os da grande categoria dos prêmios da Academia.

Confira:

Melhor Roteiro Original

As boas ideias irão sobreviver – Quentin Tarantino

Corra!

Escrito por Jordan Peele

Descrito por muitos como um primo não muito distante de Além da Imaginação, a estreia de Jordan Peele como roteirista – que não por acaso, foi anunciado como showrunner do reboot da série antológica de Rod Serling – faz jus a essa definição, sendo o candidato que mais merece o título de “originalidade” dentro da categoria. Navegando com habilidade pelo terror e a comédia de humor negro, este último provocado pelo hilário Rod Williams de Lil Rel Howery, Corra! oferece também um comentário ácido sobre relações interraciais e até mesmo a hipocrisia de grupos liberais, sempre reforçando como “votariam em Obama uma terceira vez se possível”, de forma a não fazer seu filme uma mera propaganda de um lado político. Não bastasse todas as delicadas relações familiares e entre um casal, Peele abraça o cinema trash de horror com a grande reviravolta envolvendo a família Armitage, isso sem perder todo o charme e construções anteriores. Um ótimo primeiro roteiro.

Quote: “Se eu pudesse, teria votado em Obama uma terceira vez!” – Dean Armitage

Doentes de Amor

Escrito por Emily V. Gordon Kumail Nanjani

Admito que a história por trás de Doentes de Amor é muito, muito bonitinha. Emily V. Gordon e Kumail Najani realmente se conheceram da forma como é retratado no filme, e novelizaram toda a experiência no roteiro final, que agora é um dos indicados ao Oscar pela categoria. Deve ser algo realmente único para o casal, mas confesso que não fui um dos que abraçaram com louvor esta história de amor, que tem praticamente todos os clichês das demais. O que torna o texto mais original, acaba sendo a relação de Kumail com os pais de Emily, especialmente pela situação extremamente desconfortável e incomum na qual o personagem se encaixa, sendo o ex-namorado de uma moça em coma, e agora forçado a interagir com seus pais preocupadíssimos – Ray Romano e Holly Hunter são os pontos altos absolutos. Um roteiro divertido, mas que não grita originalidade. Mas há de se dar créditos pela piadinha com o 11 de Setembro.

Quote: “O 11 de Setembro foi uma tragedia. Perdemos 19 dos nossos melhores caras ali” – Kumail

A Forma da Água

Escrito por Guillermo Del Toro e Vanessa Taylor

Guillermo Del Toro nunca escondeu sua paixão pelos monstros clássicos da Universal, e o conceito de A Forma da Água é em si uma grande homenagem a O Monstro da Lagoa Negra. Até aí, tudo bem, já que diversos projetos premiados são concebidos sob o pretexto de homenagear outros artistas, mas o texto de Del Toro e Vanessa Taylor é realmente muito fraco. A trama é populada com todos os clichês possíveis para esse tipo de história, especialmente com os personagens unidimensionais e movidos por estereótipos maniqueístas, vide o vilão essencialmente mau e forçado de Michael Shannon, Octavia Spencer fazendo o mesmo papel de sempre no papel da “amiga apoiadora” ou todas as subtramas descartáveis, seja o papo de espionagem russa com Michael Stuhlbarg ou a repressão amorosa de Richard Jenkins, que garante uma cena embaraçosa onde seu pretendente se transforma radicalmente em uma caricatura maldosa no segundo em que sua investida é rejeitada. Isso pra não mencionar os diálogos pavarosos, com pérolas como “você estará vivendo em um universo paralelo… Um universo de merda”. Realmente chocante ver um roteiro tão desastroso indicado.

Quote: “Sabe, o cereal de milho foi inventado para impedir a masturbação. Não funcionou.” – Giles

Histórico de Indicações

Guillermo Del Toro

Lady Bird: A Hora de Voar

Escrito por Greta Gerwig

É difícil pensar no que traz originalidade à Lady Bird. Já vimos esse tipo de história um milhão de vezes antes, já tivemos o arquétipo da adolescente espertinha e sagaz em um número até maior, e não é difícil prever os rumos que o roteiro de Gerwig toma ao longo do filme. Nós já vimos isso, e devo acrescentar que de forma melhor: o recente Quase 18 é um filme muito mais complexo e original, e infelizmente passou batido na última temporada de premiações. Porém, mesmo com tudo isso, é de se admirar a construção de Gerwig, que sempre parece pender para o clichê absoluto, mas acaba trazendo alguma surpresa: por exemplo, a relação de Lady Bird com sua mãe é apresentada como tumultuosa no começo, mas as duas acabam cobrindo isso com momentos de real ternura e afeto. Bird sempre parece se achar superior e mais inteligente a todos, mas o texto de Gerwig felizmente explora muitas de suas falhas e inseguranças, e seus diálogos são sempre muito bem humorados e com boas sacadas.

Quote: “Estamos em 2002. A única coisa emocionante desse ano é que é um palíndromo” – Lady Bird

Três Anúncios para um Crime

Escrito por Martin McDonagh

Após ter sido indicado por seu primeiro filme, o ótimo Na Mira do Chefe, Martin McDonagh retorna como um dos favoritos na categoria de roteiro com Três Anúncios para um Crime. E, de fato, que roteiro magistral. Não só a premissa de termos uma mãe solteira usando outdoors para provocar a ineficiência do departamento de polícia surge como um conceito original e contemporâneo, mas McDonagh constrói uma narrativa imprevisível e ousada, populando-a com figuras cheia de personalidades fortes e distintas. O policial Dixon, por exemplo, é um caso de um personagem controverso que passa por uma transformação arriscada e que gerou sua dose de (injusta) polêmica, já que temos uma figura racista que encontra uma forma de redenção – mesmo que McDonagh nunca o perdoe por suas ações. Todos têm sua parcela de podridão em Três Anúncios para um Crime, até mesmo a destemida Mildred Hayes, fruto de uma sociedade decadente e que representa o mais baixo do sul dos EUA. No mais, o trabalho de McDonagh é um misto perfeito de humor negro, drama e estudos de personagem radicais. O melhor roteiro da noite, sem dúvidas.

Quote: “Acha que eu me importo com dentistas? Eu não me importo com dentistas. Ninguém se importa com dentistas” – Willoughby

Percurso na Temporada

  • BAFTA – Melhor Roteiro Original
  • Globo de Ouro – Melhor Roteiro

Aposta: Corra!

Voto do Bastidores: Três Anúncios para um Crime

Esnobado: Trama Fantasma

Melhor Roteiro Adaptado

O desafio de se ser um roteirista é dizer muito com o pouco, e depois tirar metade desse pouco e ainda preservar um efeito de lazer e naturalidade – Raymond Chandler

O Artista do Desastre

Escrito por Scott Neustadter e Michael H. Weber, baseado no livro The Disaster Artist: My Life Inside The Room, the Greatest Bad Movie Ever Made, de Greg Sestero e Tom Bissell

Nem mesmo Tommy Wiseau e Greg Sestero poderiam imaginar que um dia estariam fazendo um filme sobre a desastrosa experiência de se fazer The Room, e que este ainda seria indicado ao Oscar. Com uma carreira sólida em adaptar romances adolescentes para as telas, Scott Neustadter e Michael H. Weber oferecem um de seus melhores trabalhos com O Artista do Desastre, especialmente pela forma como conseguem captar a humanidade e o forte sentimento de amizade em Wiseau e Sestero, jamais usando-ou como um mero objeto a ser ridicularizado. A dupla ainda é capaz de manter toda aura de mistério em torno do excêntrico cineasta, além de não esconder seus inúmeros defeitos de caráter e o comportamento severo durante as gravações. A história também é bem estruturada, seguindo o padrão de longas sobre “ir à Los Angeles e perseguir seus sonhos” e também captando o processo de filmagem de um filme, rendendo personagens memoráveis e diálogos divertidos.

Quote: “O maior drama ja escrito desde Tennessee Williams!” – Tommy Wiseau

A Grande Jogada

Escrito por Aaron Sorkin, baseado no livro “Molly’s Game: “From Hollywood’s Elite to Wall Street’s Billionaire Boys Club, My High-Stakes Adventure in the World of Underground Poker”, de Molly Bloom

Aaron Sorkin talvez seja o melhor roteirista da atualidade. Cada projeto novo acaba nos presenteando com pérolas na arte de se escrever diálogos e definir arcos de personagens, bastando olhar para o primor de seus roteiros em A Rede Social, O Homem que Mudou o Jogo e a cinebiografia Steve Jobs. Em seu primeiro trabalho na direção, Sorkin escolhe um material saboroso e complexo com A Grande Jogada, contando a história intrincada de Molly Bloom e seus jogos de pôquer de alto valor no submundo de Los Angeles. É uma avalanche de nomes e situações, que – aliados à verborragia do autor – tornam a experiência de se acompanhar as regras do pôquer um tanto maçantes e cansativas, ainda que fique bem nítido o trabalho de pesquisa de Sorkin. O roteirista acerta quando volta sua caneta para o lado mais humano da história, ao manter duas pessoas em uma sala conversando da forma mais ácida e enfeitada possível, algo que temos muito no arco envolvendo o advogado de Idris Elba, e também eficiente relação de Molly com seu pai, na qual Sorkin enxerga o esqueleto de toda a história. Não é seu melhor trabalho, mas ainda mantém suas irrevogáveis qualidades.

Quote: “Sabe quantas bruxas eles queimaram em Salem? Nenhuma. Elas foram apedrejadas.” – Molly Bloom

Histórico de Indicações

      • Indicado a Melhor Roteiro Adaptado (com Steven Zaillian) por O Homem que Mudou o Jogo, em 2012

Logan

Escrito por James Mangold e Michael Green, baseado nos personagens da Marvel

Grande surpresa da categoria, Logan marca a primeira vez em que um filme de super-heróis é indicado à categoria de Roteiro no Oscar, com apenas Marcas da Violência sendo um projeto adaptado de quadrinhos que já tinha conquistado feito parecido. Fugindo de todos os padrões de um longa do gênero, James Mangold e Michael Green oferecem um filme completamente diferente para servir de despedida ao Wolverine de Hugh Jackman, ignorando qualquer cronologia ou ligação com outros filmes dos X-Men, tendo uma história adulta e dramática em seu centro, relações difíceis entre personagens que acompanhamos a tanto tempo (Logan e Xavier, principalmente), além de um cenário pós-apocalíptico melancólico e explorado apenas através da sugestão. Não é um roteiro perfeito, afinal Mangold e Green lidam com exposição de forma um tanto desajeitada (o vídeo do celular da enfermeira jamais será esquecido) e pessoalmente ainda tenho meus problemas como o clone X-24, mas é bacana ver o gênero enfim reconhecido como algo além do que mera diversão escapista.

Quote: “A natureza fez de mim uma aberração. O Homem me fez uma arma. E Deus fez durar tempo demais” – Logan

Me Chame pelo Seu Nome

Escrito por James Ivory, baseado no romance Call Me By Your Name”, de André Aciman

A vitória do roteiro de Me Chame pelo Seu Nome é uma das babadas da noite, e não por acaso. Adaptando o romance de André Aciman, o cineasta James Ivory retorna aos prêmios da Academia como roteirista, contando uma história de amor cheia das convenções e estrutura que passamos a ficar acostumados, ainda mais tratando-se de um romance homossexual, mas o faz com muita sofisticação e personalidade. Aproveitando o cenário italiano e o meio artístico onde os personagens habitam, Ivory constrói diversos diálogos inteligentes e com boas citações, que vão das notas musicais de Bach até conceitos filosóficos de Heidegger, enriquecendo o pano de fundo da história de Elio e Oliver, que muitas vezes nos remetem às conversas de Jesse e Celine na trilogia Antes do Amanhecer. Mas, mais do que isso, Ivory mostra sua força no brilhante monólogo do personagem de Michael Stuhlbarg: uma verdadeira lição sobre a vida, o amor e os arrependimentos. Só por esse trecho, Ivory já merece triunfo sobre todos os outros indicados.

Percurso na Temporada

      • BAFTA – Melhor Roteiro Adaptado
      • WGA – Melhor Roteiro Adaptado
      • Critics Choice Awards – Melhor Roteiro Adaptado

Histórico de Indicações

      • Indicado como Melhor Diretor por Vestígios do Dia, em 1994
      • Indicado como Melhor Diretor por Retorno a Howards End, em 1993
      • Indicado como Melhor Diretor por Uma Janela para o Amor, em 1987

Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississipi

Escrito por Dee Rees e Virgil Williams, baseado no romance “Mudbound”, de Hillary Jordan

Para estabelecer os conflitos que constituem o núcleo dramático e fazer o amplo retrato de uma sociedade multifacetada, o roteiro escrito pela própria cineasta ao lado de Virgil Williams aposta em discursos em off das várias personagens e numa narrativa fragmentada em diversos arcos dramáticos. Essas escolhas ousadas — que para um espectador indisposto a embarcar na história podem se tornar um suplício — garantem o sucesso do longa e fornecem à trama fortes camadas de densidade dramática, com todo o caráter trágico que acompanha embates sociais. A principal dessas camadas está relacionada com a solidão profunda de cada uma daquelas almas. Entretanto, não se trata de uma solidão física, já que, na maior parte do tempo, como os belíssimos planos gerais nos mostram constantemente (mérito do bom trabalho paisagístico da diretora de fotografia Rachel Morrison), as personagens se encontram juntas num recinto. O isolamento que as rodeia é diferente e tem a ver com a ruptura completa entre os indivíduos e a sociedade. De uma maneira ou outra, todas aquelas pessoas tiveram os seus respectivos futuros determinados por forças que estão fora do controle e que não apresentam relação alguma com os seus desejos mais profundos e íntimos.

Aposta: Me Chame pelo Seu Nome

Voto do Bastidores: Me Chame pelo Seu Nome

Esnobado: It: A Coisa

Melhor Diretor

Eu gosto de atuar, mais do que qualquer outra coisa, mas sabe… dirigir é legal – Tommy Wiseau

Guillermo Del Toro

A Forma da Água

Guillermo del Toro, como diretor, sabe muito bem criar imagens que valorizam todo o trabalho da direção de arte de seu filme, com planos que revelam tudo na medida certa. É preciso notar, também, como, em todo quadro, temos a presença de algo verde, seja no cenário ou no figurino das personagens, ponto que dialoga com a natureza aquática da criatura apresentada, remetendo-nos constantemente ao ambiente subaquático, que vemos na cena inicial do longa. Essa paleta esverdeada, porém, acaba cansando o olhar do espectador, que mais sente como se o recurso estivesse martelando repetidas vezes o que já sabemos. Além disso, o exagero do uso desses tons quebra de vez qualquer esperança que temos de acreditar nessa trama, que não mescla fantasia e realidade, sendo puramente fantasiosa, destruindo, de vez, qualquer tentativa de crítica por parte do roteiro.

Histórico de Indicações

      • Indicado como Melhor Roteiro Original por O Labirinto do Fauno, em 2007

Percurso na Temporada

  • DGA – Melhor Diretor
  • BAFTA – Melhor Diretor
  • Globo de Ouro – Melhor Diretor
  • Critics Choice Awards – Melhor Diretor

Greta Gerwig

Lady Bird: A Hora de Voar

A indicação mais forçada da noite. Como diretora, Greta Gerwig faz um bom trabalho, mas nada que justifique a campanha exagerada para empurrá-la a uma indicação ao Oscar. É uma direção eficiente e que mantém um ritmo agradável, e a decisão de Gerwig em retratar os anos 2000 como um ambiente que parece saído dos anos 60 é interessante, quase como um filtro de vaselina que preenche a visão calorosa de sua protagonista – e, novamente, revela como a diretora olha para esse período como algo saudoso. Sua câmera não tem muitos invencionismos ou momentos memoráveis, com o maior destaque para um plano longo e na mão onde somos surpreendidos por uma reviravolta envolvendo o personagem de Lucas Hedges – excelente, mesmo em participação pequena-, e sua composição traz algumas pérolas; sendo o belo plano inicial uma perfeita metáfora visual para a relação de Lady Bird e sua mãe, representando o “passarinho no ninho”. Mas, novamente, é o tipo de trabalho que poderia ser comparado a um estudante acertando todas as questoes de uma prova, mas sem apresentar absolutamente nada de inovador ou especial.

Christopher Nolan

Dunkirk

É difícil de acreditar que esta seja apenas a primeira indicação de Christopher Nolan ao Oscar de Melhor Direção, uma conquista que o britânico já devia ter tido há muito tempo, mas que finalmente se concretiza com seu trabalho mais experimental e diferente em Dunkirk. Com inspiração assumida nas narrativas do cinema mudo, Nolan aposta em uma narrativa de poucos diálogos, personagens propositalmente vagos e um senso de imersão na história sem igual. O espectador se sente naquela situação, e também todo o desespero dos soldados anônimos presos naquela situação. Seja pelas câmeras subjetivas, o trabalho sobrenatural para conduzir as impressionantes sequências de aviação em aspecto IMAX, ou a atmosfera aterradora movida por um inimigo invisível, o trabalho de Nolan em Dunkirk talvez seja o seu melhor até então. Mesmo em uma escala menor, a grandeza não escapa a este brilhante cineasta. Em um mundo justo, este seria o favorito absoluto da categoria.

Histórico de Indicações

      • Indicado como Melhor Filme (com Emma Thomas) e Roteiro Original por A Origem, em 2011
      • Indicado como Melhor Roteiro Original (com Jonathan Nolan) por Amnésia, em 2001

Jordan Peele

Corra!

Logo de início, Peele, nos deixando completamente imersos através de um plano sequência com direito a troca de eixo, já nos apresenta a um dos principais pontos a serem enfrentados pelo protagonista ao exibir um diálogo entre um homem negro em um subúrbio com a pessoa do outro lado da linha telefônica a respeito do seu sentimento de deslocamento e confusão ao andar por aquela região. A partir daí, o diretor aposta em planos centralizados, com uso de recursos como o foreshadowing (a cena do cervo), a fim de criar uma atmosfera tensa, mas com toques de humor (na base do sarcasmo). Uma excelente estreia para Jordan Peele, que torna-se apenas a quinta pessoa a ser indicada como diretor, roteirista e produtor por seu longa de estreia.

Paul Thomas Anderson

Trama Fantasma

Que surpresa maravilhosa ver o nome de Paul Thomas Anderson entre os indicados! Mesmo que tenha sido por cima do excelente Martin McDonagh, infelizmente esnobado aqui. Na direção, PTA novamente demonstra seu domínio de mise en scene, e como seus quadros sozinhos contam a história, vide o importante ponto de virada onde conhecemos um novo lado de Reynolds Woodcock, resolvido em um unico plano simbolico. Parte do time da película em Hollywood, PTA mais uma vez abraça o 70mm a fim de garantir o grão mais forte e uma estética próxima ao cinema da década de 70. Curiosamente, Anderson não contou com um diretor de fotografia para o projeto, trabalhando a luz pessoalmente com o auxílio da equipe, e não creditando ninguém – nem ele mesmo – para essa função nos créditos. É um trabalho competente e que garante uma paleta de cores predominantemente fria e desbotada, com belos feixes de luz para ilustrar os processos criativos de Woodcock. Um dos trabalhos mais requintados do diretor, que parece imbativel.

Histórico de Indicações

  • Indicado como Melhor Direção, Roteiro Adaptado e Filme (com JoAnne Sellar e Daniel Lupi) por Sangue Negro, em 2008
  • Indicado como Melhor Roteiro Original por Magnólia, em 2000

Aposta: Guillermo Del Toro

Voto do Bastidores: Christopher Nolan

Esnobado: Luca Guadagnino, por Me Chame pelo Seu Nome

Melhor Filme

É isso o que eu gosto sobre o cinema. Ele pode ser bizarro, clássico, romântico. Para mim, o cinema é a coisa mais versátil que há” – Catherine Deneuve

Corra!

Produção de Sean McKittrick, Jason Blum, Edward H. Hamm Jr, e Jordan Peele

Corra! certamente é um filme divisivo. Caso o espectador não esteja disposto a aceitar a simples proposta de Jordan Peele de se divertir com o gênero com elegância e olhar de forma mais atenciosa valorizando a crítica social, a obra pode não passar, aparentemente, de um raso e previsível conjunto de clichês que carece de contemplação e uma história mais aprofundada. Entretanto, para aqueles que se encantaram com o conceito e se pegaram imersos antes do desbandar para o escapismo, o longa, além de entretenimento relevante, serve como um exemplo de estudo de manipulação e agilidade de estrutura na tentativa de misturar elementos de gêneros vizinhos com sucesso. Há tempos eu não via uma estreia de diretor fora de sua zona de segurança tão precisa, arriscada e, ao mesmo tempo, confortável. (Leandro Konjedic)

O Destino de uma Nação

Produção de Tim Bevan, Eric Fellner, Lisa Bruce, Anthony McCarten e Douglas Urbanski

O Destino de uma Nação é, em sua maior parte, satisfatório. Com o brilho de um elenco incrivelmente confortável dentro do escopo narrativo, Wright consegue mais uma vez firmar seu nome na indústria do entretenimento, ainda que a completude da obra esteja manchada por algumas investidas equivocadas e que se mostram destoantes de sua mensagem final. De qualquer modo, não espere ver toda a visceralidade da II Guerra Mundial aqui, mas sim uma perspectiva infelizmente tragicômica sobre um dos nomes mais controversos de todos os tempos. (Thiago Nolla)

Dunkirk

Produção de Emma Thomas e Christopher Nolan

A cada filme, Christopher Nolan rejuvenesce. Parece mais apaixonado do que nunca em realizar grandes feitos cinematográficos, filmes que desafiam a própria condição da linguagem, que consigam transcender a bidimensionalidade do exercício de assistir a um longa-metragem. Em Dunkirk, o pacote é completo e aprimorado. O domínio é assustador. O coletivo é louvado. Todas as peças desse enorme jogo têm função primordial – principalmente os elementos sonoros que andam tão chutados e mastigados pela grande indústria em usos acovardados na encenação. Pelo grande Cinema, pelas grandes histórias, nós nunca nos renderemos. (Matheus Fragata)

A Forma da Água

Produção de Guillermo Del Toro e J. Miles Dale

A Forma da Água nos leva de volta à questão do filme como forma sem substância – o diretor até tenta tecer críticas ao american way of life, ao machismo, homofobia, dentre outras questões, mas acaba superlotando seu enredo, esquecendo do que efetivamente importa: construir uma boa história, com bons personagens. Sem qualquer cuidado com o lado “real” da trama, com tudo beirando a total artificialidade, a obra mais soa como uma falha tentativa de repetir a fórmula de O Labirinto do Fauno – o resultado é algo vazio, com visual que rapidamente perde nossa atenção, soando como se Guillermo del Toro tivesse apenas preocupado em criar algo “oscarizável”. Isso tudo sem levar em consideração as acusações de plágio, que, se forem levadas em conta, destroem essa obra por completo. (Guilherme Coral)

Lady Bird: A Hora de Voar

Produção de Scott Rudin, Eli Bush e Evelyn O’Neill

Uma estreia sólida na direção, Lady Bird é um filme que agrada pelas performances e o humor de seu texto, mesmo que não traga realmente nada de novo e digno de grande destaque. Greta Gerwig comprova seu talento como roteirista, e Saiorse Ronan lidera um elenco fantástico que faz a valer a visita, mas que no fim acaba nos fazendo perguntar o que exatamente ocorreu de tão marcante. O filme mais superestimado da noite. (Lucas Nascimento)

Me Chame pelo Seu Nome

Produçaõ de Peter Spears, Luca Guadagnino, Emilie Georges e Marco Morabito

Estética e narrativamente, Me Chame Pelo Seu Nome é um filme relativamente satisfatório, ainda que se valha de clichês para compor uma narrativa com potencial imenso. Entretanto, não podemos tirar o valor pessoal e subjetivo dessa história de amor em relação ao seu público-alvo e até mesmo aqueles que necessitam de visibilidade para comporem seu individualismo e se sentirem realmente pertencentes à sociedade em que vivem. (Thiago Nolla)

The Post: A Guerra Secreta

Produção de Amy Pascal, Steven Spielberg e Kristie Macosko Krieger

Em tempos onde a liberdade de imprensa é um assunto cada vez mais relevante, Steven Spielberg faz com The Post: A Guerra Secreta um registro importante e eficiente, e surpreendentemente atual, contando com uma execução primorosa, um roteiro conciso e um elenco estelar que pode se destacar como um dos melhores que o diretor já reuniu em sua carreira. Um belo filme, e mais uma importante ode à liberdade da imprensa.

Trama Fantasma

Produção de JoAnne Sellar, Paul Thomas Anderson, Megan Ellison Daniel Lupi

Definitivamente um dos trabalhos mais sofisticados e maduros do diretor, Trama Fantasma é um filmaço que explora temas conhecidos de uma forma original e incapaz de ser prevista. Com um elenco afiado, um roteiro acertado e a condução sempre magistral de PTA, esta é uma obra tão bem refinada e costurada que até mesmo Renyolds Woodcock ficaria impressionado – e conhecendo-o, certamente correria para tirá-la de da presença de outros filmes Hollywoodianos, por temer não merecê-la. (Lucas Nascimento)

Três Anúncios para um Crime

Produção de Graham Broadbent, Pete Czernin e Martin McDonagh

Não é exagero dizer que Três Anúncios Para um Crime é o melhor longa de Martin McDonagh. E essa constatação não se dá apenas em razão da evidente melhora técnica, mas também por causa do equilíbrio que existe entre a comédia e o drama, um elemento vital para que se concretize o objetivo do diretor: entregar uma obra viciante em que todas as expectativas são quebradas, cuja trama te leve a lugares impensáveis e através da qual o público entre em contato com emoções genuínas e fortes. Em suma, um filme engraçado e emotivo, perfeito para rir e chorar.

Aposta: A Forma da Água

Voto do Bastidores: Dunkirk

Esnobado: Eu, Tonya

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Publicado por Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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